Vou ser honesta: hoje quase que esse texto não sai. Seguindo o conselho da minha própria escrita sobre o céu, decidi readequar o formato dessa edição, e suprimi a segunda parte usual, em que faço as previsões coletivas — dessa vez simplesmente não deu. No próximo dia 23, porém, teremos o Ingresso do Sol em Libra, que inaugura a primavera no hemisfério sul e um novo trimestre no nosso ano astrológico. Com isso, volto semana que vem com um panorama do que podemos esperar de mais importante até dezembro aqui no Brasil.
Um beijo e boa leitura!
🎵 Para ler ouvindo a playlist Lua em Virgem canta
Na noite desta quinta-feira, a Lua em Virgem alcança o Sol no mesmo signo, um encontro que marca a Fase Nova e o início da Lunação de Virgem.
Depois de uma temporada de Câncer e Leão com aspectos desafiadores, essa Lua Nova inaugura um período que não é exatamente tenso ou dramático, mas vagaroso, arrastado. À exceção de Marte e Saturno, que estão acelerados, todos os outros astros visíveis no céu iniciam esse ciclo bastante lentos — ainda que Mercúrio retome o movimento direto já nessa sexta, dia 15, ele irrompe essa lunação estacionário, sem velocidade aparente. Como já escrevi em outras ocasiões, a mudança de ritmo e necessidade de manutenção não seriam um problema tão grande, se vivêssemos numa sociedade minimamente alinhada aos ciclos da natureza, observados pelo céu. A verdade é que, na prática, qualquer tipo de atraso, imprevisto ou desaceleração se tornam grandes inconvenientes quando a ordem é produzir, crescer, atingir uma meta. É tanta cobrança e expectativa que o nervosismo e a frustração se mostram companhias regulares.
Eu escrevo sobre o céu como forma de qualificar a natureza do tempo à frente: assim como o mar nem sempre tá pra peixe, o céu nem sempre tá pra pressa e assertividade. Mas aprender a interpretá-lo também é uma forma de apreciação da realidade: é possível começar a aceitar o que está fora da sua alçada e a ajustar a ação e perspectiva no tempo-espaço em que tudo isso acontece. (Que arrogância humana, aliás, pensar que dá pra querer e fazer tudo, o tempo todo, da mesma forma, né? Quanto mais penso a respeito, mais besta me parece.)
não discuto
com o destino
o que pintar
eu assino— Paulo Leminski (um notório nativo com nada menos que Sol, Mercúrio, Vênus, Marte e Júpiter em Virgem)
Honrando as qualidades de discernimento e fragmentação do signo de Virgem, vamos interpretar o mapa dessa próxima quinzena por partes.
O mapa da Lua Nova para o Brasil traz um ascendente a 27° de Touro, conjunto à estrela fixa Algol, da constelação de Perseu. Os luminares se unem a 21° de Virgem, conjuntos à outra estrela, Denebola, da cauda do Leão; Mercúrio, dispositor deles, ocupa o mesmo signo, começando esse ciclo ainda retrógrado e sob os raios do Sol.
Traduzindo o astrologuês, é como se essa lunação se iniciasse com uma sensação de “engasgo”, morosidade e talvez até arrependimento — o que, somados à incerteza e pouca visibilidade imediata, estimulam o nervosismo geral. A realidade, porém, é que tudo parece pior do que de fato é. Algo como colocar uma lente de aumento sob algo que deveria ser visto de longe e acaba, então, sendo inevitável achar defeito e dificuldade sem necessidade. A boa notícia é que a condição de Mercúrio começa a melhorar à medida que os dias vão passando, pois ele ganhará visibilidade na próxima semana se distanciando do Sol e, até o final de setembro, já terá recuperado sua velocidade usual. Assim, se me cabe algum conselho, eu daria esse: espere. Tenha paciência. Sem pressa para correr com o que não vai se desenrolar agora, pra já. Melhor não ceder ao impulso de “recalcular a rota” a qualquer custo para tentar resolver uma situação. À medida que a Lua crescer no céu, a tendência é que o cenário e as possibilidades de escolha estejam melhor definidas.
“Mas e se nós tratássemos a manutenção como o que de fato ela é — uma necessidade natural, tão valorosa quanto a iniciativa e a busca pelo novo? Talvez a má reputação da retrogradação também seja reflexo de uma visão do mundo como um território a ser constantemente descoberto e explorado, raramente protegido e conservado como deveria.”
[trecho da edição #9]
Uma ressalva, porém, deve ser feita: lentidão não é paralisia. Parado, parado mesmo, nada está. Júpiter em Touro no ascendente dessa Lua Nova é um lembrete de que permanecer é uma forma de cravar raízes na terra, se firmar no chão onde pisa e poder apreciar o que está imediatamente no seu entorno. Para quem anda muito distraído ou entretido com outras coisas, o exercício da presença plena e consciente no aqui-agora pode ser até assustador — se deparar com o que se tem, o que já se foi e o que se deseja não é molezinha. Mas é assim que se inicia a Lunação de Virgem: com os pés fincados na matéria bruta do cotidiano, com ares de contemplação, reavaliação e ânsia por retomada e ação. Expectativas grandes demais devem ser frustradas e o excesso de críticas só irá piorar o cenário de pouca definição e vagarosidade que o céu pauta por ora. No entanto, há margem para usufruir do que o mapa dessa Lua Nova nos apresenta: manter, cuidar e prezar pelo que é tangível e sensível no momento presente; fazer planos, reajustar-se e preparar o que se deseja pôr em ação na chegada da próxima estação. Acatar os limites do que se consegue expressar pela linguagem, percebendo que há muitas formas de comunicação além da verbal (e às vezes elas funcionam ainda melhor).
Uma boa Lua Nova para nós!
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