tudo sobre Vênus
em Áries, retrógrada, novamente estrela da manhã, e no retorno à Peixes
Venho ensaiando escrever sobre Vênus há meses. Por uma série de circunstâncias da vida, tenho pensado muito sobre o amor e colecionado leituras a seu respeito, coisa que nunca fui de fazer (costumava achar que amor é coisa que se faz, não se intelectualiza — nativa de Vênus em signo de fogo aqui). Grande equívoco, sim, pois dá pra coordenar teoria com prática direitinho. E aí uns tempos atrás me esbarrei na leitura do famoso “A gente mira no amor e acerta na solidão”1, da psicanalista Ana Suy, e acabei fazendo o que faço de melhor: aprendi e absorvi um tanto de coisa… correlacionando boa parte delas com astrologia. O fato é que o que a Ana elabora sobre paixão, amor e solidão é bastante rico em termos simbólicos, e me inspirou a aprofundar e discernir melhor o que percebo sobre os significados da Vênus e outros planetas no contexto desses temas.
Como as coisas acontecem no tempo delas, calhou de eu só conseguir parar e me organizar para escrever sobre Vênus agora, bem na temporada da retrogradação dela. Uma Vênus que retrograda no seu exílio, Áries, e atravessará o Sol no mesmo signo, encerrando sua fase vespertina (visível após o pôr do sol) e voltando a ser estrela da manhã — quando é possível percebê-la no céu no raiar do dia. Ainda na retrogradação, Vênus retornará ao signo de Peixes, e ingressará em Áries mais uma vez, no fim de abril. Só lá no começo de junho teremos enfim a Vênus em Touro, o que, na prática, significa um primeiro semestre bem marcado pela temporada atual cheia de agitações, com retrogradação, mudança brusca de signo e de fase heliacal. Ufa!
Essa edição, enfim, é algo no meio da Meio do Céu com a burburinho. Começo com uma reflexão mais livre sobre o significado fundamental de Vênus, mas tem boletim astrológico completinho também. E sim, foi especialmente escrita para apoiadores, que seguem firmes aqui segurando essa marimba comigo. (Lembrando que, para se tornar assinante pago, basta atualizar o status da sua assinatura nas configurações da sua conta do Substack.)
o desejo não é de Vênus
(Ou, pelo menos, não é primeiramente dela.)
Na minha perspectiva, Vênus trata fundamentalmente de formas de estabelecer relação com algo distinto de si. Mais especificamente, diria que Vênus trata de fazer vínculo por meio da diferença. Isto é, significa o ajuntamento entre partes desiguais, a aproximação entre coisas distintas — e, especialmente, (e desafiando todas as expectativas) da coexistência harmoniosa e prazerosa entre eles. O que é se relacionar, afinal, senão lidar com a inescapável diferença e distância entre o eu e o outro?
“O outro está sempre em certa medida nos decepcionando narcisicamente, dando notícias de que não funciona em espelho conosco.” (SUY, 2022, p. 57)
Percebam que escrevo que Vênus se propõe a fazer vínculo. Porque Vênus é o planeta que rege as uniões, encontros, boa convivência. Culturalmente, tudo isso costuma ficar embalado num pacotão chamado “amor”, mas amor é daquelas coisas com todo tipo de significado e leitura variável. E Vênus não significa um modelo específico de relação, nem necessariamente um romance; essas são, claro, manifestações possíveis e comuns na realidade do contexto em que estamos, mas não são as únicas.
E o desejo? Bem, uma das coisas que pensei, lendo a Ana Suy, foi sobre o quanto o desejo parece ser muito mais assunto da Lua, que versa sobre nossas necessidades e impulsos corporificados, incluindo o que nos satisfaz. Do pouco que compreendo a partir da leitura (estou longe de ser psicanalista, graças a deus risos), o desejo é um tipo de força que nos impulsiona e mobiliza para ação — soa mesmo como algo mais próximo da Lua na astrologia, que é regente do nosso corpo e vitalidade pessoal. Com isso, os signos que Lua (que nos informaria sobre o modo de desejar) e Vênus (que informa sobre o modo de se relacionar) ocupam vão dar suas particularidades, seu “sabor” diferente e específico de cada um para esses diferentes fins. Bons aspectos entre Lua e Vênus num mapa, portanto, parecem facilitar a construção de relações que reúnem de modo mais harmonioso a satisfação de desejos à manutenção dos vínculos afetivos. Por outro lado, a falta de aspecto entre elas, aspectos tensos, debilidades e outros fatores trazem desafios e dificuldades nesse sentido.
Falar de Vênus soa muito bonito, mas é claro que nem sempre criar ou manter vínculo é positivo; não faltam exemplos de vínculos destrutivos para os indivíduos envolvidos, ou de excessiva dependência emocional. Às vezes o que desejamos não é exatamente saudável para nós mesmes. Vênus trata de fazer vínculo por meio da diferença, mas nem todas as diferenças são conciliáveis — e é bom que não sejam. Essa temporada de Vênus retrógrada, que se inicia em Áries, também tem bastante a ver com isso.
Vênus retrógrada: de Áries a Peixes, passando pelo Sol
Vamos começar com o básico: Vênus retrógrada é um evento. A meu ver, tem mais relevância que as outras retrogradações simplesmente porque é a mais rara de todas, ocorrendo aproximadamente a cada 19 meses (em comparação, Mercúrio fica retrógrado duas vezes ao ano).
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