Olá! Cá estou eu com nossa tradicional edição dominical de volta. O tema principal de hoje é a chegada da Lua Cheia em Virgem, que marca o início da segunda metade da atual Lunação de Peixes e começa a preparar terreno para o Ingresso Solar em Áries, também conhecido como o ano novo astrológico. É clima de fim de temporada mesmo, tempo de mudanças, decisões e encaminhamentos.
Muita gente, aliás, veio comentar comigo essa semana sobre mudanças acontecendo, novidades e grandes movimentações na vida pessoal. Como eu costumo lembrar por aqui, muitas vezes a nossa experiência individual destoa da realidade coletiva, e não é porque a astrologia não funciona, mas justamente porque seu funcionamento é mais complexo do que a maioria de nós consegue imaginar. Sobre isso, aliás, resgato um trecho de um texto escrito há muitas edições atrás:
“Numa das saídas que fiz para resolver alguns problemas, caminhando, me dei conta de como a realidade das ruas lá fora — relativamente amena e sociável — destoava muito de como eu estava individualmente, com sensações e preocupações difíceis ocupando a mente. Há sempre um abismo entre o eu e o todo, pensei. Vejo que parte da nossa experiência humana tem a ver com se reconectar, pertencer e se reconhecer lá fora, já que somos filhes de uma época com tanta ênfase no individual, em que tudo se trata da gente mesmo. Os deslocamentos da minha semana, alguns deles trazendo angústias, também vieram como um imperativo gentil: saia de si. Não para escapar, mas para perceber outra realidade. Como estudo, pesquiso e escrevo sobre astrologia mundana, a astrologia que é das coletividades, me vejo obrigada a trazer mais uma máxima: se quiser entender como está o céu do dia, vá às ruas. Perceba as nuances do clima, das pessoas, dos fatos corriqueiros. Essa é uma atenção sutil, mas é a teoria purinha na prática. A nível individual, nós raramente somos bons espelhos do mundo — e melhor que seja assim, pois esse seria um encargo um pouco pesado e repetitivo. Enquanto agrupamento, porém, nós temos na teia coletiva das pessoas e dos eventos um reflexo bastante preciso do que se observa lá no alto.”
No mais, eu não sei vocês, mas a conjunção Vênus-Júpiter em Áries — que tem muito a ver com esse tanto de mudança e recomeço dos quais falei na edição passada — me deu uma injeção de ânimo como não acontecia há um bom tempo. Uma pegada meio aquele meme “viciado em viver”, sabe? Sei que não deve ser o caso de todo mundo, pelos motivos que já escrevi, mas cabe a mim dizer que a conjunção desses dois planetas benéficos no signo que inaugura o zodíaco é bastante favorável para correr atrás do que se deseja: dar um gás no que ficou se arrastando nos últimos meses, criar coragem começar coisas novas, exercitar a iniciativa. Pode ser o combustível que vai dar uma ajudinha em tudo isso aí, mas pra isso é preciso se mexer, viu? Como meu colega Guilherme bem lembrou essa semana, Áries é território de Marte e essa conjunção favorece quem se mexe e vai à luta. Ficar em frustração ou amargura vendo a vida passar, nesse momento, é um desperdício ainda maior.
(Um adendo: a editoria do drink da Vênus em Áries vem na próxima edição, ok? Mas vocês vão receber uns spoilers lá pelo Instagram, já nos próximos dias. Ah, e uma última coisa: não sei se mais alguém reparou, mas eu pulei a edição #73! A minha cabecinha na volta das férias não tava muito boa, então aviso agora pra ninguém estranhar. No fim das contas, não me apego demais a esses números porque tem muitas edições especiais já publicadas para além da contagem regular.)
Lunação de Peixes
Lua Cheia em Virgem: previsões até 20 de março de 2023
Nessa semana tivemos (um pouco tardiamente) a oficina de prática de astrologia mundana sobre a atual Lunação de Peixes, e foi mais um encontro especialmente proveitoso para pensar junto sobre os mapas e elaborar as previsões dessa quinzena. Eu costumo inserir essa nota de participação no fim do texto, mas hoje vou destacar logo aqui no começo: as previsões escritas a seguir tiveram colaboração direta da discussão coletiva dessa oficina, em que participaram ao vivo Bia Cardoso, Carola Braga, Lucas Scoralick, Mariana Brasil, Patricia Guedes, Patricia Nardelli e Sarah Marchon. Valeu, turma!
O encontro entre a Lua em Virgem em oposição exata ao Sol em Peixes — o que chamamos de Lua Cheia — se dará no eixo das casas 5 e 11 no mapa calculado para o Brasil. Toda chegada de Lua Cheia carrega também uma carga dramática, pelo tensionamento natural entre duas formas de existir e se comportar: o Sol em Peixes exprime o desejo do êxtase, de estar em uníssono e sintonia a algo maior; uma espécie de consciência do todo que pulsa dentro de si e possibilita a busca por conexão com outros seres. Não se explica, se sente. Do outro lado, a Lua em Virgem se mostra como o instinto de querer entender e analisar as pequenas coisas, no anseio de conseguir elucidar o que ainda não se sabe; é voraz pelo conhecimento e pelo aprendizado, como uma criança que corre num jardim com uma lupa na mão, percorrendo a superfície das coisas com curiosidade (e um certo atrevimento, claro, não à toa que Virgem faz antíscia com Áries). São formas avessas para compreensão e conhecimento do mundo, ambas necessárias à existência e manutenção da vida.
A observar o mapa dessa Lua Cheia, porém, fica evidente que esse embate tem um elo mais frágil: a Lua em Virgem é regida por Mercúrio. Um Mercúrio que, no mapa, aparece em Peixes, um signo que confunde a retidão racional desse planeta, e que se aproxima cada vez mais do Sol, entrando na zona em que a luz solar invade e faz desaparecer do céu os outros planetas. (Uma imagem: um carteiro com uma bolsa carregada de correspondências que precisa atravessar um rio cheio a pé, debaixo de um Sol tão escaldante, que dificulta ver bem onde ele pisa).
Na prática, a chegada dessa Lua Cheia vem nos lembrar que a visão crítica do mundo é fundamental para nossa existência, mas levar a vida na toada apenas do que faz sentido para si é insuportável. Simplesmente porque não existe perspectiva única, porque nem tudo se explica em termos simples e binários, e porque não cabe querer analisar o que é da ordem do incompreensível. A gente planeja e não dá certo, tenta organizar e se frustra, busca compreender e não consegue. Se me cabe algum conselho nessa virada de Lua Cheia, acho que seria esse: espere o inesperado, desapegue do que a mente ansiosa insiste a qualquer custo, siga o fluxo do que os acontecimentos lhe mostram, tenha fé no improvável, pense além do que é óbvio ou automático para você. Se apegar demais ao que se planejou e falhou vai ser a receita para a decepção. Cobrar muito de si, de sua própria performance e do que consegue fazer pode vir a trazer uma enorme sensação de desapontamento e fracasso — aliás, mesmo que dê conta de tudo que se cobrou, talvez os resultados fiquem aquém do que se espera.
O que eu quero dizer é que, às vezes, o que a natureza do Tempo nos convida a viver tem menos a ver com habilidade, destreza e exatidão, e mais com a malemolência de confiar e aceitar seguir sem ter certeza das coisas. Não se martirizar nem medir o próprio valor pelo que conseguiu ou não cumprir conforme se havia imaginado. Tanto o dispositor do Sol em Peixes, Júpiter, quanto a regente do ascendente, Vênus, dividem espaço em Áries na casa 12: também há liberdade na falha, no imprevisível, no não saber. E talvez uma das únicas certezas seja, afinal, a de que essa não é uma experiência solitária. Para os mais controladores, é claro, tudo isso pode soar insuportável — e para nós (me incluo nessa), ter um vislumbre do que vem aí pode tranquilizar um pouco. Vamos às previsões, então:
A primeira coisa importante a se dizer é que a Lua Cheia ou Nova que antecede o Ingresso Solar em Áries tem especial relevância nos acontecimentos do país para aquele ano; é o caso desse mapa, que, embore contenha previsões e eventos até 20 março, traz também alguns spoilers do que podemos esperar para esse próximo ano astrológico.
Oposição Sol-Lua, Mercúrio debilitado sob os raios do Sol
Vou começar pela parte mais difícil, pois esse é o ponto de maior fragilidade do mapa. Se numa esfera subjetiva a oposição Sol-Lua com Mercúrio prejudicado venha a trazer frustrações e falhas em relação à rotina, meios de comunicação e desempenho intelectual, há questões mais sérias que esses aspectos também parecem indicar.
O Sol rege a casa 4 e está conjunto à estrela fixa Achernar, enquanto a Lua em Virgem se opõe à ele e Mercúrio, sendo regente da casa 3: há um risco aumentado de mais uma leva de fortes chuvas e, consequentemente, enchentes e alagamentos. Tenho feito alguns estudos sobre esse tema a partir de mapas de lunação, e infelizmente, apesar de já termos vivido o grande desastre no litoral paulista no último mês, me parece que há perigo também para essa próxima quinzena, especialmente nos dias da Lua em Virgem (da madrugada de 6 até a manhã do dia 8) e da Lua em Sagitário (dias 13 e 14).
Outra questão que a situação complicada de Mercúrio coloca nesse mapa é a de pessoas e locais relativos à casa 5: podemos estar falando de locais de entretenimento como shows e festas ou de artistas, porém, pela ênfase mercurial, me faz pensar diretamente em crianças e locais como creches. A posição de Mercúrio levanta a necessidade de cuidado extra e prevenção em relação a esses temas no âmbito coletivo, pois o mapa mostra um risco aumentado para dificuldades, acidentes e até desaparecimentos. Por outro lado, a Lua também vem protegida por uma conjunção oculta (ela está em antíscia) com Júpiter em Áries na casa 12, o que me faz pensar num golpe de sorte que pode vir a evitar uma situação ruim ou problema pior. Vale lembrar que esse tipo de previsão não deve ser encarada como razão para pânico, mas sim para redobrar cuidados possíveis, já que todo mundo tem períodos mais suscetíveis a certos riscos do que outros; nesse caso, tratando-se de seres que já são vulneráveis, cabe à coletividade se atentar mais a isso para contornar possíveis ameaças. O período de 11 a 14 e o dia 17 seriam as datas mais complicadas e sensíveis nesse sentido.
Júpiter e Vênus em Áries na casa 12
A conjunção dos dois benéficos numa mesma casa não é um evento tão corriqueiro para ser ignorado: no último Ingresso Solar em Áries que tivemos a conjunção deles em Touro, por exemplo, foi quando tivemos a sanção da Lei de Cotas. Embora esse seja apenas o mapa da Lua Cheia que antecede o próximo ingresso, me parece que essa dupla indica alguns avanços importantes em relação aos temas de casa 12: serviços sociais e assistenciais, desemprego, situações de isolamento, o sistema carcerário, conspirações, processos sigilosos ou secretos, etc.
O terrível caso de trabalho análogo à escravidão em vinícolas no Rio Grande do Sul foi um evento despontado logo no início dessa lunação, e a presença dessa dupla planetária na casa 12 reforça esse tema, podendo significar ampliação do alcance do enfrentamento a esse tipo de crime. A relação se estreita ainda mais por Júpiter estar conjunto à estrela Alpheratz, de natureza benéfica, que trata de libertação e busca por autonomia — justamente os significados que a casa 12 costuma privar ou limitar. O efeito positivo de Vênus e Júpiter nesse local pode se dar de forma imediata com novas denúncias vindo à tona e liberação de mais trabalhadores, como também a médio prazo, na forma de indenizações e direcionamento de orçamento para fiscalização; houve cortes importantes nessa área no último governo e falta de auditores fiscais, então provavelmente estamos lidando com a ponta do iceberg de um problema muito maior. A posição de Vênus-Júpiter (complementada pela antíscia de Júpiter com a Lua em Virgem) nessa casa aponta para uma importância dos assuntos de casa 12 que, entre outros, incluem também essas situações de limitação de liberdade e aprisionamento.
Outros significados possíveis daí são novidades em relação a programas de assistência social — como o Bolsa Família, recém-inaugurado essa semana — no sentido de ampliação, aplicação de verbas, envolvimento de mais pessoas ou força de trabalho, etc. A reforma tributária também é um assunto regido por Júpiter nesse mapa e pode envolver pontos ligados aos temas da casa 12.
Enfim, a dupla Vênus-Júpiter em Áries parece trazer algum tipo de benefício e melhoria significativo no âmbito de casa 12, incluindo a atenção e busca de melhoria para a situação daqueles que vivem em situações de marginalidade, restrição e falta de acesso; o reconhecimento do trabalho de pessoas que dedicaram suas vidas a essas causas também é uma possibilidade que esse mapa abarca e que pode se expressar, por exemplo, na forma de homenagens ou memoriais (a lembrar, o assassinato de Marielle Franco irá completar 5 anos muito em breve).
Marte na casa 2 em quadratura com Mercúrio e Sol
Com Marte regendo a casa 7 e presente na casa 2, fica fácil atribuir o posicionamento a um tipo de suporte ou investimento de países estrangeiros na nossa economia — por exemplo, o apoio dos Estados Unidos ao Fundo Amazônia, reforçado nos últimos dias pelo enviado especial do governo americano, John Kerry. Apesar disso, tudo que tange finanças, nesse mapa da Lua Cheia, aparece de forma meio caótica: A casa 2 é regida pelo mesmo Mercúrio prejudicado lá na casa 11, o que indica algum tipo de frustração em relação ao que foi acordado, ou mesmo atraso e enrolação. A casa 2 é o local onde a lunação se iniciou, e a ênfase sobre assuntos orçamentários e administrativos é evidente nesse ciclo, mas tudo isso parece um pouco bagunçado a partir da virada dessa Lua Cheia — pelo menos até Mercúrio ingressar em Áries, o que ocorre no dia 19.
Para nós, pessoas comuns, fica o alerta também de redobrar a atenção em relação ao próprio dinheiro, pois além de Mercúrio reger a casa 2 e perder visibilidade pelo Sol, ele também caminha para uma quadratura com Marte, regente da 7 e 12: há um risco maior de gastos inesperados, golpes e perda/sumiço de dinheiro mesmo. Se atentem nas operações, transações e negociações que fizerem, viu? Os dias 16, 17 e 18 são especialmente ruins nesse sentido.
Saturno em Aquário (poderosíssimo)
Por fim, Saturno em Aquário. Eu diria que ele é praticamente o protagonista dessa lunação, já que apareceu no ascendente na Lua Nova e agora, na Cheia, reaparece no grau final de Aquário, a menos de 1 hora de ingressar no signo de Peixes, lá no topo do mapa, ainda fortalecido pelo nascer helíaco! Esse é um Saturno tão proeminente e embebido do próprio poder que ele parece capaz de resolver qualquer coisa. Quando digo “resolver”, é no sentido de impor sua autoridade com tanto requinte e convicção que fica impossível contrariá-lo; e quando digo “ele”, no caso, falo de quem Saturno é regente nesse mapa: o Poder Executivo e o Judiciário.
A notícia mais importante que envolveu o Judiciário recentemente foi a decisão de que o STF será o responsável por julgar membros das Forças Armadas que cometeram crimes no 8 de Janeiro. Esse é um processo que pode e deve extrapolar o período dessa lunação, mas como esse é um mapa cujos significados devem ecoar por todo o ano astrológico, podemos encarar esse Saturno não indica nenhuma moleza para quem precisará ser submetido a julgamentos e correções. É um Saturno de “vigiar e punir” sem dó: nenhum outro planeta nesse mapa está tão fortalecido quanto ele.
E sobre o Poder Executivo? Bem, o que temos de mais vistoso ocorrendo nesse momento com o maior represente desse poder, o Presidente Lula, são os diálogos com líderes estrangeiros na tentativa de encerramento da guerra da Ucrânia. Não dá pra se emocionar e dizer que isso vai acontecer, e nem que será por causa dele — mas que esse Saturno nesse mapa dá margem para esse tipo de possibilidade, isso dá. Vale lembrar que, apesar de tantos danos, Marte está em Gêmeos, um signo humano e aberto ao diálogo e às negociações (diferente de signos bestiais como Áries, Capricórnio, Leão e Sagitário); as duas estrelas ativadas por ele, Bellatrix e Capella, são de natureza de Mercúrio-Marte, também favorecendo essa direção. Talvez seja o tempo de Marte ingressar em Câncer (no dia 25 de março, já no novo ano astrológico) para de fato uma ideia de fim de guerra parecer mais concreta, mas há uma participação relevante e reconhecimento de autoridade evidentes simbolizados pelo Saturno em Aquário que aspecta esse Marte, e esse Saturno, especificamente, é o representante de Lula nesse mapa (e também do mandato como um todo, vale lembrar). Vamos acompanhar de perto para ver se essa interpretação faz sentido.
oficina do Ingresso Solar em Áries
Como muitos de vocês já sabem, eu ofereço regularmente oficinas de prática de astrologia mundana, esse ramo astrológico focado numa perspectiva coletiva. No dia 18 de março, teremos uma oficina especificamente sobre o Ingresso Solar em Áries, dedicada à analisar e debater esse mapa e as previsões anuais para o Brasil.
Para quem se interessa por astrologia mundana e não sabe bem como começar é uma boa oportunidade de introdução, pois vou apresentar todo o conteúdo teórico relevante para a interpretação do mapa do Ingresso Solar e outras noções básicas de mundana. Essa oficina é voltada para estudantes, profissionais e curiosos da astrologia mundana em geral, não sendo necessário experiência prévia nesse ramo — apesar disso, recomendo ter a base de estudos dos fundamentos básicos da astrologia tradicional para conseguir acompanhar o conteúdo (o conhecimento das dignidades e debilidades planetárias essenciais, por exemplo, é indispensável).
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