Chegou a edição de virada de ano — ano do calendário, é claro, pois a essa altura vocês já provavelmente sabem que o ano astrológico se inicia com o Ingresso Solar em Áries, o que costuma ocorrer no dia 20 de março. Ou seja, até lá, seguimos no ano astrológico de 2022 mesmo. Mas não deixa de ser uma virada simbólica na nossa experiência coletiva, né?
Hoje temos uma edição curtinha, basicamente só para falar um pouco sobre a minha interpretação de significado das retrogradações que estão rolando & o retorno de uma playlist querida para curtir o fim do recesso.
Na manhã da última quinta-feira, dia 29, Mercúrio em Capricórnio iniciou seu movimento retrógrado, que irá durar até 18 de janeiro. Já Marte em Gêmeos, que está retrógrado desde 30 de outubro, irá retomar seu movimento direto um pouco antes de Mercúrio, no dia 12 de janeiro. A edição #60, publicada no fim de outubro, foi todinha sobre essa importante retrogradação de Marte — e um dos melhores textos que escrevi esse ano, modéstia à parte. Aliás, cabe reler e retomar pelo menos um trechinho para falar hoje novamente sobre retrogradação:
“A compreensão de que as coisas que nos ocorrem podem ser reinauguradas e revisitadas de muitas formas: o que frustra ou não se entende, hoje, pode sim ser compreendido ou modificado amanhã. O que já se viveu muda ou se ressignifica nos meandros do tempo. Sim, o estudo da astrologia ensina que o destino nos oferece ou nos priva de certas possibilidades na vida, mas é maleável e flexível sobre como passamos e nos afetamos por essas experiências. […]
O convite que faço nessa retrogradação, enfim, é à reinauguração do passado, à revisitação do que já passamos a partir de ações do tempo de hoje. Não cabe a indiferença ou ignorância sobre o que já nos ocorreu, mas o ditado de Exu é um lembrete sobre o poder da ação entre as frestas abertas no tempo.”
Refazer, reparar, fazer manutenções, revisar, desacelerar e lidar com os retornos são alguns eventos associados aos períodos de retrogradação. No próximo dia 6 de janeiro, teremos uma Lua Cheia em Câncer numa oposição acirradíssima como Mercúrio retrógrado em Capricórnio. Enquanto uma Lua Câncer expressa o fluxo livre de emoções e capacidade aguçada de percepção, um Mercúrio em Capricórnio representa uma habilidade de ordernar e trabalhar concretamente com materiais e objetos que carregam o valor (além dos efeitos e do peso) do Tempo. Nessas retrogradações em curso, me parece pertinente encará-las como um chamado de atenção e interesse sobre nossas memórias pessoais e coletivas, pensando em formas concretas de considerá-las em nossas vidas presentes. Materializar a memória pode ser uma boa forma de ressignificar as experiências de tempos passados e nos manter com os pés firmes sobre o estado atual do que vivemos — afinal, querendo ou não, o passado ecoa em nosso presente constantemente, e fica mais fácil agir e fazer escolhas quando o percebemos com mais clareza.
Honrar a memória é uma forma de celebrar a própria vida. Essa ideia me veio nos últimos dias, enquanto revivia uma relação muito próxima com minhas memórias pessoais: há algumas semanas, decidi fazer álbuns de fotografias impressos para mim mesma e para meus familiares. Senti desejo de voltar a ter a esses registros materializados, disponíveis para serem folheados à mão e observados espontaneamente num dia qualquer na sala de casa, sabe? A ideia de que pelo menos metade da memória visual da minha vida estar em arquivos e pastas no computador começou a me incomodar um pouco — tanta foto digital pra fazer o quê com isso, afinal? Para ver em que momento? Não é demonização da tecnologia, até porque sou uma pessoa que gosta e sabe lidar com ela. Mas sei, também, que nossa subjetividade e relação com a memória tem sido esfriada e distanciada com a introdução de tantas ferramentas que supostamente vieram facilitar a nossa vida — mas que acabaram nos privando de outros aspectos importantes e menos óbvios. Escolher conjuntos de fotos, imprimi-los e ordená-los (com muito ou pouco critério) em folhas de papel tem sido trabalhoso, mas muito satisfatório. Aliás, especialmente nesse climinha de fim de ano, tem me ajudado a olhar para trás de forma mais generosa, e lembrar coisas que já havia esquecido. Acho que respeitar a memória (que nem sempre é boa ou agradável, diga-se de passagem) é uma forma de nos reencontrar na própria vida. Se situar no tempo-espaço. Isso vale pra vida pessoal de cada um, mas também para nossa vida na coletividade — e, como bem sabemos, o Brasil é um país que trata seu patrimônio, tradições e memória muito mal. Vários problemas com os quais lidamos tem a ver com isso também.
“Na mentalidade moderna-capitalista-ocidental mais comum, manutenção é trabalho inferior ou, na melhor das hipóteses, um tempo mal gasto — afinal, temos mais é que produzir, seguir em frente com as coisas, seguir rumo ao progresso. Mas e se nós tratássemos a manutenção como o que de fato ela é — uma necessidade natural, tão valorosa quanto a iniciativa e a busca pelo novo? Talvez a má reputação da retrogradação também seja reflexo de uma visão do mundo como um território a ser constantemente descoberto e explorado, raramente protegido e conservado como deveria.” [trecho da edição #9]
Talvez revisitar a memória ou o tempo passado, para você, possa ser retornar a um local no qual viveu uma época, reencontrar situações que não estava há muito tempo. Talvez seja fazer, como eu, um álbum de fotos dos últimos anos. Talvez seja reler diários de infância e adolescência. Retornar com alguma atividade ou hábito que tenha abandonado. Retomar contato com alguém que se distanciou. Lembrar histórias e experiências passadas numa conversa com alguém íntimo. Recordar, enfim, de quem e como você já foi — não como um peso para ser arrastado por aí, mas como um lembrete de que ainda podemos ser e viver muito mais.
Desejo a vocês uma boa virada de ano, uma boa retrogradação de Mercúrio e uma boa chegada da Lua Cheia na semana que vem. Abaixo, aproveito para indicar uma playlist e fazer mais agradecimentos. Feliz 2023!
bubuia
Era uma vez uma playlist chamada bubuia, criada por mim em setembro de 2021. A ideia dela era simples: uma seleção de músicas gostosas e agradáveis para se ouvir enquanto se faz nada de muito útil: uma seleção feita para gloriosos momentos de leveza e preguicinha. O nome vem do tupi mbe'mbuya, que significa algo "que é leve" e também "o que boia ou flutua". Lá no Amazonas, de onde minha família materna vem, se fala "ficar de bubuia" como sinônimo de descanso mesmo.
Bom, num surto qualquer de limpeza eletrônica esse ano, deletei a pobre da playlist porque a achava parecida com uma outra minha, manhãzinha. Me arrependi, porque tanto não era tão parecidas, quanto soube depois que pessoas queridas sentiram falta da dita cuja. Me comprometi a refazê-la ainda melhor, mas mantendo o espírito original. Apresento a vocês, então, bubuia versão 2.0:
um agradecimento
Há algumas semanas, recebi um e-mail do Substack me parabenizando por atingir mais de 100 assinantes pagos aqui na Meio do Céu — um marco que veio acompanhado de um selinho laranja que agora aparece do lado do meu nome de autora no aplicativo e no site da plataforma (ui!).
Certificações à parte, trazer a newsletter para o Substack foi uma das melhores decisões que tomei esse ano: além de ser uma plataforma focada no conteúdo e escrita (e não em e-mail marketing), ela me ajudou a conhecer muitos outres escritores e autores independentes que publicam por aqui. Minha rede cresceu, enriqueceu e me fez conhecer muita gente legal. Sou grata por poder escrever e me conectar de forma mais significativa com mais pessoas — diferente do que corre e se perde numa passada rápida no feed, vários textos que li por aqui me marcaram ou trouxeram reflexões importantes.
Além disso, sou muito grata a vocês que tiram um tempinho pra me ler semanalmente. Eu até que sonho alto, mas não imaginei que encerraria o ano com mais de 2 mil assinantes e 145 apoiadores na Meio do Céu — apenas 8 meses após ter migrado para cá. Sempre que a oportunidade convém, volto a agradecer por vocês viabilizarem esse trabalho de pesquisa, prática e escrita astrológica de uma perspectiva coletiva. Nunca achei que receberia apoio direto de outras pessoas para financiar meu trabalho no ramo da astrologia mundana, e hoje valorizo demais quem me dá oportunidade de seguir com esse ofício que amo tanto. De coração: obrigada. Em 2023 teremos muito, muito mais.
No mais, fica a recomendação para vocês baixarem o app do Substack que agora está disponível também para Android, porque é uma delícia ter um aplicativo no celular com um feed limpo e com o conteúdo de qualidade de quem você gosta de ler. Tenho trocado horas a fio vendo vídeos e fotos em outras redes por uma meia horinha de leitura diária de newsletters que me fizeram companhia nesse ano, uma mudança que só me fez bem — a quem interessar saber quais são, dá pra ver no meu perfil.
um abraço e até semana que vem,