Em algum momento, no grande emaranhado de tempo que foram os últimos 3 anos de pandemia, comecei a escrever com regularidade e frequência. Abrir o editor de texto e me fazer escrever, toda semana, mudou muito a minha vida. Houve semanas em que escrever era a última coisa que gostaria de fazer, e teve outras em que enfileirar os pensamentos em palavras nessa newsletter me ajudou mais do que consigo imaginar. Invariavelmente, segui fazendo isso aí — escrevendo, muito, e quase sempre.
Os últimos dias foram difíceis, e, entre mil responsabilidades e frustrações, voltei a pensar nessa tarefa que é escrever, editar e publicar, semanalmente, a Meio do Céu. É uma tarefa trabalhosa para se fazer sozinha e numa frequência tão regular; ao mesmo tempo, pensando em qual dos pratinhos eu ia ter que deixar cair essa semana, senti que abandonar esse espaço não era a melhor decisão. Acho que a aquela frase que citei há duas semanas atrás — a forma como passamos nossos dias é a forma como passamos nossas vidas — segue ecoando na minha cabeça. E o fato é que, além de ter que cumprir várias tarefas burocráticas ou banais, gosto bastante de passar algumas horas por semana escrevendo o que penso, percebo e interpreto sobre os símbolos que se manifestam no meu entorno. Isto é, se for pra escolher falhar em algum lugar, que seja num que eu me satisfaça menos. (Tô falando de mim, eu sei, mas acho que essa lógica cabe para outras pessoas: na pilha de tarefas e obrigações semanais, se a gente não aparar algumas arestas, não sobra espaço algum para fazer aquilo que gostamos, e que muias vezes não é estritamente útil ou necessário.)
Qual a saída para dar conta de tudo, então? Eu não sei, porque eu mesma não dou. No meu caso da tarefa de escrever, talvez seja escrever menos, ou numa frequência menor. Ou talvez seja, no fim das contas, largar mão de tanta cobrança, ter mais flexibilidade sobre as variáveis da vida. Em tempos de tanta conversa e evidência sobre inteligência artificial, o maior trunfo e motivo de aplauso dessa tecnologia parece ser sua infalível disponibilidade: ela está sempre a postos para ser utilizada, com respostas e resultados que chegam em segundos. Só que a gente segue aqui: eu, você, nós, continuamos sendo humanos à beça nesse mundo tão permeado de eficiência e prontidão digital. Não cabe uma comparação. Boa parte (talvez a mais interessante) de ser humano implica em viver de forma cíclica e inconstante, e não a toque de caixa. Viver em falha. Acho que é até um alívio, né? Eu poderia vir aqui toda semana e escrever previsões objetivas e pontuais sobre cada lunação, mas não me interessa um formato distante, visando a pura eficácia e exatidão — sou bem humana, com uma cabeça cheia de ideias e pensamentos para além de informações. O que produz essa escrita semanal é justamente minha experiência de pessoa inteira, não só de uma mente que reúne e conecta os fatos reais à linguagem. Então essa introdução é, acima de tudo, um desabafo, o compartilhamento de um estado pessoal atordoado, que talvez vocês também estejam sentindo, talvez não. Se esse for o caso: tamo junto, tentando segurar a marimba e desviando dos vários obstáculos e desgostos do caminho. E acho que essa é a deixa pra falar da quadratura da Vênus em Peixes, então vamos lá.
Vênus em Peixes quadra Marte em Gêmeos
procurando sentido no turbilhão
Vou começar bem honesta: levei um caldo da Vênus em Peixes. Quem me acompanha no Twitter deve ter visto um breve fio que escrevi na noite do ingresso da Vênus nesse signo que é sua exaltação, e ele começava assim:
Só que eu estava bem enganada. Apesar de transitar por Peixes, num signo de grande afinidade para ela — e sim, já ter enfrentado aspectos bem mais difíceis nesse ano astrológico —, a pressionada do lentíssimo Marte em Gêmeos contra a Vênus em Peixes vem bagunçando o coreto geral. Afinal, dói mais um golpe em confronto direto, aberto, inconfundível, ou a sensação de estar sendo cutucada e perturbada de forma menos incisiva, mas por bastante tempo? É um ruim diferente, mas ainda ruim.
O Marte que transita hoje no céu está bem lento e peregrino, sem grandes armas para o combate, mas se equipa das ferramentas de Mercúrio (pois está em Gêmeos) para afrontar a Vênus: cheio de nervosismos, não permite o extravasamento, dispersa interesses, provoca confusão e enche a cabeça de pensamentos intrusivos. Ele pressiona a Vênus como se colocasse uma série de questionamentos para ela, duvidando de sua abertura e disposição: mas você sabe o que está querendo fazer? Tem certeza? Já foi checar se é isso mesmo? E se aquela outra coisa acontecer? E a Vênus exaltada responde: não sei, nem quero saber, mas vou atrás, porque tenho vontade de descobrir. Talvez ela quebre a cara no caminho, mas vale a pena passar pela experiência: o erro e a falha também nos ensinam, e a Vênus em Peixes tem sede de grandes aprendizados. O que me lembra da frase do grande ícone que nos deixou essa semana (mais uma perda de uma figura relevante da mídia ocorrida durante um trânsito difícil da Vênus):
“Eu sou uma pessoa movida pela curiosidade e pelo susto. Se eu parar pra pensar racionalmente, não faço nada. Tenho que perder a racionalidade pra ir, deixar a curiosidade e o medo me levarem, que aí eu faço qualquer coisa.” — Glória Maria
Nenhum aspecto astrológico, porém, é uma briga do “bem contra o mal”. Com o acirramento dessa quadratura, os últimos dias podem ter trazido desconfiança sobre sentimentos, receio em atender os próprios desejos, o retorno de comportamentos destrutivos ou hábitos viciosos, pequenos acidentes, desentendimentos e até doenças (eu mesma tive uma virose, um tema de Vênus!) — afinal, é da natureza da quadratura levantar o que há de mais difícil sobre os planetas envolvidos. Mas pode ter despontado, também, a necessidade de fazer alguns cortes, literais ou metafóricos, como evoco no título dessa edição. Se há coisa demais para se lidar agora, pode ser a hora de experimentar deixar algum pratinho cair, como mencionei na introdução — de preferência, aquele que pode vir a abrir espaço para reencontrar um pouco de confiança e prazer nos seus dias (e, é claro, deixar cair aquele que não vai prejudicar alguém mais vulnerável que dependa de você).
Como dizem Luiz Antonio Simas e Luiz Rufino, "o contrário da vida não é a morte, mas o desencanto”, e essa quadratura de Marte contra a Vênus em Peixes nos força a procurar meios de refazê-lo em nosso cotidiano. Fácil? Definitivamente não. Mas é nesse tipo de quadratura, entre signos mutáveis, que mudanças significativas podem vir a ser operadas — e para que isso ocorra, precisamos estar dispostos a fazer a parte que nos cabe.
A partir de amanhã, a quadratura Vênus-Marte já estará separativa e o tensionamento começa a afrouxar pouco a pouco, a cada dia. Daí, pode ficar um pouco mais fácil reconhecer, identificar e dar vazão ao que se sente e deseja, para além das dúvidas e preocupações que perturbam o pensamento. A fé se dá na insistência — esse é, sim, o momento de lembrar do que realmente nos satisfaz e nos conecta à vida em sintonia e pertencimento. Daí, quando a Vênus alcançar Áries, poderemos enfim recolher os cacos que ficaram e encher o peito de ação e coragem para seguir.
Lunação de Aquário
Lua Cheia: previsões coletivas de 5 a 19 de fevereiro 2023
A Lua em Leão alcança o ápice de sua oposição ao Sol em Aquário na tarde de hoje, domingo, por volta das 15h30: é a chegada da Lua Cheia, marcando a segunda metade dessa Lunação de Aquário. Como de costume, a Lua Cheia em Leão nascerá no horizonte leste no momento em que o Sol se pôr, bem oposta à ele, um evento que vale a pena observar ao vivo.
Se as dinâmicas de poder e conspirações correram por baixo dos panos desde a Lua Nova, agora elas correm a olhos vistos; na verdade, muita coisa já veio à tona só com a proximidade da Lua Cheia, como a operação golpista envolvendo Bolsonaro, Marcos do Val e Daniel Silveira (preso na última quinta-feira), tendo como alvo Alexandre de Moraes. A segunda metade dessa Lunação de Aquário estende e fortalece os temas de vigilância e punição de criminalidade despontados desde o início do ciclo, com o diferencial de que, agora, os fatos estarão muito mais expostos e visíveis ao público do que no início do ciclo.
Saturno em Aquário: vigilância, controle e punições
O período coberto por esse mapa da Lua Cheia envolve poucos aspectos entre os planetas, mas alguns muito significativos. O grande destaque do mapa é Saturno a 26° Aquário, fazendo um trígono quase exato ao ascendente a 27° de Gêmeos. Esse Saturno já está, atualmente, sob os raios do Sol, mas nas próximas semanas será engolido pelo astro-rei, cada vez mais próximo ao horizonte oeste, e só ressurgirá visível no céu entre 5 e 8 de março. A combustão pelo Sol atinge seu auge no dia 16 de fevereiro.
Em termos simbólicos, um Saturno sob proximidade solar se torna ainda mais saturnino, e sua expressão fica mais rígida, intensa e implacável. Não há dúvidas: a próxima quinzena será marcada por uma forte imposição de autoridade por parte do Poder Judiciário, tanto por meios visíveis e diretos, quanto por meios mais descentralizados. Mecanismos de regulação e controle mais rígidos em relação à conspirações golpistas, grupos virtuais e máquinas de fake news podem ser testados, assim como outros recursos e ferramentas de vigilância. Novamente, como já ocorreu em outras ocasiões nesse ano astrológico, o STF parece ser um forte protagonista desse período — talvez com sua atuação mais sólida até então.
Outros temas que envolvem essa dupla de Saturno e Sol em Aquário são os tribunais, julgamentos e processos judiciais. É possível e até provável, por exemplo, que ocorra o retorno do julgamento e a declaração de inconstitucionalidade do Marco Temporal, paralisada desde outubro, até o final dessa lunação, pela ênfase da casa 9 nesse mapa.
Podemos ter alguma ativação importante também em relação a assuntos de outros tribunais e processos judiciais, inclusive os de âmbito internacional, embora me pareça que a ênfase aqui seja a nível interno mesmo, especialmente aqueles envolvendo questões territoriais e dos meios de comunicação. As ações significadas por Saturno nessa quinzena, contudo, não passam despercebidas: por formar uma oposição quase exata à Lua do mapa do ISL, o mais provável é que se reacendam manifestações e protestos contra as medidas tomadas.
Mercúrio em Capricórnio: gastos indevidos e inquéritos em curso
Mercúrio transita agora nos graus finais de Capricórnio, ingressando em Aquário em 11 de fevereiro e ganhando mais velocidade a cada dia que passa. Seu único aspecto (à exceção da Lua) nessa lunação será o sêxtil com Júpiter em Áries no dia 17. Nos últimos meses, Mercúrio vem significando eventos ligados a gastos públicos indevidos, corrupção e dívidas, e aqui parece reforçar esses temas, mas os encaminhando para um cenário de justiça e julgamento. Outro assunto desse Mercúrio tem a ver com os inquéritos abertos sobre o genocídio yanomami, que opera investigando por várias frentes de ação, e pode mostrar descobertas e fatos bem contundentes até o fim desse ciclo, especialmente envolvendo empresários, donos de aeronaves e agentes políticos do governo passado.
Quadratura Marte e Vênus: entre danos e polêmicas
A nível coletivo, essa quadratura coloca figuras venusianas — o que inclui artistas, mulheres em destaque, líderes religiosas e personalidades do mundo da mídia e entretenimento — sob holofotes bastante controversos, para dizer o mínimo. Há muita exposição, até um pouco desmedida, embora a força de Vênus prevaleça e ela saia do aspecto melhor que Marte.
Há uma série de significados possíveis aqui, e vários já ocorreram: o próprio falecimento de Glória Maria, o anúncio de cirurgia e pausa do streamer Casimiro e o cancelamento do bloco de carnaval da Preta Gil por conta do tratamento de uma doença são alguns deles. Apesar disso, o aspecto ainda é forte e pode trazer muitos outros mais, durante essa segunda metade do ciclo, tomando a forma de dificuldades, desacordos, suspensões e doenças ligadas à figuras do entretenimento; felizmente, pelo melhor estado da Vênus, me parecem ser cenários contornáveis. Mudando um pouco de área, duas figuras bolsonaristas que me vêm à mente e podem sofrer uma repreensão mais dura nesse período são a recém-empossada senadora Damares Alves e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que está de volta ao Brasil. Algum tipo de penalidade ou dano para elas? É possível. E falando nisso, essa quadratura Vênus-Marte no mapa da Cheia também carrega a possibilidade de prisão ou suspensão, especialmente para lideranças menores do poder ou figuras representadas por Marte (policiais e militares). No mínimo, ocorre algum tipo de atrito ou ruptura mais evidente entre essas figuras marciais e mulheres eminentes no campo político e/ou religioso. Como tudo na astrologia, há camadas e camadas de significados: todos esses podem ocorrer, ou apenas alguns deles. Vamos observar.
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um abraço e até semana que vem,
Maravilhosa sua colagem :) Excelente reflexão sobre a necessidade de nutrir aquilo que nos ampara no dia a dia, especialmente quando temos menos energia. Obrigada pela partilha generosa.
Agora entendi o porquê de ter parado no meio da semana pra reavaliar minhas escolhas e repensar prioridades.