Odo Nnyew Fie Kwan — “o amor nunca perde o caminho de casa”. Há alguns dias, tropecei numa menção à esse adinkra e, naturalmente, fiz relação imediata com a recém-inaugurada Lunação de Câncer: um ciclo que se inicia com a Lua abraçada ao Sol na casa 4, a casa do lar, das raízes, da terra que nos provê, com uma Vênus aérea e circulante na casa 3 e um Júpiter na 1, que dialoga de perto com esses três. É uma imagem mais ou menos assim: às vezes as circunstâncias nos exigem nos mover, deslocar, exilar, ver o novo ou o velho familiar, ir para bem longe ou encontrar o desconhecido; a folga e o sossego existem, portanto, no saber que o amor nunca perde o caminho de casa: onde há laço e vínculo de afeto e cuidado, há confiança para se retornar.
Casa, aliás, não é só o que nos abriga ou onde nos enraizamos: na astrologia, a casa 4, que fala sobre o lar, também é o local da relação com o passado e das heranças culturais — temas que, no contexto brasileiro, foram (e são!) alvo de aniquilação, apagamento e negação. A ancestralidade e o território de pertencimento são mesmo temas pulsantes dessa lunação, especialmente até a Lua Cheia do dia 13. (Seria inclusive um momento oportuno para a votação contra a tese do marco temporal no STF, que retomaria no fim de junho e infelizmente foi adiada.)
Uma lunação canceriana naturalmente nos remete ao que já fomos, aos locais por onde circulamos, aos diferentes caminhos que trilhamos e nos trouxeram até aqui. Nem sempre é agradável mexer na memória, com o que já foi. Em dadas situações, no entanto, um reencontro com o passado não se dá para retomar um confronto ou um desconforto, mas sim para afagar uma mágoa que endureceu ou pesou em si; a Lua, aliás, é a regente do estômago, um órgão especialmente sensível ao nosso estado emocional, que se afeta quando temos que “digerir” acontecimentos difíceis. Podemos interpretar o ciclo da Lunação de Câncer, portanto, como uma permissão alongada para tratar a memória e o próprio corpo com honrarias: rememorando quais foram as vias da sua história que lhe trouxeram pertencimento, acolhimento e proteção; provendo ao corpo o cuidado e alimento que lhe nutrem e dão prazer, e que podem ter sido negados ou negligenciados no passado.
Na edição #38 — contra toda paralisia, escrevi sobre como é preciso um certo deslocamento para produzir a memória. Para não ficar repetitivo demais, recomendo reler aquela introdução, que falava dessa característica lunar também muito presente nesse ciclo e, agora, de forma mais construtiva e desimpedida: o acolhimento de uma casa é fundamental, mas também é de grande valor poder circular e abrir espaço para que novas lembranças se façam.
Por último, fica a recomendação de escuta da playlist Lua em Câncer — composta de canções interpretadas apenas por músicos nascidos dessa Lua —, criada coletivamente quando fiz parte do Vega.
um vislumbre daqui até as eleições
visão do cenário astrológico & algumas previsões coletivas
Temos exatamente 13 semanas até o primeiro turno das eleições no Brasil. Três meses passam voando, mas muita coisa vem acontecendo e ainda vai acontecer até lá. Por isso, achei pertinente trazer hoje um panorama geral de prováveis acontecimentos e períodos mais ou menos favoráveis que teremos até o primeiro turno das eleições. Separei os intervalos de tempo por temas, mas notem que há sobreposições por conta dos diferentes períodos cobertos por aspectos, lunações e ingressos variados.
E é claro, vale lembrar que esse é um mapeamento usando técnicas da astrologia mundana, então o que escrevo aqui são tendências referentes ao âmbito coletivo — que muitas vezes, sim, resvalam na vivência pessoal (ainda mais no contexto brasileiro), mas está longe de ser uma análise capaz de dar conta da experiência individual de cada um.
economia, gastos, corrupção: 1 a 27 de julho
A Lunação de Câncer é marcada por um signo que inicia uma estação, portanto, há uma mudança de ritmo, com novos eventos e dinâmicas despontando. Como escrevi anteriormente, esse período há uma grande ênfase nos assuntos de casa 2: alimentação, economia, recursos, verbas, combustíveis. Até o dia 13 de julho teremos muitas coisas se desenrolando nos bastidores, não tanto a olho público — o que não significa que processos e trâmites estejam parados, muito pelo contrário. A partir da Cheia no dia 13 de julho, teremos uma ativação forte da casa 8 em oposição à 2, trazendo à tona mais (ou novos) fatos sobre corrupção, desvio ou uso indevido de verba pública, etc. Tais eventos parecem se vincular diretamente à uma figura relevante do governo, que fica com o filme bem queimado e pode ser “sacrificada” (ou se sacrificar) em prol da manutenção de alguma estabilidade.
acidentes, pressão, riscos: 14 de julho a 9 de agosto
Durante todo esse período, teremos a aplicação mais próxima da quadratura de Marte em Touro com Saturno em Aquário: esse é um aspecto muito desafiador, perigoso, que no nosso contexto específico indica risco aumentado de acidentes aéreos ou envolvendo tráfego de longa distância, por exemplo. Rupturas, desavenças, burnout, aumento de pressão e estresse são esperados. A recomendação geral fica de redobrar alguns cuidados, se prevenir de ameaças e, se possível, evitar grandes compromissos ou atividades de risco, especialmente nesses dias: 14, 15, 21, 22, 28 e 29 de julho; e 4, 5 e 6 de agosto, que são ainda mais delicados.
poder, controle, justiça: 28 de julho a 21 de setembro
A Lua Nova em Leão no dia 28 de julho inaugura um período de forte imposição de autoridade e muita ênfase judicial; o Poder Judiciário tem sido um protagonista do ano de forma geral, mas nesse período, será ainda mais. Os temas de casa 3 também estarão em eminência: ensino básico, redes sociais, escrita, mensagens, notícias, etc. O intervalo mais tenso daí é até 26 de agosto, por conta da participação de Marte na quadratura com Sol e Saturno, sinalizada acima. A partir de 27 de agosto, Marte já em Gêmeos ameniza um pouco o clima de paranóia e conspiração, embora o cenário geral de controvérsia e uma certa solenidade permaneça até 21 de setembro. Em complemento, o intervalo de 27 de agosto a 9 de setembro traz algum rebuliço específico em relação à membros ou aliados diretos do governo: pode ser alguma questão de adoecimento e perda de saúde, ou algum confronto relevante de disputa por autoridade e protagonismo.
coragem e discórdia: 22 de setembro a 2 de outubro
As vésperas da eleição são marcadas pelo início da Lunação de Libra (25 de setembro) e pelo equinócio de primavera no dia 22, que marca o começo da segunda metade do ano astrológico — gerando um mapa anual complementar ao de 20 de março, modificando e dando novos temperos à conjuntura coletiva para o Brasil. As atenções se voltam totalmente às eleições, o que é óbvio pelo contexto, mas que também se vê pelo mapa. Esse novo mapa, aliás, sinaliza uma mudança importante de postura e posicionamento popular, que ganha mais corpo e consistência batendo de frente com o poder estabelecido, num ímpeto de coragem. Apesar disso, muita irritação, bate-boca e discórdia também marcam o início dessa segunda metade do ano. No mais, como escrevi lá na edição do início do ano astrológico, as técnicas astrológicas indicam vitória da oposição nas eleições — embora, a meu ver, seja infelizmente necessária a realização de um segundo turno.
Espero que essa amostra de previsões das próximas 13 semanas seja útil para vocês, e lembrem-se que nem tudo o que o céu sinaliza nos afetará significativamente a nível pessoal — mas que, sim, estar ciente do que ocorre coletivamente tem sua importância para nos orientarmos e organizarmos melhor como seres sociais. Se tiverem dúvidas, pontuações ou feedbacks a respeito, deixei aí nos comentários :)
Agradecimento especial a Juliana Machado, Benício Bruno, Bianca Cardoso, Carol Braga, Katty Cuel, Lilian Alves, Marina Bohnenberger, Patricia Guedes, Felype Ferro, Sarah Marchon e Silvana Braggio, que participaram ao vivo da última oficina de prática de astrologia mundana e contribuíram diretamente para as pontuações escritas aqui.
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um abraço e até semana que vem,
Amei o texto! “O amor nunca perde o caminho de casa…”