“Ninguém vai sofrer sozinho, todo mundo vai sofrer”. Hoje é domingo e a semana começa ainda com o gosto amargo de uma perda tão súbita e triste como a de Marília Mendonça, uma das cantoras mais talentosas e populares do Brasil atual. Se despedir da vida tão precocemente é duro, e a dor de quem fica é brutal. O luto de um ícone nacional veio sobreposto em um luto coletivo e acumulado de tantos meses de centenas de perdas diárias. Acúmulo é uma palavra que me lembra o Escorpião, um signo tão mal falado quanto incompreendido: é o signo da água fixa, regido por Marte. E se a triplicidade da água trata de sensibilidade e conexão, a água fixa, "parada", estacionada, está num estado de acúmulo. Não à toa, um signo de Marte: carregar as emoções que arrebatam e acumulam dentro de si provoca tensão, estado de alerta, defensividade. O ferrão é agudo e preciso, pois quem carrega tanto peso sobre as costas não tem tempo a perder nem margem larga para o erro. Carregar o acúmulo tem seus preços. Arisco é o bicho que, de tão acuado e acostumado à labuta e as armadilhas no caminho, tem a salvaguarda de prontidão.
Escorpião também é um signo muito relacionado à ideia de regeneração, uma associação curiosa para um signo de água fixa, que tem muito mais a ver com a qualidade de manutenção, não de transformação. Talvez o que Escorpião melhor exprima enquanto signo seja justamente a ação de sustentar. Viver, sentir e se colocar, apesar de [tudo]. Na última quinta-feira, entramos na Lunação de Escorpião, regida por um Marte também em Escorpião, destacado e fortalecido. Ao olhar para o mapa dessa Lunação de Escorpião, duas chamadas me vêm à mente: bancar o desconforto e assumir posição.
Um ciclo coletivo marcado pela Lua em Escorpião sempre trará dores coletivas, já que esse signo é a queda da Lua — um território inóspito e arredio. O que os planetas e signos expressam na astrologia descrevem a natureza do mundo, não tem a ver com bom ou mau. O desconforto e a dificuldade fazem parte do existir. Na vida a gente também aprende, ainda que a contragosto, a existir com a uma fenda no meio do peito — conviver com suas dores, suas limitações, seus incômodos. Tempos coletivamente tão turbulentos dão pouca margem para se permitir sentir e sofrer, como se a mecanização da vida e a objetividade da rotina diária suprissem a conexão com a própria vida — mas se essa água não escorre, uma hora, ela irrompe feito tromba d'água. No Brasil em que a gente vive hoje, há uma certa pressa de superação e de "ficar bem", uma certa desaprovação do sofrimento. Lidar com a dor e a perda é parte da experiência humana. Bancar seu desconfortos tem a ver com lidar honestamente com o que se sente, a despeito de outres ou do que estiver acontecendo lá fora. Na nossa situação coletiva atual, inclusive, não reagir ou sentir raiva é que é o problema.
Essa também é uma lunação de casa 7, ou seja, uma lunação de antagonismo, de alteridade, de se mirar no reflexo do outro. A 7 é uma casa angular, em que não há frestas para se esconder: se Marte em Libra tratou de dialogar, performar diplomacia e buscar acordos polidos e dissimulados, Marte em Escorpião se encarrega de apontar o ferrão aonde dói a ferida. Tomar posição tem a ver com agir e existir, apesar do medo. O medo não pode ser maior que a vida. Quando se trata de lidar com outro, onde você está? Defende e age a partir do quê? É compreensível que o conflito, o rompimento, a briga e a agressividade sejam experiências que desafiam a manutenção da vida — esta é, aliás, a definição de um planeta 'maléfico' na astrologia. Tudo que se relaciona aos confrontos é regido por Marte, mas seria ingenuidade demonizar a natureza dessa planeta ou pensar que dá pra viver sem desacordo. O confronto é uma parte importante da vida justamente porque o mundo não é justo ou igual. Da negação à essa alteridade nascem a segregação e outros tipos de desigualdade; do confronto saudável surgem possibilidades, mudanças, aprendizado, transparência. Há potência num confronto quando ele é quânime e não parte da convicção absoluta — os problemas costumam vir quando há abuso de autoridade, violência desmedida e um impulso de alienar e silenciar o outro. De resto, a discordância não só é natural, como de grande valor.
"Munição", colagem digital minha de 2019
lunação de escorpião
4 de novembro a 3 de dezembro
Nas últimas edições da newsletter, venho adiantando pra vocês que essa é uma das lunações mais importantes do ano. Isso se deve e alguns fatores:
1. Marte é um dos regentes desse ano astrológico no Brasil, está domiciliado e pressionando planetas importantes. Em Escorpião, Marte está domiciliado, com plenos poderes de ação, e irá tensionar Júpiter e Saturno, planetas que estão atualmente simbolizando o poder público, regendo as casas 10 e 11 do Ingresso Solar em Libra (além da 12 e da 1). Não é a primeira vez que Marte faz um aspecto duro a Saturno (o governo), já que o trânsito de Marte em Leão no meio do ano durante o inverno fez oposição à Saturno em Aquário, trazendo bastante pressão popular nas ruas em protesto ao governo Bolsonaro. Apesar disso, Marte não possui tanto poder no signo de Leão (ao contrário de Saturno, que está confortavelmente estável em Aquário). Em Escorpião, por outro lado, a conversa é outra, e há espaço para um embate e dano efetivo.
2. Teremos um Eclipse Lunar. A chegada da Lua Cheia em Touro vem com um Eclipse Lunar Parcial, visível em boa parte do Brasil. O Eclipse ocorrerá num grau conjunto à Algol, estrela da constelação de Perseu, associada ao mito da Medusa, o que promete um clímax daqueles nos dias próximos à Lua Cheia, que ocorrerá em 19 de novembro. (Mais informações específicas sobre esse eclipse vêm na edição da semana que vem.)
3. Aspectos exatos em mapas decisivos. O regente do mapa da Lua Nova é Vênus a 29 de Sagitário, um grau de instabilidade, e num cenário desafiador de casa 8 (perdas, rupturas, crise); o ascendente desse mapa está a 12 de Touro, em conjunção exata à Urano — um planeta que não necessariamente precisa ser usado na astrologia mundana, mas que pode reforçar testemunhos importantes; em oposição à esse ascendente e Urano a 12 de Touro estão os luminares, Sol e Lua em Escorpião, se pondo na casa 7. No mapa da Lua Cheia, é Marte em Escorpião quem se opõe à Urano em Touro (apenas a um grau de distãncia). Por último, ainda no mapa do eclipse temos Júpiter em Aquário em oposição exata ao Meio do Céu em Leão.
Ou seja, não é bem uma lunação para se passar despercebida. O cenário coletivo vai ser devidamente sacudido. Por Marte ser também regente do ascendente do mapa do Ingresso Solar em Áries, podemos considerar que as condições do país são de reatividade e enfrentamento, com muito mais disposição e ação direta do que nos últimos meses. Quem já fez o workshop de astrologia mundana comigo sabe que eu sempre comento o fato de que um Marte angular em mapas de lunações é um ponto de muita atenção, já é uma posição frequente que precede golpes militares, seguindo vários exemplos históricos que estudei. Nesse caso, no entanto, como se trata de um mapa noturno e o contexto atual é de enfraquecimento da figura do presidente, não vejo risco para tal — além do que, considerando o mapa do trimestre, não há qualquer viabilidade efetiva para uma ação como essa no Brasil atual.
Apesar disso, pelos aspectos bastante desafiadores, podemos pensar em rupturas de estruturas, metafóricas — cisão e perdas nas estruturas do poder estabelecido — ou literais — desabamento de construções, rompimento de barragens e acidentes envolvendo implosões, por exemplo. Vale também redobrar os cuidados com o corpo físico, já que o aspecto tenso entre Marte e Saturno costuma indicar acidentes, fratura de ossos, lesões musculares, irritações e feridas na pele, etc.
Há um quê de plot twist nessa lunação, indicando eventos que trazem mudanças bruscas ou inesperadas. Além disso, a posição de Marte também abre margem para a ocasião de rebeliões, greves e reviravoltas que ameaçam diretamente o Poder Executivo. Outro fator importante é a volta do protagonismo de figuras do Poder Judiciário, já que Marte em Escorpião ativa a casa 9 no mapa desse trimestre. Já tivemos uma pequena amostra disso na sexta-feira com a Rosa Weber. Há bastante espaço para ordens e decisões que desafiam e dificultam bastante a aliança do governo com congressistas, por exemplo.
Em termos do andamento dos eventos, há uma alternância entre ação e retirada, já que a natureza de Marte em Escorpião é de um funcionamento incisivo e certeiro, agindo com mais estratégia, em momentos decisivos. Destaco dois momentos mais importantes dentro dessa lunação: o primeiro é o dia 10 de novembro, próxima quarta-feira, um dia com vários aspectos importantes sendo concluídos — a Lua se aproxima do quarto crescente, Mercúrio faz conjunção à Marte, Lua faz conjunção à Saturno e temos 4 quadraturas envolvendo esses planetas. Um dia importante, a se estar bastante atento. O segundo é justamente o Eclipse Lunar em 19 de novembro, ficando também em destaque os dois dias anteriores em que a Lua já estará em Touro e completando outros aspectos relevantes.
Num resuminho mínimo do céu da semana em termos de humor, essa semana começa com um clima de certa seriedade e uma tensão que vai se construindo aos poucos, entre segunda e terça. A quarta é um dia a se evitar marcar grandes compromissos, se preservar de grandes riscos e minimizar os danos, dentro do possível. Evitar burocracia e resolver problemas muito complexos, porque parecem haver muitos entraves. A chegada da Lua em Peixes na madrugada de sexta dá uma aliviada nos ânimos, trazendo mais harmonia, união e inspiração, embora bem mais subjetivo e disperso, o que se estende ao sábado.
pra desopilar
Numa lunação que promete ser tão densa, a melhor recomendação que eu posso fazer para desopilar é escutar o que os nativos da Lua Escorpião têm a cantar sobre a vida na perspectiva de quem nasceu sob esse trânsito. A playlist Lua em Escorpião é composta apenas por artistas (cantores e/ou compositores) nascidos sob essa Lua e foi uma criação coletiva da Vega, envolvendo muita pesquisa de datas de nascimento e curadoria de canções.
Boa arte, para mim, tem a ver com o que arrebata o peito, e essa é uma das minhas playlists favoritas de músicas que carregam esse sentido.
lançamento lunário 2022
Novidade em primeira mão: na próxima sexta-feira, dia 12 de novembro, será lançado o Lunário 2022! Para quem chegou aqui recentemente e não sabe disso, o Lunário da Alfa Serpente é um calendário astrológico completo: nele estão registrados todos os ingressos planetários nos signos, as retrogradações dos planetas, os eclipses solares e lunares (incluindo até a informação se serão visíveis ou não no Brasil), com horários calculados considerando a posição e o fuso horário de Brasília/DF.
Essa é o terceiro ano que faço o Lunário, e cada edição até agora foi criada em colaboração com uma ilustradora diferente. A ilustração desse ano tá especialmente caprichada e eu tô apaixonada por ela. 🍃 (sim, o emoji é um spoiler)
Como de costume, ele será vendido lá na minha loja, que opera com entregas semanais às sextas-feiras. O preço do Lunário 2022 é o mesmo do ano passado: R$60 a unidade, com frete incluso gratuito para todo Brasil.
agora ATENÇÃO à oportunidade para assinantes do Meio do Céu:
Apoiadores da newsletter no mês de novembro terão 25% de desconto na compra do lunário, pagando R$45 na unidade, ao invés de R$60. Tá bom pra vocês? Tá valendo ainda mais se tornar apoiador esse mês! Para se tornar apoiador basta pagar o valor mensal do apoio que é R$7 (o apoio pode ser pontual, feito por pix, ou de renovação automática, via PicPay).
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Um abraço e até semana que vem,