A primeira coisa que me veio à cabeça para introduzir essa edição foi pensar que escrevi que a semana seria relativamente boa – e a nível coletivo, foi bem agitada, como escrevi que poderia ser (devido à expressividade do mapa da Lua Nova), mas também trouxe avanços favoráveis em meio a alguns fatos bizarros. Em paralelo, a nível pessoal, passei por uma das semanas mais importantes do ano, que movimentou quase todas as áreas da minha vida ao mesmo tempo; escrevo isso aqui não pela exposição pessoal, mas para falar sobre como os movimentos do céu podem ou não refletir a sua realidade individual – e porque é importante compreender que existem vertentes na astrologia que servem a propósitos diferentes. É pouco provável, por exemplo, que o horóscopo do seu signo solar de fato preveja um evento que irá acontecer na sua vida, pois quase nada em astrologia é analisado de forma massificada a partir de um posicionamento pontual – não são todas as pessoas nascidas com Sol em Leão vão conhecer um novo amor na terça-feira que vem, etc. A parte mais coletiva da astrologia, que vai se dedicar a previsões envolvendo um grande número de pessoas, é justamente a vertente da astrologia mundana, essa a qual eu me dedico aqui na newsletter. É uma astrologia voltada para o coletivo, para a sociedade e para a esfera pública – então questões do tipo "essa é uma boa lunação para eu procurar um trabalho novo?" não cabem bem, porque a base astrológica dessa vertente serve para observar o âmbito comum, não o particular. Quando escrevo sobre o céu da semana, é uma forma de delinear o humor geral dos dias e alertar para algumas dificuldades ou facilidades que podem surgir nas ações pessoais que envolvem lidar com fatores externos. É uma forma de usar os trânsitos da Lua e dos planetas a favor das próprias decisões, mas certamente não é o método mais proveitoso e apurado de saber o que esperar da sua semana ou do seu mês. Há eventos previstos ao longo da sua revolução solar que frequentemente irão se sobrepor ou ir de encontro à tudo que eu escrevo aqui, como foi o meu caso nesses últimos dias. Não é sinal de que a astrologia não funciona: é sinal de que é preciso usar as ferramentas certas para o tipo de resultado que esperamos. E no fim das contas, há quem até prefira evitar previsões muito específicas sobre a própria vida, já que nem sempre estamos dispostos a lidar com informações muito diretas que vêm à tona. Nesse caso, entrar em contato com a astrologia a nível coletivo, que é mais impessoal, pode ser muito satisfatório. E no fim das coisas, acho que o mais interessante é perceber essas interrelações entre o eu e o todo, certo? O filósofo Georges Gusdorf diz que a individualidade aparece como um nó no tecido complexo das relações sociais, uma metáfora que acho tão bonita quanto eficaz: somos mesmo partes distintas, minúsculas e enlaçadas entre si, partilhando um espaço comum.
céu da semana
15 a 21 de agosto
Um adendo sobre o início da lunação:
Ao analisar os mapas da lunação de Leão, um pensamento inevitável foi o de que alguma prisão ia pintar por aí. Como é um tanto arriscado comunicar esse tipo de coisa, escrevi só que alguma "decisão ou ordem vinda do âmbito jurídico (STF, provavelmente) deve(ria) chacoalhar as dinâmicas de poder" e que poderia ser pouco antes da Lua Cheia, mas que muita coisa já devia se movimentar na semana passada por conta da angularidade dos planetas no mapa da Lua Nova. E pasmem: a deputada Flordelis teve seu mandato cassado na última quarta-feira, perdendo a imunidade parlamentar, e foi presa na sexta-feira. Além disso, seguindo ordem do Ministro do STF Alexandre de Moraes, a Polícia Federal prendeu o ex-deputado Roberto Jefferson, um dos personagens mais bizarros da nossa política atual, além de aliado de Bolsonaro. Segundo O Globo, "o pedido de prisão partiu da Polícia Federal, que detectou a atuação de Jefferson em uma espécie de milícia digital que tem feito ataques aos ministros do Supremo e às instituições". O mapa da Lua Cheia traz testemunhos ainda mais evidentes de prisões acontecendo, o que parece envolver figuras próximas ao presidente, mas não ele próprio. Apertemos os cintos e sigamos atentos.
E vamos de panorama da semana:
Hoje, domingo, a Lua em Escorpião alcança a quadratura com o Sol em Leão: é o que chamamos de Quarto Crescente. À noite, a Lua faz quadratura também com Júpiter em Aquário. Cara de teimosia, conflito com autoridade, polarizações. Atenção ao apontar dedos e atente à postura defensiva. Vale proteger o que lhe é importante, mas também largar o osso para não estressar demais. A semana tende a fluir e deixar toda a pompa da Lua em Escorpião meio sem jeito.
Na segunda, muitos aspectos se completam no céu: a Lua crescente ingressa em Sagitário pouco depois da meia-noite, dando um bom ânimo no início da semana. Vênus ingressa em Libra, signo que vai ocupar até 10 de setembro: esse é um trânsito que favorece as trocas e os relacionamentos, inclusive no âmbito político, com um período em que poderemos ver mais cooperatividade ou acordos internacionais sendo firmados.
Como escrevi na edição #1, essa será a primeira ocasião do ano em que a Vênus ocupa um signo que lhe é confortável sem sofrer aspectos difíceis com outros planetas ou combustão do Sol. Em Libra, Vênus fará trígono à Saturno e Júpiter em Aquário, o que auxilia no estabelecimento de relações confiáveis, duradouras e estimulantes. (Aliás, pra quem deseja conceber – seja filhes ou outros tipos de criações – taí um período bem favorável pra isso. Para datas específicas, no entanto, o mais recomendável é pedir uma consulta eletiva, em que a astróloga encontra datas mais favoráveis para que determinada iniciativa tenha o melhor ponto de partida possível).
Terça-feira é um dia ágil, com a Lua em Sagitário alcançando o trígono com o Sol, cheia de ímpeto de ação e energia. Lua também faz sêxtil à Júpiter em Aquário, aspecto fortalecido porque envolve recepção. Questões materiais ou de sustento financeiro podem vir à tona de forma propositiva, ainda que a promessa seja maior que a realidade.
Na quarta, a Lua ingressa em Capricórnio ainda na madrugada e faz uma quadratura com Vênus pela manhã, um certo mau humor e procrastinação. Um dia de bastidores, voltado para os assuntos domésticos e pragmáticos.
Quinta é mais um dia de muitos aspectos no céu, e deve ser o mais agitado da semana: Mercúrio encontra conjunção com Marte, Lua faz trígono com os dois e o Sol alcança a oposição com Júpiter. Essa movimentação toda favorece a oposição política à Bolsonaro, e aqui devemos alguma ação efetiva do STF junto ao Congresso. Talvez algo que favorece os trabalhos da CPI? O Sol em Leão, aqui representando o presidente, alcança a oposição exata à Júpiter, um sinal de fraqueza pra ele nos assuntos referentes a projetos econômicos, instituições financeiras e nas questões diplomáticas. Para nós, vale a atenção aos gastos (que são, porém, um dos prazeres menos burocráticos nos tempos pandêmicos, então longe de mim censurar quem tá podendo gastar para ter algum divertimento).
Na sexta, a Lua entra em Aquário no fim da madrugada, faz trígono com Vênus pela tarde e encontra Saturno num abraço pela noite. Afeto, cumplicidade, casa, e sintonia. Bom pra dar um sumiço, se aconchegar e aproveitar a boa companhia.
O sábado nesse mesmo pique de sexta-feira, mas já com aspectos separativos e sem grandes movimentações, nada acontece, feijoada. Ufa.
criações
O destaque da semana são as zines sobre Estrelas Fixas criadas por mim e pela Bárbara Ariola. Elaboramos esse projeto no ano passado, no fervor da pandemia, movidas pelo desejo de escrever sobre um tema pouco difundido na astrologia, num formato despretensioso e acessível (e impresso! Que falta faz ter material de astrologia tradicional impresso!). O Volume I nasceu em novembro de 2020 e esgotou super rápido! Aí no começo desse ano, revisamos e reimprimimos mais uma leva do Volume I enquanto lançamos também o Volume II. Contando os dois, já pesquisamos e escrevemos sobre os mitos e significados de 21 estrelas, todas de magnitude 1 – quer dizer, as estrelas maiores e mais visíveis do nosso céu.
Enfim, esse é um projetinho muito amado por mim e de interesse também para quem é mais curioso do que entendido em astrologia – além da linguagem acessível, falar sobre estrelas fixas envolve contar histórias muito antigas e carregadas de simbolismos curiosos, que seguem se desdobrando e se fazendo presentes de forma inusitada na nossa realidade hoje.
Lá na loja da Alfa Serpente, você leva cada volume por R$30 (frete incluso para todo o Brasil) ou os 2 volumes por R$51 :)
pra desopilar
Para além de todos os direitos e necessidades humanas básicos ameaçados ou restringidos durante a pandemia, uma das coisas que tenho sentido falta é a catarse coletiva – o drama, a intensidade, a profusão de emoções despejadas no meio de um grupo de pessoas. Estar numa multidão assistindo um show ao vivo, performando num karaokê com amigues, sendo parte de um coro de gargalhadas alucinadas na mesa do bar ou no almoço de domingo, etc. É muito estranho mesmo estar há tanto tempo vivendo de forma tão planejada, em que cada saída de casa exige um tanto de organização, programação e cuidados. Acho que a catarse nasce da espontaneidade, coisa que não faz mais parte da minha rotina (e da maioria de vocês, imagino). Enfim, para além da ansiedade e preocupações generalizadas, percebo uma certa apatia emocional que tem a ver com a privação de viver experiências intensas com outras pessoas que amamos. Tem nem clima pra isso, claro. Mas a necessidade catártica do corpo/alma (que na astrologia é assunto da Lua) persiste, mesmo em condições tão limitantes, então o que eu faço? Ouço músicas carregadíssimas de emoção, claro.
Que destino, ou maldição
Manda em nós, meu coração?
— Maria Bethânia (nunca decepciona)
RAINHAS DO DRAMA é uma playlist de mais de 6h de duração com músicas emocionadíssimas dos mais variados gêneros e artistas (sério mesmo, vai de Art Popular à Liza Minelli). Ouça com moderação, sempre que precisar desse momentinho arrebatador. Recomendo em volume alto, com um copo de qualquer bebida na mão.
um abraço e até semana que vem,