Trabalhar com astrologia me faz pensar frequentemente sobre a natureza e os efeitos do tempo; tento manter a prática de trazer as sensações e pensamentos para as palavras, mas muito se escapa nessa tradução. Ultimamente, o que tem ganhado nitidez na minha mente é a percepção de que as coisas não ocorrem do nada: os eventos que se desenrolam no presente estão comendo pelas beiradas há tempos. Difícil é notar ou dar conta de tudo que se passa na nossa realidade, e ainda mais é o trabalho de estabelecer as conexões entre dados e fatos para perceber o encaminhamento dos ocorridos. O tempo segue como esse pano de fundo que estrutura o ritmo do mundo, um ritmo que não corresponde ao passar nos relógios ou aos dias do calendário; um ritmo que o estudo astrológico nos ajuda a mapear, mas que definitivamente está além da nossa total compreensão ou capacidade de interpretação. (Esse papo definitivamente ressoa com a introdução que escrevi lá na edição #6, tempos primórdios desta newsletter.)
Muito do que ocorre nos pega de surpresa, mas várias coisas se aprochegam aos poucos, mais fáceis de perceber, conforme vamos vivendo com presença e atenção. Numa breve ida à São Paulo há duas semanas, fui parar na exposição de fotografias Amazônia, do Sebastião Salgado, em cartaz no Sesc Pompéia. Entrei um pouco cínica e sem grandes expectativas (estava fazendo hora para outro evento), e poucos minutos depois, me constrangi do meu próprio desdém: uma das primeiras fotografias, já no início do salão, era de uma vista aérea que mostrava a floresta se estendendo ao infinito do horizonte, com um agrupamento de montanhas rochosas se erguendo no mar de árvores sem fim. Quando parei na frente da imagem, senti um arrepio.
Sim, o clichê todinho de quem cresceu nas cidades (e olha que, tendo família na região, já visitei Manaus e arredores muitas vezes). A imensidão da floresta e a vastidão da natureza me impressionaram desse jeito aí. Um assombro. A exposição era longa, com centenas de fotografias da floresta amazônica, muitas dessas feitas de helicóptero, de tirar o fôlego quando se vê. Mas me enganei também ao achar que era uma boa amostra visual da região: um dos mapas informativos mostrava todos os territórios na floresta que já haviam sido registrados por fotos alguma vez na história, e os gráficos indicavam que é uma área ínfima dentro da Amazônia inteira. Há muito mais que a maioria de nós jamais irá imaginar que existe, quanto mais ver por foto.
A sensação que fiquei ao sair dessa exposição foi desse nervosinho do desconhecido, da amplidão imensurável, da pequeneza que nós somos (apesar de conseguirmos fazer tanto estrago). Carreguei essa sensação de deslumbramento meio assustado pelos dias seguintes, e a Lua Nova em Gêmeos chegou pouco depois, iniciando a atual lunação.
E aí, a última semana começou justamente com a notícia do desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips na Amazônia. A resposta muito lenta do governo para acionar buscas efetivas atrás dos dois chamou atenção da ONU, e a investigação acompanha vestígios preocupantes.
É claro que, entre a experiência individual e a coletiva, há uma trama complexa de encontros e possibilidades. Nos últimos dias, pensando sobre o tal desaparecimento, ressoou em mim a angústia sobre tudo que ocorre fora da nossa vista e ainda assim nos afeta (ainda que indiretamente), deixando um quê de perda e vazio. E lembrei, também, do arrepio de deslumbramento que a visão da foto da floresta me causou, junto da sensação da absoluta falta de controle. Mata fechada, desaparecimento, impotência e vazio: é mesmo uma lunação característica demais de casa 12. Fico, enfim, com essa ideia de que o que muito do que sentimos e percebemos são, às vezes, sinais do que irá se desenrolar um tanto depois.
Um adendo, aliás: escrevendo essa introdução lembrei desse bordado da também artista-astróloga Laura Berbert. Acho que a frase sintetiza muito do que está aqui.
lua cheia em sagitário
lunação de gêmeos: 30 de maio a 28 de junho de 2022
A Lua Cheia em Sagitário chega nessa terça-feira amadurecendo o ciclo iniciado pela Nova, que foi lá no dia 30 de maio. O mapa da Cheia é bem parecido com o da Lua Nova, com planetas em graus próximos e o mesmo ascendente em Câncer.
O Sol em Gêmeos segue ocupando a casa 12 da lunação e bem próximo ao trígono com Saturno em Aquário, que começou o ciclo estacionário, agora está retrógrado, no mesmo grau de onde partiu. A proximidade do aspecto anuncia algum prejuízo em questões materiais, ou em assuntos ligados à política externa, talvez diretamente ao caso do desaparecimento de Dom e Bruno, com o Sol simbolizando um detrimento para a imagem e governança do Brasil de forma geral. Aliás, a imensidão da Amazônia é o palco da vez, mas não nos enganemos: o Brasil é o quarto país que mais mata ativistas ambientais do mundo.
Vênus em Touro, regendo a casa 4 da lunação, aparece aplicando quadratura também à Saturno, mais um testemunho danoso sobre preservação, questões ambientais e a ênfase desse tema na próxima quinzena. A cobrança vem. A ativação da estrela Bellatrix com o Sol pode indicar o protagonismo de alguma figura feminina frente à essas questões, embora eu não consiga pensar em quem (outras notas sobre protagonismo feminino, aliás, mais abaixo).
A Lua Cheia ocorre, naturalmente, na casa 6, em oposição ao Sol: ela está ativando outra estrela fixa, essa chamada Ras Alhague, tradicionalmente associada à medicina, venenos e cura (estava ativa no eclipse solar de dezembro de 2020, anunciando a chegada da vacina para COVID-19 no Brasil). No contexto, me parece que esse aspecto pode tanto significar pressão sobre assuntos de alimentos e agrotóxicos, quanto um fortalecimento ou ampliação da vacinação contra doenças (as viroses respiratórias estão a todo vapor, especialmente entre as crianças menores, mais um efeito negativo oriundo do último eclipse). A vacinação contra influenza, inclusive, já está disponível para a ampla população em vários municípios. Vacinem-se!
Um aspecto importante comparando os mapas da Lua Nova e da Cheia é a posição de Mercúrio: se ele começou a lunação sob risco (a quadratura com Saturno) e protagonizando um escândalo (conjunção com Algol), agora ele está de fato cercado, isolado, detido (ainda que domiciliado e recuperando velocidade, ainda é a casa 12). A meu ver, a posição desse Mercúrio pode indicar alguma punição ou agravamento do caso de alguma figura menor na política ou de pessoas que atuam nos meios de comunicação, relacionadas à figuras de poder; o processo do caso Gabriel Monteiro, por exemplo, só deve ser finalizado em agosto, mas os membros que atuam no caso vêm sofrendo ameaças dos seguidores do vereador.
Marte e Júpiter seguem ocupando a casa 10, em Áries. Sobre os dois, escrevi o seguinte, no início da lunação:
Por Marte tratar de revoltas e conflitos, sua união à Júpiter pode levar esses temas às instituições jupiterais: embates de natureza ética, religiosa ou legal, por exemplo. Ações decisivas (e decisórias) sobre questões que envolvem ideais, justiça ou a própria constituição ganham protagonismo. Como escrevi na penúltima edição, não vejo risco “astrológico” de um golpe efetivo no mapa anual para o Brasil — contudo, as ameaças vêm sendo sentidas, com faísca e cheiro de pólvora no ar.
[trecho da edição #38]
O golpismo vem mesmo sendo um tema levantado durante esse ciclo, ainda que o contexto não sustente uma tentativa tão explícita de golpe. Mas a presença de militares em cargos civis disparou sob o governo Bolsonaro, sinais de uma ameaça antidemocrática constante. O Greg News da semana passada, aliás, abordou exatamente o medo de golpe que nos assombra:
O fato é que, frente aos resultados de pesquisas e encaminhamentos políticos, o governo atual também tem se mostrado apavorado com a perspectiva futura de derrota ou prisão (pela perda do foro privilegiado).
Essa contextualização toda é para falar sobre uma estrela fixa que se acende na casa 10 dos mapas dessa lunação: Alpheratz, da constelação de Andrômeda. É uma estrela associada à popularidade feminina e à uma figura que é oferecida “em sacrifício” para redenção de uma comunidade. Trazendo o simbolismo para a conjuntura atual, pode ser o uso estratégico do governo de uma ou mais figuras femininas na tentativa de alguma recuperação de sua imagem — na minha última oficina de prática de astrologia mundana, discutimos sobre essa possibilidade como um mecanismo desse período de pré-campanha eleitoral, usando as figuras da Damares (que é bem popular), Michele Bolsonaro ou outras para alcançar esse objetivo. Vamos acompanhar.
No mais, seguimos com olhos atentos ao Poder Legislativo, pois Vênus em Touro ocupa a casa 11 e a quadratura com Saturno pode indicar impedimento e escasseamento em relação à direitos coletivos; além disso, Marte e Júpiter em Áries seguem mobilizando cortes envolvendo decisões de justiça, como foi a decisão do STJ sobre os planos de saúde.
a conjunção Marte-Júpiter ocorre na casa 11 do mapa anual para o Brasil, podendo “inflamar as disputas entre figuras de poder e também dar início a votações importantes no Congresso Nacional” (trecho escrito na edição de previsões anuais). Como Marte não vem indicando boas novas no contexto brasileiro atual, tais votações podem vir acompanhadas de cortes e rompimentos.
[trecho da edição #38]
As revoltas e mobilizações envolvendo servidores públicos, possibilidade levantada no mapa da Lua Nova, ainda persistem na próxima quinzena, novamente pela ênfase Marte-Júpiter na casa 10. A julgar pela ênfase que estamos tendo sobre a casa 12, não me surpreenderia também o estopim de rebeliões no contexto dos presídios (especificamente femininos, talvez, pela presença de Bellatrix), tema também levantado na oficina sobre a Lunação de Gêmeos.
E por essa quinzena, é isso. Mais que nunca, compreendo também quem (pode e) escolhe se alienar de tanta notícia, já que é desgraça que não acaba mais e, aos poucos, acabamos nos dessensibilizando diante do absurdo. O absurdo segue, é claro, mas é importante se preservar um pouco. Se cuidem, e vamos adiante.
Agradecimento especial a Bianca Cardoso, Calira Santos, Carola Braga, Felype Ferro, Isabelle Fernandes, Juliana Machado, Patricia Guedes, Marianna Moragas, Melissa Rodrigues e Silvana Braggio, que participaram ao vivo da oficina e contribuíram diretamente para as pontuações escritas aqui.
céu da semana
12 a 18 de junho de 2022
Rapidinhas da semana: domingo é meio denso com quadratura Lua-Saturno se completando de manhã e oposição com Mercúrio pelo resto do dia; atenção ao dito ou não dito, e pelo medo/receio que bloqueia as sensações. Segunda começa trígono Lua-Júpiter na madrugada e reingresso de Mercúrio em Gêmeos no começo da tarde, além de trígono Lua-Marte ao longo do dia todo, favorecendo um pouquinho o intelecto e mais o fôlego de fazer as coisas. Na terça chega a Lua Cheia, sêxtil Lua-Saturno e ingresso da Lua em Capricórnio à noite; a chegada da Cheia deve dar um bom desgaste de energia, recomendo pegar leve em atividades intensas ou arriscadas. Quarta temos Lua em quadratura com Marte e Júpiter, dia bem ruim para relações, com falta de tato especialmente com chefes e figuras de autoridade, risco maior de danos. Quinta melhora pois é um dia de encaminhamentos e trígonos favoráveis entre Lua-Vênus, primeiro, e Mercúrio-Lua com ela já em Aquário, trazendo mais fluidez de assuntos, adaptabilidade e jogo de cintura. Sexta é relativamente ágil e descomplicada, com Lua completando sêxtis com Júpiter e Marte em Áries. Já sábado traz quadraturas de Vênus com Lua e Saturno e conjunção Lua-Saturno, complicando bastante o clima geral; deve ser um dia agitado e com notícias importantes; à noite, a Lua ingressa em Peixes, preparando terreno para uma semana seguinte mais animadora.
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