É difícil até introduzir essa edição, de tão turbulentos que foram os dias após o 7 de setembro. Teve manifestação "flopada" – menor do que o esperado, mas ainda sim muito expressiva (e que contou até com um pinto inflável verde amarelo plantado por manifestantes de esquerda infiltrados na massa bolsonarista), teve ataque a ministros do STF, teve princípio de greve dos caminhoneiros, teve caminhoneiro desacreditando em áudio do próprio Bolsonaro, teve caminhoneiro fugindo pro México, teve fake estado de sítio e teve até um revival de Temer enquanto escritor de "carta à nação", redigindo a declaração de recuo do Bolsonaro frente ao caos instaurado. Ufa. E a gente ainda tentando sobreviver a uma pandemia, tá bem? Não sei vocês, mas eu tô exausta.
Ainda acho que essa lunação rende algo de bom, a real é que ela começa com Mercúrio (dispositor do Sol e Lua em Virgem) e a Vênus (regente da casa 1) ambos na casa 6: a exaustão é geral. Viver é trabalhoso, e viver no Brasil tem sido insalubre.
Nos últimos dias, fui um pouco compelida a lidar com assuntos de casa 6 de forma pessoal por conta de cansaço, falta de vitalidade, desgaste físico mesmo. Problemas que todos nós estamos enfrentando em algum nível – no fim das contas, com a sorte da sobrevivência, não se atravessa uma pandemia no Brasil em meio à crise política sem alguns danos de saúde, certo? A sensação "servil" de trabalho, esforço e desgaste é assunto da casa 6, em contraponto ao relaxamento e lazer, temas de casa 5, sendo essas duas os cenários de partida da Lunação de Virgem. Talvez uma das coisas "boas" dessa lunação tenha a ver com a possibilidade de mudança de hábitos ou de rotina, e até de romper algum padrão meio prejudicial ou destrutivo que você vivencie nesse embate diário de prazer x dever. Pra muita gente, mudar certos tipos de hábitos é uma grande dificuldade, um estorvo, um esforço imenso. Apesar de, no fundo, a gente saber que tem a ver com prática e insistência – porém, sempre lembrando que escrevo sobre quando há possibilidade de escolha, certo? Quem tá no aperto, faz o que pode com o que tem. E muita gente tá no aperto, no modo sobrevivência mesmo. Criar novas formas de se culpar ou se cobrar produtividade está bem longe do que eu quero dizer com essa interpretação. Mas a ativação das estrelas Spica e Arcturus, que mencionei no mapa da Lua Nova na última edição, carregam esse significado: onde há o trabalho do plantio, há possibilidade de colheita farta. No que diz respeito a uma relação mais saudável entre prazer e trabalho, me parece possível obter alguma melhora a partir do esforço empreendido com dedicação e vontade. (Lunação de Virgem é pra quem tem paciência, risos).
E enfim, reforço a interpretação de que, apesar da lunação ter acabado de começar, estamos no fim do segundo trimestre astrológico, e fim de ciclo é um alvoroço mesmo. E aí, o que esperar da primavera no Brasil? Que previsões podem ser feitas para os próximos três meses? Para buscar essas respostas, nos debruçamos sobre o mapa do Ingresso do Sol em Libra.
ingresso solar em libra
Sigo nesse exercício quase absurdo de tentar prever um governo imprevisível. Como vocês já sabem, o Ingresso Solar em Áries (que costuma acontecer no dia 20 de março) marca o início do ano astrológico; o momento exato em que o Sol ingressa no primeiro signo do zodíaco gera um mapa com previsões até o fim do ano astrológico, em março do ano seguinte. Quando o ascendente do mapa do Ingresso Solar em Áries está num signo cardinal (Áries, Câncer, Libra e Capricórnio), precisamos abrir novos mapas complementares a cada início de estação. No próximo dia 22, chega o equinócio de primavera, o ingresso do Sol em Libra. O mapa em questão é esse aqui:
Fomalhaut no ascendente em Peixes do Ingresso Solar, que será que essa estrela fixa nos traz aqui? Essa é uma estrela que alguns autores dizem conceder um nome "imortal", um tipo de reconhecimento amplo e duradouro. Sendo o ascendente o ponto referente ao país e à população em geral, me parece que nos próximos três meses ocorrerão eventos bastante significativos para o Brasil. Vênus, a regente dos termos desse ascendente, se encontra na casa 9, em Escorpião e conjunta à estrela Alphecca, da constelação de Corona Borealis. Acho possível que aconteça nesse trimestre algum avanço científico relativo às pesquisas epidemiológicas, algo de relevância e de conquista mesmo, talvez até envolvendo cooperação com outros países. De forma geral, é um posicionamento que favorece as pesquisas e os estudos, apesar do contexto atual. Em termos de pandemia, não enxergo melhora súbita ou alívio considerável até dezembro, mas um quadro relativamente estável. O maior risco parece ser precarização do sistema de saúde, com possibilidade de falta de insumos ou o apoio material necessário. Alívio mais significativo sobre esse tema, acredito eu, só se dará quando Júpiter voltar ao signo de Peixes, lá no fim de dezembro.
Vênus na casa 9 também dá bastante ênfase a outros assuntos de casa 9: o Poder Judiciário, o STF e seus ministros, a justiça de forma geral. Há imposição de autoridade e as desavenças entre poderes não parecem cessar, muito pelo contrário. O período mais crítico para o governo bolsonarista deve ser na Lunação de Escorpião, entre 4 de novembro e 3 de dezembro, que terá como protagonistas os próprios Sol e Marte, ambos em Escorpião. A temporada do lacrau vai ser um rebuliço só, se preparem – lembrando que escorpião é um bicho que não ameaça, ele simplesmente parte pro ataque com tudo, sem dó nem piedade. (Quando a hora dessa familícia chegar, acho que vou até Brasília assistir de camarote.)
O Poder Executivo está representado por Júpiter retrógrado em Aquário na casa 12, um cenário de inação, traições e isolamento. Bolsonaro segue se enfraquecendo. Quem ofereceria algum suporte a Júpiter é Mercúrio em Libra, num aspecto quase exato, lá na casa 8. Por algumas razões, no entanto, não vejo o aspecto de Mercúrio como uma ajuda. A minha interpretação desse aspecto é que a ruína do governo se dará pelos temas da corrupção, definitivamente. Os trabalhos da CPI seguem nesse trimestre e a investigação sobre as negociações escusas, desvios de dinheiro, etc, continuam sendo uma pauta fundamental, apesar do genocídio arquitetado pelo governo ter sido o ponto de partida do inquérito parlamentar. Nesse trimestre é muito, muito improvável que não haja prisões relevantes de membros ou associados ao governo bolsonarista. O regente da casa 10 está na casa 12 e encontra Mercúrio, esse que está conjuntíssimo ao Lote de Nêmesis e a estrela fixa Spica: vai colher, sim, o que plantou. Caos e destruição, no caso.
[Uma pausa para você dar um play nessa música aqui, que me parece desconcertantemente representativa dos significados desse mapa.]
Sobre impeachment: como civil eu não boto a menor fé, mas olhando pros mapas, pode rolar, a mando de pressão popular e especificamente durante a Lunação de Libra, entre 6 de outubro e 3 de novembro (considerando aqui abertura do processo, no caso). Não apostaria muito nisso porque o Congresso parece ainda bastante fechado com Bolsonaro, mas vai saber.
Olhando para os luminares, algumas impressões complementares: a Lua, o povo, está em Áries na casa 2, em oposição quase exata à Mercúrio. O povo sofrendo com alta dos preços, fome, escassez, de tudo um pouco. O cenário econômico é aterrador. Cuidem dos seus e, quando possível, prestem apoio às campanhas de arrecadação de alimentos a quem precisa, já que a maior parte da população está entregue à própria sorte. Não teremos um trimestre nada fácil a nível de segurança alimentar ou financeira, no plano geral. Sobre apagão de luz, inclusive, o mapa é quase literal: o Sol representa a luz, e em Libra ele está "em queda", além de ferido por um Marte debilitado. Vai ter corte, sim, provavelmente também na Lunação de Libra, o período citado no parágrafo anterior.
E por enquanto é isso, gente. Gostaria muito de escrever sobre outros assuntos, mas essa edição está imensa e, no frenesi dos últimos dias, achei mais pertinente dar um panorama sobre política, seguindo na intenção de ganharmos alguma perspectiva e orientação sobre os próximos eventos.
céu da semana
12 a 18 de setembro de 2021
Semana de Lua crescendo no céu, indo de Sagitário até Peixes. Temos algumas quadraturas pelo caminho, mas sem tantos aspectos tensos. Acredito que a próxima semana – que conta com Lua Cheia e ingresso do Sol em Libra – deve ser mais cabulosa sobre o cenário coletivo.
Hoje é um domingo de Lua em Sagitário alcançando sêxtil com Saturno em Aquário e buscando aspecto também com Júpiter e Mercúrio, sem grandes novidades, um clima meio reservado e pragmático, pensando em planejamento e próximos passos.
A segunda-feira traz a Lua em Sagitário completando sêxtil com Mercúrio, no fim da manhã, e com Júpiter, no fim da noite. E no fim da tarde tem quadratura Lua-Sol, o que chamamos de Quarto Crescente. Arestas aparadas, jogadores posicionados, a partir daqui os temas da lunação ganham maior força. Um dia prático para pôr planos em ação e agir, razoavelmente prático, criativo e comunicativo, mas o humor começa a ficar mais irritado pela noite.
Na terça a Lua chega na quadratura com Marte já no início da manhã, reforçando a irritabilidade e a reatividade, especialmente no campo das relações. Ela ingressa em Capricórnio ainda no comecinho da manhã, sem rodeios e firulas, interessada no que há de concreto para se resolver, favorecendo objetividade e pragmatismo. No fim da tarde, a Lua ainda completa o sêxtil comm Vênus em Escorpião. Às 21:14, Marte ingressa em Libra (consulte a edição #6 para mais informações sobre esse trânsito).
Na quarta teremos apenas o aspecto de quadratura entre Lua em Capricórnio e Mercúrio em Libra, um dia meio perturbadinho emocionalmente e com o mental não lá grandes coisas, mas nada grave. Fica um impasse meio entre se impôr e agir de forma incisiva ou fazer a diplomacia básica, conciliar, baixar a cabeça, etc.
Quinta-feira traz o trígono entre Sol e Lua na madrugada, ingresso da Lua em Aquário lá pelo meio-dia e trígono da Lua com Marte já no início da tarde. Movimentações muito importantes a nível político, quase uma prelúdio dos assuntos que o Ingresso Solar em Libra deve trazer. Boa capacidade de percepção sobre as circunstâncias e de resposta às situações, ainda que com ponderação, sem impulsividade.
Teremos mais uma sexta-feira sendo o dia mais tenso da semana: a Lua faz quadratura com Vênus na madrugada e conjunção com Saturno pouco depois; daí, a Vênus em Escorpião que faz quadratura com Saturno. Tensão nos relacionamentos, acordos e lideranças de forma geral, clima pesadinho, algum rolo importante (talvez preocupante) vindo de países estrangeiros. Para nós fica uma certa rigidez, baixa autoestima, desconfiança, etc.
Encerrando a semana, no sábado a Lua em Aquário alcança o trígono com Mercúrio em Libra e a conjunção com Júpiter ainda pela madrugada, o que confere alguma leveza, alívio e confiança. No fim da tarde, ingressa em Peixes, pra um fim de semana mais tranquilinho. E só.
notas astrológicas
Astrologia tradicional: por onde começar?
No mês passado, recebi essa sugestão de tema de uma apoiadora para a edição exclusiva da newsletter, mas decidi migrar esse conteúdo pra cá, porque acho que pode ser de utilidade para muita gente. Escrevo abaixo uma lista de sugestões com passos e práticas que eu gostaria de ter feito no meu caminho de aprendizado, se tivesse tido mais tempo e oportunidade. São passos para iniciantes e curiosos em geral, sem exigência de qualquer experiência em astrologia, apenas um mínimo de familiaridade com o assunto, reconhecimento dos símbolos dos planetas, etc. Ah, e apesar de estar numerada, não é uma lista de passo a passo com ordem, tá?
1. Criar familiaridade com o céu é um primeiro passo bem interessante, porque a astrologia nasceu dessa observação direta. Para quem vive em apartamentos e grandes centros urbanos fica difícil, mas se você tem essa possibilidade, comece observando o céu no dia a dia, se possível sempre do mesmo local (assim você nota melhor a movimentação). Diferenciar as estrelas dos planetas é o primeiro aprendizado (as estrelas cintilam, os planetas não). É interessante prestar atenção no movimento periódico da Lua, em que fase ela está, quando ela nasce e se põe no céu, etc. Cultivando esse hábito, você se familiariza com os movimentos celestes e começa a perceber alguns padrões. Com a prática, uma das coisas que você poderá notar é que no momento perto do raiar do dia ou no cair da noite, há um ponto bem brilhante e bonito no céu, mais luminoso que as outras estrelas: é Vênus, que é visível por pouco tempo no céu, e sempre apenas nesses dois momentos, perto do amanhecer e do entardecer. Se você tem uma visão ampla e livre do horizonte, poderá notar também que, quando se aproxima da Fase Cheia, a Lua sempre surgirá ao leste no cair da noite, e sempre estará alta no céu por volta da meia-noite, não importa a época do ano. Além disso, observando o céu noturno, você também pode começar a identificar e distinguir estrelas e planetas (aplicativos como o Sky Map são muito úteis para isso).
2. Observar o movimento celeste pelo mapa astrológico. Parece complexo, mas não é tanto assim: basta ter no celular um aplicativo que gera o mapa astral calculado para a sua localização. Eu uso o AstroVizor para consultas rápidas no celular; ele tem uma interface simples e sempre que você abre, ele dá o mapa do momento com os trânsitos atuais. Com o aplicativo, dá pra aliar a observação livre do céu (sugerida no item anterior) com uma etapa de familiarização do mapa astrológico, fazendo testes simples: quando o Sol nasce, em que casa ele aparece no mapa? Ao longo da manhã, como ele se movimenta pelas casas? Esse é um hábito que facilita ao iniciante a compreensão do movimento do céu e como ele é expresso no mapa astrológico, que o aplicativo exibe em tempo real. Nesse primeiro momento, só interessa ver a posição dos planetas e dos luminares (Sol e Lua) ao longo do dia, sem considerar signos ou aspectos. A mecânica celeste é um tema que costuma ser menos aprofundado nos cursos de astrologia, mas muita coisa pode ser compreendida com essa prática, observando o céu e tendo de apoio um aplicativo.
3. Ler e/ou ouvir histórias da mitologia grega, em especial os mitos referentes aos deuses que dão nomes aos planetas: Selene e Ártemis (relacionadas à Lua), Hélio e Apolo (relacionados ao Sol), Hermes (Mercúrio), Afrodite (Vênus), Ares (Marte), Zeus (Júpiter) e Kronos (Saturno). Gosto de frisar que astrologia não é grega em si, há muitas astrologias no mundo, mas os povos da região da Mesopotâmia e do Mediterrâneo (em especial os gregos) foram sim responsáveis pelo desenvolvimento e estruturação de grande parte do conhecimento astrológico ocidental, então muitas referências simbólicas são melhor compreendidas quando estamos familiarizados com as histórias e características desses personagens. Os enredos mitológicos podem soar absurdos ou distantes da nossa realidade, mas eles ajudam a construir um vocabulário simbólico que será muito útil quando você for de fato começar o estudo dos fundamentos astrológicos e aprender sobre os significados de cada planeta. Para ler, recomendo a trilogia de mitologia grega do Junito Brandão, fácil de achar em sebos e edições na internet. Para ouvir, recomendo o Noites Gregas e o Let's Talk About Myths, Baby! (esse último em inglês).
4. Entrar em contato com conteúdos introdutórios sobre astrologia. Aqui a coisa complica um pouco porque os pouquíssimos livros brasileiros e introdutórios sobre astrologia tem autores controversos, que eu prefiro não indicar. Em português de Portugal, há o Tratado das Esferas (Luis Ribeiro e Helena Avelar), disponível para comprar online, mas que sai caro para o nosso bolso. A melhor opção fica sendo o Astrologia Hermetica, do Eduardo Gramaglia, facilmente encontrado para baixar gratuitamente na internet, em espanhol (para quem não domina o idioma acaba sendo uma leitura mais lenta, acompanhada de Google Tradutor, mas é possível). Quem consegue estudar por conta própria encontra nesse livro uma apresentação muito rica e responsável da astrologia, já com uma sistematização sólida dos fundamentos astrológicos. E por último, claro, há todos profissionais da astrologia que também criam conteúdo na internet são uma excelente forma de se introduzir ao assunto. No Instagram há alguns perfis cujo enfoque é produzir conteúdo informativo sobre teoria astrológica; destaco aqui o Gui do Nodo Norte, a Joana do Vênus Astrologia e a Lo do Eixo Terra-Céu. No Youtube, recomendo demais o canal da Ana Rodrigues e o Papiro Estelar, que também produzem conteúdos introdutórios (mas também intermediários e avançados).
5. Quando puder dedicar tempo aos estudos, começar um curso de fundamentos astrológicos é a melhor orientação que eu posso dar. Astrologia é um conhecimento inesgotável, há uma infinidade de abordagens e formas de estudar e praticar, então ter uma referência de confiança que guie você nesse caminho é muito importante. O curso de fundamentos astrológicos é uma experiência muito legal para compreender melhor sobre o sistema e a base filosófica da astrologia tradicional, e muitas pessoas fazem essa introdução por hobby mesmo, não necessariamente para se profissionalizar ou aprofundar os estudos para realizar previsões. É importante dizer também que estudar astrologia pode tomar bastante tempo e energia, a depender do seu nível de compromisso, e mesmo um curso de duração de 3 ou 4 meses pode exigir mais atenção e dedicação do que se imagina. Recomendo demais começar seus estudos em astrologia com uma professora com bastante experiência de estudo e prática, e para isso indico a Letícia Helena, a Bárbara e a Maíra.
criações (com notas astrológicas)
"Não trago nenhuma notícia das margens. Trago notícias da travessia que não é nem o reino de deus nem a cloaca, muito pelo contrário. Não tenham medo, não se excitem, não vim aqui explicar nada de mórbido. Não vim dizer o que é um transexual, nem como mudar de sexo, nem o que há de bom ou ruim numa transição. Porque nada disso seria verdadeiro, não mais verdadeiro do que a luz da tarde quando o sol bate em algum ponto do planeta Terra, e que depende do lugar de onde se olha; [...] E vou ficar um pouco. Na encruzilhada. Porque ela é o único lugar que existe. Não existem margens opostas. Estamos todos na encruzilhada. E é dessa encruzilhada que lhes falo, como o monstro que aprendeu a linguagem dos homens."
— Paul Preciado, trecho da introdução de "Um apartamento em Urano"
Li boa parte desse livro do Preciado nos últimos dias, um alento no meio do caos social e político da semana. É uma leitura que causa muitas reflexões, e foi inevitável traçar paralelos com o texto e o conceito da zine Monstros, criação minha e de Íra, uma das coisas mais legais que eu fiz esse ano.
O que monstros têm a ver com astrologia? Bom, tudo no mundo tem um pouco a ver com astrologia porque, além de uma ferramenta oracular, a astrologia é uma linguagem simbólica que exprime a realidade em que vivemos. Tudo que existe é representado ou situado no mapa astrológico de alguma forma.
Na linguagem astrológica, os monstros pertencem à casa 12, local que fala das margens e do isolamento. Em resumo, de tudo que é invisibilizado, negligenciado, perigoso ou desconhecido, além do que está fora do controle (normas sociais são uma forma de controle, claro!). A casa 12 é um cenário de aflição, essencialmente destrutivo e limitado – mas é preciso lembrar que, quando o oráculo nos localiza nessa casa, não é porque este cenário é nosso local de pertencimento por natureza – é porque a realidade material em que vivemos situa pessoas desviantes nesse lugar, empurrando para marginalidade tudo e todos que desafiam a ordem. Esse é um dos grandes aprendizados do oráculo: mostrar que o que nos diferencia do “outro” muitas vezes não tem nada a ver com destino, mas com oportunidades e mecanismos de poder. Como José Gil bem resume, na frase que abre a nossa zine: “os monstros, felizmente, existem não para mostrar o que não somos, mas o que poderíamos ser.”
Monstros está à venda na loja da Alfa Serpente por R$30 (frete incluído!) e envio para todo o Brasil.
um abraço e até semana que vem,