O que poderíamos esperar de uma lunação que começou com Marte retrógrado em Gêmeos em oposição aos luminares e mais dois planetas, além de quadratura com Júpiter? Cortes e rupturas, a especialidade de Marte, é claro. Erupções vulcânicas na Itália, Indonésia e Havaí viraram notícia — essa última em especial, já que o fato ocorreu após 38 anos sem esse tipo de atividade.
Como previsto, tivemos também grandes eventos importantes no cenário internacional para além da Copa do Mundo, como a destituição e prisão do Presidente do Peru, a prisão de 25 pessoas de grupo de extrema direita que planejava atacar Parlamento na Alemanha e uma carta-bomba explodindo na Embaixada da Ucrânia em Madri. De fato, um céu explosivo se inaugurava na Lua Nova.
Se a primeira metade da lunação nos poupou dos vulcões e bombas (apesar de não termos passado ilesos, já que o ataque a tiros nas escolas no Espírito Santo foi logo após a Lua Nova), tivemos nossos cortes do lado de cá: uma absurda restrição orçamentária decretada no dia 30, impedindo a CAPES de realizar o pagamento de mais de 200 mil bolsas a estudantes e pesquisadores, além da sua própria manutenção administrativa. Com a chegada da Lua Cheia nessa madrugada do dia 8, o que mais vem aí?
Eu chamei a edição que abre essa Lunação de Sagitário de um “ato final” porque ela se abriu mesmo como um período crítico de encerramento após vários meses atribulados, um período de definição de cenário e de exposição de conflitos e enfrentamentos que vem se cozinhando. Tempo de fim, e também de início. Tempo da transitoriedade e do movimento que encaminham as mudanças, como escrevi edição passada.
No fim das contas, parece que o Júpiter em Peixes cravado no MC da Lua Nova representava mesmo (também) o governo de transição — nunca se falou tanto dele, talvez porque seja a transição mais drástica de mandatos presidenciais da nossa história recente. Mas o céu reflete a Terra, e o que aparecia no mapa da Nova, a despeito de um bom Júpiter, não era tão livre e desimpedido quanto gostaríamos. Nos últimos dias, uma expressão apareceu repetidas vezes no noticiário, a ponto de me chamar atenção: “O cenário de terra arrasada para a Educação em 2023, segundo a Transição”. “‘O que identificamos na transição é terra arrasada’, afirma Marina Silva”. “‘Terra arrasada’, diz liderança petista sobre pasta de Direitos Humanos”.
Terra arrasada — a Wikipédia define como uma tática que envolve “destruir qualquer coisa que possa ser proveitosa ao inimigo enquanto este avança ou recua em uma determinada área”. É, de fato, a expressão perfeita para definir os últimos suspiros do mandato bolsonarista: destruir provas e esvaziar os cofres, deixando claro que seu patriotismo não tem nada a ver com amor ou cuidado em servir ao seu povo. Vivemos num encerramento de ano caótico, entre os escombros e ruínas de destruição produzidos nos últimos anos. Há perspectiva de mudança? É claro que sim. Mas há muita reparação a ser feita. Nessa segunda metade da lunação, enfim, atravessamos lentamente a parte final do território do fogo transformador de Sagitário:
A propriedade de transformação é o que marca o fogo de Sagitário: a capacidade de promover uma mudança, depurar, purificar tudo aquilo com o qual se envolve. Ele opera contra a estagnação, a favor de alterar condições dadas. [#58]
É instabillidade e coisa demais acontecendo, eu sei. O que eu posso dizer é que, astrologicamente, seguimos para uma segunda metade de lunação que seguirá, sim, agitada, como todo o ciclo de Sagitário já vem sendo, mas menos agressiva e explosiva do que foi até agora. A estabilidade vem, como prometido, mais para o meio-fim desse mês — com o solstício de verão e a Lua Nova em Capricórnio que inicia a lunação que abrigará o início de um novo governo. Essa quinzena, no entanto, ainda é tempo de controlar focos de fogo, espalhar as cinzas, lidar com os cortes e revirar as ruínas do que restou — querendo ou não, é a partir dessas ruínas, também, que precisaremos agir para começar a reconstruir um tanto do que já se foi.
As paisagens globais de hoje estão repletas desse tipo de ruína. Ainda assim, esses lugares podem ser animados apesar dos anúncios de sua morte; campos de ativos abandonados às vezes geram novas vidas multiespécies e multiculturais. Em um estado global de precariedade, não temos outras opções além de procurar vida nessa ruína.
— Anna Tsing em “Viver nas ruínas: paisagens multiespécies no Antropoceno”
No mais, o que a gente pode fazer em meio à tanta turbulência e instabilidade? Eu não tenho certeza de muita coisa, mas a familiaridade com a qualidade mutável me fez aprender algumas formas de lidar com a dinâmica do turbilhão. Por exemplo, buscar pontos de apoio e firmeza, para não ser arrastado no frenesi do tempo; seguir no movimento de forma flexível, não-rígida, para poder dar conta das mudanças bruscas e inesperadas que seguem ocorrendo; manter constância e disciplina nas ações e práticas que ajudam a sentir-se bem e seguro; reduzir o excesso de ruído e de informação que vem trazendo ainda mais inquietação que de costume. Venho falhando miseravelmente em várias dessas tentativas, mas mantenho o exercício e insistência nelas como norte desse momento.
Vamos lá, então, às previsões para a próxima quinzena.
lunação de sagitário: lua cheia em gêmeos
previsões de 23 de novembro a 22 de dezembro de 2022
No momento do ápice da Lua Cheia no céu, ela se encontrava numa conjunção exata à Marte retrógrado em Gêmeos, ambos conjuntos à estrela fixa Rigel (que vem se ativando em várias ocasiões desde o Ingresso do Sol em Libra) — daí, é claro, o Sol em Sagitário se encontra também numa oposição exata à esse Marte.
A oposição Sol-Marte é perigosa e traz desgaste mais alguma ruptura nas esferas de poder do governo. Depois da votação da PEC no Senado, que mostrou que a base de Bolsonaro já está praticamente toda com Lula, o que mais pode se desmantelar? É preciso criatividade pra pensar no que mais essa Lua em Gêmeos, regente do MC, pode querer dizer. Como venho falando há vários meses, esse é o mapa que me fez atestar a previsão da saída do Bolsonaro do Brasil — o que, dentro do período regido pelo mapa, poderia ocorrer até 22 de dezembro. O péssimo estado de saúde dele nas últimas semanas poderia causar algum atraso sobre esses movimentos, mas é difícil olhar pra esse mapa e não pensar numa viagem internacional da parte dele. Posso estar errada, como já ocorreu outras vezes, mas ainda penso que essa saída se dá antes da Lua Nova em Capricórnio.
Marte também rege a casa 2, então sua conjunção com a Lua acende os temas de orçamento e recursos financeiros do país, o que já é óbvio, dado os últimos eventos mencionados na introdução. Porém, há margem para tomar as medidas necessárias para aprovação de medidas e liberação de recursos para as questões mais urgentes. O setor que protagoniza as questões orçamentárias com maior dificuldade é mesmo a educação, especialmente o ensino básico, ameaçado até pela falta de verba para livros didáticos. Na área da educação, o risco de problemas e atrasos ainda é grande.
Além disso, Marte também rege a casa 7 do mapa, os países estrangeiros: se a Lua Nova prometeu e entregou ações explosivas e de violência de forma meio generalizada, a chegada da Lua Cheia da perspectiva do Brasil, parece concentrar essas ocorrências no cenário externo. Em outras palavras: conflitos e movimentações agressivas se seguem, sim, mas envolvendo outros países, não diretamente nós aqui.
Isso porque, apesar do caos e confusão, esse mapa traz dois alentos para a próxima quinzena: com o ascendente a 1º Libra, ele é regido por uma Vênus em Sagitário que ganha distância do Sol e está prestes a retomar algum conforto em Capricórnio, se aplicando numa quadratura bem próxima à Júpiter em Peixes; além disso, o próprio Júpiter em Peixes faz antíscia (uma conjunção oculta) ao grau do ascendente. Há um certo apaziguamento de tensões, embora elas não se resolvam de vez. A meu ver, no entanto, o pior dessa lunação já passou, com a virada do mês de novembro para dezembro, como previsto.
A proeminência do eixo de casas 3 e 9 significa movimentação e manifestações nas ruas, o que deve mesmo ocorrer por conta dos cortes orçamentários da educação, mas não me parece ganhar fôlego e força para um crescimento e ampliação significativos: a entrada já próxima da Vênus em Capricórnio no dia 10 tende a conter esses movimentos — talvez porque, em parte, por algumas necessidades já terem sido atendidas.
No mais, recomendo redobrar a atenção em viagens e deslocamentos, já que um céu com tanta instabilidade reflete para nós um risco aumentado de dispersão e de acidentes causados por distração ou erros humanos, por exemplo. Pela posição de Júpiter, podemos esperar boas notícias ligadas à vacinação contra a COVID ou outras doenças, mas talvez já lá pro dia 20, às vésperas do novo ciclo.
(E por falar em finalizações, um adendo: ocorre na próxima segunda-feira a cerimônia de diplomação, um ato que marca o encerramento do processo eleitoral em que o Presidente e vice-presidente eleitos são habilitados para exercer o mandato e recebem um diploma assinado pelo presidente do TSE, Alexandre de Moraes. Nesse dia a Lua estará em Leão, recebendo o Sol em Sagitário por trígono, firmando o processo de transição no rito democrático, enfrentando as conspirações, sem ceder espaço para o golpismo.)
para conhecer
Dando continuidade às indicações que fiz semana passada, hoje trago mais 3 artistas e projetos independentes que descobri ou me aproximei de nos últimos meses — e que venho compartilhar, é claro, para que mais pessoas as conheçam também, apoiando seus trabalhos e iniciativas.
A voz amigável da Aline Valek foi trilha sonora de vários momentos desse ano fazendo tarefas em casa. Aline é escritora e ilustradora com vários trabalhos publicados e bem elogiados, mas confesso que eu a conheci mesmo pela voz, no podcast Bobagens Imperdíveis. Como boa contadora de histórias, Aline sabe muito bem como puxar um fio narrativo sobre praticamente qualquer assunto que nos desperte interesse, do fascínio pelo caju (sim, a fruta) aos trapaceiros e golpistas da história. Após três temporadas, ao término dessa última, o podcast entrou numa pausa — mas para a sorte de quem a descobriu agora, tem um monte de bons episódios pra se escutar. Os mais queridos dos ouvintes, aliás, estão reunidos nessa playlist que eu venho degustando aos poucos. Os episódios duram uma média de 20 minutos e, diferentemente de vários podcasts no formato mais improvisado de “programa de rádio ao vivo” (o que também adoro), o Bobagens Imperdíveis é roteirizado, sonorizado e editado com muito cuidado e maestria, como uma boa história narrada costuma ser.
A segunda indicação é a Jadsa, cantora baiana que eu conheci há pouco tempo, mas que me conquistou de cara — desde então, Olho de Vidro toca toda semana aqui em casa. Acho difícil escrever sobre música e nem tenho competência para tal, então a minha recomendação é ouvir, mesmo. (Jadsa, please come to Rio de Janeiro).
Por último, a Fudida Silk: um coletivo-cooperativa de artistas trans que se utiliza da serigrafia para se capitalizar independente de um sistema que privilegia pessoas cis. Como elas mesmas se definem, “a experimentação é a base do nosso processo criativo, que resulta em obras que costuram a intersecção entre Moda e Arte. Subversão de estereótipos de gênero e a relação entre a espiritualidade e pessoas LGBT são nossos principais assuntos” [trecho desse vídeo]. Elas atualmente produzem as peças num ateliê dentro do Espaço Travessia, no Instituto Municipal Nise da Silveira, aberto à visitação (o que também recomendo muito). Além de seguir o perfil do coletivo no Instagram, fica a indicação para as compras de fim de ano: elas vendem as peças na Feira da Praça XV aos sábados e na Feira da Glória aos domingos (na parte mais perto do Passeio Público, do lado direito de quem vai pra Lapa — valeu Íra pela dica!)
(o post acima é de um perfil aleatório, mas linkei aqui porque a foto ficou ótima!)
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um abraço e até semana que vem,
Maravilhosa 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻
Excelente texto! :)