“Mais tarde no mesmo dia, Vassilína desenha. Ela desenha árvores, o rio, raposas, a casa de Tvaián, peixes. Desenha o contorno dos ausentes, colore, incansavelmente. Adoro isso, desenhar, porque assim escapo daqui, ela me explica. Papai dizer que não se deve sonhar muito. O que você acha? Reflito. Acho que não se deve fugir ao não realizado que jaz no fundo de nós, que é preciso confrontá-lo. Não sei como traduzir isso com palavras simples, então digo: Vassilína, se crescer é ver seus sonhos morrerem, então crescer se torna morrer. Melhor esnobar os adultos, quando nos fazem acreditar que os compartimentos já estão lá, prontos para serem preenchidos.” — Nastassja Martin em “Escute as feras”
Seguimos trilhando a Lunação de Peixes na casa 9, negociando os sonhos com os encargos diários. Nos dias mais difíceis e trabalhosos, ainda tento lembrar do potencial de amplitude desse ciclo, da necessidade de ir além de uma lógica de pressão e controle. No início da semana terminei esse livro que cito acima, "Escute as feras", da antropóloga Nastassja Martin; o livro não é uma etnografia, mas um relato pessoal, poético e até filosófico sobre o evento que mudaria para sempre a sua vida: o encontro (e luta) na floresta com um urso siberiano. Nastassja teve a cabeça abocanhada pelo urso e ainda assim sobreviveu para contar a história — ainda que já não fosse mais a mesma pessoa. Quando a vida mais imediata me parece enfadonha ou estressante demais, ampliar o olhar conhecendo histórias de outras pessoas costuma trazer alívio; lembrar que o mundo é vasto e a vida toma muitas formas me ajuda a desafogar da rotina.
O Sol atravessa os últimos graus de Peixes e nos aproximamos do ano novo astrológico, que inaugura um novo ciclo coletivo para todos nós — a edição da semana que vem será inteiramente dedicada a reflexões e previsões sobre os próximos meses. Por enquanto, vivemos uma "raspa do tacho" de um ciclo iniciado em 2021 bastante frustrante e cansativo. A lunação de Peixes nos lembra que sonhar, descobrir e idealizar pode ser até prazeroso, mas a vida terrena também é feita de prática e aprimoramento. Promessa e confiança, por si só, não firmam a vida, e é isso que a Lua Cheia em Virgem do próximo dia 18 vem nos mostrar, infelizmente numa configuração que tende a nos decepcionar — ela ocorrerá na oitava casa do mapa calculado para Brasília, levantando mais preocupação e nervosismo do que capacidade de organização de fato. A ânsia perfeccionista por lidar com os detalhes ou aprimorar o funcionamento do que é minucioso tenderá a falhar; melhor pensar primeiro de fora para dentro, do macro ao micro, do anímico ao racional. A boa notícia é que cruzaremos o ano novo com um Mercúrio em Peixes razoavelmente melhor do que o desta semana.
Por último, queria fazer um adendo sobre a situação da Vênus em Aquário: agora que ingressou nesse signo, Vênus está sitiada, ou seja, entre Marte e Saturno, ladeada pelos maléficos. Isso significa que as pessoas venusianas ou que estão vivendo um ciclo pessoal regido pela Vênus entraram, nos últimos dias, num período de bastante pressão: essa é um adjetivo que me parece bem pertinente para o signo de Aquário, já que é o ar de qualidade fixa, o ar que pressiona. Nascidos de ascendente em Touro, Libra e Peixes podem ter sentido o baque já nos últimos dias, bem como as pessoas ligadas ao mundo das artes, entretenimento e diplomacia em geral. Por enquanto, não há muito o que se fazer, a não ser buscar os momentos e espaços de descompressão que mencionei na última edição. No dia 28 de março a Vênus em Aquário encontra a conjunção exata com Saturno, saindo do sitiamento e destensionando um pouco essa situação. No dia 5 de abril, finalmente, ela ingressa em Peixes, onde irá se encontrar com Júpiter. Aí sim será prazer, deleite e inspiração. Aguentemos firme (e buscando confortos) até lá.
céu da semana: 13 a 19 de março de 2022
Última semana do ano astrológico, no próximo domingo tudo é novo de novo. A Lua segue crescente e vai de Câncer a Libra, com passagens tensionadas nos dias em que estiver em Leão e Virgem. Sem dourar a pílula: essa é uma semana de oposições, tensões a riscos, como se a experiência coletiva estivesse à flor da pele, sobressaltada, desmedida. Recomendo atenção ao corpo, evitando grandes exposições ou experiências físicas extremas. Não paralisar, mas se precaver. A pressão maior alivia lá pra sexta, quando a Lua ingressar em Libra, fazendo aspectos mais produtivos com os trio de planetas em Aquário e antíscia (conjunção oculta) com Júpiter e Mercúrio.
Domingo, 13 de março | dia do Sol
Hoje é domingo e a Lua em Câncer completa trígono com o Sol em Peixes no início da madrugada. Durante a manhã e início da tarde o aspecto já é separativo (mais fraco), mas favorável ainda para estudos, espiritualidade e esse rolê todo de conexão e amplitude jupiteriana que falo desde o início da lunação. Também favorece o cuidado, a alimentação, o acolhimento emocional. No meio da tarde, a Lua ingressa em Leão e o tom muda, ganhando mais ação e irritabilidade. Fim de domingo meio chateado.
Segunda-feira, 14 de março | dia da Lua
A Lua em Leão já completa oposição com Marte no fim da madrugada e com Vênus no começo da manhã. Me parece que não dormiremos bem, começando a semana na força da raiva. Muita atenção nesse trânsito da Lua em Leão (até fim do dia na terça) em relação à gastos, finanças, golpes, fraudes, etc. Há uma tendência a se perder bens materiais ou irem cair em mãos erradas. Se liga, hein.
Terça-feira, 15 de março | dia de Marte
Na terça a Lua segue sua peregrinação por Leão calorosa e colérica e forma oposição com Saturno no início da manhã. Mais uma madrugada vivda sem muito descanso, penso eu. Vale o mesmo alerta sobre bens materiais do dia anterior, com o adendo aqui de que é um dia pouquíssimo favorável para as relações, diálogos e etc. O mau humor impera, a impaciência também. Evite aqui os compromissos que envolvem muita sociabilidade ou a tomada de decisões, porque é um dia marcado por disputa ou insegurança.
Quarta-feira, 16 de março | dia de Mercúrio
No início da madrugada a Lua ingressa em Virgem ao longo do dia, busca a oposição com Mercúrio em Peixes, alcançando no fim da noite. Um dia disperso? Sim. Mas mostra uma melhora em relação aos dois anteriores. Ler, estudar, escrever, se comunicar ou se concentrar pode ser desafiador, mas dá pra driblar usando estratégias ou métodos menos usuais, variando as formas com que se normalmente faz essas tarefas. Se possível, saia para uma caminhada.
Quinta-feira, 17 de março | dia de Júpiter
A Lua segue por Virgem e completa a oposição com Júpiter no meio da manhã. Vale o mesmo do dia anterior, talvez com o acréscimo de um certo cansaço e ainda menos disponibilidade mental e intelectual pra lidar com assuntos que exijam dessas capacidades. Pegue leve, priorize o que fluir. Sigo com o conselho da caminhada para arejar a cabeça.
Sexta-feira, 18 de março | dia de Vênus
A sexta vem acompanhada da chegada da Lua Cheia no fim da madrugada. Mais uma noite agitada, talvez aqui com sonhos e memórias confusas. Horas depois, no começo da manhã, a Lua já ingressa em Libra e ameniza o clima geral. Ponderação é a palavra: nem lá, nem cá; esse ingresso propicia um olhar mais racional e equilibrado sobre as questões vividas, livrando do estresse, nervosismo e inquietação dos dias anteriores para levar à uma avaliação mais distanciada das situações. No mínimo, facilita a conversa, o diálogo, o pensamento. A dispositora da Lua, Vênus, ainda está entre a cruz e a espada, mas pelo menos aqui é possível considerar e examinar o que se passa com mais coerência.
Sábado, 19 de março | dia de Saturno
Um dia mais amistoso e comunicativo, com a Lua concluindo os trígonos com Marte e Vênus em Aquário no início e fim da madrugada, respectivamente. Ao longo do dia ela persegue o último trígono com Saturno, finalizado à noite. Segue bem parecido com o que escrevi sobre a sexta, talvez com um pouco de melancolia ou acidez. A gente usa do sarcasmo e do humor pra sobreviver mesmo. É véspera de ano novo astrológico: prepare as bebidas, que a gente merece brindar!
Lembram do texto que escrevi na última edição sobre a metáfora náutica na astrologia? Eu ia trazer a segunda parte, sobre o ascendente como timão ou roda do leme nessa edição, mas esse conteúdo cresceu tanto que decidi me dedicar a ele e trazê-lo como edição especial desse mês. Aprofundando a metáfora, vou descrever os significados gerais de cada signo ascendente como o "timão" da embarcação, além de trazer alguns exemplos (de figuras públicas, fazendo o link com a astrologia mundana) dessa técnica em prática.
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Um abraço e até semana que vem,