Lua Cheia em Áries deu um chacoalhou as estruturas, né não? Como escrevi num story lá no Instagram esses dias, pra quem andava meio abatido e apático, pode até ter sido um tranco bom. Apesar disso, o clima de apaziguamento foi rompido, tanto no âmbito do poder político quanto no nosso convívio social também. Lembram do que escrevi na última edição sobre a função e a importância do diálogo, num cenário em que as ideologias estão vindo à frente de qualquer abertura para troca? O diálogo ainda é um recurso em tempos de conflito e discordância, até porque, numa quinzena de Lua em oposição à Marte debilitado, o confronto é mal administrado, confuso, dissimulado e pouco propositivo. O risco maior é mirar o alvo errado — algo que se enxerga no mapa da Lua Cheia também pela posição da Vênus em Sagitário na casa 12. Quem é aliado e quem é oponente nas situações de impasse e conflito que presenciamos? Algumas respostas são óbvias, outras nem tanto. Na dúvida, a comunicação (que envolve abertura de fala e de escuta) segue sendo um caminho mais seguro.
Vamos retomar os fatos coletivos dessa semana? O relatório da CPI enfim saiu com muita dificuldade, faíscas e desentendimentos no processo, que acabou atrasando a votação (que será feita na próxima terça), algo que devia ter previsto pelo fato da segunda começar com Mercúrio e Júpiter estacionados no céu, planetas diretamente relacionados aos trabalhos da Comissão Parlamentar. Algo que notei e escrevi na última edição, no entanto, foi justamente sobre "pressões políticas de militares ocorrendo por baixo dos panos" na segunda-feira (por conta de Marte em Libra completando trígono com Júpiter em Aquário) , o que me parece que ser uma das razões para a retirada da atribuição do crime de genocídio à Bolsonaro. Apesar desse ficar de fora, o relatório atribui 9 crimes ao presidente e o indiciamento de 66 pessoas, incluindo deputados, empresários, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e o atual Marcelo Queiroga, além das empresas Precisa Medicamentos e VTCLog.
O relatório da CPI é de importância imensa como documento histórico da pandemia no Brasil. A atribuição dos crimes a todos esses personagens é muito significativa, mas o que a gente quer saber é se isso vai dar em alguma coisa, certo? Fazer uma interpretação astrológica num contexto tão complexo é um enorme desafio, mas vou seguir tentando desembaralhar os fios por aqui.
A CPI foi responsável por reunir e centralizar todas essas informações que culminaram na atribuição de crimes a todos esses personagens, mas não cabe ao parlamento o julgamento e condenação; os próximos passos que encaminhariam as investigações e acusações dependem do Procurador-Geral da República, cargo ocupado atualmente por Augusto Aras, um aliado de Bolsonaro, indicado por ele próprio à essa função. O que Aras irá fazer, a partir da aprovação do relatório final da CPI, é a grande questão — trair o presidente? Conduzir as investigações e condenações de apenas parte dos acusados? As próximas semanas são decisivas a respeito de todos esses assuntos, que devem se materializar de forma prática dentro da Lunação de Escorpião (4 de novembro a 3 de dezembro), que venho anunciando como um das mais (senão a mais) importante desse ano astrológico. Por enquanto, vamos acompanhando os desdobramentos até o fim dessa Lunação de Libra.
Inclusive, faço também o adendo de que, como previsto na edição passada, o Tribunal Penal Internacional (o Tribunal de Haia) foi um dos temas despontados nos últimos dias justamente pela omissão de genocídio no relatório final da CPI. Como bem escreve Thiago Amparo em sua coluna na Folha no dia 20,
"O relatório da CPI escancara a porta do Tribunal Penal Internacional para que Bolsonaro por ela ingresse como o primeiro presidente acusado de extermínio. Se adotar o relatório como está, a CPI conduzirá Bolsonaro ao banco dos réus em Haia, onde merecerá estar. [...] Ao não chamar genocídio por seu nome, a CPI evidencia que não há no país meios para investigar seriamente essas alegações. Fazê-lo de forma estratégica para ver o relatório aprovado não diminuiu a plausibilidade da acusação. Ao chamar ao menos de crime contra a humanidade, a CPI serve de antessala para o TPI, que, pela regra de complementaridade, deveria agir enquanto Aras e Lira dormem sobre pilhas de pedidos de investigação."
Seguindo para outros assuntos, na edição da semana passada escrevi:
"Por também reger a casa 9, esse Mercúrio pode indicar nessa quinzena também um ressurgimento de figuras do Judiciário, que andam discretos nas últimas semanas, fora dos holofotes e avessas aos confrontos com o presidente. Vênus em Sagitário, por fim, regente da casa 10 e presente na casa 12 leva figuras ligadas ao poder central ao isolamento, o que pode indicar traições, prisões ou a continuidade de investigações nesse cenário. Será que o fim de algum gabinete paralelo? Minhas expectativas são baixas, mas a possibilidade existe."
E não é que rolou? Alexandre de Moraes, do nada, determinou a prisão preventiva e extradição do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, "um dos aliados mais próximos da família Bolsonaro e investigado no Supremo em dois inquéritos: o que apura a divulgação de fake news e ataques a integrantes da Corte e também o que identificou a atuação de uma milícia digital que trabalha contra a democracia e as instituições." [na citação, trecho dessa matéria aqui].
E por fim, uma última citação, retomando esse trecho que escrevi lá no início do mês, na edição no início da Lunação de Libra:
"Ação mais ostensiva e direta ao governo, de fato, parece ser assunto da lunação de Escorpião, mas sem dúvidas, muita coisa já deve ser encaminhada durante esse ciclo de Libra. Bolsonaro pode não estar na mira direta (ainda), mas gente perto dele sim. Lembram que escrevi sobre a forte probabilidade de membros ou aliados do governo virem a receber punições ou ordens de prisão nesse trimestre? Pois bem, a chance de isso ocorrer dentro dessa lunação é bem grande, especialmente na segunda metade, após a Lua Cheia, entre 20 de outubro e 2 de novembro. Não me surpreenderia se fosse um dos filhos, porque os mapas corroboram para esse significado, mas até eu custo a acreditar. De toda forma, essa é uma lunação para fazer cair do palco quem se julga esperto ou liso demais. Mentira nenhuma dura para sempre."
Ufa.
Ainda estamos na Lunação de Libra, mas os pauzinhos começam a se mexer. Seguimos para essa próxima semana de Lua começando a minguar, o Sol já caminhando pelo signo de Escorpião, o aguardado ingresso de Marte também em Escorpião, no fim da semana. O que podemos dizer sobre esse trânsito?
Marte ingressa em Escorpião precisamente às 11:21 do próximo sábado, 30 de outubro. Marte é regente de Escorpião, portanto tem afinidade natural com esse signo e bastante força para expressar as características marciais de enfrentamento e ruptura — além de que estar especialmente fortalecido na segunda metade do mês de novembro, quando tomará distância suficiente do Sol, ganhando visibilidade observável no céu e ainda mais poder.
É importante frisar que Marte é um dos regentes desse ano astrológico, e sua passagem por Escorpião é o trânsito mais desafiador para Saturno (regente anual do Poder Executivo, complementado por Júpiter nesse trimestre), por fazer aspecto de quadratura à esses planetas e com o diferencial de estar domiciliado (o trânsito de Marte em Leão, em contraponto, fez oposição à Saturno e trouxe forte movimentação popular nos protestos nas ruas, mas estava num signo peregrino, sem tanto poder efetivo). A temporada de Marte em Escorpião é o período mais perigoso para o governo nesse ano, pois indica forte possibilidade de crise, ruptura e danos diretos a seus membros. Gabinetes paralelos e a máquina de fake news são alvos diretos. As circunstãncias específicas em que isso poderá ocorrer serão vistas nas próximas edições, com início da Lunação de Escorpião em 4 de novembro.
Vale também dizer que, em Escorpião, Marte ganha uma ação cirúrgica: silenciosa, estratégica e de alta precisão. Os principais aspectos dele serão com Saturno e Júpiter em Aquário, pressionando ambos por uma quadratura, e um sêxtil fortalecido com Vênus, quando essa entrar em Capricórnio. As quadraturas com Júpiter e Saturno são especialmente significativas e indicam risco de implosões, rompimentos de barragens, desabamentos de edifícios, quebras de estruturas e problemas envolvendo fornecimento de água, estações petroleiras ou o território marítimo. Por tensionar a casa 12, rebeliões e questões importantes envolvendo presídios e a população carcerária podem entrar em pauta. Apesar de Marte se pôr dentro da casa 9 como um instrumento de justiça e punição aos crimes dissimulados nas esferas do alto poder, o risco de destrutividade também é alto. A temporada de Marte em Escorpião, enfim, deve nos trazer feitos audaciosos e calculados, sem margem para impulsividade. O saldo me parece positivo.
céu da semana
24 a 30 de outubro de 2021
Semana de pós-Cheia e a Lua começa a minguar no céu, embora ainda com bastante luz. A semana começa com agilidade, com os primeiros dias propositivos e mais favoráveis, o que parece mudar a partir de quinta-feira. Entre e quinta e sábado, o clima volta a ficar mais agitado, e temos aspectos importantes (além do ingresso de Marte em Escorpião). No geral, o começo da semana é mais ativo e propositivo, um pouco arrastado na terça e quarta e com tensão e rigidez entre a manhã de quinta e a tarde de sábado.
Hoje é domingo e a Lua em Gêmeos faz trígono à Mercúrio em Libra e oposição à Vênus em Sagitário, o que dá uma certa preguiça, uma ressaca afetiva, meio dúbia no aspecto relacional — pode ser algo a ver com ciúmes, fofoca ou inseguranças. Bom para análises, conversas e comunicações no geral.
Ao longo da segunda-feira a Lua ainda em Gêmeos completa os trígonos com Júpiter em Aquário e Marte em Libra. No fim da tarde, ingressa em Câncer e alcança já no fim da noite com o Sol em Escorpião. Bom de planejamento e estratégia, encaminhamentos, diálogos, reuniões com muitas pessoas, etc.
Terça e quarta-feira são dias parecidos e um pouco arrastados, com uma Lua em Câncer bem lentinha, buscando as quadraturas com Mercúrio e Marte de longe. O aspecto com Mercúrio é alcançado na madrugada de quarta, e o de Marte só na madrugada de quinta, então são dias com pouca ação de fato, mas uma crescente tensão, sensibilidade aflorada e irritação também, com dificuldade pro diálogo objetivo. Tem muita margem pra desentendimento, chantagem emocional e uma postura passiva-agressiva aqui, então se atentem; Marte combusto e nos últimos graus de Libra em quadratura com uma Lua em Câncer é o circo montado pra mágoa e arrependimento. Sensibilidade geral, pegar leve é o mais indicado.
Na quinta-feira a Lua, depois de completar a quadratura com Marte, se veste do signo de Leão logo ao amanhecer. Vênus em Sagitário completa o sêxtil com Júpiter à tarde, Lua entra no Quarto Minguante (quadratura com o Sol) no fim da tarde e a Lua em Leão atinge a oposição com Saturno em Aquário à noite. Um dia de pressão, com muito correndo fora da vista e uma certa pressão sobre questões financeiras. Evitem para grandes compras e gastos extras. Dia meio rabugento.
Sexta temos Lua em Leão em sêxtil com Mercúrio em Libra, o que me parece trazer notícias importantes do âmbito internacional. Negociações e lidar com a alteridade dos relacionamentos parece o principal assunto aqui. Favorece estudos e acordos.
Encerrando a semana, no sábado temos um dia agitado. Os movimentos já começam entre a madrugada e o começo da manhã: Lua em Leão em oposição à Júpiter em Aquário e trígono à Vênus em Sagitário, Sol faz quadratura à Saturno. Marte ingressa em Escorpião no fim da manhã, Lua ingressa em Virgem no meio da tarde e já alcança o sêxtil com Marte logo depois. Assuntos despontados desde quinta têm encaminhamentos importantes aqui, algum senso de completude e direcionamento. O ingresso de Marte na casa 11 dessa Lua Cheia traz foco para planejamento futuro e estratégias coletivas, o que pode render alianças inusitadas.
notas astrológicas
sobre a experiência oracular, parte 4: equívocos e incógnitas
Hoje encerro essa pequena série de textos com essa última parte dedicada aos enganos e falhas que também compõem a experiência oracular.
A astrologia pode ser definida de inúmeras formas: é linguagem, é oráculo, é cosmovisão e conhecimento. Sendo todas essas coisas criações humanas, temos que levar em consideração dois aspectos fundamentais: primeiro, que a busca humana por conhecimento tem algo a ver com uma tentativa de compreensão do mundo e de seus fenômenos. Essa motivação por associar, explicar e compreender os fenômenos é algo muito humano, perceptível desde a concepção de deuses e mitologias em diversas sociedades pelo mundo todo. Já a ânsia por controlar eventos e ocorrências não é uma experiência humana tão consistente assim; o desejo por controle e domínio é uma das muitas heranças da colonização, que parte de uma visão do mundo como um território a ser conquistado, extraído e otimizado para benefício próprio. Esse é um dos grandes riscos que os oráculos podem trazer às mentes mais inquietas e sugestionáveis — a ilusão de que, tomando conhecimento de previsões e sabendo o que pode ocorrer à frente, teremos domínio sobre o que irá ocorrer. Mas o oráculo astrológico apenas revela a qualidade e a natureza do tempo à frente, não nos dá poderes especiais sobre ele; tomando conhecimento ou consciência sobre os eventos, o que está sob o nosso domínio e responsabilidade são apenas as decisões que podemos fazer a respeito deles. Lidar, enfim, com o que está ao nosso alcance — e por isso a filosofia estoica é tão cara à quem se interessa por astrologia, pois trata de concentrar-se no que se pode controlar, e aceitar o que não pode. Vivemos em um tempo em que a maior parte das pessoas possui muito mais escolha do que outrora — a previsão de uma gravidez para uma mulher cis casada há séculos atrás, por exemplo, poderia ser dada quase como certeza absoluta, visto que havia pouca ou nenhuma escolha dela sobre tal assunto em sua vida. Hoje em dia, ainda que os direitos reprodutivos não sejam uma garantia para uma enorme parcela da população, há de se considerar, em comparação, que existe muito uma margem para escolha e prevenção muito maior do que em tempos passados, e uma previsão de gravidez feita à alguém se torna muito mais uma possibilidade do que uma determinação.
“Das coisas existentes, algumas são encargos nossos; outras não. São encargos nossos o juízo, o desejo, a repulsa –em suma: tudo quanto seja ação nossa. Não são encargos nossos o corpo, as posses, a reputação, os cargos públicos –em suma: tudo quanto não seja ação nossa.” — Manual de Epicteto
O segundo aspecto sobre a astrologia ser uma criação humana tem a ver, bem, com a parte humana. A cosmovisão astrológica pode até se fundamentar numa ordem ou lógica divina, espiritual, desconhecida... mas a prática é humana mesmo. Astrólogos e consulentes, enquanto pessoas, estão sujeitos ao erro o tempo todo. Como escrevi na última edição, o astrólogo é, sobretudo, um intérprete, e fazer uma má interpretação de um mapa ou de uma situação pelo viés astrológico é a coisa mais comum que tem. Na minha humilde opinião, astrólogo que não erra, inclusive, não está aprendendo. Uma das formas de minimizar as interpretações equivocadas que estamos sujeitos a fazer está justamente no diálogo que se estabelece com o consulente, com a pessoa que está do outro lado da previsão. Como já escrevi anteriormente nessa série, a troca, a abertura para conversa e a disposição para auxiliar o intérprete a compreender melhor a previsão é algo que torna a experiência oracular incrivelmente mais rica e proveitosa para todas as partes envolvidas. Mas para além da colaboração, há sempre a margem do erro — um astrólogo que nunca acerta previsões e análises precisa rever suas técnicas e abordagens, claro, mas algum nível de falha e engano costuma fazer parte do cotidiano do oraculista. Previsão é risco.
E por último, enfim, há o aspecto do mistério, da incógnita, do que não pode ser percebido ou determinado em dado momento — a ambiguidade faz parte da linguagem, então também pode ser lida pelo oraculista. Muitas vezes o mapa não evidencia uma previsão ou não reflete a situação com a clareza que o astrólogo gostaria. Forçar a barra para definir uma previsão, nessas ocasiões, traz o risco maior de incorrer em erro. Nem tudo pode ser visto e nem tudo precisa ser visto, mas essa é uma das limitações mais difíceis do astrólogo aceitar, porque afinal, tanto estudo e técnica pra quê? No fim das contas, acho que essa incerteza é algo a ser levado até com um certo apreço, pois dá mais limite e humanidade à essa prática que espia o futuro. Nos coloca no nosso lugar: o de pequeneza nesse mundo de possibilidades e circunstâncias cada vezes mais complexas. A experiência oracular, essa atividade tão exageradamente humana, também é atravessada por inúmeros equívocos e por incógnitas. E que bom que é assim.
um abraço e até semana que vem,