Olha só quem tá de volta na ativa e de cara nova? Isso mesmo, a newsletter da Alfa Serpente voltou rebatizada de Meio do Céu. Pra vocês não muda muita coisa porque a pessoa por trás dos dois nomes segue sendo a mesma, mas pra mim, reformular a newsletter foi uma libertação imensa porque esse, agora, será o meu principal meio de compartilhar com o mundo o que eu tenho a dizer sobre astrologia (mundana, em especial).
Estive relativamente de férias nas últimas três semanas e, apesar de ainda muito ocupada, pude abrir um espaço para pensar sobre assuntos que atulhavam a mente há meses. E abrir espaço pra refletir nos leva a perceber aspectos abafados nas nossas relações com as coisas, né? Daí que eu percebi um fato muito simples: eu queria desapegar do Instagram (e das redes sociais como um todo, também). Nessa última semana o tema do desapego se definiu melhor na minha cabeça e, dias depois, vi a notícia que a Simone Biles tinha desistido de competir individualmente nas Olimpíadas para cuidar da saúde mental. Desistir – esse foi o termo usado pela maior parte da mídia e das pessoas que opinaram a respeito ou relataram o fato. Não consegui deixar de pensar que desistir é um termo com uma conotação negativa demais para uma atleta que conscientemente tomou a (sábia!) decisão de deixar a competição para o próprio bem estar. Num paralelo meio distante – porque minha situação não tem nada a ver com o caso da Simone –, percebi que a vontade de desapegar do Instagram tinha a ver com uma escolha por não participar mais do jogo que a rede social impõe sobre os usuários; um jogo que é competitivo, dissimulado e que você paga pra participar com seu próprio tempo. Somado a isso, perceber que a entrega (cada vez menor) do que eu produzia estava sendo mediada por uma plataforma cujas regras e prioridades não me interessavam mais me adequar para cumprir. Mas (quase) todo mundo já sabia como essa rede funciona, certo? E se nos últimos meses eu já havia construído uma boa base de público aqui pela newsletter, qual era a voz da cobrança que fazia achar necessário permanecer por lá?
Ouvindo esse episódio do Café da Manhã com a psicanalista Anne Egídio sobre a saída da Simone Biles da competição, fiquei com percepção mais nítida de que, para além dos algoritmos, engajamentos e notificações que alimentam o mecanismo de prazer e recompensa nos nossos cérebros, redes sociais como o Instagram, a longo prazo, podem acabar moldando o que nós acreditamos ter vontade de fazer, ou achamos necessário fazer. Dessa forma, pode se criar na cabeça de milhões de usuários o desejo de alcançar alguma fama, ser visto e acompanhado por milhares de pessoas, tornar-se um rosto familiar. Todos esses são desejos legítimos, claro, mas o que quero dizer é que me parece fundamental questionar se esses desejos são de fato seus ou se eles foram incutidos na sua mente por causa de um uso intenso de um aplicativo no celular, que sorrateiramente vem moldando o comportamento de parte de uma geração. Pessoalmente, percebi que meus desejos enquanto astróloga tem mais a ver com fazer análises aprofundadas, dividir aprendizados e apresentar a astrologia tradicional a mais pessoas. Mas me interessa uma conversa mais aprochegada, mais nerd, mais cartinha virtual feat. café da manhã que eu inventei por aqui, sabe? Se a plataforma se posiciona enquanto uma rede de entretenimento audiovisual impulsionada pela exposição da auto-imagem, talvez não seja mesmo o melhor local para se compartilhar esse tipo de conteúdo. Quando essa ficha caiu, meus amores, a necessidade de atender às demandas do Instagram se dissolveu de imediato. Agora estarei por lá só com as minhas colagens, sem grandes compromissos, cobrança ou preocupação de atingir números pra nada – além do quê, talvez finalmente volte a me divertir um pouco com essa rede social, fazendo uns conteúdos mais ágeis em vídeo sobre as artes e as publicações que eu crio pra vender lá na loja.
Bom, essa é a edição inaugural da Meio do Céu provavelmente com a introdução mais longa que essa newsletter terá na vida, mas quis dividir com vocês esses pensamentos porque a gente vive numa cultura em que abrir mão de qualquer coisa é razão pra culpa e julgamento. Então essa edição é pra celebrar a coragem da Simone em "desistir" (lê-se: tomar uma decisão em maior respeito a si mesma) e incentivar o exercício do desapego do que estiver sendo pesado, desnecessário e desprovido de propósito na vida de vocês. A vida já tá difícil pra caramba, eu hein.
céu da semana
A semana começa puxada, gente. Entramos ontem na Lua Minguante e, nos próximos 7 dias, teremos oposição de Mercúrio e Saturno, Sol e Saturno, Lua e Saturno... além disso, Mercúrio já está há alguns dias combusto, ofuscado pelos raios solares, e hoje (domingo) eles completam uma conjunção exata. De terça a sexta há mais aspectos harmoniosos, mas a Lua minguando não ajuda muito e a tendência maior é à preguiça mesmo. Evitem compromissos mais desconfortáveis ou delicados na segunda e no sábado. O dia mais produtivo parece ser terça-feira. Sexta-feira é a cara da procrastinação. (O mais difícil se escrever sobre o céu da semana é considerar que estamos exaustes há um ano e meio e não tem céu que dê conta de amenizar esses efeitos, mas enfim.)
Desse rolo de oposições todas com Saturno, destaco as duas primeiras, com Mercúrio e Sol. Saturno em Aquário versa sobre um tipo de poder mascarado e disseminado, espalhado, que não se percebe nitidamente. A nível subjetivo, essas oposições podem ocasionar numa falta de clareza mental, de uma falha de percepção. Não precipite julgamentos e tenha em mente que há um risco de avaliar mal as situações, ou de entrar num embate que diz mais sobre vaidade do que sobre verdade. Nossos próprios valores, enfim, podem ser postos à prova; isso porque Mercúrio é a mente racional e o Sol a consciência superior, ou o próprio espírito – um elo com o divino, a fonte de vida primordial. E a mente racional, longe da luz da consciência, é capaz de todo tipo de coisa. Sobre essa relação, inclusive, os autores Ariel Guttman e Kenneth Johnson escrevem:
O intelecto humano, por si só, é amoral. Sua função, o pensamento racional, não está necessariamente ligada a nenhum código de ética. O mesmo processo mental que leva um indivíduo a escrever um livro sobre consertos domésticos pode ser usado por um indivíduo diferente para quebrar fechaduras ou burlar um alarme contra ladrões [...] A relação entre Mercúrio e o Sol é de vital importância: a mente apenas se torna uma força poderosa para o bem quando dirigida por um senso mais elevado de consciência.
Se possível, procure tentar perceber o que pode estar exercendo um controle ou um poder sutil e danoso sobre suas próprias ações e a sua consciência mais íntegra. Parece papo de doido, mas essa oposição Sol-Saturno é uma das brabas porque ambos estão bem fortalecidos nos próprios, o que só acontece a cada cerca de 28 anos. (E agora que acabei de escrever isso aqui, vejo uma relação óbvia ao tema do desapego que escolhi pra essa primeira edição – nada é por acaso, minha gente).
trânsitos do mês
A cada início de mês vou fazer um compiladão aqui dos trânsitos planetários mais importantes porque, embora o céu se oriente pelo ritmo do sol e das lunações, aqui embaixo a gente precisa organizar os compromissos e afazeres de acordo com o mês no calendário mesmo.
Em agosto teremos Mercúrio em Leão até o dia 10; às 17h57 do dia 11, Mercúrio ingressa em Virgem, signo que é seu domicílio and exaltação, ou seja, Mercúrio-menino veloz e furioso (pois junto de Marte) cheio de empolgação pra fazer, acontecer, comunicar, separar, dividir e encaminhar cada assunto ao lugar que pertence. Sua trajetória por Virgem será curta, entretanto: já na madrugada de 30 de agosto ele ingressa em Libra. O trânsito de Mercúrio em Virgem entre 11 e 29 de agosto é um período que deve favorecer os assuntos mercuriais, especialmente os que precisam de encaminhamento prático – resolver burocracia envolvendo documentos, localização de dados e informações, negociações e acordos, dar conta de tarefas pequenas cotidianas, etc. Mercúrio estará acompanhado do Vênus e Marte, mas não enxergará Júpiter nem Saturno, então as pendências que envolverem autoridades altas, instâncias muito grandiosas ou justiça ficam mais favorecidas quando ele entrar em Libra; enquanto estiver em Virgem, dê prioridade para questões mais simples e de menor complexidade. O período entre 15 e 20 de agosto é especialmente favorável, dado que a Lua estará crescente e Mercúrio estará se aproximando da conjunção à Marte, dando força e agilidade à resolução das tarefas.
Vênus está em Virgem desde o dia 21 de julho e entra em Libra no meio do mês, no dia 16 de agosto. Vênus em Libra será prazer e alguma alegria, pois estará suficientemente longe do Sol, não aspectará Marte e fará trígonos favoráveis com Júpiter e Saturno. Se considerarmos que nos outros dois trânsitos de Vênus fortalecida no ano (Peixes e Touro) ela esteve muito mal aspectada, em Libra ela deverá ser um tanto redimida sim, proporcionando um tanto mais de afeto, beleza e encontros pra nós. Como isso toma forma em termos de previsões, claro, veremos no mapa da lunação.
Marte permanece em Virgem durante todo o mês de agosto. Marte em Virgem é um organizador da labuta, aquele que pega o job pra fazer quando ninguém mais conseguiu. Marte é um dos regentes do ano astrológico para o Brasil: em Leão ele rugiu contra Saturno e tomou forma nas manifestações e pressão popular contra o governo; em Virgem, acredito que ele deve se expressar nas pequenezas do cotidiano, no trabalho essencial, na retificação de mentiras e fake news. Enfrentamento mais direto e efetivo vai ficar pra quando Marte alcançar Escorpião, pessoal. Esse segundo semestre ainda promete um tanto.
Júpiter e Saturno estão novamente juntos em Aquário, ambos retrógrados. Sem grandes novidades por aqui. Júpiter em Peixes, foi bom enquanto durou, né?
E sobre os luminares, enfim: a Lua Nova vem no próximo dia 9 e a Cheia no dia 23. Já o Sol brilha na sua morada no signo de Leão desde 22 de julho, e entra em Virgem às 17:35 do próximo dia 22. A dança entre o Sol e Lua é o que faz as lunações acontecerem, então elas têm uma interpretação independente e mais apurada a cada Lua Nova e Cheia, com as previsões da lunação, que vão vir sempre na edição mais próxima da newsletter. No caso, a próxima edição já vem com as previsões da Lua Nova que vai dar início à Lunação de Leão.
notas astrológicas
[...] qualquer tipo de coisa, qualquer tipo de trabalho, qualquer atividade e disciplina e qualquer vicissitude que ocorra na vida humana, através de todas as suas circunstâncias, foram englobadas pela natureza sob o destino.
Manilius, Astronomica III.
A edição ficou grande, mas eu quis inaugurar essa nova editoria que já amo porque aqui será o espaço de relacionar astrologia com toda e qualquer coisa que me aparecer na frente. Serei sucinta, então: nas férias eu assisti ao documentário Three Identical Strangers (disponível na Netflix), que saiu em 2018 mas chegou à essa plataforma de streaming recentemente e causando um grande rebuliço. A sinopse é a seguinte: três garotos, filhos adotados por diferentes famílias, descobrem que são irmãos trigêmeos aos 19 anos, por acaso do destino. Não vou dar spoiler aqui porque realmente é um documentário que vale a pena assistir, mas adianto que a história de encontro e reunião inusitada toma um rumo ainda mais impressionante, revoltante e misterioso. Imperdível mesmo.
Em dado momento do filme, são levantadas questões sobre se os aspectos do nosso comportamento e personalidade são dados de nascença, inerentes a nós, ou se o meio e o contexto social, político e econômico influenciam o desenvolvimento pessoal de cada um, e em qual medida. Os apontamentos do filme são muito pertinentes, ainda que não se disponham a determinar respostas definitivas a essas perguntas. Essa discussão sobre características herdadas x características adquiridas me é especialmente interessante porque esbarra no debate astrológico a respeito do destino e do livre-arbítrio, um tema polêmico e igualmente fascinante. Em resumo, na minha visão e experiência, percebo algo que é bem próximo do que atestam no documentário: sim, nós nascemos e crescemos a partir de uma matriz razoavelmente pré-determinada (em termos astrológicos: o mapa natal delimita uma série de possibilidades), porém, o modo e a forma como essas potencialidades irão se desenrolar é algo totalmente submetido ao contexto específico em que a vida se insere. Pessoas diferentes podem ter mapas natais muito similares, porque o que o mapa carrega uma linguagem simbólica, que pode se desdobrar e se materializar de muitas formas diferentes – dentro dos limites de cada símbolo, claro; há significados que um símbolo simplesmente não pode exprimir. Um exemplo: uma Vênus em Áries na casa 5 como regente profissional pode fazer de alguém um ator, um atleta, mas não um funcionário público, não um psicólogo. Esse leque de possibilidades também varia de acordo com o contexto político e econômico do local em que a pessoa nasce e está, claro.
Esse é um tema super complexo e eu não quis trazer uma análise a fundo desses mapas aqui pra edição não ficar longa demais, mas a interpretação e relação desses três mapas é um dos conteúdos que devo trazer na edição extra desse mês, exclusiva para os apoiadores. Nessa análise, pretendo abordar um tanto mais sobre esse debate de destino e livre-arbítrio a partir da trajetória de vida dos trigêmeos Bobby Schafran, Dave Kellman e Eddy Galland. Para se tornar um apoiador do Meio do Céu, leia o box azul logo abaixo da próxima seção!
pra desopilar
Essa nova editoria da newsletter é meu momento blogueyra raiz em que eu indico coisas que gostei de ouvir / ler / descobrir / assistir / pensar ultimamente. Pra desopilar a cabeça, porque tá todo mundo com aperto de mente.
2021 já trouxe um monte de música nova boa e álbuns incríveis de artistas maravilhosos, mas o que eu não consegui parar de ouvir desde que saiu é o DDGA, do Rico Dalasam. É leve e melancólico, íntimo e político, delicinha e inquietante, sagaz e casual, tudo ao mesmo tempo. Eu amo as letras dele. Álbum bom pra botar pra tocar de manhã e ouvir inteirinho enquanto prepara um café, arruma uma casa, anda na rua ou começa as tarefas do dia. Bom demais, prometo.
um abraço e até semana que vem,