Olhem para o céu, há um desejo premente
pela manhã que nasce diante de vocês.
A História, apesar de sua dor lancinante,
jamais pode deixar de ser vivida; se enfrentada
com coragem, dispensa ser revivida.
Olhem para o dia
que irrompe diante de vocês.
Façam com que o sonho
renasça.— Maya Angelou, “On the pulse of morning”1
A edição de hoje é um especial sobre a campanha eleitoral. Chamo de “especial” só porque ela não segue a estrutura usual do boletim semanal. Hoje não teremos texto temático de introdução, céu da semana ou notas sobre a lunação, mas sim uma análise dos mapas de início de campanha dos 5 principais candidatos a ocupar a cadeira de Presidente do Brasil, a partir de 2023.
Quem é leitor da Meio do Céu há mais tempo sabe que essa não é uma newsletter sobre política, e sim sobre astrologia mundana, o ramo da astrologia que versa sobre fenômenos da nossa coletividade: eventos que afetam a sociedade como um todo, sejam culturais, sociais, religiosos, econômicos, sociais, meteorológicos e, é claro, políticos também. A política é uma parte vital da astrologia mundana justamente por envolver eventos e agentes de tomada de decisão que afetam a sociedade como um todo.
A campanha eleitoral começou oficialmente no último dia 15, e daqui até 2 de outubro não teremos muito sossego. Nem precisa de astrologia pra saber isso: é praticamente um consenso o entendimento de que essa é uma das eleições mais importantes da nossa história. História essa, aliás, que muito em breve completa 200 anos de independência — um marco tão controverso quanto mal resolvido enquanto fundação do Brasil como nação.
Apesar da exaustão existencial de atravessar quase quatro anos sob um dos governos mais tenebrosos desse país, desistir parece que não é mesmo uma opção. Insistir no Brasil é parte do propósito dessa newsletter, que, mais do que apenas um e-mail que chega na caixa de entrada de vocês todos os domingos, é também um projeto de estudo e pesquisa guiado por uma pessoa que insiste num sonho de mudanças e melhorias na nossa realidade brasileira. Ler esse poema da Maya Angelou, que abre a edição, me ajuda a lembrar disso. Não há sonho que se concretize sem ação, mas a ação desprovida de sonho não costuma inspirar a confiança necessária para mudar o que se deseja. E no mapa de previsões para o Brasil desse ano cabe sonho e mudança, sim: com Sol em Áries na casa 11 e Mercúrio e Júpiter em Peixes na 10, há espaço para renovações benéficas no poder, que possam proporcionar algum resgate de dignidade, pertencimento e esperança. Vamos aos trabalhos, então.
pode a astrologia ser uma ferramenta para análise do cenário político?
Ô, se pode. Na verdade, a astrologia como conhecimento surgiu, primeiramente, voltada aos eventos coletivos: é sabido que os primeiros usos da observação das posições e movimentos do céu e suas correlações com os eventos terrestres tenha sido para finalidades de previsões voltadas à agricultura e à política. Na Mesopotâmia, antes mesmo da ideia de mapa surgir — quando a astrologia se baseava apenas nos 12 signos do Zodíaco e características de cada planeta e estrelas —, era para a coletividade que as previsões eram feitas. Só muito depois, entre os gregos, que a astrologia começaria a ser usada para a realização de previsões individuais, a chamada astrologia natal; e ainda assim, quem tinha acesso à esse tipo de análise preditiva eram, normalmente, as elites ligadas ao poder.
Vocês sabiam que o astrólogo Masha’allah foi contratado para escolher a data para refundação da cidade de Bagdá, no século 8? Hoje em dia pode parecer improvável, mas certamente tem muito mais governantes fazendo uso de astrologia do que a gente imagina, sejam bom astrólogos ou não — a diferença é que, dado o contexto de mundo hoje, pega mal para um oficial do governo admitir publicamente o uso de qualquer tipo de conhecimento tradicional que não seja passado em três vias pelo método científico. (Sem entrar demais nesse terreno espinhoso, é óbvio que defendo e usufruo dos benefícios da ciência, mas entendo que seus métodos e perspectivas não são a única forma válida de produzir conhecimento no mundo.) A grande questão é que, ao contrário do que muita gente imagina, a astrologia tem fundamento e funciona, e por isso foi levada a sério por tomadores de decisão em muitos momentos da história.
Ou seja, a aliança entre astrologia e política está bem longe de ser uma invenção recente. A razão pela qual essa associação pode soar incomum aos ouvidos das pessoas tem mais a ver com o entendimento de que a astrologia serviria apenas para descrever como alguém se comporta, ou para “categorizar” um indivíduo em 12 tipos de personalidades. Essa visão é, claro, bastante equivocada. Se você é novo por aqui e se interessa por esse tema, recomendo ler essa edição de textos sobre a experiência oracular (modéstia à parte, talvezuma das melhores coisas que já escrevi por aqui).
E se a astrologia tradicional ficou jogada para escanteio na hegemonia da astrologia moderna comercial, imagina um ramo tão pouco vendável quanto o da astrologia mundana? Como eu já disse outras vezes, ter apoiadores que financiam a Meio do Céu é o que me permite fazer as análises astrológicas coletivas que escrevo por aqui. A vocês apoiadores, novamente, meu muito obrigada.
Sem mais delongas, vamos ao que interessa.
o que esperar de cada campanha eleitoral
sobre mapas de evento e o método de análise
As análises de hoje são mapas de evento, um tipo de mapa diferente do que costumo analisar aqui. Mapa de evento é basicamente um mapa que você abre para um horário, data e local específicos em que algo de relevante ocorreu, e o utiliza para prever desdobramentos de tal evento ocorrido a partir dali. A lógica por trás dele é a mesma que permeia todo o conhecimento astrológico: a astrologia é uma ferramenta para avaliar a qualidade do tempo, como ele irá se comportar. Entendemos que o mundo existe num fluxo contínuo de tempo, experienciado de forma cíclica e regular, e que existem momentos mais adequados para algumas coisas do que para outras.
Do ponto de vista astrológico, enfim, tudo que ocorre no mundo está atravessado por uma matriz de possibilidades (que está inserida na ideia de destino): quando nascemos, essas possibilidades pode ser vistas na forma de nosso mapa natal; já quando escolhemos lançar um empreendimento, por exemplo, podemos entendê-las abrindo um mapa de fundação. Como sabemos exatamente como o céu estará daqui a 2 semanas ou 6 meses, podemos fazer uso do raciocínio reverso e também escolher um momento para dar início à algum projeto ou atividade de relevância em nossa vida — é isso o que chamamos de astrologia eletiva.
Se os mapas de início de campanha eleitoral foram resultado de uma escolha consciente ou do acaso, não dá para saber (embora eu tenha algumas suspeitas). De toda forma, podemos observá-los à luz da astrologia e tentar elaborar algumas previsões sobre como as campanhas de cada candidato prosseguirão até as eleições.
A ideia de escrever essa edição surgiu, basicamente, desse tuíte:
A verdade é essa aqui, gente: astrólogo não pode ver um evento importante ocorrendo com data e horário exato informados que corre logo pra abrir o mapa. E foi o que eu fiz, um a um, acessando o site de Divulgação de Candidaturas e Contas Eleitorais do TSE e consultando o requerimento de registro de candidatura dos 5 candidatos selecionados. Esse documento em questão contém a data e horário exatos em que o requerimento foi submetido à Justiça Eleitoral, solicitando o registro da candidatura do candidato às eleições. Pode parecer um ato banal, em termos práticos — é “apenas” um documento em PDF que os candidatos enviam pelo computador —, mas tem valor pragmático porque que, sem ele, não se registra a candidatura e não se concorre às eleições, e também valor simbólico, pois enviar esse requerimento significa abrir a possibilidade real da pessoa registrada estar à frente do comando do país em alguns meses. Esses são dois fatores fundamentais que fazem o momento de registro da candidatura ser um evento digno de levantar um mapa astrológico.
Por último, vale relembrar que o que vamos analisar aqui hoje são as campanhas de cada candidato; a iminência de vitória ou derrota mas urnas, sendo uma prerrogativa da campanha, deve aparecer no mapa, mas como já expliquei em outras edições, há outros métodos mais apropriados para avaliar o andamento e resultado das eleições em si — 3 como escrevi lá na edição de início do ano astrológico, em março, a derrota de Bolsonaro, astrologicamente falando, me parece uma certeza. Hoje, porém, vamos falar de campanha, e o que podemos esperar das próximas 6 semanas em relação a esses candidatos. E vamos às análises!
Simone Tebet
Na última pesquisa publicada pelo Datafolha, Tebet tinha 2% das intenções de voto, ocupando o quarto lugar entre os candidatos. O mapa do registro da sua candidatura traz o ascendente a 21º de Áries e Júpiter retrógrado em Áries na casa 1. O regente do ascendente é um Marte exilado em Touro na casa 2, em oposição exata à Lua em Escorpião na casa 8. O que podemos tirar daqui:
A campanha parece sofrer uma forte rejeição dos setores de oposição ao governo, observável pela oposição acirradíssima entre Lua e Marte. Ao mesmo tempo, as casas 2 e 8 sendo ocupadas nessa configuração parece indicar uma aposta financeira alta na candidatura, corroborada também pelo trígono entre Marte e o Lote da Fortuna em Capricórnio na casa 10. Em outras palavras: pode não ser a maioria, mas tem gente importante e influente investindo nela.
Embora a questão econômica e inflacionária deva ser um aspecto central para todos os candidatos, o foco da campanha de Tebet deve ser o do enfrentamento à corrupção e à extinção do orçamento secreto, algo também sinalizado pela oposição Marte-Lua.
A percepção, pelo mapa, é que a candidatura não “deslancha”: com Marte (a candidatura) e Lua (povo, popularidade) debilitados e em signos fixos, o percentual de intenção de votos não deve se alterar muito. Além disso, a Lua está sitiada em aspectos entre os dois maléficos, indo da oposição à Marte até a quadratura com Saturno, um cenário bem complicado e propenso à turbulências no processo. Pode rolar algum deslize que fica feio aos olhos do povo.
A presença de Vênus em Câncer na casa 4 me faz pensar que é possível que outra candidata mulher da oposição possa crescer e se destacar mais que ela, em termos de exposição midiática, debates, etc. Temos Vera (PSTU), Sofia Manzano (PCB) e Soraya Thronicke (União Brasil), todas com 1 ou 0% de intenção de votos, ou seja, possível é. Essa disputa ou rivalidade específica pode se mostrar de forma mais evidente a partir do dia 5 de setembro, até às vésperas do primeiro turno.
A entrada de Marte em Gêmeos (20 de agosto) e Mercúrio em Libra (26 de agosto) garantem alguma exposição favorável à campanha de Tebet, trazendo mais energia e ousadia em falas e debates, o que pode ser positivamente empregado para desestabilizar e questionar outros candidatos. Seu melhor momento, no entanto, parece ser essas primeiras 2 ou 3 semanas de campanha, antes da retrogradação de Mercúrio e do ingresso de Vênus em Virgem, que parecem significar empecilhos para ela.
Ciro Gomes
Ciro anda estacionado entre 7 e 8% das intenções de voto. Sua campanha vem regida pelo Júpiter retrógrado em Áries, na casa 2, um planeta teoricamente favorável, porém sem apoio nesse mapa:
A Lua, que trata de popularidade e poderia suprir amparo está exilada em Capricórnio na casa 11, fazendo uma quadratura com Júpiter com péssima recepção: o povo não perdoa e parece sem a menor receptividade para dar palco à ele. Falta carisma.
A campanha busca por mais visibilidade pode tentar “amansar” um pouco a imagem do candidato, mas com a quadratura Lua-Júpiter, me parecem ser esforços pouquíssimo frutíferos. Júpiter está retrógrado e, por fazer trígono ao MC a 1º de Sagitário, pode ser que ele cresça pela via mais enérgica e agressiva mesmo, mas ele só parece ganhar mais visibilidade justamente após o primeiro turno, sendo um alcance insuficiente para fazê-lo chegar ao segundo.
Além disso, Júpiter voltará à Peixes no dia 28 de outubro, um retorno favorável à ele: sua campanha pode até ter acabado, mas esse reingresso de Júpiter o coloca numa posição estratégica de respeitabilidade e pode até ser que ele reate laços ou diálogo com quem já brigou antes.
No mais, uma estratégia de campanha incisiva, de ataque e acusação, mas que não consegue se sustentar só por aí: com Mercúrio em Virgem angular na casa 7, ele perde de outros nos argumentos.
Jair Bolsonaro
A campanha do inominável tem um mapa que é um misto dos dois anteriores: tem a mesma Lua caprina da campanha do Ciro, e o mesmo ascendente em Áries da campanha de Tebet. Alguns pontos, porém, devem ser salientados:
A presença e angularidade da Lua em Capricórnio cravada no ângulo do MC é uma evidência fortíssima do destaque de uma figura feminina na sua campanha: por estar na própria casa 10, a casa do governo em exercício, que é o dele mesmo, fica fácil entender que essa Lua significa a própria primeira dama, Michele Bolsonaro. Essa Lua vai de encontro, inclusive, à Vênus em Câncer na casa 4, simbolizando uma fragmentação entre figuras femininas. Infelizmente, é bem provável que ela ajude a conquistar muitos votos entre as mulheres conservadoras.
A campanha bolsonarista tem um apelo religioso fortíssimo (e a evidência de Michele nesse cenário tem sido associada, inclusive, à racismo religioso), também simbolizado pelo Júpiter em Áries na casa 1, que rege as casas 9 (religião). E também rege a 12: é uma campanha afoita e paranoica, que apela diretamente para conspirações.
Mercúrio em Virgem na casa 6 faz uma antíscia relativamente próxima ao ângulo ascendente, indicando uma presença ainda bem expressiva na mídia e redes sociais, fluxo alto de informação circulando, sem dificuldade de aparecer e ser visto. O engajamento vem com facilidade.
Apesar disso, alguns fatores desse mapa são decisivos e indicam sua derrota: os dois regentes de seu principal oponente, representado pela casa 7 em Libra, desestabilizam e impedem Marte: Vênus está em Câncer, signo que é a queda de Marte, derrubando-o do poder; Saturno (que rege Libra por exaltação) está retrógrado em Aquário, na casa 11, mais forte do que Marte, impedindo-o de continuar. Além disso, temos um aspecto de movimento muito importante: Marte perde velocidade ao longo do mês de outubro, ficando retrógrado justamente no dia do segundo turno, 30 de outubro. Já Saturno, por outro lado, retoma seu movimento direto alguns dias antes, em 23 de outubro. Em outras palavras: Marte perde, Saturno ganha; Lula ganha, Bolsonaro perde. E pelo que tudo indica, astrologicamente falando, vai ser preciso um segundo turno, infelizmente.
Lula
Acreditem se quiser, o mapa da candidatura do Lula traz o mesmo posicionamento dele indicado no mapa anterior: ascendente em Aquário, sendo regido pelo Saturno retrógrado em Aquário na casa 1.
O mais importante desse mapa é a relação temporal que mencionei acima: a campanha de Lula é regida por um Saturno que está retrógrado, mas retomará seu movimento direto no dia 23 de outubro, exatamente 1 semana antes da data do segundo turno. É um testemunho que o favorece muito, e debilita seu principal oponente.
O antagonismo é evidente: Saturno está recebendo oposição do Sol em Leão, uma representação do próprio governo atual. A grande questão, aqui, é que esse Sol do mapa acabou de se pôr. Na análise astrológica, o Sol poente é um fator de debilidade para o astro-rei, portanto, Saturno se engrandece nessa oposição.
O Sol que rivaliza com Saturno também rege por exaltação a casa 3 (mídia e comunicações), que sabota um tanto a exposição do candidato. Com Júpiter retrógrado em Áries na 3, a campanha mostra uma certa falta de agilidade e flexibilidade no uso das mídias, o que ficará mais evidenciado com as futuras oposições entre Mercúrio em Libra e Júpiter em Áries nos dias 2 e 18 de setembro, e 11 de outubro. Nesses canais, é preciso priorizar informação e combate às fake news.
Marte em Touro na casa 4 é o que mais atrapalha a campanha, e é um grande testemunho das discordâncias entre a grande oposição ao governo bolsonarista, indicando divisão de votos. Essa é uma das principais razões que observei em outros mapas, e uma das quais me faz perceber a necessidade do segundo turno.
A Lua crescente em Sagitário na casa 11 é a cara da esperança e indica facilidade e confiança nos comícios e eventos na rua, onde a popularidade pode ser melhor ampliada e conquistada. É a melhor Lua dos mapas analisados, sem dúvida, e desenha um caminho orientado ao futuro, à promessa de vida e de melhorias econômicas (Lua indo ao trígono com Júpiter, regente da casa 2).
O ingresso de Marte em Gêmeos favorece a candidatura, já que ele começa a formar um trígono com Saturno, aumentando a competitividade e assertividade da campanha, especialmente na segunda metade do mês de setembro. A última semana de setembro, que será também a última da campanha antes do primeiro turno, é especialmente boa para a candidatura, mas ainda não me parece o suficiente para evitar o segundo turno.
No mais, uma campanha regida por Saturno em Aquário preza por uma um pulso firme e críticas consistentes, mas aberta ao diálogo, debate e valores democráticos. A equipe de campanha também parece bem equipada e vigilante aos movimentos de opositores, atenta a possíveis infrações e desvios e conduta no processo. Uma campanha de imposição de autoridade, também, mas ainda fortemente marcada pelo antagonismo ao que está no poder, expondo e denunciando os maus feitos do atual governo.
Por hoje é isso, pessoal!
Espero que essa análise inusitada tenha sido interessante pra vocês. Não deixem de escrever nos comentários o que tiverem a observar sobre esses mapas, e compartilhem essa edição especial com quem possa interessar :)
um abraço e até semana que vem,
Ísis
Poema declamado no dia da posse de Bill Clinton como presidente dos Estados Unidos, em 22 de janeiro de 1993 (apud p. 54 CASTELLS, Manuel. O poder da identidade. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000).
Tão bom começar a semana com essas excelentes notícias! Amei a análise inusitada e detalhada e vamos que vamos! Já tô até de vermelho na foto... kkkk
Aff, perfeita como sempre!!
Queria só comentar que essa casa 10 em escorpião (que é supostamente o signo solar do lyla), com mc e fortuna....sei lá...SINAIS....FORTES SINAIS..... ainda mais juntando com todos os testemunhos kkkkk
PODEMOS SONHAR e suas news ajudam com isso <3