No fim da tarde dessa segunda-feira, 20 de março, o Sol ingressará no signo de Áries. No horário e localização de Brasília, esse evento acontecerá exatamente às 18h24 da tarde, poucos minutos após o Sol se pôr. Esse é o fenômeno mais comumente chamado de equinócio de outono (no hemisfério norte, de primavera), mas que carrega um outro tipo de importância para nós: a chegada do ano novo astrológico.
O ano novo astrológico é diferente da virada do ano-calendário em 1 de janeiro porque esse, de fato, renova e reconfigura as possibilidades de acontecimentos a partir dali. Não se trata de uma decisão arbitrária de divisão de tempo; é um marco que foi calculado e estabelecido com fundamento nos ciclos naturais, e tem sido usado há milhares de anos na astrologia como forma de prever o que podemos esperar, coletivamente, do período que se apresenta à frente. Você pode até ser cético o bastante para acreditar que esses fenômenos cíclicos não significam muita coisa — mas diferentemente do que é marcado no relógio e contado no calendário, esse é um Tempo que podemos observar pelo movimento dos corpos celestes e da própria natureza. É um Tempo com materialidade e presença.
O momento exato do Ingresso do Sol em Áries pode ser calculado para diferentes localidades, gerando um mapa com promessas e previsões para o ano naquele contexto específico. Na astrologia mundana, a convenção é que se calcule o mapa para a capital do país para o qual desejamos analisar. Como vocês podem imaginar, escrever previsões em pleno 2023, respeitando as técnicas e fundamentos da astrologia tradicional, e adequando-as à realidade atual não é nada fácil — astrologia mundana tem muito pouco a ver com intuição ou inspiração, e muito mais a ver com pesquisa, exercício, tentativa e erro. Comecei a estudar e praticar esse ramo astrológico há uns 4 anos, e estou longe de ser uma autoridade no assunto, mas reconheço valor no trabalho que tenho feito e agradeço pela confiança de quem me lê.
O que vem a seguir é a minha interpretação sobre o mapa do ano novo astrológico para o Brasil, a primeira e a principal edição de previsões para o país em 2023. Outras edições virão nos próximos meses, a cada entrada de nova estação, complementando essas previsões e interpretações publicadas hoje. Para escrevê-las, aliás, contei com o valioso apoio da jornalista Julianna Granjeia tirando minhas dúvidas sobre o cabuloso contexto atual brasileiro (nada como ter uma pessoa qualificada e informada para ajudar com o que não dá pra dar conta sozinha, não é mesmo?). Uma boa leitura para vocês!
introdução
Todo recomeço merece ser celebrado. É uma questão de ritualização mesmo, da prática cultural da nossa espécie: nós aprendemos a ler e interpretar sinais e eventos, atribuímos significados às coisas e ajustamos nossa forma de existir no mundo conforme vivenciamos determinados ritmos e marcações. Sem certos rituais, corremos o risco de viver meio à deriva, cheios de vazio e carentes de sentido. Vocês podem acreditar no que quiserem, é claro, mas eu acredito no poder de ritualizar o que se vive, e viver melhor.
Bom, a verdade é que eu tenho escrito sobre renovação desde o começo da Lunação de Peixes, mas não há início mais simbólico do que o despontar do Sol no signo de Áries. É a promessa da esperança, da ação, da energia, da iniciativa e da explosão de vida que desafia o pesar do Tempo — tudo isso que o signo de Áries representa, afinal.
Um dos aspectos mais fortes do mapa desse ano novo tem a ver com a potência da coletividade e da vida social, expressa pelos vários planetas de casa 7, e que inclui encontros e relacionamentos de toda natureza, com ênfase em novas parcerias e alianças (mas também alguns desentendimentos e encontros explosivos, a depender de quem se envolve). Acho o encontro de Mercúrio e Júpiter no mesmo signo sempre uma coisa bonita, porque são planetas de naturezas distintas, mas ambos orientados ao conhecimento e aprendizado — e como esse encontro se dá na casa 7, enxergo aqui também um tipo de união improvável. Tem algo de generoso no encontro de Mercúrio e Júpiter nesse local, como um convite a se agir de outras formas, a inaugurar caminhos, a compartilhar oportunidades, a dividir terreno para se aprender melhor. É na fricção desse tipo de diferença nos encontros que a novidade pode surgir, e as possibilidades podem se multiplicar. É na encruzilhada, enfim, que a magia acontece.
Por alguma misteriosa razão, aliás, a música que me veio à cabeça enquanto analisava o mapa do ano novo é uma instrumental do Hermeto Pascoal. Fica a recomendação:
previsões por temas
Para começar, devo dizer que o ano astrológico para o Brasil será dividido em quatro partes, isto é, em quatro trimestres:
primeiro: 20 de março a 20 de junho
segundo: 21 de junho a 22 de setembro
terceiro: 23 de setembro a 21 de dezembro
quarto: 22 de dezembro a 19 de março (de 2024)
Isto é, a cada início de uma nova estação, que corresponde ao ingresso do Sol nos signos cardinais (Áries, Câncer, Libra e Capricórnio), teremos um novo mapa que complementa e atualiza promessas e previsões vistas nesse mapa de hoje — que é o primeiro, o do Ingresso do Sol em Áries. O terceiro trimestre, iniciando no fim de setembro, marca a segunda metade do ano astrológico, que será significativamente mais intensa e dramática que a primeira: teremos um eclipse solar bem visível no Brasil, ingressos complementares mais complicados e fortes oposições planetárias no céu (Saturno em Peixes com Mercúrio e Vênus em Virgem, Júpiter em Touro com Sol e Marte em Escorpião).
Embora as previsões a seguir ecoem pelo ano como um todo, elas valem especialmente para esse primeiro trimestre, que termina em 20 de junho. Além disso, tudo que está mencionado “por alto” será analisado mais atentamente a cada lunação, como temos feito todos os meses por aqui.
planetas regentes do ano e o cenário geral
Na astrologia, a atribuição de planetas regentes para o ano não tem nada a ver com o que é mais popularizado na internet mainstream — “2023 é o ano da Lua”, etc. Mas existem, sim, técnicas na astrologia mundana para verificarmos o regente do ano para determinado país — o que realmente pode variar muito, dependendo do local em que se está.
Para o Brasil, o ano astrológico de 2023 será regido por Sol e Júpiter:
Sol em Áries como regente principal seria excelente se não fosse por sua posição: ele acabou de se pôr e está logo abaixo do horizonte, no ângulo descendente. É um indicador de certo desgaste, expectativas frustradas e de certa dependência em relação a outros países.
Júpiter em Áries está numa condição bem fortalecida por estar em ocaso helíaco, com seu brilho aumentado pela boa distância que ocupa em relação ao Sol; além disso, está conjunto à estrela fixa Alpheratz, de natureza benéfica.
A combinação de Sol e Júpiter não é má, mas como ambos dividem o mesmo signo e estão dispostos por um Marte disperso no fim de Gêmeos, há um quê de empolgação que não se firma, de energia gasta à toa e excessos que rendem grandes estragos. Ações e decisões tomadas impulsivamente — inclusive influenciadas ou motivadas por forças estrangeiras — parecem ser um ponto importante para a narrativa dos fatos comuns desse ano no Brasil. Há muita força de iniciativa, é claro, mas ela precisa ser bem direcionada e usada estrategicamente.
principais temas do ano
Congresso x Governo
Uma das grandes questões desse ano é o embate entre os Poderes Executivo e Legislativo. Há conflitos e divergência de interesses entre essas duas instâncias, principalmente pelo fato do Governo ainda não ter uma base definida no Congresso. O mapa indica divergências e uma dificuldade em conduzir as iniciativas que toma, e os confrontos exigem um certo endurecimento — especialmente da figura do presidente Lula, que por vezes deve precisar tomar a frente na base da autoridade mesmo e, com isso, cometer alguns exageros.
Como regentes do Presidente, atribuo dois astros: a Lua em Peixes na casa 6 e o Júpiter em Áries na casa 7 (alguns autores orientam a usar o regente por exaltação do ângulo MC quando o regente domiciliar está cadente, e me parece que ambos são importantes nesse caso). As condições para Lula não são muito fáceis: Júpiter em Áries, embora exprima grande capacidade de conciliação e de segurar as pontas, vai também atravessar logo no começo um período complicado em relação à lida com o Legislativo; entre 1 e 22 de abril, Júpiter será atravessado pelo Sol, ficando combusto. Isso deverá ser visto como estresse na imagem pública e acusação de autoritarismo, exageros ou de excesso de centralização nos processos. Em maio, porém, temos o ingresso de Júpiter em Touro, que favorece o presidente em termos de aprovação e popularidade internas. Já a Lua minguante em Peixes na casa 6 mostra que há uma fragilidade física e esgotamento de saúde que precisam ser observados com atenção, ainda que com chance de rápidas recuperações.
O Congresso aparece regido pelo próprio Sol em Áries, logo após se pôr. Apesar de não estar em más condições, há indício da perda de força de alguma liderança no Legislativo, provavelmente por desgaste de imagem e dispersão de seu poder, devido às mudanças das circunstâncias. É difícil pensar em qualquer outra pessoa que não o Arthur Lira, atual Presidente da Câmara dos Deputados e principal líder do bloco partidário do “centrão”. Não parece se tratar de uma queimação de filme, mas sim de um encaminhamento que modifica sua situação atual — talvez por conta de uma arrogância e convicção cega de si mesmo, afinal, o Sol recebe seu dispositor, Marte em Gêmeos, que está conjunto à estrela Betelgeuse, que carrega essas características difíceis.
Para além disso, porém, o Legislativo também parece criar entraves fortes em relação ao avanço e discussão de temas que envolvem as casas 9 e 12: um bom exemplo seriam pautas mais “polêmicas” da sociedade, como a descriminalização das drogas, que envolvem ambos os locais. Vindo à tona, essa será uma discussão bem inflamada e, a princípio, um tanto quanto improdutiva (pelo menos nesse primeiro trimestre).
frustrações, desgastes e decaídas
A disposição da população e o estado geral do país aparecem representados por uma Lua minguante em Peixes e uma confortável Vênus em Touro. Falando em termos mais subjetivos, talvez a exaustão acumulada dos últimos anos seja sentida e liberada com mais fluidez agora, num momento em que enfim sobrevivemos a um governo de morte, destruição e abandono. Sabe o cansaço que bate depois que se sai de um estado de sobrevivência? Ou quando você entra de férias e logo fica doente? Mais ou menos essa lógica aí. Há essa necessidade de permanecer, ficar, sossegar, estender o descanso. E no entanto, a Lua está em antíscia com o Lote da Fortuna, conjunto à estrela Algorab: o perigo disso tudo é a procrastinação, a negligência e o autoengano. Essa é uma estrela que também promete muito mais do que cumpre, indicando algumas decepções ou a lida com notícias que contrariam expectativas.
Esse não é um ano exatamente tão ruim e danoso (como vários outros recentes foram), mas a posição dessa Lua representando o povo, espelhada na Fortuna com Algorab mostra sim que há um cansaço, uma necessidade de buscar por apoio nos outros e na comunidade e a urgência de cuidado da população. Inclusive cuidados gerais da saúde, algo que muitos precisaram deixar de lado durante a pandemia, e que agora aparece como um alerta mais evidente. Aqui me refiro à população como um todo, mas cabe ainda mais para os trabalhadores de áreas de rotinas exaustivas e jornadas extenuantes. É um ano em que se faz necessário lidar com problemas que surgiram há muito tempo e prejuízos que se acumularam no caminho, e nada disso se resolve facilmente.
ganhos da Vênus
Outro tema de grande relevância para o ano é o dos direitos das mulheres e pessoas alinhadas ao gênero feminino. Há dois testemunhos importantes em que enxergo isso: Júpiter, um dos regentes do ano, está com a estrela Alpheratz (alfa da constelação de Andrômeda), que é da natureza do próprio Júpiter e também de Vênus, e carrega os significados de virtude, honra, dignidade, liberdade e independência. Há um simbolismo de libertação bem forte na mitologia dessa constelação, envolvendo inclusive reparação e justiça sobre decisões passadas equivocadas. Além disso, o ascendente do mapa do país está no signo de Libra, sendo regido por uma Vênus em Touro conjunta ao Nodo Norte: ainda que a nível mais cultural que material, me parece sim que questões a ver com o feminismo ganham força, importância e até simpatia por parte da população. Não tenho grandes expectativas em relação à avanços legislativos aí, visto os entraves do Congresso já mencionados, mas há indícios bem mais favoráveis nesse mapa do que no ano passado, que estava especialmente ruim nessa área (e que se desdobrou, como vimos, numa série de casos de feminicídio e outros horrores envolvendo mulheres).
relações internacionais
A casa 7 é o local que trata de relacionamentos com outros países (seja de paz ou de guerra) e, pela proeminência dos planetas dentro dela no mapa, já dá pra imaginar a relevância desses assuntos no ano também. De fato, há uma atenção bem forte na política internacional nesse ano — só que, diferentemente do último, em que muita coisa importante aconteceu lá fora e reverberou de forma mais indireta no Brasil (basicamente no aumento de preços de combustível e produtos), o mapa desse ano mostra um envolvimento bem direto e efetivo do Brasil em questões externas.
Um testemunho incontornável — cuja interpretação, deixo registrado, pode ser um grande delírio pessoal meu — é o do Júpiter conjunto à Alpheratz, um dos regentes do Presidente Lula, nessa casa 7. Júpiter já é um indicador de pacificação e negociação, e essa estrela fixa reforça tais significados. É aquela coisa: no mínimo, esse posicionamento mostra importância e destaque em sua atuação internacional, travando diálogo com diferentes líderes estrangeiros; em seu máximo, mostra que ele é um articulador relevante para resolução de conflitos em curso.
A guerra entre Rússia e Ucrânia, aliás, é um assunto difícil de prever por envolver a dinâmica de vários países; meu palpite é que ela pode sim encerrar em breve, sendo o ingresso de Marte em Câncer (já no próximo dia 25) a efeméride fundamental que direciona essa previsão. O mapa do ISA para a Rússia abre bem complicado, com o mundo querendo a cabeça do Putin; ele aparece prejudicado e até enfraquecido, mas difícil de largar o osso e sem muita abertura para o diálogo, inflamado e com tendências destrutivas. A situação dele deve se complicar durante o ingresso de Mercúrio em Touro, especialmente lá pra junho. Já o ano astrológico dos Estados Unidos abre com um mapa bem difícil para a população e para o governo, com grandes desafios internos a nível interno. O mapa da China, por fim, indica bastante força e crescimento econômico, mas também impedimentos, imprevisibilidade e problemas ligados às fronteiras e território.
economia, tributação e investimentos
A economia não é uma força para esse ano no Brasil. Já esteve pior representada em outros anos, e definitivamente não é um desastre completo, mas não há bons e sólidos testemunhos sobre esse tema nesse mapa anual. A casa 2, que trata dos recursos financeiros do país, aparece com o Nodo Sul em Escorpião (que indica diminuição e necessidade de controle constante), e é regida por um oscilante Marte em Gêmeos com Betelgeuse na casa 9. Isso reforça o que já escrevi sobre a dependência das condições econômicas do país em relação ao cenário internacional, e o contexto global é difícil, com promessas de recessão e inflação alta durante o ano. A economia brasileira deve se mostrar instável, com muitos altos e baixos (e alguns sustos), embora não me pareça que seja pior que outras fases enfrentadas nos últimos anos. O período mais delicado deverá ser durante o trânsito de Marte por Câncer, já a partir de 25 de março, até 19 de maio. A entrada dele em Leão no dia 20 de maio, por outro lado, dá uma firmada e revigorada esse setor, melhorando as coisas até o fim do trimestre.
As questões fiscais e tributárias são outro grande assunto do ano. A casa 8 é o local que trata desses assuntos, e nesse mapa aparece regida pela Vênus em Touro, conjunta ao Nodo Norte. É um testemunho bem favorável para estabilização e desenvolvimento de projetos e medidas já iniciados envolvendo esses temas, que podem render bons frutos — ainda que também haja o risco de exageros e de “passadas de pano” nem tão adequadas assim. Há dois grandes temas em pauta atualmente que também se situam nessa casa: as crises e fraudes fiscais envolvendo empresas, como a falência das Americanas, e escândalos tributários como o caso das joias envolvendo os Bolsonaro. O mês de maio — que contará com a retrogradação de Mercúrio em Touro e ingresso de Júpiter no mesmo signo — será um período em que esses tópicos ganham mais notoriedade e desdobramentos significativos. Já o arcabouço fiscal e a segunda parte da reforma tributária parecem vir a se desenvolver bem mais à frente, lá no terceiro trimestre do ano. (Até lá, vou tentar me informar o suficiente para falar qualquer coisa sobre o assunto, que pra mim é quase grego.)
Em outras notícias, Vênus em Touro conjunta ao Nodo Norte traz a promessa das maravilhas do investimento estrangeiro. Esse deve ser um fator bem relevante para o cenário econômico dos próximos meses no Brasil, e dá pra apontar até de quais setores estamos falando: o aspecto próximo e com recepção entre Saturno em Peixes e Vênus liga o capital estrangeiro aos assuntos de Saturno, e também das casas 4 e 5. São as áreas da indústria, construção e infraestrutura em diálogo com os temas de meio ambiente, ecologia e sustentabilidade. Já escrevi na edição sobre Saturno em Peixes sobre a urgência de mudanças na indústria como uma imposição desse trânsito — sob o risco de os negócios simplesmente ficarem para trás mesmo, ainda mais no contexto global —, e aqui esse significado ganha mais definição. Não tem só coisa boa que essa relação vem representar, é claro: o envolvimento de garimpo e comércio ilegal também pode ser lido por esse aspecto. O ponto é que, para esse ano no Brasil, existe a grande possibilidade de receber investimentos externos para seguir numa direção de desenvolvimento mais alinhada à uma política ambiental responsável, e com margem para impactos locais positivos.
clima
Os astrólogos árabes e persas mencionam uma técnica de “abertura de portas”, se referindo à sinalização de fenômenos climáticos pelo aspecto adverso ou de conjunção entre dois planetas cujos domicílios são opostos entre si; no mapa deste ano temos Mercúrio conjunto a Júpiter em Áries cumprindo esse critério (ainda que seja uma conjunção mais afastada). Segundo Al-Biruni, Mercúrio com Júpiter trazem fortes ventos, temporais e inundações. Nada de muito novo na Terra Brasilis, é claro.
Há outros pontos que atestam a força das tempestades e seus danos: as estrelas Algorab e Betelgeuse reforçam esses significados climáticos, além da Lua e do regente da casa 4 (Saturno) estarem em signos de água, em casa cadente e aspecto ruim à Marte. Deve ser um ano de bastante chuva, sim, e maior incidência de raios e trovões. Para acompanhar tudo isso mais de perto, porém, é preciso observar os mapas de cada lunação.
a oposição
A oposição declarada ao governo é regida pelo Saturno em Peixes na casa 6: mostra sim a continuidade da “lógica de rebanho” do lado de lá, mas não apresenta maiores ameaças. Não há margem simbólica para golpe e a relação entre o governo e os militares aparece pacificada, embora haja períodos de tensionamento: aqueles envolvidos nos eventos de 8 de janeiro, por exemplo, serão submetidos à Justiça, e desdobramentos nesse sentido devem ser um destaque já no segundo trimestre do ano.
Em relação especificamente à Bolsonaro, fica mais difícil dizer: o contexto atual não dá muita possibilidade de prisão, apenas perda de direitos políticos. Isso me parece possível de acontecer nesse ano astrológico, mas provavelmente em meses bem à frente. Pelos próximos dois meses, pelo menos, não enxergo possibilidade de retorno ao Brasil, mas essa é uma questão dúbia pelos mapas de ingresso, então é algo a ser observado com mais atenção pelos mapas de lunação. A situação dele parece se complicar a partir do terceiro trimestre, e ainda mais no quarto.
comunicações e informação
O que me parece de mais significativo envolvendo esses temas tem a ver com a proposta de regulação da internet que vem sendo elaborada e deve ser enviada ao relator de projeto na Câmara em breve. A conjunção de Mercúrio e Júpiter em Áries no mapa desse Ingresso Solar em Áries representa bem essa movimentação — inclusive, é na data da conjunção exata entre os dois planetas, 28 de março, que o Supremo Tribunal Federal fará uma audiência pública para debater recursos relacionados ao tema.
No entanto, os trânsitos do céu indicam o surgimento de alguns entraves e atrasos nesse processo: Júpiter fica combusto pelo Sol ao longo de boa parte do mês de abril, o que deve se mostrar como resistência ou dificuldades de aprovação no Congresso; ainda no fim de abril, no dia 21, Mercúrio fica retrógrado em Touro e também combusto pelo Sol pouco depois, só retomando o movimento direto em 15 de maio. De meados de maio em diante (já na parte final do primeiro trimestre), essa proposta parece se desenvolver melhor, mas esse deve ser um assunto de mais importância e destaque no segundo trimestre mesmo.
a indicação de Lula para o STF
Para quem não sabe, o ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski irá se aposentar entre abril e maio e o Presidente Lula deve indicar um nome para integrar a Corte — mas há também a possibilidade de adiamento dessa indicação para outubro, quando então Lula poderia indicar dois nomes de uma vez só. Há alguns nomes cotados para a vaga (todos de homens brancos), sendo o principal deles o Cristiano Zanin, advogado de Lula na época em que o presidente se defendia dos processos da Lava-Jato. No entanto, tem crescido a pressão externa para que Lula indique uma mulher negra para o cargo.
Sobre isso, meu palpite é o seguinte: tudo parece bastante nebuloso e incerto entre o fim de abril e início de maio, e acho improvável que uma decisão definitiva seja tomada nesse período. Porém, caso essa indicação ocorra em meados de maio, nas proximidades do dia 16, me parece que, surpreendentemente, a indicação poderia sim ser de uma mulher — o ingresso de Júpiter em Touro nessa data, somada à retomada de Mercúrio em movimento direto na véspera são sinais favoráveis à essa possibilidade. Por outro lado, como Mercúrio ainda estará bem lento nesse período, podemos estar falando de um adiamento da indicação. Vamos acompanhar.
outros assuntos
Direitos humanos e o sistema carcerário: esse é um tema que despontou com força na Lua Cheia em Virgem com as denúncias de trabalho análogo à escravidão; segundo Ptolomeu, o mapa dessa última lunação que antecede o Ingresso Solar em Áries apresenta vários dos temas mais relevantes para o ano do país em questão. A justiça e o sistema carcerário são assuntos complexos no contexto brasileiro, mas eles surgem nesse mapa como um ponto possível a ser levado ao debate, mesmo que ainda não modificado de fato: Mercúrio (regente das casas 9 e 12) e Júpiter (regente da 3) estão nos termos um do outro, favorecendo uma abordagem transparente e dialética sobre o tema. A criminalidade pode ser um vetor que motive a discussão, especialmente no segundo trimestre, quando é provável que novos problemas envolvendo facções e disputas de poder (e talvez também rebeliões) ocorram em regiões do país.
Educação: a revogação do novo Ensino Médio foi uma pergunta que algumas pessoas me fizeram, mas não consegui avaliar bem a partir dos mapas de ingresso. A minha impressão é de que não aparecem testemunhos fortes de revogação, pelo menos não de imediato, ainda que Mercúrio e Júpiter em Touro suscitem esse debate. A educação básica parece ganhar mais destaque dentre os assuntos gerais do pais no terceiro trimestre.
Artes e cultura: embora não seja um tema com enorme projeção no ano, esse assunto vem favorecido pela mesma Vênus em Touro na casa 8, beneficiando investimentos estrangeiros, aumento e ampliação de editais e programas de fomento a essas áreas.
Saneamento básico: curiosamente, esse é um tema relevante no ano pela posição da mesma Vênus em Touro na casa 8, que indica melhorias nessa área e ganho de acesso da população à rede de esgoto. Atualmente há um impasse sobre a privatização desses serviços e o papel da Agência Nacional de Águas (ANA) na regulação do setor. Podem haver novas decisões, mudanças e retorno dessas questões no quarto trimestre, já na parte final do ano astrológico. De toda forma, o saldo nessa área me parece positivo.
Combate à fome e desemprego: sendo um dos lemas do atual governo, esse assunto aparece presente no mapa, ainda que sob bastante dificuldades. A Lua, que é representante do povo, está minguante, numa casa cadente e aplicando quadratura à Marte, mas também fazendo antíscia ao Lote da Fortuna que ocupa a casa 1. Não é um cenário fácil, especialmente por conta das dificuldades econômicas, mas parece haver melhora gradual a cada trimestre. O tema do trabalho e do emprego também não surgem com facilidade, apresentanto entraves, atrasos e oscilações; porém, na visão geral do ano, a taxa de desemprego apresenta melhora (em especial, no terceiro trimestre do ano astrológico).
Transportes: Marte em Gêmeos na casa 9 promete dificuldades, descuidos e problemas ligados a aeroportos, portos marítimos e a outros transportes de larga escala e longa distância. Não vejo risco de acidentes ou coisas mais graves, mas talvez com comunicações, processos e fluxo de carga. As privatizações nesse setor também parecem uma promessa forte para o ano que deve se concretizar.
Saúde: há duas preocupações em pauta aqui. A primeira é em relação à crianças, que aparecem novamente como um ponto de vulnerabilidade especialmente em relação à saúde, estando mais suscetíveis à infecções e baixa de imunidade (porém, novamente, não estão tão fragilizadas quanto no último ano, em que a condição era bem mais grave). Outra observação nesse âmbito seria do aumento de ISTs, apontada pelo aspecto próximo de Vênus em Touro com Saturno em Peixes (regente da 5 na casa 6). Além disso, a meu ver, o trânsito de Júpiter em Touro é o marco definitivo da fase final da pandemia, quando devemos ter o anúncio da OMS oficializando o encerramento do estado de emergência de saúde pública em âmbito internacional. Será nesse trânsito por Touro que Júpiter completará aspecto com Saturno pela primeira vez em muitos anos, um sêxtil que atingirá seu ápice no dia 19 de junho (embora se estenda por muitos meses à frente).
Ufa! Essa deve ter sido uma das edições mais longas e trabalhosas que eu já escrevi. Agradeço a quem leu tudo até aqui. Como de costume, fiquem à vontade para fazer perguntas e escrever suas impressões nos comentários, viu? E é claro, compartilhem para quem achar que pode se interessar por essa leitura.
No mais, não esqueçam de tomar um solzinho na cabeça e ritualizar a virada do ano da forma que fizer sentido na vida de vocês. É, sim, tempo de recomeçar. Feliz ano novo para nós!
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um abraço e até semana que vem,
Ufaa, acabei essa na maior celeridade kkkk. Edição maravilhosa de mais que venham muito mais nesse mesmo pique
No mais: edição incrível! Pensar aqui como vou celebrar esse ano novo movimentado que só hahaha