Essa semana encerrei as atividades de rede social no ano lá no instagram, fiz meus dois últimos atendimentos astrológicos e a última leva de entregas de encomendas da loja (agora fechada temporariamente). Ainda preciso finalizar algumas tarefas antes de de poder declarar oficialmente que estou de férias, mas esse plano ganhou um senso de urgência nos últimos dias. Vocês também estão exaustos? Eu sim. Esse foi um ano de muita realização pra mim, e a newsletter Meio do Céu fez muito parte disso. Me alegra demais ver tanta gente interessada em ler e aprender sobre astrologia mundana nesse formato editorial, e me satisfaz muito poder escrever essas análises e pensamentos por aqui.
Uma coisa que aconteceu com essa mudança de mídia, no entanto, foi perceber que o ofício de escrever previsões e reflexões o céu toda semana é extremamente laborioso. Manter o hábito constante de atenção aos trânsitos e suas relações com os mapas do ciclo que vivemos é uma pequena loucura — que eu amo e pretendo seguir fazendo adiante, mas que é um trabalho bastante minucioso e de dedicação, isso é. Por isso mesmo, também pede algumas pausas.
Essa é a edição #22, a última de 2021. Estou entrando férias da newsletter, e a próxima edição chega só no dia 30 de janeiro, o que significa que atravessaremos a Lunação de Capricórnio inteirinha sem as previsões e o panorama temático geral que eu costumo trazer por aqui. (Vai ser estranho pra mim também.) Pra gente não ficar 100% no escuro, logo aqui abaixo, na próxima editoria, escrevi uma visão geral das próximas semanas. E vamos de descanso!
Por fim, um recado aos apoiadores:
Quero agradecer a vocês por apostarem na minha escrita e no meu ofício de observação astrológica. A newsletter foi uma das coisas mais importantes que decidi fazer esse ano, e ter recebido apoio financeiro para isso foi o que viabilizou todo o esforço e a insistência de estar semanalmente aqui, trazendo ideias, análises e reflexões. Obrigada, obrigada, obrigada.
Dito isso, uma pequena mudança de planos: esse mês não vai ter edição especial. Prometi e não cumpri? Mais ou menos. Como a newsletter vai entrar de férias e só volta em 30/01 (e, com isso, também as contribuições são pausadas), nós não teríamos uma edição exclusiva no próximo mês, de qualquer forma. Decidi então inverter, e trazer a edição especial de apoiadores no retorno das férias, na semana do dia 24/01, quando tenho certeza que vou ter mais coisas interessantes a compartilhar — além do quê, me parece que o clima geral de fim de ano já está disperso e denso o suficiente pra uma análise super cabeçuda e completa agora, né? Enfim, peço desculpas pela mudança inesperada, mas prometo que vai valer mais a pena.
trânsitos de janeiro
A situação atual é que vamos encerrar o ano de 2021 com a Lua na fase minguante e Vênus retrógrada em Capricórnio. Não é uma virada das mais eufóricas, aquela coisa do entusiasmo possível dentro de expectativas reduzidas. Dá pra se divertir, claro, mas sem muito deslumbre.
O panorama de janeiro é o seguinte: teremos a Lua Nova inaugurando a Lunação de Capricórnio no dia 2 de janeiro e a Lua Cheia trazendo o ápice do ciclo no dia 17. O ano começa com uma nesga de otimismo e esperança sim, afinal teremos Júpiter já em Peixes. O que pega é que, além da Vênus retrógrada em Capricórnio até o dia 29 de janeiro, Mercúrio também entrará na retrogradação no dia 14, então boa parte do mês vai carregar esse andamento meio emperrado dos assuntos. Como apontei na edição anterior, Mercúrio e Vênus são planetas que dentre outros assuntos estão ligados ao processo de vacinação infantil aqui no Brasil, e essas retrogradações não indicam agilidade nesses trâmites, como já estamos vendo. (Sobre esse tema, recomendo ler a análise do mapa da Lua Cheia da edição #22).
Vamos à algumas datas a se atentar:
13 a 16 de janeiro | Mercúrio estacionário/retrógrado
O período logo antes e depois de Mercúrio iniciar o movimento retrógrado é especialmente desfavorável para os temas regidos por esse planeta, ou seja: estudos, escrita, contratos, comércio, educação, comunicação, tecnologia, diálogo, linguagem, etc. Se possível, evite fechar novos contratos ou começar grandes iniciativas nesses dias; caso seja inviável, apenas considere que é provável que algumas refações ou revisões sejam necessárias ou que o desenrolar das coisas venha a sofrer alguma dificuldade, atraso ou impedimento.
3 a 13 de janeiro | Vênus atravessa o Sol
A Vênus está retrógrada desde 19 de dezembro e vai assim até 29 de janeiro, mas esse período no início do mês é o mais crítico desse trânsito por conta da proximidade da Vênus com o Sol em Capricórnio. Teremos uma Vênus simbolicamente retrógrada e combusta pelos raios solares, uma condição que prejudica os temas da beleza, arte, sexo, união e relacionamentos de forma geral. O dia máximo desse ocultamento da Vênus pelo Sol será no dia 8 de janeiro. A partir da noite do dia 13, ela começa a ganhar distância do astro-rei e sai da combustão, e no dia 18 ela ressurge no céu. De 18 a 29 de janeiro, nesses últimos dias da Vênus retrógrada, ela estará fortalecida por estar novamente visível e observável no céu.
Esse percurso da Vênus atravessando o Sol é bastante importante, por nesse processo ela deixará de ser visível no entardecer, como estrela vespertina, e passará a ser visível no céu logo antes do nascer do Sol, sendo a estrela d'alva, a estrela da manhã. A Vênus ocidental ao Sol (vespertina) tem uma expressão mais madura, comedida, reservada, tímida ou responsável, se manifestando mais num senso coletivo, menos afeita às satisfações meramente pessoais; a Vênus oriental (matutina), por outro lado, tem uma expressão mais espontânea, aberta e entusiasmada, de orientação às experiências prazerosas e à novidade, estando mais voltada ao bem-estar individual. Essa mudança da Vênus não é diretamente relevante a todos, mas as pessoas que a têm como planeta regente de algum ciclo pessoal podem se atentar às alterações e mudanças durante esse período: me parece que a travessia pelo Sol simboliza algo a ver mesmo com uma maior abertura ao divertimento e ao prazer, desenrijecendo mecanismos de defesa e constrição. (Mais sobre isso, inclusive, no finzinho dessa edição, lá no poema da editoria final.)
No mais, recomendo a (re)leitura da editoria sobre retrogradação que escrevi lá na edição #9, pra quem tá mais perdido sobre os significados gerais desse tipo e movimento na astrologia.
24 de janeiro | Marte ingressa em Capricórnio
Destaco aqui esse trânsito pela simples razão de que ainda estamos no ano astrológico de 2021 e Marte é um dos regentes do ano. Dito isso, não vejo grandes danos provenientes desse Marte (a nível de poder), já que ele estará no domicílio de Saturno e não fará aspectos duros a nenhum planeta. Provavelmente aqui veremos algum ganho de protagonismo do Poder Judiciário sobre o Executivo, mas nada a estremecer o cenário consolidado. Marte retoma seu poder de ação, mas não tem muito o que entregar.
Dias de Lua prejudicada: 11, 14, 18, 22 e 25 de janeiro
Esses são os dias em que a Lua estará fazendo os aspectos mais complicados com outros planetas no céu. Não necessariamente indica grandes problemas, mas listo eles aqui como forma de orientação; se possível evitar os compromissos mais delicados nessas datas, faça isso. Do contrário, prudência e paciência, e sigamos em frente.
notas astrológicas
sobre o ciclo Júpiter-Saturno em Aquário
[Nota: o texto abaixo foi o primeiro de uma série escrita por mim em dezembro do ano passado sobre a conjunção Júpiter-Saturno em Aquário, um aspecto importante para a astrologia coletiva até o ano de 2040. Decidi adaptar e retomar esses escritos aqui como uma forma de refletir sobre esse ano que se passou desde então, dadas as inúmeras relações simbólicas entre esse marco e o que andamos vivendo.]
A busca de um bem comum
Essa é a terceira parte de uma pequena série de textos sobre a Grande Conjunção de Júpiter e Saturno em Aquário; já falamos um tanto sobre política e meio ambiente, e hoje vamos tratar das mudanças de cultura e comportamento que esse evento astrológico deve trazer nos próximos vinte anos. Antes disso, porém, é importante reforçar que todos esses escritos até agora são interpretações amplas sobre esse evento astrológico, de um ponto de vista global; o momento exato do encontro destes planetas vai acontecer em diferentes horários em diferentes regiões, trazendo significados particulares à esses locais.
Em termos comportamentais, penso nesses próximos anos em que viveremos sob essa regência como um período sobre a busca de um “bem comum”. As problematizações aqui são inúmeras, claro; o que seria um bem comum? Bom, para início de conversa, uso esse termo como uma forma de expressar esse tempo deve ser pautado por uma mudança cultural em que as necessidades coletivas ganham força frente às individuais – e o individualismo extremo que é tão característico da nossa sociedade capitalista começa a enfraquecer. Nesse sentido, podemos pensar em conquistas sociais importantes e alguma redução da desigualdade.
Na busca desse tal “bem comum”, naturalmente iremos recorrer à crenças e ideologias para justificar ou fundamentar um projeto coletivo. E se na década de 1980, com a primeira Grande Conjunção num signo de ar (em Libra), desenvolvemos a comunicação (e hoje conversamos com alguém na China em tempo real), nos próximos anos talvez precisemos aprender a reconhecer e debater ideologias. Um período em que formadores de opinião ganham ainda mais relevância por deter grande capacidade de influência comportamental (por vezes sutil) sobre as pessoas – algo significado pela estrela Altair (constelação de Águia), também presente na conjunção.
Há de se considerar que esse será um período de ideologias e crenças mais definidas – e mais definidoras na tomada de decisões. Penso que precisaremos observar melhor quais as similaridades e diferenças entre as duas coisas, e nos perguntarmos: ideologias também são crenças? A ciência também é uma forma de crença? Culturas ou práticas fundamentadas na percepção, intuição ou sensibilidade devem ter menos espaço na tomada de decisões frente ao “bem comum”? Esse bem comum serve a quem, afinal? São questionamentos relevantes e que devem ser debatidos, e não rebatidos sob um suposto “monopólio da verdade” que a ciência carrega – quem conhece a história sabe que a ciência já foi utilizada para justificar dos maiores absurdos também. Não é o caso de condenar nem o saber místico nem o científico, mas deliberar seus lugares e funções. Quando escrevo que será um período de crenças e ideologias mais definidas, quero dizer que precisaremos tomar mais posições em mais situações e que essas questões estarão mais presentes em nossas vidas, mesmo a nível individual. A única forma de fazer isso adequadamente, me parece, é pela diversidade de estudo, diálogo e vivências – só é possível perseguir um “bem comum”, enfim, se ele for verdadeiramente democrático. É claro que não existe um “bem comum” único, uma fórmula lógica, racional e infalível. As experiências humanas são múltiplas, diversas, contraditórias – qualquer coisa menos homogêneas (que bom). O positivo disso é que, se por um lado, a tendência desses próximos 20 anos deve ser de fortalecimento do racionalismo no pensamento hegemônico, por outro, também devemos ver a diminuição das polarizações simplórias (tão características dos últimos anos), entrando em contato com uma maior pluralidade de visões e opiniões.
nas frestas
Encerrando a última edição do ano, trago aqui um poema escrito no ano passado, finalizando meu retorno pessoal de Saturno em Capricórnio. Pelo simbolismo do próprio signo, vi relações relevantes com a retrogradação atual da Vênus (ler acima a editoria "trânsitos do mês") e decidi compartilhar aqui.
Não sou muito de escrever poeticamente, mas de vez em nunca nasce algo assim, lá do âmago. Espero que gostem e levem com vocês nessa retrogradação e atravessamento do Sol da Vênus por Capricórnio.
o medo é um abismo que se percebe no corpo que se retrai e se esquiva.
do abismo do medo rolam pedras minúsculas, que projetam sombras imensas;
o abismo é pouco iluminado: tudo que ali se enxerga é uma distorção da realidade.
o corpo até sabe disso, e não se ilude fácil, mas aprendeu a obedecer o que a mente recita.
o corpo que atravessa o abismo do medo esmorece, tropeça, sente dor e perde fôlego;
o medo fragmenta o corpo;
o medo isola o saber-sentir.
toda travessia de abismo tem um fim;
mas um risco que se corre é carregar o abismo consigo.
então o medo também é uma carcaça que se arrasta pra lá e pra cá,
como uma companhia rotineira à qual se acostumou cedo
(ou que lhe apresentou o mundo como você julga conhecer).
um dia pode-se perceber que a carcaça é vazia e inútil,
e que quem te levou a todos os lugares onde esteve foi corpo bem vivo,
não carcaça.
com alguma sorte, a carcaça do medo é uma armadura que se despe e se joga no chão,
e quando ela cai, a pele se percebe frágil, exposta, vulnerável e sensível.
e só engrossa a pele que pisa no chão firme, que encontra aridez sob os pés;
(a carcaça do medo confunde os limites do tato, faz sentir até o que não existe.)
findo o abismo e despida a carcaça, o que resta?
um gosto amargo na garganta, sim;
acompanhado, porém, de alguma entrega e confiança:
a certeza de que o tempo não está sob controle,
o festejo do que o tempo presenteia a cada dia.
por último, e talvez o mais importante
(e que é inesperado, incompreensível, almejado):
mais que coragem, triunfo ou poder;
do enfrentamento do medo, nasce muito amor.
Um abraço, feliz ano novo e até a volta das férias, no fim de janeiro!