Mais uma edição saindo adiantada na sexta-feira — pra quem chegou recentemente, vale saber que a Meio do Céu é uma newsletter dominical (risos). E dessa vez, o motivo do adiantamento é bem mundano: eu só consigo pensar no primeiro turno das eleições. Soltar uma newsletter no domingo falando de qualquer coisa que não fosse esse assunto me pareceu uma ideia absurda, então cá estamos.
A edição de hoje segue um fio desenrolado há 6 semanas atrás, na edição #50, que escrevi sobre o início da campanha eleitoral. Para quem chegou aqui depois disso, recomendo muito reler essa: além da análise sobre a campanha de cada candidato, também explico as relações entre astrologia e política de forma bem acessível.
O que todos queremos saber é: estando à frente em todas as pesquisas até agora, será que Lula vence no primeiro ou só no segundo turno? Desde março, venho apontando a derrota de Bolsonaro, porém… a meu ver, astrologicamente falando, a vitória da oposição parece se concretizar apenas no segundo turno. Como escrevi semana passada, essa é uma previsão que eu torço muito, muito para estar errada — sabemos bem que, na nossa frágil democracia, estender o processo eleitoral por mais 4 semanas favorece riscos, ameaças e discursos golpistas.
Apesar de estar falando dessa previsão há vários meses, eu nunca expliquei bem os critérios astrológicos que me levaram até ela. Na edição de hoje, aproveito o clima afoito de quase-véspera do primeiro turno para destrinchar essa análise e esclarecer os critérios astrológicos para a possibilidade de vitória no primeiro ou segundo turno. Esse é um conteúdo mais procurado por estudantes e praticantes da astrologia, mas tentei escrevê-lo da forma mais acessível e simplificada o possível, para que seja uma leitura interessante todes, inclusive quem não tem familiaridade com os fundamentos técnicos de uma análise astrológica.
E na segunda editoria, menorzinha, aproveito também pra escrever sobre o ingresso da Vênus em Libra, trazendo os significados gerais desse posicionamento, uma retomada da trajetória desse planeta no contexto anual e uma indicação de playlist.
análise astrológica: vitória no primeiro ou segundo turno?
Escrevi essa análise listando os fatores que considero importantes para determinação da vitória no primeiro ou segundo turno. Explicando cada um, fica mais fácil compreender o porquê eles me levaram à determinar uma vitória no segundo turno, mas vocês verão que também há alguma margem para pensar numa vitória já nesse domingo. Gosto sempre de lembrar que a análise astrológica é, sobretudo, uma questão de interpretação. Por isso, quem se propõe a fazê-la não está imune a erros. Embora eu veja os fatores que apontam pro segundo turno como sendo mais fortes e relevantes, posso estar enganada, já que também há testemunhos favoráveis para o primeiro. Vamos aos pontos, então:
1. Oposições entre Júpiter e Mercúrio
Lembram do mapa do Ingresso Solar em Áries? Ele traz Mercúrio e Júpiter unidos na casa 10. Essa é uma dupla de planetas de natureza distintos, que regem signos opostos, e vê-los juntos colaborando no mesmo local é um dado curioso por si só, e que expressa bem a “frente ampla” que se formou na oposição para combater o bolsonarismo.
A oposição aparece dominando a casa 10, que é a casa de poder e autoridade — é como se a oposição estivesse muito mais evidenciada e prestigiada do que o governante atual em si. Mercúrio com Júpiter indica alianças improváveis, com duas figuras muito distintas compartilhando presença no mesmo local (sim, é a cara da chapa Lula-Alckmin). [trecho da edição #30]
Ambos estão em Peixes, um signo de natureza mutável, que reforça o caráter de mudança de poder. Além disso, Júpiter é co-regente desse ano para o Brasil: atribuo ao Sol a regência principal, mas Júpiter ocupa uma posição de destaque importante nesse mapa, e contribui muito para a análise. Na prática, significa isso aqui: todos os movimentos no céu que envolvendo Sol e Júpiter devem ser observados com ainda mais atenção, pois tais trânsitos terão maior relevância no Brasil.
Mercúrio e Júpiter começaram o ano astrológico juntos em Peixes, mas atualmente ocupam locais distintos: Mercúrio está retrógrado em Virgem, e voltará ao signo de Libra no dia 10 de outubro. Já Júpiter está retrógrado em Áries desde o fim de julho. Mercúrio ficou retrógrado em 10 de setembro, quando ainda ocupava o signo de Libra, que é oposto à Áries, que atualmente Júpiter ocupa. O que aconteceu foi o seguinte: Mercúrio e Júpiter, que começaram o ano juntos no mesmo signo, estão passando pelo período de campanha eleitoral em desalinho. Por maior que seja a amplitude da frente de oposição contra o governo, esse aspecto de oposição entre os dois planetas que iniciam o ano juntos e numa proposta de mudança indica divisão de votos, desacordos, estremecimentos entre antigos aliados. (Ciro, estou olhando para você.)
A primeira oposição entre Mercúrio e Júpiter foi em 2 de setembro, com Mercúrio ainda direto; a segunda se deu no último dia 18, já com Mercúrio retrógrado. Ainda teremos uma terceira e última oposição entre eles que será no dia… 12 de outubro. Essa oposição final me dá a entender que se trata de realinhamentos entre apoios partidários e candidatos para um segundo turno. A meu ver, é bem improvável pensar numa vitória ocorrendo antes dessa última oposição entre os dois planetas que estão protagonizando o estado geral do país e das mudanças de poder. Portanto, esse é um dos fatores principais que indicariam uma vitória só no segundo turno, já depois do dia 12, quando os desacordos e oposições entre eles já estarão resolvidos: no dia 30 de outubro, Mercúrio estará em Escorpião e Júpiter já estará em Peixes, ambos formando um trígono, aspecto que flui as ações e faz os eventos se desenrolaram sem resistência.
2. Mercúrio direto, Marte retrógrado e a proximidade de Júpiter
Esses três trânsitos compõemo fator mais capcioso dessa análise, o que me fez oscilar mais entre determinar a vitória em primeiro ou segundo turno. Vejam a ironia astrológica da situação: Mercúrio sai da retrogradação exatamente no raiar do dia 2 de outubro, data do primeiro turno; por outro lado, Marte fica retrógrado na manhã de 30 de outubro, data do segundo turno. São duas movimentações muito importantes, principalmente pelos significados que ambos carregam em relação ao mapa do Ingresso Solar em Áries: como pode ser visto no mapa acima, Mercúrio é regente da casa 4, a oposição ao governo; Marte é regente do ângulo do MC, representando o próprio Bolsonaro. Sua derrota é visível e bem simbólica pelas condições desse Marte, que perde velocidade pouco a pouco durante o mês de outubro. Faz muito mais sentido essa marcha-ré de Marte representando Bolsonaro indicar sua derrota, certo?
Mas e Mercúrio nessa história? A saída do seu movimento retrógrado no próximo domingo é, provavelmente, o fator mais forte que indicaria a vitória no primeiro turno. Frente a todos os outros testemunhos, não me parece suficiente, mas… é possível que isso baste, porque é um testemunho fortalecido por Júpiter: vale lembrar que Mercúrio está no fim de Virgem, fazendo uma antíscia (uma espécie de conjunção oculta) com Júpiter em Áries. Júpiter, como bem lembrou o Guilherme de Carli, está extremamente próximo da Terra, bem visível e brilhante no céu — em termos astrológicos, essas condições também facilitam certos “milagres” e bênçãos coletivas. Se for vitória no primeiro turno, certamente o fim da retrogradação de Mercúrio e a proximidade de Júpiter em relação à nós tem a ver com isso. Serão esses dois fatores suficientes? Tendo a achar que não, principalmente porque no segundo turno Júpiter já estará de volta à Peixes, onde começou o ano astrológico, e Peixes tem mais cara de encerramento de mandato e renovação de poder do que Áries. De toda forma, esses 3 trânsitos nos levam à uma situação de bastante ambiguidade.
3. Mapa do Ingresso Solar em Libra
Aqui eu vou ser bem sucinta: o mapa do Ingresso Solar em Libra, que analisei a fundo na edição passada, é um complemento ao mapa do ISA. A casa 4, que representa a oposição ao governo, abre em Leão: o regente dessa casa é um Sol em queda na casa 6, bem debilitado. A Lua ocupando bem próxima o ângulo do IC e enfrentando a oposição com Saturno ajuda bastante, mas não favorece muito. Esse não é um mapa que indica uma vitória tão fácil ou dada logo no primeiro turno, ainda mais considerando que este ocorrerá poucos dias após esse Ingresso Solar.
4. Lunação de Libra x Lunação de Escorpião
O primeiro turno ocorre dentro da Lunação de Libra, iniciada em 25 de setembro (mapa da esquerda); o segundo turno ocorre já dentro da Lunação de Escorpião, que começará num eclipse solar (não visível e, portanto, não tão relevante no Brasil) no dia 25 de outubro.
Em critério de desempate, o mapa da Lunação de Escorpião aponta muito mais facilmente a vitória da oposição: no mapa da Lunação de Libra, o regente do ascendente em Áries (que representa o país como um todo) é Marte em Gêmeos em trígono com Saturno em Aquário (governo atual); a Lua, regente da casa 4 (oposição) faz um trígono também com Marte, mas ainda tímido e distante, com má recepção. Parece que ainda não dá pé.
Já na Lunação de Escorpião, o ascendente é Sagitário, tendo como regente Júpiter retrógrado em Áries na 5 (o país), prestes a reingressar em Peixes, na casa 4 (a oposição), um ótimo indício dessa vitória. Júpiter está em oposição ao regente da casa 10 (governo), Mercúrio, e nem enxerga o regente do MC (o líder do governo), que é o próprio Sol eclipsado em Leão na casa 12. O governante atualmente em poder perde — e, a ver pelo mapa, fica em tão mal estado que parece até que “some”, já que esse é a descrição e o significado principal de um Sol que está eclipsado.
Em menos de 2 dias, enfim, teremos a resposta para essa dúvida. Espero que a explicação tenha sido útil e minimamente interessante para vocês — caso sim, me digam para que eu traga mais material de análise pra cá, já que é algo que costumo reservar para os oficinas de astrologia mundana que ofereço. No mais, sigo torcendo para que o combo Mercúrio direto + Júpiter próximo à Terra nos traga a bênção de uma vitória já nesse domingo. Ah, não esqueçam que o e-Titulo só poderá ser baixado até amanhã, viu? E boa votação para nós!
Vênus em Libra
Vênus ingressou em Libra na última quinta-feira e sorte é a nossa que, entre Virgem e Escorpião, signos de tão pouca afinidade para Vênus, existe Libra para prover casa e conforto ao planeta dos prazeres. Vênus em Libra me lembra que ninguém é uma ilha: nossas relações são nossas extensões; como uma balança em si mesma, Vênus em Libra segura um espelho para observar o outro, buscando o equilíbrio por meio da alteridade.
Em Libra, Vênus percorre a realidade sob a lente de beleza e coesão. Signo de ar, que fala de comunicação e da busca pelo diálogo — de encontrar algo de si no mundo. A diplomacia, a conciliação, as boas-relações são qualidades que Libra concede à Vênus. E também a função estética e decorativa, de fazer bonito, de perseguir a perfeição e o equilíbrio; do senso de expressar e cativar artisticamente o mundo.
Vênus é um planeta benéfico talvez em razão do que sua aparência de imediato nos traz: beleza, amor, encontro, harmonia. Enquanto Marte separa ou agride, Vênus une e aproxima. Ela simboliza as relações de forma ampla, como nós nos “unimos” aos outros seres, não necessariamente romanticamente.
Na astrologia mundana, Vênus vai representar vários tipos pessoas: desde as novas elites até a classe artística, por exemplo. Ela também uma representação de figuras femininas, e de fato costuma significar mulheres nos mapas coletivos, embora não exclusivamente (há homens e pessoas não-binárias que podem ser muito bem compreendidos e simbolizados num mapa como figuras venusianas).
A Vênus começou o ano astrológico em março sitiada entre Marte e Saturno em Aquário — entre a cruz e a espada, quase literalmente. Era um indício de que os meses seguintes seriam ainda mais desafiadores para meninas e mulheres, inclusive num nível mundial, já que esse posicionamento foi o mesmo no início do ano de todos os países. No Brasil, o eclipse lunar em maio marcou uma onda de casos de denúncia de feminicídio (listei alguns que vieram à tona logo após nessa edição), e casos de agressão e ataques seguem ocorrendo de forma mais visível e evidenciada; em outro sentido, várias figuras femininas da mídia e do entretenimento estiveram em evidência por terem sido vítimas de misoginia, discriminação, racismo, etc (pensem em quantas crises e controvérsias diferentes jornalistas e artistas não protagonizaram nos últimos meses). Nos Estados Unidos, a Suprema Corte derrubou a decisão do histórico caso “Roe v. Wade”, que há 50 anos concedia às mulheres do país o direito ao aborto legal; essa decisão foi uma derrota geral, atrasando e retrocedendo ainda mais o debate sobre direitos reprodutivos em outros países. No Irã, a morte da jovem Mahsa Amini despertou uma onda de protestos contra o uso obrigatório do hijab imposto pelo governo. Na Inglaterra, a figura feminina mais importante do país faleceu.
Não tem sido um ano fácil para quem é regido ou coletivamente representado pela Vênus, enfim — e o ingresso dela em Libra ainda vem acompanhado do Sol no mesmo signo, ofuscando-a e levantando obstáculos para o pleno relaxamento e prazer que esse planeta simboliza. Só lá pra dezembro que essa Vênus conseguirá ganhar distância suficiente do astro-rei para reaparecer no céu, exibindo seu brilho próprio. Apesar de tudo, a passagem por Libra é como uma oportunidade da retomada de si, estruturada na potência das relações e da beleza (seja lá o que isso signifique para você) como fonte de autoestima, cuidado e confiança. O tempo coletivo é de pressão e decisões importantes, mas a Vênus oferece o espaço devido para o prazer, o encanto e os encontros. Não se percam no caminho, e lembrem de cuidar de si. Ah, e votem em mulheres, de preferência negras e indígenas, que lutam pelos direitos das mulheres.
Fica a indicação da playlist Vênus em Libra, uma antiguinha que criei de forma bem intuitiva, com músicas que me evocam os significados e simbolismo desse posicionamento; sem grandes conceitos por trás, só pela expressão venusiana mesmo:
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um abraço e até semana que vem,
Isis, fantástica a análise sobre o primeiro/segundo turno. E, infelizmente, fez mais sentido ainda após o resultado. ;) Eu acho bacana esse tipo de conteúdo mais “técnico” vir de vez em quando mesclado nos editoriais. Abraço!
Muito bom o raciocínio que pode levar ao segundo turno. Aprendendo muito com você! Obrigada