Fui resgatar essa colagem minha abaixo para ilustrar essa edição, que trata do início da Lunação de Libra, e quando abri, me vi todinha parte dessa imagem: um gato observador, um globo terrestre de refém, as mãos gigantescas a equilibrar os pratos da balança e uma cartomante que, desconfiada do jogo que se mostra nas cartas deitadas, franze a testa e faz fogo sair dos cabelos. É tanta coisa para se pesar, considerar, informações que se cruzam, se explicam ou se contradizem... escrever previsões, enfim, é uma tarefa difícil. Envolve tanta imaginação quanto senso de realidade, e essa ambivalência remete imediatamente à imagem da própria balança e à virtude da temperança (como o arcano do tarot mesmo), que tem algo a ver com parcimônia e bom senso. Enfim, saber a justa medida das coisas. E ainda tem alguém equilibrado por aí, depois do 17º mês de pandemia? Difícil é seguir tentando pesar os pratos da balança em circunstâncias tão fora da normalidade: a política da morte, a banalização do horror, a destruição de populações, biomas e territórios enquanto projeto de governo. De alguma forma, penso que comecei a olhar esses mapas em busca de uma perspectiva sobre o futuro como forma de cultivar alguma esperança crítica e ativa no presente. Se aproxima de nós, agora, um daqueles períodos em que as peças do jogo finalmente se movem, as circunstâncias instauradas são desafiadas e até o inimaginável fica mais próximo da realidade. A balança, vale lembrar, é um símbolo de julgamento. A Lunação de Libra está prestes a começar.
lunação de libra
6 de outubro a 3 de novembro de 2021
A Lua Nova em Libra inauguração a lunação precisamente ás 08h05 do dia 6 de outubro, a próxima quarta-feira. Essa é uma lunação daquelas: Sol e Lua em Libra se encontram na casa 12, o local das prisões e riscos inesperados, ambos ainda em conjunção exata à Marte e à estrela fixa chamada Algorab, da constelação do Corvo. A frase que me veio primeiro à mente foi do senador Randolfe Rodrigues, ainda no começo da CPI: "Negócio, mutreta, bufunfa, ladroagem!". Dentre os muitos significados desta estrela estão a mentira, a fofoca, a traição e a destrutividade que costuma suceder essas ações. O corvo, símbolo dessa estrela, é uma figura que denuncia e expõe, portanto, possui a ardilosa habilidade de enxergar segredos que não estão à vista de todos.
Essa é a lunação da entrega do relatório final da CPI, que está previsto para ser lido publicamente no dia 19 de outubro e votado no dia seguinte, o que coincide perfeitamente à chegada da Lua Cheia, o ápice da lunação. Isso não significa que essa primeira metade da lunação, do dia 6 até lá, seja de tranquilidade: ainda nessa semana, o Sol completa conjunção à Marte no dia 8 (sexta) e Mercúrio faz conjunção ao mesmo Marte no dia seguinte, 9 de outubro. A nível coletivo, tá bem longe de ser um encerramento de semana simples. Já na semana seguinte, com as retomadas de movimento direto de Saturno, Júpiter e Mercúrio, teremos favorecidos a oposição e o Congresso como um todo.
A meu ver, o relatório dá um encaminhamento formal de suma importância para que as medidas devidas de justiça sejam tomadas. Muito ao contrário do que o senso comum diz, Libra é um signo de natureza cardinal, que confere iniciativa e ação, a questão é que muito é ponderado até se chegar à uma definição; essa é uma lunação que define o cenário, bota os pratos limpos na balança para serem pesados. Ação mais ostensiva e direta ao governo, de fato, parece ser assunto da lunação de Escorpião, mas sem dúvidas, muita coisa já deve ser encaminhada durante esse ciclo de Libra. Bolsonaro pode não estar na mira direta (ainda), mas gente perto dele sim. Lembram que escrevi sobre a forte probabilidade de membros ou aliados do governo virem a receber punições ou ordens de prisão nesse trimestre? Pois bem, a chance de isso ocorrer dentro dessa lunação é bem grande, especialmente na segunda metade, após a Lua Cheia, entre 20 de outubro e 2 de novembro. Não me surpreenderia se fosse um dos filhos, porque os mapas corroboram para esse significado, mas até eu custo a acreditar. De toda forma, essa é uma lunação para fazer cair do palco quem se julga esperto ou liso demais. Mentira nenhuma dura para sempre.
Falando em mentira, Marte em Libra com Algorab na casa 12, no entanto, pode ser um indicador de que alguma informação ainda seja omitida num primeiro momento, ou ainda a ser descoberta; de toda forma, o que precisar ainda ser exposto vem à tona com a virada da Lua Cheia no dia 20, que não poupará de drama protagonizado pelos líderes em exercício. Uma interpretação alternativa à esse posicionamento seria a de algum parlamentar governista traindo Bolsonaro, algo que se sustenta pelos símbolos dos mapas, mas essa é mais uma previsão que custo a crer. (Imaginem Arthur Lira abrindo processo de impeachment? Um sonho que me parece distante demais da realidade.)
Sobre apagões de energia, tem algo que "segura" um pouco o risco de corte que é Saturno em Aquário na casa 4 e saindo da retrogradação no dia 10, mas ainda assim parece provável termos problemas nesse cenário a partir o dia 8, quando o Sol completa a conjunção perfeita com Marte, especialmente também nos dias 12 e 13, e, após a Lua Cheia, a qualquer momento.
No mais, Vênus em Escorpião na casa 1 e conjunta à Rigel Kentaurus é excelente indicador das melhoras obtidas com a ampla adesão da vacinação pela população, e o número de mortes pela COVID-19 nessa lunação segue em queda, talvez atingindo um novo recorde de baixa ao término desse ciclo.
A nível geral, muita atenção aos discursos, ao que não é dito, ao vazamento de mensagens, à confidencialidade das próprias informações, à segurança dos seus dados. Lunação de casa 12 é tudo isso e mais um pouco. Dêem margem ao imprevistos e inesperados, tentar centralizar demais as decisões ou enrijecer qualquer planejamento vai ser motivo de frustração. Abra espaço para o fortuito e o improviso, porque vamos precisar. E por último, essa primeira metade da lunação (até o dia 20) também indica dificuldades no sono (pesadelos e/ou insônia) e no descanso do corpo, então vale tomar medidas que ajudem a acalmar e sossegar a mente antes de deitar para dormir, etc. A nível coletivo, o estresse é quase certo, mas uma das aliadas desse período será Vênus em Sagitário, já a partir dessa semana — ao deixar para trás a armadura Escorpião e partir para a cavalgada em Sagitário, onde encontra diálogo com Júpiter, a Vênus possibilita mais respiro, confiança e fé no que vem à frente. Ainda que seja de máscara, sair pra sentir a brisa no rosto e o gosto da liberdade.
céu da semana/trânsitos de outubro
Essa edição vai ficar sem a editoria mais completa do céu da semana, porque muito da dinãmica da semana já fica referente à interpretação do mapa da Lua Nova. Fica aqui minha interpretação resumidíssima dos próximos 7 dias: até quarta-feira seguimos na Lua minguantíssima, sem grandes eventos e com uma segunda-feira especialmente preguiçosa e arrastada. Na terça há alguma recobrada de ânimo e mais equilíbrio no humor, mas é com a chegada da Lua Nova na manhâ de quarta que as coisas começam a se movimentar. Provavelmente teremos dias bastante agitados e com eventos marcantes entre 6 e 9, então apertem os cintos e se cuidem da forma que for preciso, tá bem? Tá todo mundo só o pó da rabiola, mas nada disso é pra sempre. O panorama do mês é o seguinte:
Vênus ingressa em Sagitário na próxima quinta-feira, dia 7, consolidando (até quando?) a crise no Executivo e possivelmente conduzindo e conectando mais aspectos da denúncias de corrupção ao governo. Durante esse trânsito da Vênus, a mídia brilha, focando na exposição dos crimes e ganhando um papel mais "corretivo" e avaliador, mas de forma propositiva.
No dia 10, Saturno retoma o movimento direto, encerrando a retrogradação iniciada lá em maio. No dia 18, é a vez de Júpiter e Mercúrio saírem do movimento retrógrado. Vale dizer que a retomada do movimento direto costuma fortalecer muito o planeta envolvido nessa dinâmica; considerando o contexto atual do equinócio de primavera e da nova lunação, vejo que esses movimentos indicam tomada de decisão e aceleração de processos que vêm se arrastando lentamente nos últimos meses.
Encerrando o mês, Marte ingressa em Escorpião no dia 30 de outubro. Como escrevi lá atrás, na edição sobre o equinócio de primavera, a temporada do lacrau promete.
notas astrológicas
sobre a experiência oracular, parte 1: revelação
Decidi inaugurar nessa editoria uma pequena série de textos sobre a experiência oracular — esse tipo de atividade que foge do dia a dia comum da maioria das pessoas, mas que tem tomado a maior parte da minha rotina de trabalho e, portanto, provocado muitos pensamentos a respeito. Existem diversas expectativas, dúvidas e angústias sobre como lidar com um oráculo, da parte de quem se consulta, mas também questões éticas e filosóficas que envolvem essa prática por parte do oraculista. Hoje, inauguramos falando sobre a ideia de revelação, um aspecto fundamental dessa experiência.
Nos tempos atuais, oráculo costuma ser definido como o instrumento ou o meio pelo qual uma pessoa obtém respostas ou orientações acerca de questões variadas. A natureza do oráculo, portanto, é de revelação ou de elucidação a respeito de fatos, eventos e situações diversas. Não se trata necessariamente de uma experiência espiritual, embora muitos oraculistas tratem sua prática dessa forma. Existem muitos tipos de oráculos, a astrologia possivelmente sendo o mais complexo e técnico deles, já que envolve uma base filosófica específica, um sistema intrincado de funcionamento, um extenso vocabulário próprio e muito estudo e preparação prévios para possibilitar ao oraculista as ferramentas necessárias para interpretação dos mapas.
Ainda em termos de revelação, há de se considerar que muitas pessoas esperam ser profundamente surpreendidas e atravessadas por uma experiência oracular, talvez porque seja algo que não se vive cotidianamente, talvez por ser uma prática que foge aos moldes contemporâneos do que é lógico, ou que desafia uma compreensão científica da realidade. É importante ter em mente, no entanto, que nem toda experiência oracular vai trazer, necessariamente, fatos inéditos ou extraordinários. Como falo em muitas das minhas consultas, eu interpreto mapas — o que pode ser de enorme utilidade e auxílio, já que mapas indicam caminhos e orientam o seu percurso; para muitas pessoas, no entanto, uma leitura pode servir apenas para assegurar uma percepção que já existe, como confirmação do que elas já estão decididas a fazer. Em outras palavras, há quem se guie e se vire bem nas próprias rotas sem precisar de mapa algum.
Outro aspecto da revelação que gostaria de trazer aqui envolve o potencial ganho de consciência que envolve a experiência oracular. Eu acredito no oráculo astrológico enquanto experiência porque ele carrega o potencial de iluminar situações de forma a enxergarmos com mais nitidez. Se trata de adquirir consciência a respeito de certos fatos sobre nós, a vida, o futuro, etc. Apesar disso, mais um "porém" entra na nossa lista:
”A capacidade de ver e descrever a própria realidade é uma etapa significativa no longo processo de autorrecuperação; mas é apenas o começo.
— bell hooks, em Feminist Theory: From Margin to Center
Essa frase da bell hooks faz parte de uma crítica dela às limitações iniciais do movimento feminista, o que não tem nada a ver com o tema aqui, mas que me veio como uma síntese imprescindível sobre o lidar com informações reveladoras: ganhar consciência a respeito de um problema não é o mesmo que resolvê-lo. Estar consciente de novos fatos pode ser instigante, tranquilizante e motivador, mas é apenas um primeiro passo. O que se faz após a experiência oracular é muito importante, pois a forma como se recebe informações também importa: é por isso que a ética e o trato do oraculista são tão importantes, pois não é cabível alguém sair de uma leitura astrológica em estado pior do que entrou. Quando isso acontece, o propósito do oráculo não se cumpriu.
Apontar fatos não é o mesmo que tratar deles, e essa também é a razão pela qual eu critico veementemente qualquer prática oracular anunciada como "terapêutica": oráculo não é, nem nunca será, uma prática terapêutica. A natureza do oráculo é revelar, trazer ao conhecimento; o oráculo em si não tem atribuições curativas — embora ele possa trazer informações que desencadeiem o início de um processo de cura, não é ali, numa consulta oracular, que você conseguirá vivenciá-lo. Terapia é coisa séria, que envolve formações específicas, esforço, dedicação e tempo. Não há consulta capaz de sanar ou cuidar dessas dores, porque o momento oracular não é um espaço adequado ou equipado para tal. No melhor dos casos, a leitura de um mapa poderá ajudar a desembaralhar os fios que relacionam essas dificuldades num contexto temporal e a observar essas questões dentro de uma perspectiva astrológica, o que sempre enriquece nosso ponto de vista. No mais, desconfiem sempre da abordagem oracular que se vende como "terapêutica", mesmo que o profissional por trás tenha certificação desse tipo; são abordagens e espaços de trabalho distintos e com propósitos diferentes — ou deveriam ser, penso eu.
A revelação, portanto, é 1. um aspecto inerente à prática oracular, 2. pode ser mais ou menos inédita ou surpreendente, 3. tem a função de auxiliar, elucidar ou dar mais perspectiva sobre o passado, presente ou futuro e 4. é uma experiência desvinculada dos processos posteriores de tomada de assimilação, resolução ou encaminhamento das questões colocadas.
um abraço e até semana que vem,