Cheguei com mais uma edição da Meio do Céu para vocês. Escrevo na noite de quinta-feira sabendo que boa parte de vocês irá ler esse texto na manhã de domingo, então, antes de mais nada: feliz Natal, pra quem é de Natal! E feliz solstício para pagãos, astrólogos e simpatizantes do calendário que segue o ritmo do céu.
Depois de uma lunação tão atribulada como a de Sagitário foi, o que nos espera? Bom, há meses venho prometendo alguma tranquilidade para esse fim de ano, e a hora chegou. A Lunação de Capricórnio, iniciada na manhã da última sexta-feira, inaugura um novo ciclo e novas possibilidades para nós — é a lunação que abrigará a posse presidencial, aliás! Além disso, temos Júpiter reingressando em Áries e uma Vênus finalmente livre dos raios solares. O céu se afrouxa um pouco e desfaz vários aspectos tensos que se mantinham nas últimas semanas.
Devo confessar que estou exausta e precisando, como a maioria de nós, de um belo descanso. Esse foi um ano muito produtivo em termos de estudo, prática e escrita sobre astrologia mundana, mas manter esse ofício envolve atenção e informação constantes no noticiário e no contexto coletivo, o que é bastante desgastante. Por essas razões, decidi que, até a próxima Lua Nova em Aquário, em 21 de janeiro, essa edição de hoje será a última dentro do formato “regular” — daqui até lá, seguiremos com edições semanais, mas sobre outros temas e assuntos astrológicos, sem foco nas previsões mundanas.
Isso significa que essa edição de hoje é um belo apanhadão sobre a Lunação de Capricórnio, incluindo Lua Nova & Lua Cheia — diferentemente do que costumo fazer, dividindo a lunação em duas metades, uma por quinzena. Tudo que me parece mais relevante sobre esse período será incluído aqui, então deixe esse conteúdo salvo para voltar para reler e consultar ao longo das próximas semanas. Vamos lá?
breve retomada sobre a Lunação de Sagitário
Muita coisa ocorreu desde a última edição com as previsões da Lua Cheia, e admito que subestimei um pouco aquele mapa quando escrevi que o pior da lunação já havia passado. De fato, depois da ameaça de cortes de verbas na Educação e de tanta violência latente que marcaram a primeira quinzena do ciclo, até que não foi tão longe assim, mas muita confusão ocorreu nessa segunda metade da lunação: os atos terroristas em Brasília no dia da diplomação de Lula e Alckmin foram muito bem representados pela conjunção Lua-Marte em Gêmeos, mas felizmente não causaram nada tão grave democraticamente.
Mas não é que mais coisa se desmantelou? A oposição Sol (regente da 11, o Congresso) e Marte (regente da 2, recursos) cravou a decisão pelo fim do orçamento secreto, um evento de imensa relevância para o contexto brasileiro. O orçamento secreto foi tema incortonável na campanha eleitoral e marcou demais esse último ano do mandato bolsonarista. Na mesma edição #65 lembrei que “um céu explosivo se inaugurava na Lua Nova” e essa última quinzena seguiu marcando esse simbolismo repentino e perigoso — escrevi inclusive sobre um “risco aumentado de dispersão e de acidentes causados por distração ou erros humanos, por exemplo”. Bom, nessa última quinzena tivemos a explosão do Aquadom em Berlin, a explosão em um depósito que liberou fumaça tóxica em Santa Catarina e uma forte explosão que destruiu totalmente um restaurante em Teresina (que bom que a Lunação de Sagitário chegou ao fim, né?). Já a previsão de fuga do Bolsonaro até o dia 20, uma grande aposta que fiz (baseada em vários testemunhos em mapas desse ano), não rolou — o máximo que vimos foram os caminhões chegando no Palácio da Alvorada para levar a mudança dele embora.
Vênus em Capricórnio
amor construído na constância do tempo
É claro que eu não poderia escrever essa edição sem falar da Vênus em Capricórnio! Vênus, que começou esse ano astrológico sitiada entre Marte e Saturno, e que passou os últimos quatro meses afligida de inúmeras formas está agora, finalmente, em condições muito melhores. A nível coletivo isso indica uma melhora significativa nos assuntos regidos por esse planeta, como uniões, conciliações, relacionamentos, prazer, entretenimento, jogos, beleza e lazer de uma forma geral.
Esse comecinho da temporada de Capricórnio, até o dia 1 de janeiro, está especialmente favorecido nos assuntos venusianos — isso porque ela está livre de aspectos mais complicados, longe de Marte e disposta por um sólido Saturno em Aquário: favorece compromissos, acordos, negociações e o nosso sagrado descanso no recesso também.
Além disso, vale uma dica de observação celeste: Vênus está em ascensão heliacal, um termo técnico que significa que ela está reaparecendo no céu após ficar um longo tempo invisível, ofuscada pelos raios solares. Ela estará especialmente bonita de se observar nessa Lunação de Capricórnio. O momento ideal para observá-la é logo após o pôr do sol: primeiro vale conferir o horário exato em que o Sol está se pondo na sua localidade; daí, vá até um local com boa visibilidade do horizonte oeste e aguarde: assim que o Sol descer no horizonte, com o céu ainda entre o dia e a noite, Vênus estará especialmente visível e brilhante. Ela também irá se pôr no horizonte um pouco depois, cerca de 1 hora após o pôr-do-sol. Fica a dica para aproveitar essa bela presença venusiana nos fins de tarde do nosso verão.
Dito isso, vamos elaborar um pouco mais os significados expressos pela Vênus caprina?
“Eu só me interesso por pessoas engajadas em um projeto de autotransformação”
— Susan Sontag
A citação acima é parte de um compilado de diários e cadernos1 da Susan Sontag, uma nativa da Vênus em Capricórnio (além de Mercúrio e Sol). Esse fato eu descobri como muitas vezes acontece: por palpite. Lendo uma das várias edições sobre a Sontag na excelente newsletter The Marginalian, me deparei com essa citação e pensei: pra falar isso aí, deve ter Vênus em Capricórnio. Fui pesquisar, dito e feito, lá estava a confirmação.
A frase pode soar meio pedante a nossos ouvidos atuais, mas entendo o que a Susan quis dizer: a Vênus em Capricórnio expressa o potencial de relacionamento como um compromisso a ser firmado. Tal compromisso não se dá da noite para o dia e de qualquer jeito: há formas confiáveis de se fundar a estrutura de uma relação, e outras nem tanto. “Relação dá trabalho” é uma sabedoria popular que revela o que muitos nativos dessa Vênus já sabem: não basta querer ter as coisas, é preciso pôr intento e esforço para fazê-las florescer.
O afeto de uma Vênus no signo da cabra não se deslumbra muito pelo que é passageiro ou fugaz — aliás, não se deslumbra com muita coisa, em geral. Quatro patas firmes no chão, habituadas às subidas em terrenos pedregosos, evitam o excesso de ingenuidade. Como se carregasse desde cedo uma dose saudável de desdém e sarcasmo, o tipo de relação que uma Vênus em Capricórnio simboliza tem a ver com o que é construído, lentamente, na constância do tempo. Laços e bases fortes, confiáveis e seguros, porque não foram erguidos na pressa e cegueira de uma paixão arrebatadora — não é que não possa acontecer, é claro, mas o Tempo se faz um pilar fundamental e incontornável do vínculo que ela estabelece.
Seja romântico, platônico ou fraterno, o amor atravessado pela Vênus em Capricórnio se funda para durar o quanto se desejar, atravessando as intempéries da vida sem arregar por pouco. Portanto, quando a Susan diz se interessar somente por “pessoas engajadas em um projeto de autotransformação”, talvez essa tenha sido uma forma de dizer que ela não iria amarrar seu bode com qualquer pessoa que lhe encantasse os olhos à primeira vista — mas sim com as quais ela percebesse algum desejo e compromisso de construir algo junto. De experienciar, em companhia, os atravessamentos e efeitos do Tempo. (De fato, a Sontag teve duas grandes parcerias na vida: um casamento de 8 anos com Philip Rieff, e uma relação com Annie Leibovitz, que durou até seu falecimento.)
Júpiter em Áries
Há sempre espaço para se abrir para o novo. […] A disposição de recomeçar é uma oferta generosa que fazemos à nós mesmos. — trecho da edição #64
Depois de uma temporada com tantos aspectos tensionados em signos mutáveis e a sensação de esgotamento de possibilidades e urgência de mudanças, Júpiter reingressou em Áries, no último dia 20 — e onde ficará até 16 de maio. Como uma faísca de fogo que acende e corta o breu, depois de tanto esperançar-esperando, agora podemos esperançar-agindo de fato. Ano novo, governo novo, vida nova. Quer novidade e mudança maior do que os últimos nomes anunciados essa semana para os Ministérios? Um Júpiter em Áries — que nos acompanhará na mudança de ano astrológico em março — parece um prenúncio do que precisamos, em boa medida: uma página nova para recomeçar.
Em termos preditivos, porém, o que mais esperar desse Júpiter, no contexto do Brasil? Bom, por causa dos mapas dos Ingressos Solares em Áries e Libra, esse trânsito dialoga diretamente com os temas de casa 11: depois de uma significativa derrota de Arthur Lira com o fim do orçamento secreto, me parece que o reingresso de Júpiter vem inaugurar um novo momento no Congresso mesmo. A Lunação de Capricórnio traz movimentações importantes nesse âmbito, com figuras que podem sumir e reaparecer, mudando posicionamentos. É um tema para se prestar atenção nas próximas semanas, mas especialmente após a Lua Cheia (6 de janeiro).
lunação de capricórnio
Lua Nova: previsões de 24 de dezembro a 6 de janeiro
O mapa dessa Lua Nova em Capricórnio é uma joia: temos os luminares (Sol e Lua) na casa 1 acompanhados por Vênus e Mercúrio em Capricórnio bem posicionados. Saturno em Aquário, o dispositor de todos eles, ocupa a casa 2. A lunação se instaura com o foco na casa 1, o próprio país, em clima de inauguração de uma nova fase: é mesmo a lunação da posse presidencial que põe um fim no pior governo da história recente do país.
Por outro lado, Júpiter em Áries tensiona os luminares numa quadratura próxima: dois signos cardinais que colocam o impulso de agir e ver as coisas acontecendo logo frente ao ímpeto de planejar e construir a longo prazo, com foco em resultados mais sólidos, e que levam mais tempo para serem vistos. Há um quê de frustração que pode ser sentido coletivamente nesse sentido, como se a gente desejasse “tudo novo agora!” e não fosse possível, simplesmente (e raramente o é). Mas essa quadratura não atrapalha excessivamente, considerando mapas de lunações muito mais complicados que vivemos nos últimos meses; aliás, a pressão meio imediatista deve vir principalmente dos veículos de comunicação e imprensa. No fim das contas, Capricórnio é um signo de iniciativa que não foge de dificuldade. O clima é de um desafio grande a ser cumprido, claro, mas com alguns bons refrescos:
Vênus aparece na casa 1 livre dos raios solares e conjunta à Vega, estrela fixa que versa sobre benesses musicais e artísticas; ela rege a casa 5 e traz os interesses venusianos para o centro do palco na casa 1, não deixando dúvidas de que trata da instauração de um clima de celebração e vitória (e sim, início de uma longa jornada de reconstrução, pois Capricórnio). Tempo de festejo, sim!
Vega também trata de habilidades de oratória e retórica, e aí vale apontar que essa Vênus em ótimas condições também rege o ângulo MC, representando Lula nessa primeira metade da lunação. Ele aparece especialmente ocupado e comprometido com funções de diálogo, conciliação e convencimento. Vega trata de lábia, daquela capacidade meio malandra de desenrolar (o que sabemos que Lula faz muito bem, aliás).
Mercúrio vem regendo forças policiais e militares, e também o Poder Judiciário, e começa a lunação extremamente fortalecido, mas aí temos um porém: ele irá entrar em movimento retrógrado pouco antes da virada do ano, o que mostra alguma instabilidade ligada à esses setores. Pela presença de Marte retrógrado em Gêmeos jubilado na casa 6, me parece que ocorre, nessa primeira quinzena, algum tipo de ambiguidade no âmbito militar e policial. Penso num tipo de divisão ou cisma dentre esses grupos, mas a tendência não é contra o novo governo, pelo contrário: podem aparecer aliados importantes nesse ciclo.
Júpiter em Áries traz ações suspeitas no cenário de casa 4, potencialmente destutivas em reservas e temas relacionados ao meio ambiente. O gabinete do ódio também pode ser um tema que se reacende nesse período, embora nada de muito concreto ocorra antes da Lua Cheia.
períodos de atenção:
A meu ver, o único dia que vale destacar nessa primeira metade do ciclo é o 29 de dezembro, quando teremos uma Lua crescente em Áries conjunta à Júpiter, Mercúrio retrogradando Mercúrio retrograda e o ápice da conjunção Mercúrio-Vênus. Um dia importante e que pode trazer alguma ação simbólica de acordo entre o governo que entra e forças armadas, garantindo a segurança da cerimônia de posse.
Lua Cheia: previsões de 6 a 20 de janeiro
A chegada da Lua Cheia em Câncer simplesmente vem conjunta à duas estrelas fixas mais brilhantes do céu: Sirius e Canopus. A oposição Sol-Lua se dará no eixo das casas 6 e 12, trazendo um pouco de drama e revelações para a segunda metade da lunação, contrastando com o início mais tranquilo e assegurado desse ciclo:
Esse mapa traz algumas configurações que levam a pensar em algum tipo de processo judicial sendo posto em curso. Pode ser algo relacionado há eventos de um tempo distante, já que a Lua se opõe ao Sol que, na Cheia, também ativa a estrela Vega — e essa estrela, apesar de muito benéfica, também versa sobre um “passado que assombra”.
A Lua com Sirius, que normalmente representaria bem a ideia de lealdade, aparece na casa 12, de inimigos ocultos: tem cara de mentira, traição, delação premiada, etc. Poderia representar até alguma prisão relevante, mas me parece que o cenário é mais de revelação e condução de processos do que já de uma prisão de fato.
O circo pegando fogo, mas o presidente aparece focado em outros assuntos nessa segunda metade da lunação, sem envolvimento direto com esses temas levantados. Lula é novamente representado pela Vênus, que aqui aparece já em Aquário, na casa 7, com o Lote da Fortuna e Saturno: o foco dele após a Lua Cheia será nas relações internacionais, firmando acordos, transações e compromissos com outros países. Me parece provável que ele viaje nesse período, a partir do dia 9, talvez nas proximidades do 14.
períodos de atenção:
7 de janeiro: conjunção e combustão exata entre Mercúrio e Sol em Capricórnio; prejuízo para figuras do Legislativo, militares e para questões financeiras do país;
9 de janeiro: Lua em Leão oposta à Saturno em Aquário, segredos vindo à tona;
12 de janeiro: Marte encerra sua retrogradação, Lua transita em Libra; favorável para o governante em poder, acordos e conciliações, reforço de aliados;
18 de janeiro: Mercúrio encerra sua retrogradação, Lua se opõe à Marte; dia meio tenso, propenso à julgamentos e reviravoltas.
As previsões escritas acima tiveram colaboração da discussão coletiva da última oficina de prática de astrologia mundana ministrada por mim, com a participação ao vivo de Bells Fernandes, Bia Cardoso, Carola Braga, Felype Ferro, Isabela Morais, Ju Machado, Mariana Brasil, Patrícia Guedes e Sarah Marchon.
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um abraço e até semana que vem,
Ísis
SONTAG, Susan; RIEFF, David (Ed.). As Consciousness Is Harnessed to Flesh: Journals and Notebooks, 1964-1980. Nova York: Farrar, Straus and Giroux, 2012.