"Serendipidade" costuma ser descrito como o ato de descobrir coisas agradáveis ou interessantes de forma inesperada, ou até mesmo encontrar soluções para alguma situação em sua vida. Fiquei com o termo na cabeça depois de ouvir o episódio do podcast Angu de Grilo dessa semana (imperdível, aliás), em que a Flávia Oliveira cita o termo a partir da leitura que fez do livro "Um defeito de cor", da Ana Maria Gonçalves, para falar sobre uma compreensão mais profunda desse conceito – da serendipidade como algo além de uma casualidade feliz ou de uma "sorte atraída", mas como uma postura de estar minimamente atento aos sinais quando as coisas pelas quais você estava predestinado a viver se apresentarem, enfim, no seu percurso. Como alguém que pensa quase diariamente a respeito desses temas por conta da astrologia, penso que o destino sempre será algo demasiadamente complexo e misterioso para nossa compreensão. Escapa à nossa percepção humana, ao nosso entendimento. Talvez seja melhor assim. E quando lemos ou ouvimos previsões sobre o futuro, estamos reconhecendo ou mapeando pequenos nós visíveis na trama complexa do destino, mas os nós são trechos ínfimos em um tecido imensurável e indecifrável. Penso que a serendipidade pode ser algo parecido: a capacidade de usufuir do acaso a partir de uma percepção mais atenta e aberta às múltiplas possibilidades do próprio destino. Papo brisado, né? Calma que tem mais.
O melhor seriado que eu já assisti na vida tem um diálogo que, de tempos em tempos, me volta à cabeça, que diz algo assim (tradução minha):
Nate: Pare de ouvir a estática.
Claire: O que diabos isso significa?
Nate: Nada. Só quero dizer que tudo no mundo é como essa transmissão, abrindo caminho na escuridão. Mas tudo – morte, vida, tudo – está completamente impregnado de estática. Sabe? Mas se você ouvir muito a estática, você fica maluco.
— Static, episódio 5.11, Six Feet Under
Talvez, também, a serendipidade – um fenômeno simplesmente ocasionado por uma postura de forte conexão à própria vida – e os oráculos, com seu potencial revelador, sejam formas de amenizar todo o ruído que nos cerca. Reduzindo a estática, o que podemos ouvir e enxergar? O que está posto em nosso caminho? O que se vislumbra à frente, além do barulho usual que tanto nos ocupa? Estar atento aos sinais é um exercício constante também de quem se propõe o exercício de analisar qualquer cenário ou conjuntura com lucidez, incluindo aí a observação do céu, que é um espelho dos movimentos e dinâmicas aqui da Terra.
lunação de virgem – lua nova
6 de setembro a 5 de outubro
Estamos no fim de um ciclo. A entrada do Sol em Virgem sinaliza a decaída do inverno para nós no hemisfério sul, o que significa também que o segundo trimestre do ano astrológico está se encerrando: o ingresso do Sol em Libra em 22 de setembro traz o início da primavera, gerando um novo mapa complementar de previsões para o Brasil. Como expliquei lá no início do ano astrológico, em 20 de março, sempre que o mapa do ingresso do Sol em Áries tem um ascendente em signo cardinal, é preciso abrir mapas complementares a cada início de estação, o que traz novas informações sobre os próximos três meses no país.
A lunação de Virgem que começa amanhã, dia 6 de setembro, será atravessada por esse equinócio de primavera. Vou escrever sobre o mapa do ingresso solar em Libra na semana que vem, para que essa edição não fique longa demais. Teremos um período super decisivo entre 22 de setembro e 21 de dezembro, isso é certo. Mas por ora, temos material suficiente para observar com essa Lua Nova, que cai numa data tão controversa da nossa história – o 7 de setembro.
No hemisfério sul, o signo de Virgem é o fim de inverno, o prenúncio da primavera: um signo de natureza mercurial que expressa o discernimento necessário para escolher as sementes a serem plantadas. Separar, organizar, identificar, distinguir – o funcionamento em favor das minúncias, do aprimoramento e da eficiência são características desse signo, que manifesta os atributos mais práticos de Mercúrio. O que você quer plantar, bicho? Que futuro ainda dá pé? Tá dando pra se permitir sonhar, ter algum quinhão de esperança, pra além do modo sobrevivência? Realmente não tá fácil pensar no amanhã, mas essa lunação abre um ciclo em que põe em evidência a relação natural entre plantio e colheita: seu esforço e energia estão sendo usados em prol de quais planos, sonhos e ideais? O que orienta suas ações? Esses princípios e intentos restringem ou ampliam o potencial que você faz? Plantar semente em solo seco raramente dá certo. Aliás, aquele ditado popular cai bem à essa lunação: não espere colher frutos se você só planta capim.
No mapa dessa Lua Nova estão ativadas com Vênus em Libra as estrelas Arcturus e Spica, que carregam símbolos relacionados à lavoura e ao cultivo. Enquanto Arcturus trata de iniciativa e da capacidade de proporcionar prosperidade, Spica está mais voltada para a colheita em si, o que se obtém após o trabalho e dedicação empregados. Resumidamente, é tempo de labuta em prol do que se acredita – se nesse mapa é Vênus que ativa Arcturus e Spica enquanto faz um trígono com Júpiter, na Cheia essas estrelas voltarão a ser ativadas por Mercúrio, num trígono exato com Júpiter também – mas também um indício favorável de que poderemos ver esforços sendo recompensados, de trabalho gerando frutos. Afinal de contas, é a Vênus, regente da casa 1 – que trata do povo e das condições gerais do país – em trígono com Júpiter, o grande benéfico. Há espaço para um pouquinho de esperança, em tempos tão castigados.
O encontro de Sol e Lua se dá na casa 5, acompanhados por um Marte em Virgem. Os três juntos, sem aspecto a qualquer outro planeta. Há muito ameaça golpista no ar, mas astrologicamente falando, não enxergo possibilidade de ruptura democrática. O presidente ainda conta com uma base de apoio fiel, ainda que diminuta, e parte significativa dela é composta de policiais e militares armados e prontos a defendê-lo a qualquer custo, e o perigo é esse. Apesar disso, a meu ver, as instituições democráticas aparecem nos mapas mais fortalecidas do que ameaçadas, e a figura do presidente segue enfraquecida e esvaziada, perdendo apoio até das elites financeiras do país.
Objetivamente falando, me parece que o 7 de setembro, de imediato, não terá força pra modificar o cenário atual, que é de esmorecimento da força do governo. O dia será marcado por uma Lua transitando em Virgem indo de encontro à Marte, no mesmo signo, sem aspectos a outros planetas, ou seja, sem possibilidades de fato de afetar a conjuntura significativamente. Mas será um dia da Lua caminhando em direção à Marte, planeta regente das casas 7 e 12 da lunação, o que não é brincadeira: há risco de violência e perigos súbitos, inesperados. Boa parte da oposição tem recomendado não participar das manifestações como estratégia de não inflamar a base bolsonarista, não jogar o jogo deles. Penso que, nessas condições, isso é o mais recomendado. Está sendo esperada a maior manifestação pró-bolsonaro desde o início desse governo, mas me parece que ela será menor do que imaginamos – o problema é que, com gente armada, não é preciso muito pra causar estrago. Se cuidem, se protejam e estejam atentos.
Aliás, falando de 7 de setembro, vocês sabiam que a data original, em 1822, é tomada pela maioria dos astrólogos como a data de fundação do Brasil?
Pessoalmente, tenho algumas ressalvas em relação a tomar uma única data como mapa fundacional de um país, pois acho que é uma lógica de "nascimento" vinda da astrologia das natividades, que não se aplica tão bem à astrologia mundana. De toda forma, o 7 de setembro de 1822 tem grande relevância na nossa história, ainda que seja uma data mais construída do que propriamente institucional: o grito no Ipiranga foi um marco decisivo pela independência do país, mas é possível tomar vários marcos que de fato formalizam o Brasil enquanto nação independente. A coroação de D. Pedro I em 1 de dezembro de 1822 é um ritual institucional importante de tomada de poder; a primeira Constituição do Brasil, outorgada a 25 de março de 1824, marca a conclusão do processo de separação e institui, por exemplo, a nacionalidade brasileira, algo que não existia até então, enquanto estávamos subjugados à Portugal. Enfim, o debate da data que fato marca a fundação ou "nascimento" de uma nação é interminável, e talvez até descabido: há muitas datas fundamentais e significativas na nossa história, úteis para delinear previsões para o país, e acredito que diferentes mapas podem chegar a conclusões próximas. De toda forma, o mapa da Independência é um que estou sempre observando de perto, já que é um dos poucos eventos que sabemos o horário com evidências históricas. A partir dele, é possível traças várias interpretações sobre o projeto de nação do Brasil, sobre a nossa identidade e sobre nossos maiores problemas (e bênçãos, também). Tô inclusive pensando em trazer um estudo detalhado desse mapa aí como edição exclusiva desse mês de setembro, viu? Quem ainda não é apoiador da newsletter, fica o convite aqui então para se juntar a nós nessas análises aprofundadas, que eu tô adorando fazer.
trânsitos do mês
Essa edição vai ficar sem a editoria céu da semana, porque o humor geral fica bem refém desse início da lunação, sem muito o que complementar. O único dia que acho pertinente salientar aqui é sexta-feira, que teremos Vênus e Lua em Escorpião, com a Lua encontrando uma quadratura braba com Saturno, o que fragiliza bastante os relacionamentos, um climinha pesado de tensão e pokas ideias que pode perdurar ao longo do fim de semana. Cuidado pra não cuspir veneno ou dar ferroada por nada, tá? A raiva passa, o estrago fica e o veneno a gente acaba engolindo também.
Vênus ingressa em Escorpião às 17:39 do dia 10 de setembro, a próxima sexta-feira. Depois de uma bela passagem por Libra, esse não é um trânsito favorável ao planeta da beleza, da harmonia e da união, ainda mais porque ela fará quadraturas com Saturno e Júpiter. O período mais complicado é justamente nesses primeiros dias, de 10 a 17, quando a quadratura será aplicativa, se aproximando do grande maléfico. A partir do 18, ela caminha indo em direção à Júpiter, ainda num aspecto tenso, porém com um planeta menos danoso. Vênus se veste das armas de Marte, regente o signo de Escorpião, onde a briga e as rupturas e os embates são mais silenciosos. Há de se lembrar que a água é um elemento adaptável, que toma a forma do receptáculo, e que a água de natureza fixa do Escorpião evoca uma constante tensão que se carrega no corpo, naturalmente habituado ao controle e à prontidão para a batalha. Se Vênus é relaxamento, entrega, troca e prazer, em Escorpião ela descobre seu exílio porque vivencia a relação no território da disputa. Por outro lado, Vênus em Escorpião também pode indicar uma recusa a desempenhar um ideal social de feminilidade e maternidade; a figura feminina que exprime a voracidade da sua raiva, fiel ao sobretudo ao próprio desejo.
Marte ingressa em Libra às 21:14 do dia 14. Aqui temos uma inversão: assim como Vênus tem pouca afinidade natural com o signo de Escorpião, regido por Marte, Marte também fica desconfortável em Libra, que é signo da Vênus. Em Libra, Marte fará aspectos harmoniosos com Saturno e Júpiter e deve pôr em evidência todas dinâmicas que envolvem as polícias e forças militares. Marte encontra o trígono exato com Saturno no dia 25 de setembro, indo depois em direção à Júpiter. Marte em Libra não é um posicionamento que costuma representar arroubos golpistas ou movimentos muito incisivos, pelo contrário, sendo mais covarde ou apaziguador, mesmo em situações em que se pede ação concreta. É difícil escrever previsões num governo tão imprevisível, mas acredito que teremos uma percepção mais nítida e estabelecida do posicionamento das forças policiais e militares em relação às dinâmicas políticas atuais até o fim desse mês.
Mercúrio em Libra ficará retrógrado no dia 27. Não me parece uma retrogradação tão danosa, mas os assuntos mercuriais ficam mais prejudicados entre o dia 21 e 4 de outubro. No dia 20 de setembro, Mercúrio inclusive completa o trígono com Júpiter em Aquário, então fica a dica para adiantar e buscar resolver as tarefas que envolvem instâncias jurídicas, burocracia, documentação e etc até lá. Lembrando que as trocas comerciais, a comunicação, os números e cálculos, o diálogo e o discurso, as mensagens, o pensamento, a análise crítica, a educação e as disputas verbais são todos assuntos mercuriais.
No dia dia 29 de setembro, o Sol completa trígono com Saturno, um aspecto de grande importância e que deve movimentar e evidenciar bastante as dinâmicas de poder já alguns dias antes dessa data. Me parece bastate prejudicial ao presidente. Sol e Saturno representam diferentes tipos de poder, e eles farão um aspecto forte envolvendo signos que enfraquecem a autoridade: Aquário, onde está Saturno, é um signo de desgosto ao Sol; e o próprio Sol estará ocupando Libra, signo conturbado à liderança. Há algo de fragmentação de poder, de esgotamento. O que será que vem nesse fim de mês?
No dia 30, a Vênus em Escorpião completa quadratura com Júpiter, o que me parece envolver fortemente assuntos jurídicos e de interesse público. Muito prejudicial em termos de diplomacia e conciliação, vale dizer. É aconselhável deixar grandes iniciativas que envolvam parceria, colaboração, pacificação e boa relação para quando Vênus ingressar em Sagitário, no início de outubro.
Um abraço e até semana que vem,