a história de uma (repetida) sobrevivente
edição exclusiva de apoiadores | novembro de 2021
Oi pessoal! A edição desse mês é uma análise do caso Juliane Koepcke, a única sobrevivente da queda do avião do vôo LANSA 508, em 1971. Essa é mais uma daquelas histórias que ao ouvir da primeira vez, tive que ir atrás dos mapas para ver se os eventos vividos estavam representados ali, e qual a minha satisfação em descobrir que sim? A astrologia não cansa de me surpreender. Esse é um caso que, apesar de intenso e triste, traz uma história impressionante sobre as capacidades que um ser humano pode desenvolver.
A história de uma (repetida) sobrevivente
Juliane Koepcke tinha 17 anos quando passou pelo acidente que marcaria a sua vida. Ela era filha de pesquisadores alemães (pai biólogo e mãe ornitóloga) que trabalhavam em Lima, capital do Peru. Na véspera do Natal de 1971, Juliane e sua mãe embarcaram no vôo LANSA 508 partindo de Lima para Pucallpa, uma cidade próxima, com 86 passageiros e seis tripulantes a bordo.
Durante o voo, uma tempestade atingiu a aeronave, provocando forte turbulência. Juliane lembra dos tremores do avião, dos presentes natalinos despencando do bagageiro. Ela também lembra de assistir, pela janela, o raio que atingiu a asa direita do avião. O avião se desintegrou em meio ao ar, descendo numa queda vertical em meio à floresta peruana.
"Suas últimas lembranças incluem a aeronave mergulhando de nariz e sua mãe dizendo, calmamente, apesar da situação: Agora, está tudo acabado. O que veio depois, são memórias esparsas de pessoas chorando e gritando, seguido de um grande silêncio. A aeronave havia se partido, e ela foi separada de todos os outros a bordo. “A próxima coisa que eu sabia é que não estava mais dentro do avião”, conta. Eu estava lá fora, ao ar livre. Eu não tinha saído do avião; o avião havia me deixado.
Juliane caiu uma altura estimada em 3 mil metros sobre as árvores da floresta amazônica peruana. Ela se lembra de acordar ao som de pássaros, com o vestido rasgado, dores no corpo, ainda presa ao assento de três lugares. Acredita-se que a folhagem densa da floresta fechada somada à poltrona amorteceram a queda.
Ela conta que demorou muito até se dar conta do que tinha acontecido. Fiquei ali, na poltrona, encolhida como um feto pelo resto do dia e uma noite inteira, até a manhã seguinte, escreveu ela em suas memórias, When I Fell From the Sky, inédito no Brasil. Quando dei por mim, estava completamente encharcada e coberta de lama e sujeira, pois deve ter chovido torrencialmente por um dia e uma noite.
Sua primeira percepção foi quando ouviu o canto dos pássaros, o coaxar das rãs e o zumbido dos insetos. Reconheci os sons da vida selvagem da floresta e percebi que estava na selva e havia sobrevivido ao acidente. Milagrosamente, os ferimentos do seu corpo foram relativamente leves. Uma clavícula quebrada, um joelho torcido e cortes no ombro direito e na panturrilha esquerda, um olho inchado e fechado e seu campo de visão no outro reduzido a uma pequena fenda. Para ela, o mais insuportável entre os desconfortos era o desaparecimento de seus óculos, já que era míope.
Juliane também percebeu que, durante a queda, não havia soltado o pacote de doces que comia no voo. Aqueles seriam os únicos alimentos que a manteriam viva nos dias que se seguiram, já que não havia frutas ou outras opções acessíveis. Em meio a chuva inclemente do verão peruano, e ameaçada por onças, jacarés, aranhas e cobras venenosas, a jovem resolveu andar a procura de ajuda.
Apesar da situação dramática, a selva não era uma novidade absoluta para Juliane, que havia nascido e crescido na região, apesar de nunca ter estudado nenhuma técnica de sobrevivência. Quando encontrou um rio, sabia que em uma das margens, em algum lugar, deveria haver presença humana. Então, ela desceu o fluxo de água e, por 11 dias, andou, correu e nadou até ser resgatada por madeireiros e levada a um hospital.
Ela ainda teve forças para ajudar a equipe de resgate com orientações sobre do acidente. Infelizmente, ninguém além dela havia sobrevivido. Foram 91 mortes. A selva me pegou e me salvou, repete ela a todo momento." [1]
Sim, a análise de hoje é dos mapas do evento do acidente e do nascimento de uma jovem que não apenas foi a única sobrevivente de uma queda de avião de 3 mil metros de altura, como também sobreviveu a 11 dias no meio da floresta amazônica ferida, sozinha e com escassa alimentação.
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