O Sol é o astro que permite a existência da vida terrestre como conhecemos e carrega o simbolismo da vitalidade, consciência e visibilidade. Na tarde da última quinta-feira, a Lua se uniu ao Sol em Leão numa conjunção exata: é Lua Nova, que dá início à Lunação de Leão. Um novo ciclo, enfim, começa — sinto que boa parte de nós se sentiu atropelada nessa última Lua Minguante, sem vitalidade para fazer muita coisa, e talvez a virada de Lua já tenha ajudado nesse sentido.
Antes de entrar na interpretação do cenário brasileiro e as previsões coletivas de costume, aproveito essa introdução para resgatar significados simbólicos importantes desse novo ciclo, que será profundamente marcado pela oposição entre o Sol em Leão e Saturno em Aquário. A última vez que a oposição entre esses dois nesses signos se deu foi em 1993, e a próxima será só daqui a 28 anos, em 2050 — a questão aqui não é uma simples oposição entre Sol e Saturno, fato que ocorre todos os anos, mas sim o fato que ambos estão atualmente ocupando os signos em que eles mesmos possuem domicílio. O Sol rege o signo de Leão, e Saturno rege o signo de Aquário: é um encontro e um embate de pesos-pesados.
Essa oposição é especialmente expressiva em relação à tipos de poder distintos. Já escrevi a respeito disso em algumas edições, mas vale relembrar: enquanto o Sol em Leão versa sobre um tipo de poder centralizado, nítido, identificável e hierarquizado, o Saturno em Aquário trata do poder disseminado, dissimulado, invisível e distribuído. Sabe as fake news, as redes invisíveis de distribuição de informação, a cultura hacker, os trâmites sigilosos, as conspirações sorrateiras e a crescente contestação de autoridades únicas, de verdades absolutas? Tudo isso tem a ver com Saturno em Aquário, o grande regente do período que vivemos. Para quem não sabe, estamos num ciclo de 20 anos (inscrito num ciclo ainda maior, de 240 anos!) regido pela conjunção Júpiter-Saturno em Aquário, iniciado lá no fim de 2020:
Em dezembro de 2020, Júpiter e Saturno se encontraram numa conjunção exata no signo de Aquário. Esse não é um encontro corriqueiro: Júpiter e Saturno são planetas considerados marcadores do ciclos, e o encontro dos dois sinalizam mudanças políticas, econômicas e sociais de grande importância, a nível global. Deixamos para trás um ciclo de terra, iniciado no início do século 19, período que (não por acaso) corresponde ao princípio do capitalismo industrial. […] Nesse novo ciclo que adentramos, a ideia de poder terá cada vez mais a ver com a capacidade de observação e controle indireto. O poder disseminado tem relação direta com o signo de Aquário, regido por Saturno, o planeta que depõe o poder centralizado (simbolizado pelo Sol): as hierarquias clássicas decaem, a figura de um único líder que reúne o poder sobre muitos se enfraquece. O poder disseminado vem através de ideologias e causas sociais, que tendem a se definir e organizar cada vez mais de forma coletiva e distribuída, não simbolizadas por um único rosto ou nome.
— trecho do texto Poder: a era da vigilância, publicado originalmente no Instagram em dezembro de 2020 e replicado na edição #20
(Aliás quem se interessa por essas mudanças a nível coletivo e quiser se aprofundar de um ponto de vista sociológico, recomendo o livro Capitalismo de vigilância, de Shoshana Zuboff, uma leitura esclarecedora e acessível que tem tudo a ver com Saturno em Aquário.)
O que uma lunação tão marcada pela oposição entre esses simbolismos avessos entre si pode nos trazer? A meu ver, esse ciclo traz a oportunidade de enxergar as circunstâncias e eventos que nos rodeiam mais às claras — o que não é pouco, considerando o momento coletivo conspiratório e de riscos imperceptíveis à nós. Uma lunação que tem a ver com ganho de consciência a nível coletivo e maior percepção do que está em jogo. Com a travessia pela Lunação em Leão, é provável que o desenho de conjuntura coletiva fique mais nítido, e possamos enxergar também a assimetria que permeia certas relações e circunstâncias comuns.
Além disso, essa é a lunação que dará início à campanha eleitoral, em meados de agosto. O Sol em Leão ocupa a casa 9 no mapa da Lua Nova, acompanhado de Mercúrio, ambos buscando a oposição com Saturno em Aquário e acendendo uma série de questões que podem ressoar durante as próximas semanas. Listo abaixo algumas que me vêm à mente ao observar esse mapa:
De que formas construímos e cultivamos autonomia?
Como afirmamos ou contestamos nossas próprias certezas?
Que uso fazemos do conhecimento que adquirimos?
Que tipo de benefício a informação que consumimos nos traz?
Quais valores e princípios nos são inegociáveis?
O que é preciso para fazer escolhas conscientes?
A quem escolhemos dar poder, ouvir ou silenciar?
“Poder e autonomia para escolher” é o nome dessa edição, e este me parece ser um mote fundamental da Lunação de Leão: é tempo de afirmação de vida, de promoção da capacidade da tomada de decisão informada, de ganho de consciência e de rejeição ao controle indireto e às velhas estruturas que não servem mais. Como diz o Alvaro Borba, “a verdadeira polarização é entre os que querem o direito de viver e o que querem o direito de matar”.
lunação de leão
28 de julho a 26 de agosto de 2022
A Lunação de Leão inaugura um período enérgico, inflamado e cheio de acontecimentos — como escrevi no panorama geral lá na edição #43, não teremos muita calmaria até as eleições. A primeira metade dessa lunação, até a Lua Cheia no dia 11, será mais agitada que a segunda.
Desde o Ingresso Solar em Áries venho escrevendo que o Poder Judiciário é um grande protagonista desse ano, e de fato temos visto uma ênfase maior sobre essas figuras nos últimos meses. Essa lunação vem reforçar essa previsão, e provavelmente nesse período veremos uma maior imposição de autoridade vinda de figuras ligadas à esse poder. Outra possibilidade (que não exclui a primeira) é um holofote voltado para figuras religiosas ao longo desse mês, especialmente líderes masculinos.
Além da oposição Sol-Saturno da qual tanto falei na introdução, temos a participação importante de Marte em Touro intermediando esses dois — além do já mencionado risco aumentado de acidentes (leia mais abaixo, no céu da semana), é possível que também vejamos algum tipo de paralisação ou bloqueio nos setores de transportes e comércio, algo que previ para a quinzena após última Lua Cheia e que não ocorreu. Esse tipo de ocorrência cabe bem nesse mapa da Nova, ocasionando cortes ou prejuízos financeiros na segunda metade da lunação (11 de agosto a 26 de agosto).
Algo que também parece se desdobrar com mais força na segunda metade da lunação, mas pode se desenrolar desde já, são as dinamicas de apoio eleitoral entre figuras de poder econômico. Isso porque, para além da possível imposição de autoridade por membros do Judiciário, essa é uma lunação de disputa de poder e alianças mesmo: é como se o tabuleiro político estivesse se organizando ao longo dessa lunação, com possíveis plot twists que nos pegam de surpresa. Nessa dinâmica estão também banqueiros, empresários e outros agentes de influência na economia que, a meu ver, tendem a se pôr contra o governo atual, que pode sofrer desfalques na base de apoio. Isso chega com mais força após a Lua Cheia, mas movimentações importantes devem começar desde já.
De forma geral, mas menos marcada, os temas de casa 3 também estarão em eminência durante esse ciclo: ensino básico, redes sociais, escrita, mensagens, notícias, etc. Lunação agitada e conectada.
Por fim, observações sobre saúde: Júpiter em Áries é o regente da casa 1 do mapa e inicia a lunação estacionado, retrogradando poucas horas depois. Sua posição e relações no mapa indicam um cenário ruim no que diz respeito à vacinação e cuidados coletivos de saúde. Esse período também mostra mais suscetibilidade nas crianças à doenças e infecções — considerando que já foi apontado que a varíola dos macacos é mais severa nesse grupo, tomem os cuidados necessários, vacinem-se e protejam os mais vulneráveis.
Um agradecimento especial à Bianca Cardoso, Carol Braga, Isabelle Fernandes, Juliana Machado, Marina Bohnenberger, Melissa Rodrigues, Patricia Nardelli e Sarah Marchon, que participaram ao vivo da última oficina de prática de astrologia mundana e contribuíram diretamente para as pontuações escritas aqui.
céu da semana
31 de julho a 6 de agosto de 2022
Cês sabem que em edição de início de lunação não costuma ter a editoria céu da semana, mas vou abrir uma exceção hoje porque temos aspectos importantes se formando nessa semana e quero sinalizar alguns intervalos de tempo.
Começando pelo mais difícil: na edição #43 fiz uma demarcação do intervalo entre 14 de julho a 9 de agosto como sendo um período de risco aumentado de acidentes e violência, sinalizado pela quadratura entre Marte em Touro e Saturno em Aquário, com alguns dias especificamente de maior perigo — na semana passada, sinalizei que o 21 e 22 de julho eram dois desses, e no 21 foi quando ocorreu a operação policial com 18 mortes no Complexo do Alemão. Ao fim dessa semana, estaremos prestes a encerrar esse período (ufa), mas temos um último intervalo de tempo que vale maior atenção, na sexta-feira, dia 5 de agosto: a Lua estará desde o meio da manhã em aspecto aplicativo adverso com Marte, uma tensão que se constrói ao longo do dia todo. Não é preciso pânico nem alarmismo, apenas recomendo redobrar os cuidados consigo, se prevenir de ameaças e, se possível, evitar grandes compromissos ou atividades de risco. O intervalo entre as 22:00 de sexta e 01:00 de sábado é especialmente delicado, pois a Lua estará em Escorpião e sitiada entre os Marte e Saturno. Após esse horário, a madrugada pode ser incômoda e o clima de tensão demora um pouco a dissipar, mas o pior já passou; no início da tarde do sábado, a Lua ingressa em Sagitário e ganha entusiasmo (só cuidado com o sincericídio).
À exceção dessa sexta bem esquisita, temos uma semana de Lua Nova à Crescente com um clima bem mais motivado e enérgico, sem grandes impedimentos na maior parte do tempo e começando logo hoje, domingo, com um belo trígono entre o Sol em Leão e o Júpiter em Áries. De segunda a quarta-feira temos uma predominância de aspectos harmoniosos e produtivos, sem grandes questões: tempo de se organizar, produzir, se comunicar e encaminhar os processos, pois a Lua cresce favorecida no céu. Na madrugada de quinta temos o auspiscioso ingresso de Mercúrio em Virgem acompanhado da entrada não tão confortável da Lua em Escorpião; esse tende a ser um dia mais frio e analítico, bem menos expansivo e animado que os anteriores, mas ainda pode ser eficiente para tarefas individuais pragmáticas, burocráticas ou que exigem concentração. Se possível, adiante e deixe o que for mais complicado de desenrolar ou exigir mais de outras pessoas para o início da semana, assim a quinta e sexta ficam livres de maiores estresses.
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