Tenho pensado sobre o fogo. Por alguma razão, é o elemento com o qual cultivei pouca intimidade, desde o início do meu percurso pela astrologia. Só que aí, desde o ingresso do Sol em Leão, me pego notando com mais frequência o simbolismo do fogo e do Sol nas coisas mais banais: ouvindo o Renaissance (a ideia de renascer depois das trevas é um símbolo totalmente solar!), assistindo a nova temporada de Vidrados (um reality show sobre arte em vidro, material que depende de fogo em altas temperaturas para ser moldado) e até enquanto cozinho, prestando mais atenção aos efeitos da temperatura e da transformação que o fogo provoca nos preparos dos alimentos.
Na astrologia, são três os signos do elemento fogo: Áries, Leão e Sagitário. Uma boa imagem para entender o fogo cardinal de Áries é pensar em alguém portando uma tocha: ela é um instrumento individual, facilmente movido de um lugar ao outro e traz luz suficiente para cortar o breu e iluminar caminhos, mas não é um fogo com fôlego suficiente para sustentar a chama por tempo prolongado.
O fogo de Leão, por outro lado, tem a qualidade fixa. Uma boa imagem para entender esse símbolo é pensar numa fogueira de festa, daquelas bem grandonas, altas, que ninguém consegue chegar perto, de tão quente. É um fogo plenamente estabelecido, controlado, mas que não se apagará tão cedo ou tão facilmente. Que ilumina de longe o entorno, e que pode alimentar de fogo tantos outros gravetos, tochas e o que mais for preciso, sem ter sua potência diminuída. Essa propriedade propagadora do fogo é uma baita generosidade da natureza: uma fogueira bem formada pode originar várias outras e não se apagar. Esse fogo fixo, inesgotável e agregador só poderia ser mesmo o domicílio do Sol, já que é da natureza desse luminar nos proporcionar vida, força e renovação. Sol demais definitivamente não é bom pra ninguém (assim como se aproximar de uma fogueira dessas aí), mas Sol de menos definha a vida — pelo menos, a maior parte das formas de vida que conhecemos.

O Sol atualmente transita por Leão, sua morada natural. Estamos mesmo na Lunação de Leão, um ciclo marcado pela oposição direta do astro-rei com Saturno em Aquário, tendo por coadjuvante um Marte em Touro que intimida ambos por quadraturas (mas também com um Júpiter em Áries, que auxilia o Sol!). Na edição passada, escrevi um tanto sobre as relações de poder e imposição de autoridade que definem tão bem as movimentações no cenário político atual, em clima de quase início de campanha eleitoral. Por outro lado, há outras observações sobre a subjetividade coletiva que cabem ser mencionadas aqui.
O fogo proporciona avanço, ampliação das possibilidades que existiam até dado momento, e desenvolvimento a partir dessas novas. Ele foi a primeira energia natural utilizada pelo ser humano de forma intencional, e ainda é a principal fonte de energia que usamos. A descoberta do fogo é um marco na história da humanidade, tanto que esse elemento povoa as imagens e histórias mais antigas que conhecemos (conhecem o mito de Prometeu, que rouba o fogo dos deuses para dá-lo aos humanos?). O fogo provocou o desenvolvimento de um tanto de coisa que a gente nem imagina: ter possibilitado o cozimento de alimentos que antes eram consumidos crus, por exemplo, é algo discutido entre pesquisadores como um fato fundamental para o estabelecimento das sociedades humanas e, talvez, até definidor da evolução do nosso cérebro. (Essa matéria explica bem essa história toda aí.)
Voltando à fogueira de festa que expressa tão bem o fogo fixo do signo de Leão, chegamos à ideia de celebração. O fogo é um elemento relacionado ao ato de reunir e congregar, e no modo de vida urbano atual, em que ele ficou tão domesticado e controlável na forma de isqueiros e fogões, o fogo costuma se fazer visível em sua forma mais “pura” justamente nos eventos coletivos, como em churrascos, festas juninas e ritualísticas religiosas.
Esse papo todo é basicamente para relembrar que vivemos (e ainda viveremos) tempos marcados por Saturno em Aquário — tempos de hipervigilância, hiperconectividade e uma vontade irrefreável de dominar o próprio tempo. Essa vida altamente conectada e que foi chegando aos poucos, a cada nova tecnologia e aplicativo, sorrateiramente, até nos vermos mais ou menos reféns de seus mecanismos. Nossos hábitos, nossa forma de pensar e até a maneira como enxergamos as pessoas e acontecimentos foram se moldando à essa nova configuração hipervigilante. E parece que essas mudanças vem trazendo danos à nossa saúde física e mental, alterando nossa relação com o tempo, e nos mantendo num estado permanente de alerta e expectativa.
Quando escrevi na última edição sobre enxergar as circunstâncias e ganhar consciência a respeito do que está em jogo, é porque estamos na Lunação de Leão, um ciclo em que o Sol se impõe contra esse cenário tão dissimulado que tornou-se a estrutura dominante em tantas partes do nosso cotidiano. A lunação atual joga luz sob esses mecanismos de controle com os quais convivemos a nível pessoal e coletivo. E o que fazer com isso, então?
Voltando pra astrologia em si, podemos usar as relações planetárias para contrapor o significado de um planeta com outro: nesse caso aqui, o “antídoto” de Saturno é o próprio Sol. O Sol em Leão — acima de qualquer clichê de vaidade, autoridade e ostentação — é, enfim, uma afirmação de vida. O que te dá vida? Isto é, o que acende seu coração, enche o seu ânimo, preenche sua vitalidade? Pensando no símbolo do Sol em Leão, esse signo fixo do fogo, entendo que vida que se manifesta com mais brilho e saúde por meio do ganho de autonomia, de celebrações compartilhadas e da expressão e experimentação das próprias vontades.
Num ciclo como esse, que escancara as ações involuntárias, os controles indiretos e as fraquezas que o automatismo nos impõe, é preciso buscar formas de afirmar a própria vida como se deseja ou se gosta que ela seja. Talvez tudo isso esteja abstrato demais, mas basta relembrar das coisas que você realmente gosta; olhar para o tempo que você foi criança ou mais jovem e perceber o que havia ali que enchia seu coração de alegria e prazer, e reconhecer essa fagulha de vontade que ainda mora em si. Outra forma é celebrando, pulsando vida, dançando a madrugada afora. Outra forma é tomando sol e vendo a vida acontecer, sem cobrança nem expectativa. Outra forma é insistindo em hábitos prazerosos deixados de lado. Outra forma é reencontrando e retribuindo a generosidade das pessoas e circunstâncias que lhe trouxeram até aqui. Outra forma é tentando enxergar o que você gosta de fazer e faz para além do automático na sua vida.
Tomar posição consciente e responsabilidade sobre o que supre e engrandece a própria vida tem muito a ver com Sol em Leão. Só que o desafio tem sido olhar Saturno em Aquário de frente, pressionando a força do tempo e dissolvendo a vitalidade diante de si. São dois protagonistas opostos num palco, sem ter pra onde fugir ou se esconder. A pressão de Saturno frente ao Sol nos força alguns questionamentos: afinal, que forças de vida animam o seu enredo? O que mantém e proporciona vitalidade pra você, num cenário como o atual? Aí tem coisa pra se perceber. Encaremos o tempo, então, com toda coragem e imponência que o Sol em Leão é capaz de expressar.

à esquerda:
Há coisas secretas que eu sei como fazê-las, por exemplo: ficar sentada sentindo o Tempo.
à direita:
Então quando vejo num caminhão uma placa dizendo: inflamável — então me encho de glória
para ouvir
Essa playlist já é meio batida para os assinantes do Meio do Céu, mas ela é uma das que mais gosto, mesmo desatualizada. Acho uma boa recomendação para essa lunação, especialmente para ouvir se banhando de sol — além de uma inspiração musical nesse lance de vontade e afirmação de vida que escrevi na introdução.
(Ah, e se tiver sugestões de músicas para adicionar à ela, me conta nos comentários!)
Uma outra indicação de escuta para os próximos dias e desse episódio do podcast, uma baita reflexão sobre o Tempo, assunto mais que pertinente nessa lunação de oposição Sol-Saturno. Ainda na pegada do que escrevi na introdução, talvez sirva como mais uma provocação sobre seu próprio olhar e experiência em relação ao Tempo. Quase uma sessão de análise em que você apenas escuta. Recomendo.
céu da semana
7 a 13 de agosto de 2022
Semana de Lua crescentíssima no céu, chegada da Lua Cheia, entrada da Vênus em Leão e a conclusão de aspectos tensos que vêm se construindo há algumas semanas. É uma semana ativa e meio carregada, com momentos pontuais que valem mais atenção. O clima geral fica mais duro, pragmático e racional, sem sentimentalismo. Ainda assim, rola um teor dramático, já que é uma semana de grandes aspectos e uma Lua Cheia daquelas.
Marte em Touro encontra Algol
Nessa semana Marte está se aproximando do grau 25º de Touro, posição ativada no eclipse lunar de maio. Próximo à esse grau, temos a estrela Algol, do mito da Medusa, diretamente relacionada à região do pescoço e garganta. Com isso, vale sinalizar que essa região do corpo estará mais vulnerável desde a tarde de quarta-feira, dia 10, até o início da tarde do domingo, dia 14. Vale redobrar os cuidados com o que se fala, ou que fica “engasgado” numa conversa, já que essa é uma estrela que versa sobre o silenciamento tanto físico quanto metafórico. Previna-se também de expor demais essa região para evitar possíveis inflamações e infecções. Aguentem firme, que a partir do dia 20 de agosto, a pressão deve suspender um tanto: apesar de tantas pressões, Marte estará logo mais encerrando essa travessia por Touro, e o período de ápice dos efeitos do eclipse também se aproxima do fim. A nível coletivo, inclusive, é bem possível que nesse intervalo de 10 a 14 tenhamos as previsões envolvendo paralisações nas ruas ou outros significados levantados no eclipse se manifestando.
Dia a dia
Hoje é domingo e temos uma bela Lua em Sagitário alcançando trígono com Júpiter em Áries no fim da madrugada e ela seguindo para o trígono com Sol em Leão, que se completa no meio da tarde. No fim da tarde, conclui-se também a quadratura exata entre Marte em Touro e Saturno em Aquário, um aspecto difícil que, a partir daí, tornar-se separativo, já mais fraco, embora ainda ative graus importantes ao longo dessa semana. O clima no domingo pode seguir bem expansivo e confiante, mas a proximidade do aspecto entre os maléficos exige atenção e presença redobradas. Apesar disso, a Lua se vê protegida no trânsito entre Júpiter e Sol, longe de Marte e Saturno, não indicando perigo para o corpo físico. No entanto, vale redobrar cuidados com bens e dinheiro, pois o risco de perda, furto ou gastos excessivos/inesperados é bem marcado. O dia de domingo é mais vistoso, a noite pode ficar bem amarga e melancólica.
A semana útil começa com uma segunda de Lua ainda em Sagitário, mas nos seus últimos graus, tendo concluído o último aspecto com Saturno no meio da madrugada de segunda pro domingo. No meio da tarde, a Lua ingressa em Capricórnio. Sem dourar a pílula: tem cara de uma segunda bem mal-humorada, zero carisma, mas pode ser bem pragmática pelo aspecto favorável que a Lua começa a buscar com Mercúrio.
No fim da madrugada de terça-feira a Lua em Capricórnio encontra trígono com Mercúrio em Virgem e quadratura com Júpiter em Áries. O dia é de objetividade e encaminhamento de processos, favorecendo tarefas que demandam retidão e definição, sem espaço para imaginação, abstração ou meias-palavras. O excesso de franqueza aqui tende a causar fricções e mágoas, então busque colocar as coisas em pratos limpos, comunique-se com clareza e exercite a paciência, porque não existe só um jeito “correto” de agir ou pensar no mundo.
Quarta temos Lua em Capricórnio fazendo trígono com Marte em Touro logo pela manhã e oposição à Vênus em Câncer no início da tarde. A manhã segue numa toada parecida com o anterior, mas num clima ainda mais aguerrido, teimoso e sem margem pra manobra. A nível de afetividade e relações, pouco favorável. Já no meio da tarde a Lua ingressa em Aquário e muda bastante o clima, embora não dê pra considerar muito “leve” aqui.
No fim da madrugada de quinta-feira a Lua em Aquário encontra o sêxtil com Júpiter em Áries. Vênus ingressa em Leão no meio da tarde e, no fim da noite, teremos uma bela Lua Cheia em Aquário para testemunhar no céu. Ainda considerando as oposições, quinta é o melhor dia da semana, o mais ágil e cordial possível, dentro das possibilidades — ainda assim, a disputa de poder e autoridade cresce nos palcos. Dia de Lua Cheia não tem calmaria, e essa virada não é exceção, mas as previsões de eventos coletivos para o período de 11 a 26 de agosto fica para a próxima edição.
Estou há algumas edições falando mal das sextas-feiras porque a Lua tem transitado pelos signos fixos justamente nesses dias, fazendo aspectos bem ruins com Marte e Saturno. Pois bem, aqui temos uma última sexta-feira de Lua sofrendo danos entre os dois, a diferença é que aqui será por um breve período: a Lua em Aquário encontra Saturno no meio da madrugada e a quadratura com Marte no início da manhã. Ou seja, o período mais delicado dessa sexta fica sendo entre as 3 e 8 da manhã, do meio da madrugada ao início da manhã. Novamente, sem necessidade de alarmismo, porque o céu não “causa” nada, mas pode refletir em riscos para pessoas e situações que já estão fragilizados; com isso, vale redobrar os cuidados com o corpo e buscar rotas e rumos de mais conforto e segurança. Prevenção e observação atenta são chaves importantes. No mais, reserve tempo para relaxar e evite tarefas estressantes nesse dia. Ainda na sexta, a Lua ingressa em Peixes no meio da tarde, mudando bastante o clima e jogando as tensões pra baixo d’água.
Sábado encerra a semana com uma Lua em Peixes encontrando oposição à Mercúrio em Virgem, e só: sentir extravasa o entender. Um sábado que pode ser sonhador, inusitado, instigante e confuso, mas sem grandes complicações. Considerando que ainda será um dia dentro dessa margem mais sensível à garganta, vale um cuidado com o que se fala: sabe o meme do calada vence? Se tem algum momento em que ele deve ser realmente aplicado, é aqui. Não tendo certeza, não fale.
1 ano de newsletter + um reajuste digno
Gente, me dei conta que essa newsletter está fazendo 1 ano de vida! No dia 1 de agosto de 2021, a edição #1 vinha ao ar com o nome de Meio do Céu. Antes disso eu escrevi por vários meses uma newsletter com o nome da Alfa Serpente, só que era bem mais curtinha e simples do que o formato atual.
Nessa vida de autônoma, cobrar pelo que faço é uma das partes mais desconfortáveis pra mim. Mas a newsletter cresceu, se desenvolveu e expandiu muito além do que eu sonhava nesse 1 ano, e quero seguir podendo fazer esse trabalho com o tempo, cuidado e dedicação que ele merece. Agradeço de coração a todes que apoiam (ou já apoiaram) a minha escrita nessa plataforma — sem vocês, essa newsletter provavelmente nem existiria mais. E sou muito grata que ela existe. Por isso, meu muito obrigada a quem faz parte dessa história.
Nesse Brasil de Paulo Guedes em que tudo aumentou (ou triplicou, quintuplicou…) de preço, percebo que aqueles R$7 já não valem muita coisa (mal dá 1 passagem de metrô aqui no Rio!). Decidi que é o momento de fazer um reajuste. Em breve, vai ficar assim: o apoio mensal ficará em R$10, e o apoio pago anual será R$90 (um belo desconto, você ganha 3 mensalidades nessa!). Vai ter também a possibilidade testar a assinatura de apoiador por alguns dias antes de decidir pelo pagamento, bem como uma promoção pra quem se inscrever como apoiador em grupo com alguns amigos. Enfim, alguns ajustes nesse sistema, mas nada de outro mundo. Tudo isso entra em vigor a partir da edição #50, lá pro fim desse mês. E se você não pode contribuir por questões financeiras (porque a situação não anda mesmo fácil pra maioria de nós), não tem problema: a Meio do Céu seguirá, como de costume, com as edições gratuitas semanais, pra todo mundo ler. E se quiser me apoiar de outra forma, pode indicar e encaminhar a leitura para quem você conhece e se interessa pelos assuntos que eu escrevo aqui. :)
Apoiadores recebem edições especiais da newsletter (pelo menos uma por mês!) com conteúdos exclusivos – análises de mapas e eventos, textos sobre teoria astrológica, estudos experimentais, etc. Nesse conteúdo exclusivo, recebo diretamente as sugestões de vocês e vale tudo o que a gente quiser observar e descobrir em termos de astrologia. Para se tornar assinante pago, basta atualizar o status da sua assinatura nas configurações da sua conta do Substack.
um abraço e até semana que vem,
Parabénsss!!