"Eles dizem poder. Nós dizemos potência. Eles dizem integração. Nós dizemos proliferação de uma multiplicidade de técnicas de produção de subjetividade. Eles dizem copyright. Nós dizemos código aberto e programação em estado beta: incompleta, processual, coletivamente construída, relacional. Eles dizem homem/mulher, branco/negro, humano/animal, homossexual/heterossexual, válido/inválido, são/doente, louco/sensato, judeu/muçulmano, Israel/Palestina. Nós dizemos você está vendo que o seu aparelho de produção de verdade não funciona… Quantas Galileias serão necessárias dessa vez para aprendermos a dar um nome novo às coisas?"
— “Nós dizemos revolução”, texto dentro de Um apartamento em Urano, de Paul Preciado
Tenho pensado sobre arranjos inusitados e no potencial de vida que brota da dessemelhança. Em outras palavras, tenho pensado no que é possível criar a partir da afirmação da diferença, da recusa em ser assimilado à uma ordem existente. Questionar as normatividades sociais é um ponto de referência na trajetória de qualquer pessoa LGBT+, por exemplo; em algum momento, essa questão irá cruzar o caminho como um entrave capaz de provocar uma enorme crise ou uma incrível libertação — na maior parte dos casos, acredito que os dois. Como escrevi na última edição, estamos vivendo um trânsito importante de Vênus e Marte unidos em Capricórnio; a medida do amadurecimento de alguns enlaces afetivos será a medida da quebra de velhos padrões prejudiciais às nossas relações. Alguns cortes são medidas saudáveis de rompimento com um meio que não cabe mais a vida como ela está.
Hoje, no entanto, vou falar sobre pertencimento e diferenciação de um ponto de vista mais coletivo. É bem-aceita a ideia de que os humanos são seres sociais — precisamos uns dos outros ou, no mínimo, não é da nossa natureza viver bem de forma solitária e isolada. É natural pensar, portanto, que a necessidade de pertencimento é algo compartilhado por muitos de nós. Fazer parte de um grupo e compartilhar valores com semelhantes é um fator fundamental para o surgimento de uma enormidade de fenômenos coletivos dos mais intrigantes, do massacre aterrorizante de Jonestown ao movimento terraplanista, da epidemia do copo térmico Stanley nesse verão brasileiro aos grupos de fake news no zap que o parente bolsominion insiste em participar. A necessidade de pertencer urge entre nós.
O que ocorre, também, é que toda tentativa humana de ordenação e normatização do mundo parece fadada ao fracasso: onde há a necessidade de pertencimento, há também o impulso da diferenciação. Questionar, conspirar, subverter a ordem: esses são os clichês (pertinentes!) do signo de Aquário. A própria astrologia é fundamentada na ideia de domicílio e exílio, que são basicamente funcionamentos avessos aos quais os planetas são submetidos; muitas pessoas nascidas com mapas marcados por planetas debilitados têm vidas também marcadas pelo enfrentamento da realidade colocada ou da subversão da ordem imposta. Um exemplo que eu adoro é o da Rosa Parks, nascida de quatro planetas nessas condições e que se tornou ícone da luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos ao se recusar a ceder seu assento no ônibus à uma pessoa branca, a pedido do motorista. O ato de resistência de Rosa virou notícia — desencadeou boicotes e protestos, reuniu ativistas e ajudou a pôr fim na segregação racial institucionalizada. Uma de suas frases mais célebres diz: "Eu gostaria de ser conhecida como uma pessoa preocupada com a liberdade, igualdade, justiça e prosperidade para todas as pessoas". Nascida de Sol em Aquário, o signo do aguadeiro — aquele antigo ofício de quem distribuía as águas para todos da comunidade sem distinção.
O que desejo dizer, aqui, é que a angústia do não-pertencimento pode levar à rupturas desejáveis da ordem, à desobediência de uma normatividade que exclui, marginaliza e põe em cheque a segurança de muitas pessoas. No entanto, é fundamental se atentar ao que orienta essa ruptura; a maior parte dos conspiracionistas acredita estar destituindo um poderoso mecanismo de controle universal, quando estão apenas equivocados. A força de uma ideologia é algo que nunca podemos subestimar. O Preciado nos oferece uma proposta de ruptura com o binarismo limitador que esvazia nossa existência para imaginar uma profusão de possibilidades múltiplas, distribuídas, horizontais, relacionais, em eterno processo. Aquário é um signo de qualidade fixa, que expressa a teimosia e a obstinação de uma forma de pensamento, e por isso é um signo de convicções: o problema não está na convicção em si, mas no fato de ela ser tão reduzida a ponto de enxergar e organizar o mundo a partir de uma dualidade tão empobrecida. Aquário distribui e democratiza; se precisarmos ser convictos sobre alguma coisa, que seja sobre uma ideologia que abarque liberdades e direitos de uma vida mais digna a todos. O mundo é um samba triste de uma nota só há tempo demais; estamos carentes de melodias mais interessantes.
O fato é: estamos na Lunação de Aquário, e as ideologias estão expostas. O paradoxo da tolerância foi o tema da semana, com a defesa cretina e criminosa de Monark e Kim Kataguiri sobre a criação de um partido nazista no Brasil. Como escrevi lá na edição sobre a Lua Nova, são tempos de vigilância midiática e se responsabilizar pelo que se diz (e transmite a milhares de pessoas) é apenas parte do trabalho, na minha humildade opinião. Eu mencionei algum tipo de sobrecarga, impedimento ou paralisação relevante no âmbito da mídia, e a suspensão do vídeo no podcast Flow certamente tem relação com isso, bem como a demissão de Monark e do Adrilles. (Um jornalista independente conhecido por denunciar as dinâmicas de poder cariocas entre a milícia e o Bolsonaro também teve sua conta misteriosamente suspensa essa semana.)
No mais, os principais temas que eu levantei ainda lá na edição #24 já se manifestaram na última semana: a Câmara dos Deputados aprovou o pacote do veneno essa semana, um assunto de casa 2 (alimentos) que quase passou despercebido no turbilhão dos últimos dias; protestos de caminhoneiros antivacina eclodiram no Canadá, trazendo pressão sobre possíveis reverberações e inspiração de movimentos similares por aqui. E por último, e sobre os temas de justiça, escrevi o seguinte sobre essa lunação (o que vale até o fim do mês):
"Há uma construção de tensão ao longo desse ciclo na esfera de assuntos judiciais; de fato, a próxima lunação (de Peixes) acenderá de forma mais contundente o tema da justiça, então é como se essa, de Aquário, fosse uma preparação de terreno nesse âmbito. [...] O tema da justiça não me parece ser o principal da lunação, mas sim a retomada de investigações e assuntos que já correm ou que já vieram à tona no cenário atual."
Ficamos na expectativa de justiça ainda sobre bastante coisa, inclusive sobre esses casos de apologia ao nazismo, mas aqui ficam duas notícias de encaminhamentos importantes: três policiais civis viraram réus no caso do assassinato do João Pedro, em maio do ano passado, e o Tribunal Penal Internacional recebeu a denúncia da CPI contra Bolsonaro por crime contra a humanidade. Acendam suas velas.
lunação de aquário: lua cheia em leão
1º de fevereiro a 1º de março
O que a Lua Nova prometeu, a Lua Cheia irá entregar: esse é o ciclo natural das lunações. Como vimos logo acima, muitos dos temas mencionados na análise do mapa da Lua Nova já despontaram durante a Lua Crescente, mas na próxima quarta chega a Lua Cheia, o ápice do ciclo lunar, e seguimos na Lunação de Aquário até 1º de março. O que podemos esperar dessa segunda metade da lunação?
O ascendente do mapa da Cheia é Gêmeos, oposto ao mapa da Lua Nova; a lunação se iniciou na casa 3 e agora culmina com a oposição entre Sol e Lua no eixo das casas 3 e 9. A Lua em Leão faz quadratura bem próxima aos nodos lunares, aumentando a pressão sobre os temas da mídia e das comunicações, bem como dos assuntos ligados à economia, alimentação e os orçamentos públicos (o "sustento" da nação), que já estão em pauta atualmente.
Ascende junto ao grau 17º de Gêmeos a estrela fixa Rigel, da constelação de Órion; o regente Mercúrio, por sua vez, aparece em Aquário na casa 9, conjunto à estrela Altair, levando a atenção do país novamente aos assuntos de justiça e trâmites jurídicos de interesse comum. O cenário que se instaura no eixo das casas 3 e 9 tem a ver com desavenças entre figuras públicas, enfrentamento e imposição de autoridade. Com Saturno formando trígono exato ao ascendente, é provável que juízes e magistrados voltam a ganhar destaque nos próximos quinze dias e também possível ocorrer alguma vitória política da oposição, ou uma boa notícia no âmbito jurídico; outra possibilidade é de uma figura de oposição também ganhando algum tipo de destaque ou ascensão de forma abrupta, por conta de temas relacionados à ética e justiça.
A visita de Bolsonaro à Rússia para se reunir com Putin deve ocorrer no dia da Lua Cheia, e o cenário está longe de ser tranquilo. Embora eu não veja risco imediato de um incidente grave nessa quinzena, esse mapa indica forte vigilância sobre os passos do presidente, de suas conversas e de possíveis negociações. Nada passará despercebido e, com a estrela Markab cravada no ângulo do Meio do Céu, é bem possível que ele caia do cavalo por sua arrogância (essa estrela se relaciona ao mito de Belerofonte). Mas a represália nas relações externas, me parece, é assunto pro começo de março.
A conjunção exata de Vênus e Marte em Capricórnio nos próximos dias nesse mapa carrega algo a ver com um arrependimento, algum tipo de pesar sobre decisões tomadas, suscitando um cenário de instabilidade. Devido às casas que essa dupla de planetas rege, Isso pode ter a ver com dois assuntos bem distintos: ou envolve alianças e rupturas políticas no âmbito do Congresso, ou pode ser também um marcador relevante para uma virada ascendente no ritmo e no processo da vacinação infantil.
No mais, atenção especial ao lidar com fogo e facas: com Vênus e Marte conjuntos na 8 e a oposição Lua-Sol no eixo de Aquário e Leão, pequenos acidentes envolvendo cortes e chamas estão mais propensos a ocorrer, embora nada alarmante a nível coletivo; mais cuidado e precaução devem ser suficientes.
céu da semana: 13 a 19 de fevereiro de 2022
Semana de Lua Cheia costuma ser agitada e essa vem com bastante novidade: teremos Mercúrio ingressando em Aquário na segunda-feira e o Sol entrando em Peixes na sexta, além de algumas oposições complicadas protagonizadas pela Lua. A chegada da Cheia não deve trazer tantas novidades, mas a continuidade de temas e assuntos que já despontaram nos últimos dias. Como eu costumo escrever por aqui, não é sempre que o céu de fora espelha como a gente está por dentro: a leitura que eu faço aqui prioriza a coletividade, e dependendo do que se vive a nível pessoal, até as semanas com movimentos mais amenos (como foi a última, por exemplo) podem ser difíceis. Vamos aos dias, então:
Domingo, 13 de fevereiro | dia do Sol
Hoje é domingo e a Lua em Câncer completa oposição à Marte e Vênus no início da madrugada; ela segue em Câncer ao longo do dia todo do domingo, mas em aspecto já separativo à esses dois. Um dia para evitar grandes riscos ou movimentos muito ousados e se buscar a preservação, pois tudo essas oposições desgastam a energia e vulnerabilizam o corpo físico e emocional.
Segunda-feira, 14 de fevereiro | dia da Lua
A segunda começa com a Lua ainda em Câncer alcançando oposição à Mercúrio na manhã bem cedo e ingressando em Leão pouco depois. Ao anoitecer, Mercúrio chega ao signo de Aquário, onde fica até o dia 9 de março. A semana útil começa meio embaralhada, meio desencontrada: priorize fazer as coisas com calma e atenção, porque a cabeça pode estar bastante dispersa e com dificuldade de focar objetivamente no que precisa ser feito. Não é um dia que favorece a atenção aos detalhes ou às comunicações.
Terça-feira, 15 de fevereiro | dia de Marte
Na terça a Lua em Leão caminha em direção à oposição com Saturno em Aquário, que se completa no fim da tarde. O clima é de reatividade, defesa de território, inflexibilidade, até uma certa soberba. Evite negociações ou conversas importantes, já que a chance maior é de encontrar resistência. Apesar da pressão e do peso sobre a Lua, que pode causar lentidão, é um dia que dá pra se levar focando em compromissos individuais.
Quarta-feira, 16 de fevereiro | dia de Mercúrio
Quarta é animada: a Vênus encontra a conjunção exata com Marte em Capricórnio no fim da manhã. A Lua Cheia em Leão acontece no início da tarde, e no fim da tarde já ingressa em Virgem. O clima geral muda bastante a partir da tarde, trazendo mais ânimo à essa segunda metade da lunação; é possível que a manhã, com o encontro de Vênus e Marte, traga alguma resolução ou a materialização de alguma iniciativa. Tem um clima de tomada de decisões e bastante pragmatismo aqui, favorecendo também a transmissão de mensagens e comunicações. Bom também para encaminhar assuntos financeiros e organizações administrativas.
Quinta-feira, 17 de fevereiro | dia de Júpiter
O único aspecto de quinta é a oposição da Lua em Virgem à Júpiter em Peixes, levantando embates de ética e justiça no âmbito do poder de forma bem polarizada, provavelmente envolvendo os temas de casa 2 (alimentação e finanças). Além disso, o velho embate entre Peixes e Virgem: entre a realidade e o que se idealiza, há um abismo. A tendência desse dia é exagerar ou avaliar mal a dimensão das coisas, se perder nas próprias crenças. É um dia que serve para imaginar e pensar fora do óbvio, mas evite a tomada de grandes decisões, claro.
Sexta-feira, 18 de fevereiro | dia de Vênus
A sexta traz o trígono da Lua em Virgem com Vênus e Marte em Capricórnio na madrugada. Uma noite estranha, que pode trazer pesadelos e memórias muito distantes, que mexem com medos e apreensões. A sexta começa com um clima de dureza, de cansaço, da necessidade de espairecer e relaxar. No início da tarde, o Sol ingressa em Peixes, como se jogasse uma água fresca sobre a terra esturricada do aspecto anterior: traz algo de esperança, de sensibilidade e de elevação.
Sábado, 19 de fevereiro | dia de Saturno
A semana encerra com a entrada da Lua em Libra pouco após a meia-noite. Pela manhã, ela já alcança o trígono com Mercúrio em Aquário: é um sábado sociável, leve, criativo, eloquente, prazeroso. Sábado pra aproveitar, circular e aliviar qualquer pressão.
Um abraço e até semana que vem,