Como foi a semana de vocês? Do meu ponto de vista, vi muita angústia, agitação e incômodos por aí. Que o cenário coletivo pós-Lua Cheia ia endurecer, a gente já sabia. Mas antecipar ou prever certos eventos não nos livra de viver as consequências deles. Nessa última semana, tivemos novas notícias preocupantes, um clima de aflição geral, dedos apontando pra tudo que é lado e uma revolta tensionada, latente, sem ter para onde dar vazão direito. É compreensível: estamos mesmo vivendo uma das fases mais densas e atribuladas deste ano astrológico, especialmente por conta do período de ápice dos efeitos do eclipse lunar que ocorreu no dia 16 de maio. Como mencionei na época, os eventos significados por eclipses lunares podem se estender por vários meses na região em que são observados, e também têm um período de maior intensificação — para nós no Brasil, esse ápice do eclipse começou no fim de junho, e irá durar até meados de agosto. Acho importante essa localização temporal para dar perspectiva sobre em que momento astrológico, afinal, estamos; ainda teremos uns meses bem complicados à frente, mas até o fim de 2022, o céu promete uma melhora de situação.
O fato é que, além de efeitos de eclipse, entramos numa temporada de oposições planetárias importantes: Mercúrio e Sol, recém-ingressos em Leão, confrontarão de frente Saturno em Aquário; isso é especialmente importante porque o Sol é um dos regentes do ano astrológico para o Brasil. O trânsito do Sol domiciliado em Leão é importante em termos de vitalidade coletiva, de centramento e organização: é preciso organizar a revolta, coordenar a ação, impôr autoridade onde a sabotagem e a conspiração correm soltas. Apesar de tudo, a Lunação de Leão, que começa já na próxima semana, não será uma temporada fácil: a Lua Nova na próxima quinta-feira ocorre quase simultaneamente à retrogradação de Júpiter em Áries, que já está andando bem lento, quase parado. Júpiter é um co-regente desse ano para o Brasil, e os dias próximos à sua retrogradação (especialmente uma semana antes, que já estamos vivendo agora) podem ser pouco animadores ou… decepcionantes, mesmo.
O que há de bom de imediato, então? É o que eu tenho pensado a respeito nos últimos dias, e desde a Lua Cheia, que é quando os temas da lunação ficam mais nítidos. Talvez a Vênus em Câncer? Talvez. Mas quando não há nada de muito bom para se vislumbrar no céu, a gente se vira com o que tem. E daí eu me peguei constatando algo que pode soar meio óbvio, mas que conversa diretamente com o que escrevi lá no comecinho dessa lunação: o corpo percebe as faltas e urgências que a gente sente. Ele dá sinais. Não digo que são sempre sinais claros, positivos ou consistentes porque essa seria uma visão meio romantizada dos nossos próprios corpos, que também carregam seus traumas e mecanismos problemáticos de autodefesa, mas que o corpo manifesta sinais importantes, manifesta sim.
Essa não me foi uma semana exatamente ruim, mas me percebi especialmente inquieta e impaciente, precisando circular, caminhar, pedalar, percorrer os espaços. Esses momentos de movimento e abstração foram o ponto alto dos meus últimos dias. Outras pessoas próximas me relataram desatenção e um sono excessivo, com a necessidade de descansar mais ou estar mais consciente em relação ao próprio corpo. A questão é: quando não atendemos a tempo as necessidades sutis que temos, o corpo se prontifica a expor uma ou várias delas de forma mais óbvia e evidente. A Lua, que na astrologia é regente da nossa materialidade física, também trata de ações instintivas — e com a última Lua Cheia exilada em Capricórnio, estão expostas a nós certas faltas, privações e outras urgências. Perceber os sinais do corpo e agir seguindo os próprios instintos (que muitas vezes, sim, vão contrariar as demandas da mente) pode ser uma forma essencial de auto-preservação. Então, vale considerar: você anda com mais fome, sede ou sono do que o normal? Se estiver ao seu alcance, não pense duas vezes antes de satisfazer essas necessidades sem culpa. Não consegue parar, focar e finalizar determinada tarefa? Faça outra, saia para uma caminhada, tenta de novo depois. A cabeça não pára? Vá se mexer um pouco. Abriu uma rede social e bateu a ansiedade? Não entra mais, pelo menos pelo resto do dia. Tudo isso pode parecer bem bobo e pode até ser inacessível para muitos de nós, mas dentro do que é possível em cada realidade, são respostas simples para se atentar e atender à essas necessidades e faltas que o corpo vem cobrando. Enfim, algo a se pensar e absorver nesses próximos dias, em que a Lua atravessa sua Fase Minguante.
céu da semana
24 a 30 de julho de 2022
Recobrando os cacos dos últimos dias, temos uma semana um pouco mais amena vindo aí. Me parecem dias mais arrastados e silenciosos, de uma certa reserva, bem Fase Minguante. Na quinta-feira, chega a Lua Nova em Leão, mas as previsões para esse novo ciclo ficam para a próxima edição. Por ora, vamos ao cenário diário:
Hoje é domingo e o dia segue um pouco mais sério do que o sábado, com a Lua transitando por Gêmeos, indo em direção ao trígono com Saturno em Aquário: piada, sim, mas melancolia também. Um dia bom para espairecer, circular, se conectar com o que provoca interesse, encontrar com quem se gosta. Sem grandes dramas.
Na madrugada da segunda a Lua em Gêmeos completa o trígono com Saturno; ainda de madrugada, Vênus em Câncer completa a quadratura com Júpiter em Áries, um aspecto meio esquisito, que pode ocasionar em exageros momentâneos, vazamentos, alagamentos ou pequenos danos no âmbito doméstico (nada que parece muito grave, porém). A manhã começa meio cansada mas o clima muda no meio da tarde, com o ingresso da Lua em Câncer: entre mortos e feridos, abre-se espaço para acolhimento e a percepção dos próprios limites e necessidades fica mais aguçada.
Terça começa razoavelmente bem, com a Lua em Câncer alcançando quadratura com Júpiter em Áries no começo da manhã, e a conjunção com Vênus ainda antes do almoço. É uma manhã que tende a ser produtiva, animada, aquele último gás possível numa Lua minguante, sabe? Cuidado para não perder a mão num otimismo momentâneo e superdimensionar as coisas. Mercúrio em Leão completa quadratura com Marte em Touro à tarde, o que pode render alguma frustração ou chateação entre autoridades ou no âmbito do trabalho: não prometa o que não pode cumprir, e não considere poder cumprir coisa demais, que o ritmo anda sendo de lentidão e obstáculos, com o Marte em Touro. A Lua em Câncer também completa o sêxtil com Marte em Touro à noite, reafirmando esse climinha de “largar as armas” aí.
Na quarta-feira a Lua estará minguantíssima e fora de curso no céu, vagando sem completar qualquer aspecto. Evitem começar novas coisas, lançar projetos ou grandes iniciativas — embora não haja riscos, a tendência aqui é que as coisas não tenham ânimo ou energia suficientes para se desenvolverem com força. Dia de recolhimento, balanço geral, manutenção básica e preparação para o início do novo ciclo, no dia seguinte. Evitem gastos e tenham atenção ao seu dinheiro e bens em geral. Bom para se desfazer de tralha, fazer faxina, limpezas e etc. Considerando o que escrevi na introdução sobre as faltas e urgências que o corpo manifesta, esse é um dia propício para perceber e absorver os aprendizados dessa Lunação de Câncer como um todo.
A Lua chega em Leão no meio da madrugada de quinta, e percorrerá a manhã toda nesse signo em busca do abraço do Sol; ela alcança a conjunção exata com o astro-rei à tarde, iniciando uma nova lunação. Júpiter retrograda no fim da tarde, e a Lua o encontra num trígono à noite. Uma fagulha de esperança meio cansada, meio abatida? Sim. Mas uma fagulha, um quê de vitalidade que se forma. Começa, enfim, a Lunação do Leão.
A sexta-feira traz a quadratura entre Lua em Leão e Marte em Touro, um dia de embate feroz, que vale a pena se atentar novamente à possíveis riscos para o corpo físico (porém, bem menos perigoso que a sexta da semana passada). Na sequência, a Lua encontra conjunção com Mercúrio em Leão, o que pode se manifestar como algum tipo de apoio ou aliança conquistada com alguma figura de referência. Ao mesmo tempo, estar em evidência envolve desagradar alguns — e a Lua também caminha para a oposição com Saturno em Aquário. É um sextou carismático e brilhante, mas há de se lembrar que nem todo mundo quer o seu bem. Consciência e jogo de cintura são importantes, mas sem pavor, que a Lua em Leão está bem acompanhada de Mercúrio e Sol — o famoso “ele é grande, mas nóis é ruim”.
A Lua em Leão completa oposição com Saturno em Aquário logo no início da madrugada do sábado, e aí passa da manhã até o início da tarde vagando pelos últimos graus de Leão, sem novos diálogos. No meio da tarde, ingressa em Virgem. Um sábado mais sério e pragmático, com um humor mais reservado, menos aflorado e frondoso como no dia anterior. E vida que segue.
notas astrológicas
destino individual e trama coletiva
“A vida é uma questão de decidir como viver e envolve, a todo momento, a possibilidade de ramificar-se em diferentes direções, nenhuma das quais é mais normal ou natural do que qualquer outra. Como os caminhos se fazem ao andar, devemos continuamente improvisar modos de vida conforme avançamos, abrindo novas trilhas mesmo quando seguimos os rastros de nossos predecessores. Contudo, nós não o fazemos sozinhos, mas na companhia de outros. Como os fios de uma corda, vidas se entrelaçam e se sobrepõem. Elas seguem juntas e reagem mutuamente, umas às outras, em ciclos alternados de tensão e resolução. Nenhum fio segue para sempre; assim como uns se vão, outros se unem. É por isso que a vida humana é social: é o processo contínuo e coletivo de descobrir como viver. Todo modo de vida, portanto, representa uma experiência comunitária acerca de como viver. Ele é uma resposta ao problema da vida da mesma forma em que o caminho é uma solução para o problema de como chegar a um destino ainda desconhecido.”
— Tim Ingold em “Antropologia: Para que serve?”
É muito significativo o fato de que foi a astrologia natal a responsável pela sobrevivência do conhecimento astrológico até os dias de hoje. De fato, é fascinante observar o destino individual de cada pessoa desenhado num mapa e usá-lo como guia para experienciar uma vida com mais consciência e propósito. Mas tem me interessado ainda mais entender como essas vidas — esses inúmeros fios — se encontram na grande trama coletiva, formando um tecido social que também carrega um destino comum, tão amplo quanto limitado. Enquanto aglomerado de seres vivos — incongruentes, problemáticos e absolutamente desiguais — estamos unidos por um destino coletivo, gostemos disso ou não. Assim como o Ingold, não acredito que exista uma única forma para se viver; enquanto astróloga, entretanto, também carrego esta perspectiva: talvez observar o que o céu reflete sobre a Terra seja uma forma de investigar outros caminhos possíveis para nós, partindo sempre do princípio que o “nós” não é “humanidade” simplesmente, mas sim toda vida manifestada nesse mundo: paisagem, bicho e gente, natureza por inteiro.
[texto originalmente publicado em maio/2021 aqui]
para ouvir
(Surpresos de ver essa editoria por aqui novamente? Eu sim, porque não é toda semana que tenho algo de interessante pra indicar, mas cá estamos nós). Ando ouvindo esse podcast chamado Pavulagem (amo essa palavra) e tô bem apaixonada. É sobre as histórias de seres encantados da Amazônia, contadas por contadores de comunidades ribeirinhas e indígenas da região Norte do Brasil. O criador é o jornalista indígena Maickson Serrão e o formato é muito bem pensado, curtinho e interessante. Já saíram 4 episódios, e vem mais 8 por aí. Quem gosta de ouvir podcast tem que conhecer. Recomendo demais.
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um abraço e até semana que vem,