A Lua cresce no céu, nos aproximamos do ápice da Lunação de Libra e me parece uma boa oportunidade falar um pouco mais sobre este signo. Libra é o ar cardinal, o ar que se desloca — sendo o ar o elemento associado ao pensamento, o pensamento que se desloca de si para o outro constitui a própria ideia de comunicação. O diálogo é o fluxo de ideias entre duas partes distintas. Libra, portanto, é um signo que exprime a qualidade do diálogo e da diplomacia. Em termos simples, o que tem me salvo um pouco a amargura dos dias é a boa e velha conversa: sair de si, ouvir o outro, enxergá-lo, perceber algo (ou nada) de si ali. Vivemos tempos de ideias fixas, tempos de Saturno em Aquário — especialmente fortalecido nessa semana, já que acabou de retomar o movimento direto — e o diálogo, quando se dá, se vê atravessado por uma boa camada de convicção, de ânsia por correção, de ares de vigilância. Um discurso, enfim, acaba sendo mais uma performance do que um convite à troca de ideias. A reflexão que eu faço nessa introdução à edição de hoje, portanto, é simples: o diálogo também é uma forma de reparação, de sair de si, de aliviar angústias e ganhar perspectiva sobre o que se vive. Diálogo aberto, vulnerável, de escuta ativa, que não precisa botar banca de nada. A arte da conversa anda mesmo meio perdida, mas penso que é tempo de praticá-la; se não for para falar, pelo menos para ouvir.
lunação de libra — lua cheia em áries
6 de outubro a 3 de novembro de 2021
Vem aí uma Lua Cheia para agitar os ânimos após uma primeira metade de lunação meio apaziguada e diplomática demais, com muito correndo por baixo dos panos e pouca ação direta. O que dizer de um mapa de Lua Cheia com o Sol em queda cravado no Meio do Céu, ferido por um Marte exilado, em oposição à Lua em Áries? Três palavrinhas: Tribunal Penal Internacional. Me parece muito provável que tenhamos notícias e movimentações relevantes de denúncia ao governo Bolsonaro nas instâncias internacionais. A presença de Marte na casa 10 recebido pela Lua na casa 4, aliás, ajuda a conduzir essas denúncias pela via dos danos ao meio ambiente e do genocídio das populações indígenas — inclusive o caso pouquíssimo comentado das crianças Yanomami sugadas por dragas de garimpeiros pode ganhar mais visibilidade nesse período e inflamar a acusação contra o governo no âmbito internacional. A conjuntura dessa próxima quinzena é de exposição de fatos e forte pressão de outros países contra a situação crítica do Brasil, o que vem ocorrendo em maior ou menos nível ao longo desse ano como um todo, mas que parece atingir um ponto bastante crítico nesse momento.
É incrível notar nesse mapa a presença de Marte em Libra conjunto à estrela fixa Spica, que tanto falei sobre na lunação passada e no texto do Ingresso Solar em Libra: Marte vem regendo aqui as casas 4 e 11 (oposição declarada e o Poder Legislativo), indicando a "colheita" (simbolismo principal de Spica) dos trabalhos da CPI nos últimos meses. O relatório final da comissão, que será lido na próxima terça-feira, deve atribuir a Bolsonaro 11 crimes diferentes e a votação do texto final deve acontecer na quarta-feira, o dia da própria Lua Cheia, o que me parece bastante promissor.
Em termos de pandemia, a melhoria segue em curso, com um Mercúrio em Libra fortalecido por estar nos próprios termos, retomando aos poucos sua velocidade no movimento direto e numa distância favorável ao Sol, recobrando visibilidade — o processo de vacinação seguindo seu curso de forma propositiva. Por também reger a casa 9, esse Mercúrio pode indicar nessa quinzena também um ressurgimento de figuras do Judiciário, que andam discretos nas últimas semanas, fora dos holofotes e avessas aos confrontos com o presidente. Vênus em Sagitário, por fim, regente da casa 10 e presente na casa 12 leva figuras ligadas ao poder central ao isolamento, o que pode indicar traições, prisões ou a continuidade de investigações nesse cenário. Será que o fim de algum gabinete paralelo? Minhas expectativas são baixas, mas a possibilidade existe.
O povo, enfim, é a Lua em Áries na casa 4, um pouco reanimado pelo calor e agitação trazida pela Cheia, mas ainda à mercê da própria sorte, sem apoio efetivo. Infelizmente, a alta nos preços de combustíveis e alimentos, o aumento da fome e a crise econômica são aspectos muito presentes no mapa deste trimestre (válido até o solstício de verão), e notícias a respeito da escassez e das dificuldades do sustento da população seguem a todo vapor.
E enfim, diferente do ritmo mais "natural" que a lunação costuma trazer — com o ápice dos eventos vindo com a Lua Cheia — me parece que a semana da Lua minguante será tão ou mais importante quando essa que começa hoje, já que esses últimos dias de outubro trazem o Sol em Escorpião em antíscia a Júpiter em Aquário (29 e 30 de outubro) e a aguardadíssima chegada de Marte em Escorpião no dia 30... mas esses assuntos ficam pra semana que vem.
céu da semana – 17 a 23 de outubro
Hoje é domingo e nada acontece no céu. Nada mesmo: o último aspecto da Lua em Peixes foi com Vênus na noite de ontem, e o próximo aspecto dela vai ser só amanhã à noite, quando já estiver em Áries. Uma breve Lua fora de curso, portanto, mas diferente de duas semanas atrás, não me parece indicar falhas técnicas ou problemas de comunicação. Júpiter, o dispositor dessa Lua, está muito lento, prestes a estacionar para sair do movimento retrógrado, o que reforça a ideia de ações sendo realizadas com dificuldade ou morosidade, oscilação, imprevistos, etc. Evitem para tomar decisões importantes ou começar coisas novas (que fujam no cotidiano) porque a tendência é de inconstância e pouca assertividade.
Na segunda-feira temos Júpiter e Mercúrio estacionando no céu, interrompendo seus percursos retrógrados no céu para retomar o movimento direto. Demora um certo tempo para os planetas recobrarem sua velocidade aparente quando isso acontece, então a segunda começa trazendo dificuldade ou lentidão em relação aos assuntos de natureza mercurial e jupiteriana — justiça, documentos, comunicação, etc. Para iniciativas importantes relacionadas a estudos e espiritualidade, por exemplo, é recomendável esperar uns dias até que pelo menos Mercúrio recobre algum ritmo (Júpiter deve demorar um pouco mais para isso). No começo da manhã a Lua ingressa em Áries, inflamando os ânimos de uma Lua já crescente-quase-cheia, e completa o sêxtil com Saturno em Aquário à noite, o que garante uma dose de irritabilidade, impaciência e intransigência. Ainda no fim da noite, Marte em Libra encontra trígono com Júpiter em Aquário, o que proporciona algum entusiasmo (até meio desmedido) e que, em termos mundanos, parece indicar pressões políticas de militares ocorrendo por baixo dos panos. Madrugada agitada e de inquietação (alguém mais sonhando muito ou com dificuldade de dormir aí, desde o início da lunação?).
Terça traz a Lua em Áries em oposição à Mercúrio em Libra de madrugada, o que indica uma mente dispersa, com dificuldade de concentração ou decisão, sentindo pressa ou impulsividade para resolver as coisas. Logo de manhã a Lua em Áries também alcança o trígono à Vênus em Sagitário, o que garante mais ânimo e energia para ação, mas fica o alerta de cuidado para decisões precipitadas ou pressa excessiva, já que a oposição com Mercúrio não favorece a racionalidade.
A quarta-feira traz muita movimentação e acelera bastante o andamento dos eventos: Lua em Áries completa sêxtil com Júpiter e oposição à Marte durante a madrugada. No início da tarde, a Lua completa oposição ao Sol, marcando a Lua Cheia e a segunda metade da lunação. O dia é quente e agitado, a chegada da Cheia parece trazer dinâmica e reviravolta no cenário coletivo, rompendo um tanto a diplomacia sustentada desde o início da lunação (embora rupturas mais significativas venham só com a chegada de Marte a Escorpião, no fim do mês). Em termos práticos, vale usar a quarta para encaminhamentos e direcionamentos em geral, já que o ânimo se mostra bem diferente dos outros dias. A Lua ingressa em Touro ainda no fim da tarde e dá uma desacelerada.
Quinta e sexta-feira acontece pouca coisa, com Lua em Touro fazendo quadraturas com Saturno e Júpiter. Sabe quando a gente se empolga muito pra fazer uma coisa, toma uma decisão animada, e depois dá a maior preguiça de botar a mão na massa? Esse é o humor geral desses dois dias: sensação de pouca disposição pra dar conta de tanta promessa e entusiasmo do passado. A vontade é de fazer vários nadas., mas como a vida não espera, a gente vai fazendo se arrastando. Dias de indulgências, um quê de autosabotagem, de vontade de se mimar mesmo, comer besteira, etc. Paciência pra quem tem que trabalhar, bom proveito a quem pode ficar de folga.
Sábado traz o ingresso do Sol em Escorpião na madrugada, deslocando poder ao Congresso nacional, embora não pareça haver grandes eventos nesse dia. A Lua entra em Gêmeos de manhã bem cedo e, ao longo do dia, caminha em direção ao trígono com Saturno, que completa na mesma noite, favorecendo diálogos, alianças, acordos e a movimentação de ideias em geral. Bom para amizades e outros relacionamentos.
notas astrológicas
sobre a experiência oracular, parte 3: intenção
— Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para ir embora daqui?
— Isso depende muito de para onde quer ir — respondeu o Gato.
— Para mim, acho que tanto faz... — disse a menina.
— Nesse caso, qualquer caminho serve — afirmou o Gato.
— ... contanto que eu chegue a algum lugar — completou Alice, para se explicar melhor.
— Ah, mas com certeza você vai chegar, desde que caminhe bastante.— Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas
O diálogo entre Alice e o Gato de Cheshire talvez seja um dos mais conhecidos da literatura moderna, e é uma ilustração perfeita desta terceira parte da série de textos que estou escrevendo sobre a experiência oracular.
No imaginário coletivo mais comum, me parece que o astrólogo é tido como uma espécie de adivinho, alguém que tem revelações súbitas, um grau considerável de mediunidade ou a intuição, o que permitiria vê-lo fatos acerca do futuro. O fato é que astrologia é um oráculo bem mais técnico do que se imagina, com métodos e formas bem definidos para fazer previsões; certamente alguma sensibilidade sutil pode fazer diferença na leitura de um mapa, mas é perfeitamente possível que um astrólogo desempenhe bem seu ofício fazendo apenas um bom uso do estudo, das técnicas astrológicas e da sua capacidade de interpretação.
O astrólogo, enfim, é um intérprete da qualidade do tempo. É alguém que usa das técnicas e fundamentos astrológicos para, por meio da leitura de símbolos, fazer previsões sobre períodos de tempo. E nesse caso — como toda interpretação de uma linguagem —, é preciso um certo contexto para dar sentido à leitura. Se você já fez uma consulta astrológica tradicional, provavelmente recebeu do astrólogo um pedido para contar sobre a sua situação de vida atual, bem como interesses ou motivações a serem atendidos na consulta. Isso é importante para fazer uma melhor interpretação dos símbolos dos seus mapas e previsões mais concretas, mas também há algo maior por trás desse pedido: a ideia de intenção.
Na Grécia antiga os oráculos eram também como se chamavam os locais em que as sacerdotisas faziam as revelações divinas sobre as questões que os visitantes colocavam. Ir ao oráculo, portanto, era uma ação deliberada, uma decisão a ser tomada e que exigia um tempo de elaboração para colocação da pergunta. Consultar um oráculo, hoje, ficou muito mais fácil — é possível ser atendido online por um oraculista do outro lado do mundo, a qualquer hora marcada. Essa facilidade, claro, é algo a ser celebrado (eu, pessoalmente, gosto muito de poder trabalhar pelo computador), mas também traz um risco de imediatismo, quando a intenção ou motivação do consulente pela consulta se perde no meio do caminho.
Como escrevi na primeira parte dessa série, a experiência oracular não é (necessariamente) algo do outro mundo ou uma atividade espiritual. Mas ela exige presença por parte de quem se consulta. E para obter respostas, é preciso saber perguntar — cabendo aí todo tipo de pergunta, sem julgamento de valor ou relevância. O ponto se trata, como o Gato bem coloca, de agência e intenção — se você não tem qualquer motivação ou ideia sobre para onde ir ou o que esperar à frente, o mapa irá se revelar de forma mais vaga e imprecisa. Uma experiência oracular, portanto, demanda que a gente se coloque ao centro dela — não por uma vaidade superficial ou simples auto-referência — mas como uma forma de examinar a sua própria posição e poder manifestar seus pensamentos e vontades na busca por orientação.
um abraço e até semana que vem,