Inauguramos a atual Lunação de Câncer elaborando alguns dos vários simbolismos do signo do caranguejo sobre a ideia do corpo como cultivo, seguimos caminhando pela ideia de ancestralidade e pertencimento, e hoje venho escrever sobre a memória do corpo como forma de acolher e dar vazão à subjetividade de cada um.
Como escrevi anteriormente, uma lunação canceriana naturalmente nos remete ao que já fomos, aos locais por onde circulamos, aos diferentes caminhos que trilhamos e nos trouxeram até aqui. E, se estamos aqui, de alguma forma sobrevivemos: a vida vingou, dando seu jeito de persistir e desabrochar mesmo em meio às tormentas. É esse o fio simbólico que puxo para introduzir a edição de hoje: em termos astrológicos, a Lua é regente tanto do corpo quanto da memória; se as experiências de dores e traumas são registradas no corpo, aquelas que trouxeram alegria e prazer também andam conosco.
Podemos interpretar o ciclo da Lunação de Câncer, portanto, como uma permissão alongada para tratar a memória e o próprio corpo com honrarias: rememorando quais foram as vias da sua história que lhe trouxeram pertencimento, acolhimento e proteção; provendo ao corpo o cuidado e alimento que lhe nutrem e dão prazer, e que podem ter sido negados ou negligenciados no passado. [trecho ed. #43]
Para ilustrar essa ideia do uso da memória como ferramenta para dar vazão à algo que nos conforta, compartilho aqui um relato pessoal: essa semana, senti dificuldade de lidar e fazer escoar uma sensação de apatia e tristeza que me rodeava. Lembrei de um trecho da newsletter da Bárbara que mencionava a angústia como uma “fala entupida” (frase da Ana Cristina César) e daí, sem pensar muito, decidi ir fazer algo que meu corpo conhece bem, que me traz conforto, e que não fazia há um bom tempo: recortar papel e fazer umas colagens. Sem compromisso, sem cobrança, sem pressão. Pela primeira vez em um bom tempo, sentei para criar não por um compromisso de trabalho, mas pelo prazer de fazer algo que afagasse um pouco o incômodo que me passava.
Essas poucas horas no meio de dias estranhos me permitiram despejar muita coisa que estava estancada, um tipo de obstrução que me parece comum, já que as demandas e responsabilidades da vida facilmente vão minando e vedando as frestas que temos para expressar o que sentimos. No fim das contas, a gente vive mesmo em uma realidade acelerada e impessoal e em que é fácil tender ao cinismo quando falamos de sensibilidade e da perspectiva subjetiva de cada um: é mais fácil se ocupar de alguma tarefa, fazer piada ou compartilhar um meme do que se colocar em vulnerabilidade e dar conta do que se sente. De certa forma, para muita gente o tempo/espaço da terapia é o único momento em que esses podem ou devem ocorrer.
Com isso, venho lembrar que viver é uma experiência que vai além da objetividade rotineira, além das demandas, além do que “precisa ser feito”. Além do que faz sentido na cabeça, além das notícias, além do trabalho. Há camadas nossas que, eventualmente, precisam ser reconhecidas e acolhidas. É preciso poder se expressar. E para se expressar, existem muitas formas e linguagens disponíveis nesse mundo. Por mais que eu goste de escrever, a palavra escrita ou falada apenas também não dá conta de tudo que temos a dizer. A minha reflexão é basicamente essa: é preciso encontrar formas de se expressar que dêem vazão à si. Ao que não pode ser dito. É preciso encontrar formas de expressar que te acolham, te alimentem, te movam de alguma forma. Elas não precisam ser perfeitas ou ideais, mas precisam ser experimentadas. (Às vezes, aliás, uma forma de se expressar vai ser em diálogo ou reação com o que outras pessoas criaram: dançando no meio da sua sala enquanto ouve música, indo sozinho à uma exposição, assistindo a uma performance, etc. O fato é que essas experiências que alimentam o que há de subjetivo em nós são as primeiras a serem deixadas de lado, quando as imposições da rotina se acumulam. É preciso resistir também à esse apagamento, porque a vida é maior do que conseguimos dizer.)
Dessa semana atípica, enfim, nasceu uma pequena série de colagens em papel sobre a atual Lunação de Câncer, à qual chamei de Travessias. A segunda delas é essa que segue abaixo. A primeira, e as próximas que virão, estarão lá pelo meu Instagram.
lunação de câncer: lua cheia em capricórnio
28 de junho a 27 de julho de 2022
A Lua em Capricórnio chega à oposição exata ao Sol em Câncer no meio da tarde da próxima quarta-feira, dia 13. Como toda Lua Cheia, ela irá nascer no céu leste enquanto o Sol se põe no oeste; quem quiser vê-la nascendo bem cheia no horizonte, é só procurar um local alto e com visibilidade no horizonte leste no momento do entardecer (aqui no Rio, por exemplo, será por volta das 17h20); lá pelo fim da noite e início da madrugada, de quarta pra quinta, ela estará bem alta no céu, já bem visível. É interessante observar esses fenômenos acontecendo na prática porque assim entendemos melhor como a astrologia é uma descrição visível do que ocorre ao nosso redor: o período da Lua Cheia é um tempo de luz e de visibilidade. A Lua Cheia é como um holofote no céu, que ilumina e enche a noite de luz, exibindo o que antes estava na penumbra, durante a Nova. Em termos de significados, enfim, a chegada da Cheia escancara os principais temas da lunação: é o amadurecimento do ciclo.
Abaixo, segue o mapa levantado para Brasília, e os principais temas que irão despontar até o dia 27 de julho:
O ascendente do mapa está a 20º de Sagitário, ativando a estrela fixa Ras Alhague, da constelação do Ofiúco, que versa sobre os temas de cura e medicina; é possível que alguma boa notícia em relação à tratamento de doenças, medicamentos ou vacinação venha à tona nessa próxima quinzena, especialmente após a entrada do Sol em Leão, no dia 22.
A Lua em Capricórnio ocupa a casa 2, reincidindo sobre as dificuldades de sustento da população: fome, insegurança alimentar, escassez de produtos e altos custos de alimentos e combustíveis. É um período crítico e de movimentações importantes a respeito desses temas: a saber, a eleitoreira PEC dos Auxílios será votada na Câmara na próxima terça-feira (e, ao que tudo indica, aprovada). Os auxílios serão suficientes de imediato? Em termos astrológicos, não: a presença de Saturno retrógrado na casa 3 em quadratura com Marte e trígono com Vênus aponta, inclusive, que as insatisfações econômicas podem suscitar algum tipo de paralisação ou bloqueio nos setores de transportes e comércio em algum momento a partir do dia 13 até o 27. O povo está completamente desassistido, e a virada dessa Lua Cheia evidencia essa situação.
O trígono entre Vênus em Gêmeos na casa 7 e Saturno em Aquário na casa 3 também se relaciona ao tema das escolas e educação, e é provável que vejamos a aprovação de algum tipo de restrição ou medida conservadora ligadas à esses cenários.
O Sol em Câncer naturalmente se opõe à Lua ocupando a casa 8, bem próximo à Mercúrio no mesmo signo. Como escrevi na edição anterior (que vale reler, já que traz um panorama geral de previsões até o primeiro turno das eleições), essa Lua Cheia traz à tona mais (ou novos) fatos sobre corrupção, desvio ou uso indevido de verba pública, etc. Tais eventos parecem se vincular diretamente à uma figura central do governo, que fica com o filme bem queimado e parece precisar negociar com outra figura de poder (essa possivelmente ligada à educação, justiça ou religião) em prol da manutenção de alguma estabilidade; em termos astrológicos, interpretamos essa conjuntura pela posição de Mercúrio e Sol na casa 8, que ativam as estrelas dos gêmeos míticos Castor e Pollux, que carregam uma história de apoio e sacrifício.
Marte está em Touro e sua aproximação da quadratura com Saturno não é nada bom. Na próxima quinzena, temos um risco aumentado de acidentes, sendo recomendado redobrar cuidados pessoais e evitar atividades de risco especialmente nos dias 14, 15, 21 e 22 de julho (quinta e sexta-feira dessa e da próxima semana).
Por fim, reparem que a Júpiter em Áries (regente do estado geral do país) e a Lua em Capricórnio (regente do povo) estão desamparados, sem bons aspectos: a lunação começou um pouco mais amena e com algumas pontuais vitórias da oposição (caso da vereadora Benny Briolly e da jornalista Patrícia Campos Mello, por exemplo), mas o cenário endurece com a chegada da Cheia; pode até piorar para o governo, mas também não melhora para nós, o que não é bom normalmente, muito menos num cenário de descaso como o atual. Cuidem bem de si, em especial em relação à alimentação e aos cuidados com o corpo. Seguimos atentes durante essa segunda metade da lunação, e volto na próxima semana com mais interpretações por aqui.
Agradecimento especial a Juliana Machado, Benício Bruno, Bianca Cardoso, Carol Braga, Katty Cuel, Lilian Alves, Marina Bohnenberger, Patricia Guedes, Felype Ferro, Sarah Marchon e Silvana Braggio, que participaram ao vivo da última oficina de prática de astrologia mundana e contribuíram diretamente para as pontuações escritas aqui.
para ouvir
Dei uma atualizada nessa playlist que eu costumo ouvir quando acordo de manhã cedo: gosto de pôr pra tocar enquanto faço a rotina matinal básica e, como ela tem mais de 2h30 de duração, ouço no aleatório um pouco a cada dia (embora a sequência inicial eu repita quase sempre). São músicas mais calminhas, pra começar os dias com ânimo & suavidade.
Aliás, se você tiver uma sugestão pra essa temática musical “manhãzinha”, deixa aí nos comentários.
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um abraço e até semana que vem,