Como vocês passaram essa semana de tanta atribulação no céu? Por aqui, foi certamente a semana mais trabalhosa do ano (e não só por causa do lançamento do lunário), embora com a sorte de poucas dificuldades, bem melhor da expectativa que tinha com a conclusão de todos aqueles aspectos difíceis entre Lua, Mercúrio, Marte e Saturno na última quarta-feira. (Aliás, vocês viram que o Moro se filiou ao Podemos justamente no dia 10, quando Mercúrio-Marte em Escorpião faziam quadratura exata à Saturno em Aquário? Do ponto de vista astrológico, a escolha de uma data tão ruim como essa marcando o início mais "formal" de sua carreira política me faz pensar que ele terá problemas ou restrições graves enquanto candidato nesse partido.)
Escrevi muito na edição passada sobre o simbolismo do signo de Escorpião e sobre os vários temas importantes que essa lunação vem trazer. Falando da natureza desse signo de água fixa, uma das coisas que citei foi sobre a ideia de acúmulo que Escorpião representa, e nesses últimos dias pude perceber esse conceito sob o viés da memória. Pensando numa prática da auto-observação, uma das coisas faz sentido acontecerem numa Lunação de Escorpião como essa é que memórias pessoais distantes cheguem à superfície da mente e venham à consciência, talvez até mesmo como um entendimento mais maduro ou palpável sobre o significado ou impacto desses eventos na sua experiência. Para quem conhece astrologia tradicional mais de perto, isso pode parecer até um contrassenso, já que Escorpião é a queda da Lua, mas essa semana eu compreendi esse outro aspecto: dentro do simbolismo astrológico, não é que a Lua em Escorpião signifique uma ausência ou falta de memória, muito pelo contrário: por ocupar o signo da água fixa, a Lua em Escorpião talvez represente justamente o acúmulo de memórias, uma turbulência de sensações, uma sensibilidade aguda e aguçada. O Escorpião estanca o fluxo vivo da memória, prendendo as lembranças numa sopa que fica lá, parada — e são em ciclos como esse, de uma Lunação em Escorpião tão incisiva, que essa água entorna para rememorar o que se passou. Pela natureza marcial da Lua em Escorpião, as memórias podem ser uma referência doída e desconfortável. Remexer o lodo não é fácil, mas gosto de pensar que é uma boa ocasião para identificar, reconhecer e aliviar as dores guardadas.
A temporada do lacrau, enfim, segue percorrendo águas profundas. A Lua já bem crescente enche o céu de luz, indicando que o ápice da lunação está por vir: mais especificamente, vem na próxima sexta-feira, em que teremos um Eclipse Lunar Parcial em Touro, conjunto à Algol, a estrela do mito de Medusa.
Medusa I: Fogo no Parquinho, colagem digital minha de 2019
lunação de escorpião
Eclipse Lunar Parcial em Touro
A Lua Cheia desse mês será também um Eclipse Lunar Parcial, visível em toda a América, Austrália e algumas partes da Ásia e da Europa. A área em que ele afeta com maior intensidade envolve o México, toda a América do Norte e o oceano Pacífico (tocando fortemente o Havaí, por exemplo). No Brasil, o ponto máximo desse eclipse lunar ocorrerá bem no nascer do Sol, quando ele estará cruzando o horizonte leste. Isso significa que o ápice do eclipse não será visível na maior parte do país, apenas nas cidades mais ao norte do Brasil, como Macapá e Boa Vista — e ainda assim, para quem quiser observá-lo no ponto máximo, recomendo garantir um local com vista aberta e horizonte bem livre.
Pensando em Brasília como o centro de poder do país, temos a situação de um eclipse visível, mas cujo ápice ocorre já além da nossa visibilidade, o que me parece atenuar um pouco os efeitos desse evento. Eclipses são eventos imponentes e, normalmente de, efeitos desfavoráveis ou desconfortáveis, mas que podem indicar grandes começos ou grandes encerramentos. De forma bem geral, o eclipse lunar (por se tratar sempre de uma Lua Cheia) não indica calmaria nem apaziguamento, pelo contrário: é indicativo de reviravolta, de remexida no tabuleiro. Não tenho grande experiência analisando mapas de eclipses, mas vou trazer as indicações que me parecem mais seguras em relação à esse que se aproxima. A primeira coisa importante a se ter em mente sobre os eclipses lunares é que seus efeitos diretos podem se estender por vários meses após ele ocorrer.
Efeitos gerais
Num eclipse lunar é a Lua quem fica debilitada, escondida, eclipsada, enfim. Para vários autores antigos, o eclipse no signo de Touro indica danos ao gado (sem duplo sentido rs) e bovinos de forma geral. Pensando a partir do mapa do Ingresso Solar em Libra, o eclipse se dá no eixo das casas 3 e 9, que tratam de comércio e exportação — daí, considerando que a carne vermelha é um dos produtos de exportação mais importantes do Brasil, o eclipse indica dificuldades nesse cenário e mais danos à economia. A doença da vaca louca voltou a rondar algumas manchetes meses atrás e a possibilidade de surto no país vem sendo descartada; de fato, não vejo risco da eclosão da doença, mas sim de um agravamento de dificuldades nesse cenário envolvendo a pecuária e o comércio.
O eclipse da Lua em Touro também pode indicar prejuízos à animais selvagens no geral e à áreas de cultivo, especialmente em proximidades de montanhas, florestas e locais com alguma escassez de água. Há autores que incluem terremotos e danos à fundações e construções em geral, o que me parece bem cabível também, considerando que o tensionamento entre Lua e Sol nesse mapa tocam Júpiter (regente da casa 4) por uma quadratura.
E a conjunção com a estrela Algol, o que acrescenta nessa trama aí? Algol é uma estrela fixa da constelação de Perseu, o personagem mitológico que decapita Medusa, uma figura que simboliza exílio, injustiça e violência (ainda que como defesa ou redenção). Há algo sobre força primal, instintiva e preservadora no simbolismo dessa estrela, que também fala de proteção. A Lua com Algol em oposição também à Mercúrio e Marte me traz algo sobre desatar os nós da garganta. Para algumas pessoas, claro, pode trazer à tona fatos materiais sobre esses assuntos (ver, mais abaixo, as indicações sobre possíveis efeitos individuais do eclipse). De toda forma, a conjunção com Algol não me parece, nesse contexto, indicar contenção ou silenciamento, e sim propagação e difusão de uma situação problemática que precisa ser enfrentada.
Como o cenário coletivo já é bem duro, acho que vale salientar um fato importante sobre esse mapa: eu atribuo a regência desse eclipse lunar à Júpiter, um planeta benéfico, diurno e que está muito fortalecido nesse mapa, por se encontrar numa conjunção cravada ao ângulo do fundo do céu. A reviravolta vem, mas penso que esse Júpiter é um indicador de contenção de males e danos ao país, uma salvaguarda, e até alguma garantia de... justiça, será?
Eu diria, pasmem, que esse eclipse lunar pode ser um marcador temporal, sim, de eventos políticos bem relevantes, com algum potencial de redenção à tantas frustrações acumuladas nos últimos meses (anos!): um fato interessantíssimo é que o eclipse ocorrerá em oposição quase exata ao ângulo do MC do mapa da Independência do Brasil, a 27° de Escorpião. O Júpiter em Aquário que mencionei agora há pouco, por exemplo, estaria numa conjunção bem próxima ao ângulo Ascendente do mapa do Brasil. Abaixo, seguem os dois mapas em comparativo, sendo o mapa de dentro o mapa da Independência, e o mapa de fora, o mapa do eclipse dessa próxima sexta-feira:
No mapa do eclipse em si, temos Sol, Mercúrio e Marte em Escorpião na casa 12, o que é um indício muito forte de punições, prisões e eventos diretamente relacionados à restrições e dificuldades em relação às figuras de poder, especialmente as grandes autoridades. Mercúrio, que é o regente do poder central nesse mapa, está fincado entre Marte e o Sol, uma posição desconfortável e meio sem pra onde escapar. Quem se sobrepõe à ele com seus raios é o Sol, regente da casa 9, que trata de justiça e do Judiciário, fortalecendo o protagonismo desse poder nos próximos meses. A Lua em Touro rege a casa 8 do mapa do eclipse, uma casa que trata da questão da corrupção e de acordos criminosos na classe política e vem muito ativa desde o Ingresso Solar em Libra, também nesse local. Toda essa conjuntura, enfim, me leva a pensar em ações de justiça mais diretas e combativas em relação à esse tema. Como os efeitos de um eclipse lunar podem levar meses para se tornarem visíveis, teremos de esperar pra ver.
A nível individual, esse eclipse importa?
Sim, se você tiver algum planeta natal em até 3 graus de distância do grau 27° de Touro e/ou 27° de Escorpião. Por ser um eclipse lunar, vale maior cuidado e prudência com a vitalidade do corpo, a região da garganta, com a alimentação e estômago também, especialmente no dia do eclipse e nos dias que o antecedem e precedem. O tipo de evento, área da vida e impacto que o eclipse pode indicar ao tocar esses graus depende muito do seu mapa como um todo, mas essas seriam precauções gerais. A casa onde ele toca o seu mapa também é importante; sabendo os significados básicos de cada uma delas, é possível tatear o cenário onde os efeitos dele podem se manifestar:
Casa 1 — Vitalidade, corpo físico, aparência
Casa 2 — Finanças, bens e posses, alimentação
Casa 3 — Irmãos, vizinhos, ruas, movimento, rotina, comunicação
Casa 4 — Moradia, família, casa, terrenos, natureza
Casa 5 — Sexo, afetividade, prazeres, filhos, diversão, criatividade
Casa 6 — Doenças/problemas do corpo físico, animais domésticos/pequeno porte
Casa 7 — Relacionamentos, parcerias, inimizades
Casa 8 — Rupturas, perdas, mortes, despesas, crises
Casa 9 — Estudos, viagens, espiritualidade, justiça
Casa 10 — Carreira, trabalho, reputação, vida pública
Casa 11 — Amizades, organizações, coletividades, aspirações, perspectivas futuras
Casa 12 — Doenças/problemas da psique, animais silvestres ou de grande porte
Levem em consideração que os efeitos desse eclipse devem ser visíveis em pouco tempo, mas não imediatamente; a duração desses efeitos também pode se estender por algumas semanas. Em caso de dúvida, evitem preocupações desnecessárias e consultem profissionais qualificados para analisar seu mapa (minha agenda está fechada, mas posso recomendar pessoas da minha confiança).
céu da semana – 14 a 20 de novembro
Vamos de resuminho breve de uma semana que é mais curta, já que se inicia com o feriado da República. Não teremos muito aspectos difíceis, mas é altamente recomendável evitar grandes movimentos e possíveis desgastes na quinta e sexta, dias 18 e 19, quando a Lua em Touro fará oposições e o eclipse ocorrerá.
Hoje, domingo, a Lua entra em Áries, onde fica até início da madrugada de quarta-feira (ou seja, até o fim da noite de terça). Nessa passagem por Áries ela faz quadratura à Vênus e sêxtis com Saturno e Júpiter. Há algo de pressa e inquietação nesses dias, movimento, pouco pensamento e muita ação, alguma impaciência também. Terça-feira acaba sendo um dia melhor, mais ágil e eficiente, pelo aspecto se dar com Júpiter.
A Lua ingressa em Touro pouco depois da meia-noite de quarta-feira, alcançando a quadratura com Saturno e o trígono com Vênus à tarde e à noite, respectivamente. O clima de resistência, rigidez e cabo-de-guerra começa a despontar, mas ainda é um dia relativamente produtivo. Com a chegada da quinta-feira, porém, o cenário se complica, com a conclusão da oposição da Lua com Marte e Mercúrio em Escorpião. Dia disperso, de dor de cabeça (metafórica ou literal), frustrações, dificuldade de concentração. Passa, mas é bom evitar compromissos que exijam demais do mental e social aí. A sexta, enfim, traz o eclipse. No geral, atenção redobrada e prudência em relação ao corpo desde quinta, não inventar muita moda. Ainda na sexta, após o eclipse, a Lua já ingressa no signo de Gêmeos, e encerramos a semana no sábado com algum respiro, embora ainda um senso de avaliação, confiança e precisão meio prejudicado, devido à quadratura de Mercúrio com Júpiter.
criações
Já que a Lua Cheia desse mês será em Touro e conjunta à estrela Algol, me pareceu mais que pertinente divulgar aqui a zine Monstros, uma criação minha em parceria com Íra Barillo. Para essa publicação, pesquisei e li várias versões do mito da Medusa, resgatando suas primeiras referências, e diferentes descrições sobre sua figura e suas histórias. Nessa zine, escrevi a respeito da variedade de narrativas sobre a monstruosidade da Medusa e alguns desdobramentos importantes sobre sua simbologia. Além de um trabalho muito afetivo pra mim, essa zine levanta reflexões preciosas sobre estranheza, inadequação e as diferentes formas de existir no mundo. Recomendo demais a todes, e em especial a quem se interessa pela história da Medusa, uma das monstras "primordiais" da mitologia ocidental.
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Um abraço e até semana que vem,