Oi. Tô sumida, né? Não teve edição de Lua Nova, nem vai ter da Lua Cheia. Mas hoje temos essa edição do burburinho, a newsletter “filha” da Meio do Céu. Criei ela há uns meses como um espaço para escrever sobre astrologia de forma mais pessoal, como uma seção autoral da publicação principal. E também porque, com os anos de escrita, a Meio do Céu foi desenvolvendo uma linguagem e propósito próprios, e algumas das coisas que eu compartilhava por lá começaram a soar meio fora do lugar, sabe? Então esse é um canto mais descontraído, pra escrever sobre astrologia por meio de coisas mais particulares que me passam na cabeça. Por aqui, teremos algumas edições com conteúdo pago, e outras abertas, como a de hoje.
A princípio, tinha decidido não enviar automaticamente as edições por email para todos os assinantes da Meio do Céu — e, por isso, talvez alguns estranhem de já ter duas edições do burburinho publicadas. Só que eu mudei de ideia e decidi incluí todos vocês nessa lista também. Prefere não receber? Tudo certo, só seguir esse link e desativar as notificações para a sua conta.
No dia 26 de dezembro de 2023, comecei o rascunho de uma edição sobre a experiência de falhar, de não conseguir, de não dar conta. E aí, por ironia da situação, estamos cá, quase oito meses depois, só agora conseguindo pô-la no ar.
Estou vivendo um ano difícil, pra dizer o mínimo. Quando abri o mapa da minha Revolução Solar de 2023, soltei um sono “eita" com a surpresa de ver um ascendente em Virgem — e, bem junto a ele, uma Vênus em Virgem. Uma Vênus em queda, como dizemos. Como muitos de vocês certamente já sabem, na astrologia os planetas têm signos de maior ou menor afinidade, chamados de dignidades e debilidades. E a queda é uma debilidade mais complicada. É como um personagem num ambiente totalmente avesso ao seu usual, à sua natureza — e que, por isso, se comporta de modo instável ou inesperado.
Como não sou doida de fazer previsões para mim mesma, tratei de marcar a leitura da minha Revolução Solar com a Letícia, da Piloto Júpiter Astrologia, com quem também aprendi quase tudo do que sei de astrologia. De fato, as previsões para o ano envolviam muitas coisas complicadas, especialmente ligadas ao planeta regente do ano, que nem era Vênus… mas foi a Vênus que ficou na minha cabeça. A imagem da Vênus em queda, no ascendente, me intrigava. O que aquilo queria dizer? Bom, eu estava prestes a aprender na prática alguns dos vários significados possíveis desse símbolo. Não só aprender na prática, como aprender na pele, porque estou num ciclo pessoal regido por Vênus há alguns vários anos, sendo ela significadora do meu próprio corpo no período atual.
Mas vamos por partes. Para começar, vale lembrar os significados básicos desse planeta:
Vênus simboliza as relações de forma geral, como nós nos unimos e interagimos com outros seres, romanticamente ou não. Ela também representa o que é agradável, belo e/ou prazeroso. As atividades eróticas e sexuais são de Vênus, bem como os fazeres artísticos em suas múltiplas formas. A higiene e a estética também são venusianas, bem como as práticas de mediação, ritualização e diplomacia, embora de forma menos ‘magnânima’ e soberana que Júpiter, que também versa sobre esses temas. [trecho dessa edição da MdC]
A partir daí, acho que a comparação entre signos opostos tem a sua utilidade: em Peixes, signo contrário à Virgem, a Vênus tem sua exaltação. E Peixes é a água mutável, a água que mistura tudo: se relaciona à dissolução das diferenças, à união pelo sentido de comunidade e algo maior a todos nós; é terreno da idealização, do sonho, do que é divino e maravilhoso. Vênus, o planeta dos prazeres, da devoção e dos relacionamentos, se deleita num terreno tão fértil para o sonhar junto, o perder de vista, a poesia do encantamento entre novos encontros. Faz sentido ela se exaltar em Peixes, enfim.
Em Virgem, o que resta à Vênus? A terra mutável é, de fato, um terreno de significados bem mais materiais e pragmáticos do que o seu signo oposto. Virgem é regido por Mercúrio, planeta que se manifesta na nomeação das diferenças, no discernimento do que é uma coisa e não outra, na análise crítica (e, sim, até fria) sobre as situações. Virgem não trata de sonho, trata de sustento: é um terreno em que a terra (ou a materialidade como um todo) é posta a serviço da utilidade. E utilidade, vamos falar a verdade, não tem muito a ver com o deleite e prazer sobre os quais a Vênus tem domínio. O amor não é útil. Ou melhor: o amor não é da ordem da utilidade.
Mas a gente também sabe que amor, só ele, não sustenta a realidade prática da vida compartilhada. “Só amor não basta”, a gente ouve e fala por aí. E eis que a Vênus em Virgem também tem, sim, muito o que dizer do que é belo, prazeroso e amoroso — mas talvez seja de uma perspectiva menos usual em relação ao que se toma como referência comum. Em Virgem, Vênus se põe à prova de tecer hábitos e relações por meio da repetição, motivada ao aperfeiçoamento: interessa aprimorar, fazer melhor, de forma mais eficiente, mais atenta. Representa um modo de estar e se relacionar que se volta às demandas cotidianas, à qualidade da comunicação, ao desenvolvimento pessoal e ao melhoramento mútuo. Ela se mostra no discernimento minucioso do que é seu, e o que é do outro. Sem delírios e devaneios de se confundir ou virar uma coisa só.
Mas ainda assim, queda é queda. E essa é uma parte potencialmente dolorosa, especialmente no que diz respeito ao campo dos relacionamentos — porque aponta para a desilusão, para o sonho que cai por terra. É vida real, não o ideal. O que sobra, quando a frustração se instaura? A Vênus em Virgem também se percebe na lida com as frustrações que fazem parte dos relacionamentos humanos. “Que pena eu não sou o que você quer de mim”, cantou a Karina Buhr, e acho bem Vênus debilitada das ideias (ela é nativa de Vênus em Áries!).
Só que, por mais estranho que pareça, mesmo sendo a sua queda, e Vênus em Virgem também se presta bem aos assuntos venusianos. Virgem ainda compartilha mais afinidades com esse planeta do que outros signos de debilidade. Vênus em Virgem ainda é um posicionamento razoavelmente propício para que as possibilidades de encontro e harmonia aconteçam (só vai ter que quebrar um pouco a cara antes), mas… talvez isso envolva frustrar expectativas convencionais sobre como essas coisas podem acontecer. Que tipos de práticas venusianas podem ser associadas à Virgem, isto é, subvertendo as convenções do que é belo, digno ou harmonioso? E no que tange diferentes modos e arranjos possíveis para relacionamentos? E o que existe e que tomamos como sagrado, intocável, e pode — ou precisa — ser humanizado?
E se eu falo de “lugar de falha” (perdão mas eu gosto de um trocadilho), é no sentido de tomar a falha, o “não dar conta”, como qualidades humanas mesmo. Veja bem: qualidades. Porque lidar com o erro e com a ideia da falha faz bastante parte da nossa experiência humana, e negar ou moralizar isso não deixa de ser uma forma de impor e manter um ideal sobre si e outres. E o ideal, meus amores… uma hora ele cai. Dá até pra entender o poder que a idealização tem sobre nós porque, bem… errar e falhar envolve ter que lidar com as consequências dessas coisas — e, sobretudo, seguir vivendo, porque não tem muito outro jeito.
TODO MUNDO ERRAAAAA
Muito do que tenho aprendido nesse ano pessoal sob a mira de uma Vênus em queda é que se haver com seu próprio destino envolve algumas renúncias, algumas frustrações, algumas perdas mesmo. E mais: o que se imaginava poder ser e fazer não cabe exatamente na realidade que se desenha, conforme vamos vivendo e percebendo o que se desenrola com mais facilidade e prazer em nosso caminho. Ter expectativas e aspirações frustradas não é fácil nem gostoso, eu sei. Mas o que a gente faz a partir disso? Nenhuma saída senão seguir em frente. Essa é a frase que tem me perseguido nos últimos meses. Nenhuma saída, senão atravessar o problema, sabe? Vida real, nada de sonho dourado.
Também tenho gostado do aspecto de “tá na lama, reveja suas prioridades” que acompanha a sensação de falha ou frustração. (E aqui cabe dizer que não é que uma Vênus em Virgem sempre vá representar isso, mas escrevo em maior parte sobre a minha experiência pessoal desse posicionamento na minha Revolução Solar atual, mesmo). Uma coisa meio “caia na real” (opa, olha a queda aí de novo): não vai dar pra ser tudo, linda. Nem fazer tudo. Que bom, aliás. Vamo focar então no que a gente gosta mais de fazer? Opa, aí sim. E aí eu acho que a humanização que a Vênus em Virgem carrega acaba trazendo consigo também uma certa praticidade, uma assertividade em observar, decidir e agir sobre o que funciona ou não funciona mais. E daí, aceitar que algumas coisas vão mesmo se perder, ou precisar mudar para seguirem de outra forma. Aliás, com quatro planetas em signos mutáveis atualmente no céu, o tempo tem imposto mesmo isso aí: a adaptação como uma necessidade constante. Estabilidade, na maioria dos casos, é mais um ideal do que qualquer outra coisa.
indicações musicais
Esse ano tenho ouvido artistas que nunca ouvi antes de forma consistente, e descoberto outros que são a minha cara. Um desses novos é o BadBadNotGood, um grupo de músicos canadenses que toca basicamente música instrumental numa mistura de jazz, eletrônico e hip hop. O que mais embalou as minhas últimas semanas — especialmente os momentos do tipo “preciso botar uma música pra me sentir bem” — foi essa tríade de EPs deles, intitulados Growth, Chaos e Order. O primeiro, em especial, não pára de tocar por aqui. Sabe quando você tá vivendo uma época da sua vida que tem uma trilha sonora bem definida? Nessa temporada dura da queda, esses EPs são isso, pra mim, atualmente. Recomendo muito todos, em especial o primeiro.
últimos dias de campanha!
Estamos nos momentos finais da campanha para uma nova edição do livro Tarô: máquina de imaginar e arqueologia do símbolo, um clássico aclamado do Alberto Cousté e esgotado há décadas. O projeto é encabeçado pela Oficina Palimpsestus e que também traz na campanha a publicação de Tarô: arqueologia do símbolo, um livro inédito do tarólogo e professor — meu amigo pessoal! — Julio Soares, do Fortuna Arcana.
Essa é a reta final da campanha, e esses livros merecem muito vir ao mundo. É só acessar o site da campanha e escolher seu apoio: dá pra escolher um dos livros, ou os dois, além de vários outros brindes e benefícios.
Obrigada por me ler e por assinar essa newsletter. A Meio do Céu segue na ativa, e vamos ter uma edição especial na semana que vem, escrita em parceria com um dos meus alunos das oficinas de astrologia mundana. No mais, espero poder retomar o ritmo de publicação em breve, em tempos e humores mais tranquilos.
um beijo e até!
Adoro que nas dicas musicais tem Revelação, Karina Buhr e banda canadense de jazz com rap. A Vênus em Virgem não consegue categorizar kkkkkk
Faço aniversário logo mais e o regente do meu ano novo é Vênus em virgem na 5 oposta à Saturno e lua na 11 e tudo isso aí quadrando meu regente pessoal, jupiter em gêmeos na 2. Aceito orações.