Doenças infecciosas transmissíveis pelo ar não respeitam fronteiras. Os efeitos da crise climática global também não: desequilíbrios graves já são visíveis nos países mais ricos do mundo, ao passo em que os países mais pobres mal conseguem tratar dessa pauta, já que problemas mais urgentes tomam a dianteira. O fato de as fronteiras serem criações humanas e coloniais não quer dizer que os desastres provocados por esses fenômenos sejam distribuídos "democraticamente" – como a pandemia tem mostrado muito bem, há quem tenha ficado ainda mais rico, enquanto a fome se agrava no Brasil. Na astrologia, quem rege as fronteiras é Saturno, o planeta dos fins e dos limites, já que é o último visível a olho nu no céu. Nas vésperas do ingresso de Saturno em Aquário em dezembro passado, escrevi um pouco sobre prováveis mudanças a respeito do tema "fronteiras", e achei pertinente replicar aqui uma parte:
"Nas questões de territorialidade, há de se notar mudanças fundamentais na qualidade do elemento regente. A Era que está se encerrando agora [2020] foi regida pelo elemento Terra, de natureza fria e seca; foi durante esse período, iniciado no começo do século 19, que muitos Estados se constituíram como nações, que fronteiras foram desenhadas – muitas vezes à contrariedade dos povos que habitavam aqueles locais. O elemento terra enrijece, sem fecha em si próprio, é firmemente estável; assim são as fronteiras do mundo em que conhecemos. A mudança para a Era de Ar oferece uma regência de elemento de natureza oposta: na astrologia, o ar tem as qualidades quente e úmido; ele é instável e tende à expansão, à conexão, à maleabilidade. São qualidades que proporcionam a ideia da conectividade e da união. Com isso, podemos esperar – provavelmente não de imediato, claro – uma forte tendência global ao afrouxamento de fronteiras, à maior abertura de trânsito e trocas entre os países. Não por livre e espontânea vontade, claro. [...] Penso que a provável conclusão que chegaremos, coletivamente, é que a forma mais efetiva (e econômica) de conter os danos de novas doenças e ou escassez ambiental é a união de esforços internacionais em prol de objetivos comuns e benéficos à todos. Podemos dizer que aqueles que pensam a territorialidade através de muros e numa independência soberana e insular (alô, Brexit) estão, sim, com os dias contados."
Aqui na nossa Terra Brasilis, o assunto "fronteiras" foi a maior pauta da semana, ainda que solenemente ignorada pela grande mídia. E se num sentido mais restritivo Saturno representa fronteiras e limites instituídos, num sentido mais generoso ele também vai representar barreiras de proteção e preservação. Sobre o mapa da Lua Cheia, falei sobre assuntos familiares e domésticos vindo à tona de forma propositiva, e que "para equilibrar os pratos da balança de Libra, é preciso ponderação e uma noção amadurecida dos próprios limites, que não devem ser negociados a qualquer preço". Pois bem: a Lua Cheia ocasionou também a mobilização de 6 mil indígenas de 170 povos, que estão acampados na Esplanada dos Ministérios em Brasília para firmar posição contra o marco temporal e em defesa da demarcação de suas terras.
O julgamento no Supremo começou em 26 de agosto, foi suspenso e deve ser retomado na quarta-feira. O cenário dos próximos dias é de forte disputa, já que entre os dias 1 e 4 de setembro a Lua estará transitando em Câncer a Leão, signos de aversão à Saturno, o regente dos povos originários no mapa dessa lunação. Apesar disso, Vênus ainda caminha em Libra e se aproxima do trígono com Júpiter em Aquário, o que me parece um testemunho promissor para a garantia desses direitos. O ingresso de Mercúrio em Libra na segunda-feira também advoga pela defesa dos territórios indígenas. Seguimos acompanhando essa pauta e de olho nesses temas também na nova lunação que se aproxima; a depender de quanto tempo tomará para essa decisão ser definida, muitos aspectos dessa dinâmica ainda podem se movimentar.
No mais, o que dizer sobre o cenário coletivo do Brasil às vésperas das manifestações do 7 de setembro? O cheiro de pólvora está no ar e, embora eu tenha escrito lá em março que não via oportunidade para um golpe ocorrer no país esse ano, a ameaça mantém num temor constante. Apesar de tudo isso, os mapas astrológicos parecem apontar os que vários analistas dizem: que o bolsonarismo está, de fato, minguando. Como escrevi na semana passada sobre o mapa da Lua Cheia, o próprio sequestramento do 7 de setembro por Bolsonaro é mais uma forma de fazer barulho, de tentar jogar o tabuleiro pro alto, já que ele não pode mais jogar (o jogo político, claro, já que as pesquisas eleitorais indicam que sua figura perdeu muito poder) – "se na Lua Nova o ângulo do Meio do Céu estava conjunto à Procyon, o cão menor, nesse mapa da Cheia ele aparece conjunto à Sirius, latindo ainda mais alto, fazendo mais alarde, convocando ao estrago." O estrago vem? Honestamente, a nível astrológico, não vejo indícios disso nessa próxima Lunação de Virgem, que inclusive abre o 7 de setembro (a lunação se inicia na noite do dia 6). Essas previsões, no entanto, vêm em detalhe na semana que vem. O que eu posso adiantar é que, a nível político, não teremos sossego nos próximos meses. O ingresso solar em Libra no próximo mês traz um mapa bastante complexo, bem como as lunações de Libra e Escorpião (6 de outubro a 3 de dezembro), que levantam temas bem cabulosos. Tem sido especialmente difícil observar esses símbolos todos e prever a partir deles, principalmente porque estive mais ausente das notícias e do debate político, mas seguiremos por aqui tentando cavucar e ver o que sai. Sem mais delongas, então, vamos à edição da semana, que traz uma novidade: uma análise de evento!
análise de evento
Esse é o mapa da posse de Jair Messias Bolsonaro, fato ocorrido no dia 1 de janeiro de 2019, precisamente às 15:10, quando ele assinou o termo de posse e tornou-se presidente do Brasil. Para os astrólogos árabes e persas medievais, o momento exato em que um governante tomava o poder (ascendia ao trono) era de fundamental importância, pois daí poderiam se analisar as perspectivas daquela dinastia, previsões para o reino, etc. Na nossa realidade atual brasileira, as dinastias são os mandatos presidenciais, de duração de 4 anos. O mapa dessa posse é um caso de estudo muito interessante porque hoje, 32 meses depois do início do pior governo da história do país, é nítido ver como vários aspectos do mandato estão escancarados no mapa. Vamos olhar alguns deles de perto, então.
Podemos observar as condições gerais do povo durante esse mandato pela Lua e pelo planeta regente do ascendente, que no caso é Vênus, já que a casa 1 abre em Touro. Lua e Vênus estão curiosamente unidas em Escorpião, na casa 7. Escorpião é um signo de desconforto para ambas, já que é queda da Lua e exílio da Vênus; esse duplo testemunho, por si só, já é um indicador de que o mandato não favorece a população, de forma geral. O povo se vê "exilado" no próprio país, jogado à própria sorte. A posição de ambas na casa 7 também indica uma condição muito desfavorável nas relações internacionais; durante o mandato, tivemos uma das figuras mais bizarras no comando do Itamaraty, Ernesto Araújo, que em dada ocasião, chegou a dizer que, "se a atuação da diplomacia do país faz de nós um pária internacional, então que sejamos esse pária". Vênus ainda está conjunta à estrela Agena, da constelação do Centauro, que versa sobre sacrifício (sacrificando o bem-estar do próprio povo, claro) e envolvimento a venenos (cloroquina!).
Na casa 8, temos Júpiter e Mercúrio em Sagitário, ambos também conjuntos à estrelas fixas. Mercúrio nesse local com Ras Alhague – outra estrela associada à venenos e medicações – é a cara do escândalo de corrupção da Covaxin, além de um testemunho evidente de que a economia, nesse governo, não irá nada bem. Júpiter, apesar de ser o benéfico mais propositivo no mapa, está configurado numa casa que, além da corrupção, fala de gastos e dívidas, além de conjunto à uma estrela Antares, de grande potencial destrutivo. Júpiter ainda é regente do Congresso e, posto na casa 8, em antíscia (que é uma espécie de conjunção oculta) à Saturno, mostra que está fechado com o governo, apesar das forças opositoras internas.
Na casa 9, por fim, vemos um Sol jubilado muito próximo à Saturno em Capricórnio. Saturno, por ser regente do Meio do Céu, representa o presidente; mas o Sol, um regente essencial do líder, por estar excessivamente próximo, "queima" a figura do presidente. E o Sol representa quem, nesse mapa, especificamente? Por ser regente da casa 4, que abre em Leão, o Sol é a própria oposição. Bolsonaro fez muito estrago desde que subiu ao poder em Brasília – e isso se vê também pelo fato de que Saturno combusto pelo Sol tem seu poder de destruição muito agravado –, mas também não teve um minuto de paz, um mandato turbulento desde o primeiro dia. O Sol, que é a oposição, está sujeita à ele, nos domínios de Saturno, mas o ofusca.
E Marte, enfim, surge na casa 12, recém-ingresso em Áries. Esse também tem sido um mandato marcado por traições, reviravoltas, segredos e muitos inimigos: tudo isso é atribuído à esse Marte de casa 12, que carrega um potencial de destruição fortíssimo, já que Áries é o signo de queda de Saturno, o próprio governante. Percebam que os momentos de maior fragilidade do presidente se deram seguidos ao rompimento de aliados internos ou revelação de crimes e questões sigilosas. Aí está a possível razão de sua derrocada – impeachment já não parece uma realidade viável desde a eleição de Arthur Lira como Presidente da Câmara dos Deputados em fevereiro, mas a olhar por esse mapa de posse, nunca foi, já que o Congresso é Júpiter.
É possível traçar previsões a partir desse mapa, fazer algum tipo de progressão, direção dos termos, etc? Eu acredito que sim, embora não conheça nem nunca tenha visto exemplos e experimentações consistentes de técnicas a partir de um mapa de mandato. Como forma de estudo, resolvi inventar e experimentar uma forma de previsão bem basal, a partir desse mapa: como a duração do mandato é de 4 anos, podemos experimentar dividir esse mapa em quatro partes, atribuindo cada uma delas a um dos anos de governo:
Pode parecer uma forma bem simplista de levantar previsões sobre um mapa, mas percebam como parece que essa divisão funciona bem para esse governo: os primeiros dois anos de mandato, referente aos terços inferiores do mapa, das casas 1 a 6, aparecem sem planetas ocupando as casas, indicando possivelmente que os assuntos mais definidores do governo venham a se desdobrar na segunda metade do mandato. O ano de 2021 (e aqui estamos falando do ano do calendário mesmo, de janeiro a dezembro) estaria relacionado às casas 7 a 9, e olha a confusão que se abre aí, com quase todos os planetas ocupando esses locais: os assuntos da vacinação, da corrupção e a ênfase do cenário jurídico são pautas definidoras desse ano. Seguindo essa lógica, o ano de 2022, o derradeiro desse pesadelo bolsonarista, estaria descrito no terço das casas 10 a 12: não nos enganemos pela aparente desocupação das casas; temos aí o lote da fortuna em Peixes na casa 11, em aspecto harmonioso com os representantes do povo (Lua e Vênus em Escorpião na casa 7). E Marte em Áries, o maior perigo desse mapa, estaria ativado no próximo ano. Será outra reviravolta, outra traição que apunhala o presidente pelas costas? Difícil dizer por agora, e lembro que esse estudo é mais um experimento do que uma previsão fundamentada, mas a ativação desse Marte me parece um indicativo de, no mínimo, derrota – e no mais dramático dos casos, prisão, assunto próprio e específico da casa 12. Seria o Tribunal de Haia um sonho viável já para 2022? Vai saber. Os inquéritos correm nos bastidores, e eu sigo olhando para esses mapas em busca da esperança que alimenta a ação no momento presente.
céu da semana
30 de agosto a 5 de setembro de 2021
Semana de Lua Minguante. Apesar disso, pasmem, talvez seja uma semana mais enérgica pra muita gente do as duas últimas (uma lunação dos luminares em oposição à Saturno cobra seu preço na vitalidade, né?). A Lua vai de Gêmeos a Leão, mas fica com os aspectos mais difíceis pro fim da semana e início da próxima. De certa forma, uma semana surpreendentemente propositiva e resolutiva em alguns assuntos – a Lua se escondendo no céu e a gente aqui sacodindo a poeira da correria atropelada desse ciclo. E vamos no dia a dia, então:
Hoje, domingo, a Lua no finzinho de Touro faz quadratura à Júpiter na madrugada e encontra trígono com Mercúrio no fim da manhã. De manhá dá preguiça, inércia e aquela angústia-preocupação já rotineira desses tempos. Bom pra fazer nada. No início da tarde, a Lua ingressa em Gêmeos, o que dá uma leveza no humor, atiça a curiosidade, a espontaneidade e o interesse por fazer, conhecer, circular, trocar ideia, se inspirar. Domingo gostosinho.
Segunda-feira começa com o ingresso de Mercúrio em Libra no início da madrugada, talvez o salvaguarda da semana, já que a semana útil começa com a chegada do Quarto Minguante e Mercúrio ingressa na casa 1 da lunação, regozijado (Gil do Vigor introduziu essa palavra ao meu vocabulário), acompanhado de Vênus e em bom diálogo com Júpiter e Saturno. No início da manhã, a Lua em Gêmeos já completa o trígono com Saturno em Aquário. Um começo de semana muito bom, dado que estamos na Minguante e o costume é estar só o pó da rabiola, nessa fase. Os trígonos de ar e o ingresso de Mercúrio favorecem muito as atividades intelectuais, a comunicação, trâmites e transações, elaboração de ideias, escritas, etc. Um bom início de semana, e muito criativo.
Na terça temos Lua em trígono com Vênus e Júpiter, porém quadratura da Lua com Marte. A irritação vem, podendo causar ruídos em relações, mas a tendência é engolir o sapo e fazer uma diplomacia, o que pode ser bem efetivo. Trígono Vênus-Júpiter, aliás, a diplomacia pura. Exposição de ideias, lidar com negociações ou diálogos difíceis, iniciar conversas, tudo aqui tá pra jogo num sentido bem propositivo.
Quarta chega com o ingresso da Lua em Câncer seguido de quadratura dela com Mercúrio, além do sêxtil entre Sol e Lua. Esse sêxtil entre luminares pode indicar assuntos que vêm à tona ou a revelação de fatos ainda desconhecidos (o ingresso Mercúrio em Libra já na segunda também pode significar isso), além de surpresas desagradáveis ou reviravoltas inusitadas. Daí o tensionamento Lua-Mercúrio pode provocar um quê de indecissão, de impasse na tomada de decisões. Também pode rolar um desentendimento de leve com autoridades ou figuras de poder, mas nada muito sério.
Na quinta, Lua em Câncer encontra quadratura com Vênus em Libra, uma fricção que dá caldo. Pressão que vem do alto, talvez uma sinuca de bico entre o que se sente que se deve fazer e o que se precisa fazer. Dificuldade e perturbação para tomar lados, o que parece inevitável. Lua completa também o sêxtil com Marte em Virgem e parece que algum desapontamento na lida com os outros será inevitável.
Sexta traz o ingresso da Lua em Leão, e mais nada. Depois das pequenas tensões diplomáticas de quarta e quinta, segue-se um dia em suspenso, mas que se sente aos poucos uma pressão difusa se formando, com a Lua minguantíssima se aproximando da oposição com Saturno em Aquário. Aqui é melhor evitar grandes movimentos e decisões, esperar o terreno limpar e ver como as coisas se reconfiguram.
O sábado encerra a semana com sêxtil de Lua e Mercúrio, oposição da Lua com Saturno e trígono de Mercúrio e Saturno. Um dia de resoluções, imposição de autoridade e tentativa de justiça, ponderação, escuta, ações pelo coletivo ou comunidade. Bom para traçar planos e fazer organizações, mas a tendência é prometer muito mais do que se pode cumprir.
pra desopilar
Vênus está em Libra desde o dia 16 de agosto e fica aí nesse signo até o dia 10 de setembro. Eu já exaltei bastante esse trânsito e até dei umas orientações sobre os assuntos que estão favorecidos, já que essa vai ser a passagem mais gostosinha de Vênus por um signo em 2021. Então hoje eu tô aqui nessa editoria apenas pra recomendar a minha própria playlist (kkkk), Vênus em Libra, uma compilação de músicas elegantérrimas inspiradas na beleza cintilante (e um pouco melancólica) desse posicionamento. Essa playlist não é nova, mas eu dei uma bela revigorada nela essa semana, com cortes e adições. Diferente da série de playlists das Luas que eu idealizei – que possuem apenas músicas cantadas ou interpretadas por músicos nascidos da Lua naquele signo – essa de Vênus é uma playlist bem livrona, baseada na minha percepção de som e letra mesmo. Bota aí pra viver um momentinho chique e gracioso.
um abraço e até semana que vem,