extra: Vênus combusta quadra Saturno
sobre esse aspecto e as condições adversas da Vênus nesse ano
[Oi! Esse é um texto extra que escrevi no sábado e que quase foi junto da edição principal. Como ele acabou destoando muito do tema de lá, decidi mandar separado.]
No fim da madrugada de hoje, segunda-feira, a Vênus em Escorpião alcançou a quadratura exata com Saturno em Aquário. Um aspecto adverso entre signos fixos: signos que expressam dinâmicas de resistência e inflexibilidade. É como um cabo de guerra inconsciente e até silencioso, em que as duas partes apertam e seguram firme sem transparecer muito externamente. Aquário e Escorpião, aliás, são signos que também fazem antíscia (uma espécie de conjunção oculta) entre si: há alguma similaridade em certas formas de operação dos dois, especialmente envolvendo os temas de controle e poder.
Vejam bem: Saturno em Aquário é um posicionamento que exprime a qualidade do controle indireto, invisível, espalhado e pouco palpável. São os mecanismos de poder e influência dissimulados, menos evidentes — sabe aquela coisa do depois de aprender a ver, impossível deixar de enxergar? É esse controle menos óbvio de se identificar que Saturno rege. (Lembrando, é claro, que todas as pessoas possuem Saturno em algum lugar do mapa e nem sempre ele vai significar questões prejudiciais sobre controle, ok? A essa altura, vocês já sabem que tudo que existe no mundo está relacionado a um ou mais planetas, as coisas “boas” e “ruins” também.)
Do outro lado do ringue temos a Vênus em Escorpião. Diferente de Saturno, que está domiciliado num signo do qual ele é regente, a Vênus em Escorpião está vestida das armas de Marte, e essas são roupas que não lhe cabem bem. Essa é uma Vênus que se vê disposta a romper e competir, se preciso. Silenciosa e vigilante, a Vênus em Escorpião se atenta a tudo o que ocorre, sem demonstrar muita afetação. Tensiona e segura firme o seu lado da corda porque é de sua natureza aderir à disputa, não fugir dela. Mas sabe que, para resolver o impasse, basta uma ferroada bem dada. Age pontualmente e com precisão, e pode fazer um bom estrago.
A quadratura que se completou nessa madrugada entre Saturno e Vênus foi como o momento exato dessa ferroada. Foi o ápice da pressão entre os dois, nesse aspecto. A diferença é que, sob pressão, esse Saturno distancia e sobe um muro; a Vênus, por outro lado, se arma e parte pro ataque. O desencontro ganhou um ar ainda mais turbulento porque Marte — quem fornece as armas à Vênus — está retrógrado e em Gêmeos: é como se o veneno do ferrão estivesse volátil e com efeitos inesperados, e ainda respingasse nela mesma. Como alguém que recebe uma faca cega para cortar um pedaço de carne, e leva junto um pedaço do próprio dedo. Ou como quem bebe um energético antes de partir pra ação mas, num efeito inesperado, dá um revertério de confusão, desorientação e mal estar no estômago. A pura energia caótica, enfim. E pra piorar a situação, Vênus também está atualmente combusta pelo Sol — cega, inconsciente, incapaz de enxergar bem o que faz.
O saldo do ataque não é agradável a nenhum dos lados, é claro. A frustração se sente como um gosto amargo de veneno que fica na boca. Se Vênus é um planeta que exprime vulnerabilidade e prazer, em Escorpião ela descobre seu exílio porque vivencia o afeto num território de disputa e defensividade.
Há uma trajetória interessante da Vênus de Libra até Sagitário: em seu domicílio em Libra, Vênus se satisfaz pela dinâmica relacional da troca e da inspiração com o outro. Em seu exílio em Escorpião, se envenena pelo instinto de defender seu território, desejando antecipar o que ocorre e controlar seu entorno. Já em Sagitário, por ser um signo em que ela está peregrina — isto é, sem afinidade nem rejeição propriamente ditos —, Vênus liberta-se da demanda relacional como um aspecto central da sua experiência, ficando mais sujeita às variações e circunstâncias em que estiver vivendo no momento. Num signo regido por Júpiter como Sagitário é, o amor e o afeto pelo outro pode ser amplo, diverso, oscilante e até mais livre de uma condição codependente ou competitiva. (Pode ser também inconsequente e desgarrado demais, é claro, pois o exagero épico também é de coisa desse signo).
Mas Vênus só alcança o signo do fogo mutável no próximo 16 de novembro. Até lá, remexeremos um pouco mais o lodo da água fixa e densa de Escorpião — agora, porém, já se afastando da ferroada dessa quadratura, e se distanciando do Sol que a deixou mais áspera e arredia.
A motivação para escrever sobre esse aspecto veio pelo contexto difícil que a Vênus ocupa nos mapas coletivos desse ano, de forma geral: no mapa do Ingresso Solar em Áries ela estava entrincheirada entre Marte e Saturno em Aquário, como quem está entre a cruz e a espada, mas nem consegue perceber o perigo com nitidez. Já no mapa do Ingresso Solar em Libra, ela aparece em queda no signo de Virgem e conjunta à estrela fixa Denebola, que enfatiza a condição de nervosismo, arrependimento e desesperança. Na prática, esses dois mapas nos prometem algumas decepções marcantes nos assuntos de Vênus, a nível coletivo — isto é, vale mais para figuras públicas e situações venusianas compartilhadas por nós todes, não necessariamente para a vida pessoal de cada um.
Daí, tais promessas tendem a se concretizar justamente quando Vênus estiver nas condições mais adversas no céu, como esta que ocorreu nesse fim de semana, quando combusta pelo Sol e quadrada por Saturno. Vale lembrar, por exemplo, que vários términos de relacionamentos significativos tomaram o noticiário de fofoca desde o ISL, com o início da primavera com a Vênus em queda. Mas a verdade é que, de agosto pra cá, Vênus passou por várias frustrações em Leão (oposição à Saturno), Virgem (sua queda), Libra (combustão) e agora Escorpião (exílio, quadratura, combustão).
Nossa sorte, enfim, é saber que o céu se move, a fila anda e nada fica como já foi ou está agora: as decepções e rupturas acontecem e algumas feridas se abrem, mas também podem ser fechadas. Cura e transformação, aliás, são duas palavras-chave muito afeitas ao signo de Sagitário — escrevi um pouco sobre isso aqui. Por ora, desejo que o veneno vá minguando aos poucos, e que a gente possa mirar o horizonte aguardando a entrada da Vênus centaura na quarta-feira que vem.
Uma boa semana para vocês!
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um abraço e até domingo,
Eu tô no meio de uma vênus em trígono com Saturno, e os assuntos da mesma toda hora reaparecem. Eu tô doido pra esse ciclo se fechar logo pq tá difícil kk
Adorei o post, boa semana pra você também!