É, pessoal. A astrologia já nos dizia que um segundo turno de eleições seria necessário, mas imagino que vocês também tenham sentido o baque de decepção no último domingo. Esse não tem mesmo sido um ano fácil e, como escrevi na edição #55, de previsões dessa segunda metade do ano astrológico, o cenário até meados de dezembro seguirá com mais agitação e agressividade do que gostaríamos. Aqui no Sul estamos na primavera: tempo de mudança, plantio e renovação. Difícil é pensar em semear qualquer coisa num cenário caótico e apreensivo como o que vivemos. Escrevo hoje no limiar do que me é possível, esperando poder retomar edições mais longas e inspiradas no próximo mês. Por ora, vamos falar da chegada da Lua Cheia em Áries e alguns dos seus significados dentro da atual Lunação de Libra.
Na ocasião do Ingresso do Sol em Libra, escrevi um tanto sobre o símbolo de um Sol em queda — o esvaziamento do Eu, que se estutura excessivamente a partir das relações que se estabelece com o Outro:
Diferentemente da Vênus em Libra, que exprime as qualidades mais positivas desse signo, o Sol em Libra expressa o desatino desse signo, sua faceta mais desastrosa: a perda de convicção, o esvaziamento do próprio Eu. A dependência — que é um tipo de excesso do Outro — esvazia a individualidade, gera inseguranças, cria uma ilusão de que qualquer coisa só pode se manter quando validada por agentes externos. O que sobra de si mesmo, quando o Outro sai de cena? Essa é uma questão pertinente para carregar junto de si, especialmente durante essa temporada.
O que ocorre quando o Sol em Libra em oposição à Lua em Áries, evento que se completa na tarde desse domingo? Esse é o embate entre uma consciência relacional e um instinto central, esse que nasce de uma força interna, de uma coragem pela vida e pelo movimento que partem de si. A Lua em Áries não se paralisa pelo medo: ela o derruba.
Nesses últimos dias após o primeiro turno, venho pensando muito sobre o que significa a capacidade de escolher por si próprio. Fazer uma escolha ou tomar uma decisão envolve um nível de autonomia e consciência que não está disponível a todos, por inúmeras razões. Por outro lado, a persuasão se torna uma habilidade perigosa nas mãos de quem espera poder decidir pelo outro e manipular indiretamente as vontades alheias. A persuasão é um artifício dos domínios de Vênus, que pode tomar formas bastante sedutoras e afáveis e, por isso mesmo, atrai e faz a cabeça de gente com pouca convicção de quem se é e do que deseja. O que me lembra, aliás, esse trecho aqui:
"Ao persistir na jornada rumo à autodefinição, somos modificadas como indivíduos. Quando conectados à ação de grupo, nossos esforços individuais ganham novo significado. Como nossas ações individuais mudam o mundo em que nós apenas existimos para outro no qual temos algum controle, elas nos permitem enxergar a vida cotidiana como um processo e, portanto, passível de mudança. Talvez seja por isso que tantas mulheres afro-americanas conseguiram persistir e ‘encontrar um caminho onde não havia saída’. Talvez elas conhecessem o poder da autodefinição."
— Patricia Hill Collins em Pensamento feminista negro: o poder da autodefinição1
Esses temas de hoje se entrelaçam com aqueles que escrevi na edição #33 — quando vivíamos o aspecto oposto ao atual, então de Sol em Áries oposto à Lua em Libra. Chamei aquela edição de convicção e alteridade: se na ocasião, a Lua Cheia em Libra se opunha ao Sol, trazendo a alteridade para bagunçar o que se entende como certeza, hoje falo justamente do contrário: a Lua Cheia em Áries em contraponto ao Sol em Libra reacende nossos próprios instintos de autopreservação, bem como o ímpeto de vontade e a clareza interna. Saber de si, agir por si, fazer por si — não movidos por egoísmo, narcisismo ou alienação individualista, mas pela consciência profunda de que nem toda interferência e influência externas podem mudar o que sabemos de nós mesmos. Nada disso exige o uso da força ou da agressividade, mas cabe lembrar que Áries é um signo regido por Marte, e esse planeta também ensina que certas cisões, rupturas e desavenças são necessárias para manter-se são e capaz.
(não por acaso, alguns tuítes virais ressoam perfeitamente com o céu da lunação)
No fim das contas, viver pode ser uma eterna negociação com o mundo e as pessoas. Não se vive bem sozinho ou isolado, isso a gente já sabe — mas também não cabe a qualquer um tomar decisões e escolhas por nós. A autonomia, da qual já escrevi um tanto a respeito, não é uma qualidade que se ganha de nascença, mas que precisa ser conquistada: para tal, é preciso coragem de destoar do meio, saber de si e não ter medo de se mover. Exige a manutenção da própria consciência, mesmo em diálogos difusos em meio à multidão. Eu desejo, enfim, que a Lua Cheia em Áries chegue para nos inspirar a tudo isso. (E também que ajude a romper, pelo menos um pouco, com a ideologia de gado tão exposta nesses tempos atuais.)
Por último, ouvi esses dias também esse episódio da Rádio Escafandro. O título já diz tudo, e pra mim foi uma escuta bastante esclarecedora; a primeira parte tem especialmente a ver com o que trouxe aqui sobre escolha e persuasão. Imperdível:
lunação de libra — lua cheia em áries
previsões até 24 de outubro de 2022
A Lua Cheia em Áries chega no fim da tarde desse domingo, abrindo para o Brasil um mapa razoavelmente parecido com o que iniciou esse ciclo, na Lua Nova em Libra. No entanto, algumas diferenças são bem visíveis: se na Lua Nova a oposição ao governo vinha regida por uma Lua Nova em Libra, mal aspectada e sem boas recepções, nessa Lua Cheia ela está em Áries, num aspecto favorável ao Marte em Gêmeos que governa esse mapa: um bom indício de melhora e crescimento da oposição junto à população de forma geral, fazendo frente ao bolsonarismo. Só que o Marte em Gêmeos, que irá retrogradar na próxima Lunação de Escorpião, já está perdendo velocidade pouco a pouco ao longo do mês de outubro: sua desaceleração e o fato de sua única aliada no mapa ser a Lua não deixa dúvidas de que o momento, para a oposição, é de manter o máximo de união e integridade possíveis.
Esse Marte lento na casa 3 trouxe, entre outras coisas, o bloqueio de mais de R$ 2,4 bilhões do orçamento do MEC (Ministério da Educação) — o que viria a comprometer o funcionamento das universidades federais e institutos federais de todo Brasil — mas que foi retirado na última sexta, sinal de que os temas de Marte (cortes e rupturas, por exemplo) vêm perdendo força desde já.
O Marte na casa 3 também reafima o intenso protagonismo do noticiário que vem ocorrendo desde a Lua Nova, com muitos embates e ataques de todos os lados, bem como de uma flexibilização de estratégias de campanha (bem lembrado pela Ju Machado), a engenharia de memes comendo solta, etc. Só que, novamente, à medida que Marte começa a “estacionar” na sua trajetória celeste, é possível também que ocorra alguma tentativa de impedimento de circulação de informações ou desaceleração do fluxo de notícias lá pro fizinho da lunação, no dia 22.
Em outros sentidos, por fim, o Marte na 3 também pode trazer obstruções no tráfego, paralisações ou bloqueios parciais em ruas e estradas, e também problemas no fluxo de informações e comunicações (é, nem tudo é pelo Mercúio retrógrado). Atenção especial também aos golpes e fraudes em transações comerciais (especialmente as feitas online), pois lunação de quadratura Mercúrio-Marte é sempre um risco aumentado desse tipo de evento.
No mais, aquilo que já sabemos ou esperamos: Vênus surge nessa Lua Cheia conjunta à estrela Algorab, fazendo trígono à Marte e Saturno, exaltando o segundo. Como escrevi em outra ocasião,
O perigo dessa estrela está na língua e na lida com o que se fala, ou se deixa de dizer, em nome do próprio interesse. Seja ensaboando ou omitindo a verdade, delatando informação alheia ou, no melhor dos casos, sendo um informante de notícias ruins – o mensageiro do mau agouro. Algorab dá destrutividade, malevolência, repulsa e mentira, e está relacionada à eliminação. Não por coincidência, decerto, nosso último presidente – aquele mesmo, do golpe –, tem Algorab próxima ao Mercúrio em Libra no seu mapa natal.
Sim, é o próprio Temer que eu cito acima, e que na última semana também declarou apoio a Bolsonaro. Algorab é mesmo uma estrela de mentira e engodo, e o posicionamento junto de Vênus nesse mapa da Lua Cheia é a cara da máquina de fake news agindo a todo vapor, sendo movimenta pelos aliados do presidente, especialmente empresários ou outras figuras de influência. O esforço da oposição de desmentir e retificar informações deve ser massivo, diversificado e constante. Haja fôlego e coragem — mas com a Lua junto de Júpiter e em bom diálogo com Marte, penso que a chegada da Cheia mais nos favorece do que atrapalha.
Na próxima semana, trago outras considerações e adendos de interpretação sobre esse mapa. Por hoje, é isso.
recado aos (atuais ou potenciais) apoiadores
Em junho, dei início à essa série chamada “como a linguagem astrológica ganha corpo na realidade”, que tinha por prerrogativa algo simples do que o longo nome faz parecer: eu queria poder falar dos planetas nos signos de domicílio e exílio de foma acessível e ilustrada, trazendo mapas de figuras públicas como exemplo. Esses termos da linguagem astrológica podem ser pouco compreensíveis a muitos de vocês, e essa série especial para os apoiadores veio no intuito de poder desenrolar esse fio simbólico com a calma e profundidade que o tema merece.
Desde então, já foram 7 partes (!), passando por todos os 7 astros clássicos da astrologia, da Lua até Saturno. A série só não está completa, ainda, porque estou em falta com a parte final: falta escrever sobre Saturno no seu domicílio de Aquário e no seu exílio em Leão. Prometo dar conta dessa pendência na próxima semana, mas um atrasinho se deu por aqui, no meio de tanta confusão de notícias e tensão política (pois é, dá trabalho escrever sobre astrologia mundana).
Para quem, por alguma razão, ainda não leu essa série, trago aqui o resumo com os links de cada uma das edições, com os posicionamentos que abordo e as pessoas cujos mapas usei de exemplo. Se a leitura interessar, convido vocês a reler esses conteúdos ou passar a contribuir para a newsletter como apoiador, assim você ganha acesso à esses textos exclusivos e a muitos outros já publicados.
Parte 1: Lua em Câncer (Dua Lipa) e Capricórnio Amy Winehouse; Mercúrio em Gêmeos (Anne Frank), Sagitário (Albert Camus), Virgem (Paulo Leminski) e Peixes (Yuri Gagarin);
Parte 2: Vênus em Touro (Ariana Grande), Escorpião (Marie Curie), Libra (bell hooks) e Áries (Marilyn Monroe);
Parte 3: Sol em Leão (Louis Armstrong) e Aquário (Nise da Silveira);
Parte 4: Marte em Áries (Clint Eastwood), Libra (Sigmund Freud), Escorpião (Bruce Lee) e Touro (Adolf Hitler);
Parte 5: Júpiter em Sagitário (Vincent Van Gogh) e Gêmeos (Oprah Winfrey);
Parte 6: Júpiter em Peixes (Friedrich Nietzsche) e Virgem (Kim Kardashian);
Parte 7: Saturno em Capricórnio (Juscelino Kubitschek) e Câncer (Elis Regina).
um abraço e até semana que vem,
Ísis
COLLINS, Patricia Hill. “Pensamento feminista negro: o poder da autodefinição”. In: HOLANDA, Heloisa Buarque (Org.). Pensamento feminista. Conceitos fundamentais. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2019.