Que semana, hein, pessoal? O rolo compressor passou por cima e a sensação que fica é de que não tem muito o que fazer, um misto de preciso-dar-conta e não-aguento-mais. De fato, uma Lua Nova que se iniciou com 5 astros angulares em oposição entre si não veio num clima de leveza; pelo contrário, a Lunação de Leão tem exibido alguns dos significados mais essenciais do signo regido pelo Sol: poder, domínio e controle. E esta é uma Lunação em Leão em que os luminares se opuseram à Júpiter e Saturno em Aquário – a sustentação do poder, portanto, sendo ameaçada por um certo medo, paranoia, e o reconhecimento de não há mais pra onde crescer, de que o limite bateu à porta. A derrota da PEC do voto impresso e a pesquisa XP/Ipespe divulgada na terça-feira com mais um recorde de rejeição de Bolsonaro são sintomas de uma autoridade esfacelada, mas que não altera muito o cenário atual, por enquanto.
A nível subjetivo pessoal, você percebeu nessas últimas duas semanas o tema do poder ou controle nas suas experiências? O que a ameaça pela perda do controle causa em você? A pressão por dominar as situações – seja a própria rotina, as demandas familiares, domésticas ou profissionais – pode ter atingido alguns limites mais evidentes. Aceitar verdadeiramente que nem tudo (quase nada) está sob nosso domínio pode ser aterrador. Aceitar que não é preciso fazer o papel de herói, também: o mito da auto-suficiência é mais uma forma de impôr ao indivíduo uma experiência de mundo alienante e desintegrada do todo. Que a gente está vivendo de uma forma desequilibrada e adoecedora, a gente já sabe – mas o que fazemos com isso? Bom, o intuito da análise astrológica não é dar ordens à vida de ninguém, mas de trazer à consciência situações do passado, presente e futuro e expôr seus significados simbólicos no contexto em que vivemos. Como a gente elabora nossas decisões a partir de tudo isso, é outra história. E vale lembrar que elaborar exige tempo: tempo de silêncio, de reflexão e de presença.
E é a partir dessa retomada da simbologia da lunação que iremos observar, agora, o mapa da Lua Cheia de hoje.
lua cheia em aquário | lunação de leão
A Lua Cheia em Aquário chega às 09h01 desse domingo, e este é o mapa do momento exato da oposição dos luminares:
Essa análise vai ser sucinta pelo simples motivo de que, diferentemente de muitas outras lunações, o mapa dessa Lua Cheia parece apenas reforçar e dramatizar ainda mais os assuntos que a Lua Nova já levantou. Nas próximas duas semanas (talvez já nessa próxima), vejo grande possibilidade de novas prisões de figuras públicas relevantes, ocasionadas por ordens ou envolvimento direto do STF. Pessoas ligadas ao próprio Bolsonaro estão sob risco nesse período, embora ele mesmo não pareça sofrer dano direto, mas sim uma forte pressão da sua base de apoio parlamentar. Numa interpretação alternativa, pode-se pensar em novos fatos ligados à máquina de fake news vindo à tona e dando mais definição e corpo às investigações, mas tendo a achar que esse mapa indica ações concretas sendo empreendidas, e não só manchetes escandalosas.
E se na Lua Nova o ângulo do Meio do Céu estava conjunto à Procyon, o cão menor, nesse mapa da Cheia ele aparece conjunto à Sirius, latindo ainda mais alto, fazendo mais alarde, convocando ao estrago. Contudo, a pressão pela "ordem" vem, e o presidente fica num impasse, sem querer largar o osso. O estado geral do país e do povo se mostra na Vênus em Libra na casa 1 em aspecto harmonioso com Saturno em Aquário, com pouca paciência para tanto barulho. A oposição aparece com mais oportunidade de se pôr em evidência como voz de sensatez e temperança.
Encontrar a justa medida das coisas para manter-se em capacidade de agir e se movimentar é um dos pontos principais dessa quinzena: para equilibrar os pratos da balança de Libra, é preciso ponderação e uma noção amadurecida dos próprios limites, que não devem ser negociados a qualquer preço. As capacidades criativas, inventidas e de solução de problemas estão favorecidas, bem como circulação e disseminação de ideias, divulgação de projetos, etc. Os assuntos familiares e domésticos também estarão enfatizados de forma benéfica e propositiva.
céu da semana – 22 a 28 de agosto
Semana que é inaugurada com uma Lua Cheia não costuma ser tranquila, e esse parece o caso dessa também, ainda que com algumas oscilações. Ainda hoje, domingo, a Lua ingressa em Peixes logo pela manhã, e o Sol em Virgem, no fim da tarde. Há um clima de recolhimento e um certo esgotamento que sucedem a extroversão, mas permanece um clima ameno, meio preguiçosinho. A segunda mostra muita dificuldade no desempenho de tarefas, organização e objetividade, com muita procrastinação, sabotagem, e dificuldade de concentração; no meio da tarde de terça, a Lua ingressa em Áries e a falta de foco tende a se transformar em impaciência e agressividade, o que perdura na quarta-feira, podendo se mostrar especialmente em atritos nas relações, mas que ganha algum alívio na parte da tarde, quando o aspecto de oposição da Lua com Vênus já será separativo. Ainda que a Lua em Áries siga com fúria e nervosismo, a quinta é um dia um pouco mais sossegado, em que a Lua passa buscando o sêxtil com Júpiter, o que ajuda no cansaço e a dar um gás nos assuntos de aprendizado e comunicação. Na sexta a Lua entra em Touro no início da madrugada e, encontra o trígono com o Sol e a quadratura com Saturno; dia de preocupações e paranoias, evite alimentá-las e priorize objetividade e praticidade nas trocas e negociações; foque no que está mais próximo de si e nos assuntos mais íntimos e internos, que não envolvem terceiros ou tantas instâncias externas. No sábado, por fim, a Lua em Touro encontra trígono com Marte em Virgem e exige novamente muito pé no chão, atenção e assertividade (mas não pressa!) em tudo que envolve lidar com outros, acordos, transações e movimentações materiais.
notas astrológicas
a Lua e sua relação com o corpo
Para que falar também dos braços de mar ou das agitações
marinhas? Seus fluxos e refluxos são governados pelo movimento da
Lua. Seiscentos exemplos dessa mesma natureza podem ser citados
para que se veja a relação natural de coisas distantes.
— Cícero, De divinatione II
Uma das relações astrológicas que mais demorei a assimilar, enquanto estudante, foi da Lua enquanto significador do corpo. A Lua costuma ser facilmente compreendida como uma significadora das emoções e da sensibilidade, de figuras maternas, do alimento e até da inconstância e velocidade (por ter fases visíveis e pela rapidez com que percorre o zodíaco). Até a associação do movimento da Lua com as marés e outros corpos d'água vem de longa data, como descrito por Cícero no trecho acima, ainda no século I AEC. Falar da Lua enquanto regente do nosso corpo, no entanto, pode parecer estranho a quem é menos familiarizado com o sistema astrológico tradicional. Pois bem: a Lua é um dos pontos do mapa que versa sobre a nossa materialidade, e suas condições no mapa natal podem dizer muito sobre a relação do nativo com seu próprio corpo. Uma Lua que não aspecta o ascendente ou regente do ascendente pode indicar um descompasso da pessoa com o próprio corpo, por exemplo; ou mesmo quando há aspecto, uma Lua enfraquecida (minguante, em casa cadente e em signos que não tem afinidade) ou sofrendo quadratura ou oposição de Marte e Saturno também pode indicar problemas para o nativo em relação à consciência corporal, à ocupação do próprio corpo enquanto fundamento da sua experiência individual no mundo.
Acontece que a Lua não só é uma regente do corpo físico, como também é uma das regentes da mente. A Lua se relaciona à mente no sentido anímico – como uma esponja, ela absorve experiências, capta sinais, percebe o mundo à volta de forma instintiva, corporificada, sensorial. Mercúrio, por outro lado, está a serviço da função racional, organizando, associando e interpretando as ideias que chegam. Quando Mercúrio está muito mais fortalecido num mapa do que a Lua, o que muitas vezes acontece é que há uma preponderância da inteligência racional frente à inteligência corporal. O corpo é jogado pra escanteio, ainda mais em rotinas tão virtualizadas, desmaterializadas e restritivas. Eu, pessoalmente, cresci acreditando que a inteligência era algo que se localizava apenas dentro da cabeça, e que o corpo era mais uma carcaça do que qualquer outra coisa. Para muitas pessoas, bem como o meu caso, reconectar-se ao próprio corpo integrar os dois tipos de mente é um exercício constante, algo a ser aprendido e praticado. E o corpo não só tem inteligência própria, como carrega memória (memória, claro, também é lunar!). Daí vem aquele saber popular de que quem aprende a andar de bicicleta nunca mais esquece – porque o corpo reconhece os movimentos, ainda que falte o hábito. Quando tocava piano e achava que não lembrava como tocava uma música, bastava pousar os dedos nas teclas para que as mãos soubessem o que fazer. Há coisas que deixamos de fazer há anos, e que podemos pensar que retomar a atividade, agora, significa voltar da estaca zero – mas mesmo com a passagem do tempo, o corpo estava ali, o tempo todo, absorvendo aprendizados e carregando as memórias passadas. E por último, quando a cabeça está perturbada, atordoada, sobrecarregada ou pifando, pode parecer um contrassenso, mas voltar-se ao corpo pode ser surpreendentemente eficaz – foi o que fiz na última quinta-feira, quando a falta de foco era total e nenhuma tarefa intelectual ia pra frente; decidi sair pra uma caminhada, sem nenhuma vontade, até que a caminhada virou uma corrida, e a corrida se estendeu por dezenas de minutos sem parar, sem pressa, mas na constância de um corpo que, ao contrário da mente racional, precisava mesmo era de estímulo. E desse estímulo, veio o alívio. Tudo isso, enfim, é só uma brisa astrológica e uma nota para cuidar das mentes de vocês, a anímica e a racional, que elas existem ainda melhor juntas.
Um abraço e até semana que vem,