Na manhã dessa quinta-feira, 6 de junho, a Lua encontrou o Sol em Gêmeos. É o início da lunação que encerra o primeiro trimestre do ano astrológico; o fim do primeiro ato, que antecede a mudança de estação.
Escrevo essa edição enquanto cinco astros transitam no signo de Gêmeos. Agitação é pouco pro clima do céu e dos últimos dias. Multiplicam-se histórias, fofocas, tretas, disputas e imprevistos. O fluxo é caótico e, de certa forma, familiar — porque o Brasil foi fundado sob Lua e Júpiter em Gêmeos, será? —, mas não deixa de provocar inquietação e a sensação acachapante de tudo estar desgovernado demais.
O céu dessa Lua Nova traz todo o atual bonde de Gêmeos — Sol, Lua, Mercúrio e Júpiter — em quadratura com Saturno em Peixes, além de um sêxtil já distante com Marte em Áries. O aspecto com Saturno predomina: é como se ele pressionasse nossas expectativas lógicas sobre o mundo da forma mais inconveniente possível. O deus Tempo, enfim, não tá nem aí pro seu planejamento. Pensou que era de um jeito? Pense de novo. Tomou decisão x? Talvez seja preciso mudar de ideia.
A pressão de Saturno sobre os cinco planetas em Gêmeos evidencia os limites difusos, a falta de nitidez e ordenamento sobre muitas estruturas que nos cercam, das quais dispomos para viver. Os meios de comunicação, naturalmente, cabem muito bem nessa descrição. A sensação é de estar patinando sobre um grande campo de incertezas, atirando pra todos os lados, sem grande perspectiva de retorno ou segurança sobre qualquer coisa.
A quadratura que Saturno em Peixes impõe opera como um grande “manto apaziguador”, apagando as nuances entre as coisas. Dá pano pra manga pra distorção de argumentos e relativização excessiva das situações, como se fizesse malabarismos com a realidade. Que caminho há? Mercúrio em Gêmeos responde: é preciso dar nome às coisas; discriminar, distinguir, identificar as diferenças fundamentais entre elas. Caminho se desenha por meio de comunicação, diálogo, ensino e aprendizado do discernimento. Júpiter em Gêmeos complementa: misturar tudo num balaio único é receita certa pra avaliação injusta e equivocada. Na dúvida, não simplifique. Complexifique. Nada é sério demais, mas coisa nenhuma é tão simples assim.
Vênus em Gêmeos também contribui nessa conversa: ou aprendemos a dançar conforme a música, ou nos rendemos à imobilidade e rigidez. O contrário da adaptação é a obsolescência. Quem não consegue minimamente se virar no improviso que a realidade exige, se perde no tempo e no isolamento que ameaça se erguer ao seu redor. A tensão com Saturno também descortina a faceta do escapismo e desejo de fuga da realidade, fenômenos que vêm se evidenciando desde seu ingresso em Peixes. Apesar de tudo, ainda que em quadratura com Saturno, a Vênus em Gêmeos conjunta aos luminares é como uma prece para que o medo não nos obrigue a parar. Para que o medo não nos leve embora a leveza. Para que o medo seja afugentado, enfim, pela gargalhada de quem é capaz de aliviar a tensão mesmo em meio às maiores perturbações.
Não podemos esquecer, é claro, que signos mutáveis inspiram mudanças. E mudança é uma das únicas certezas que podemos ter. O diálogo harmonioso com Marte em Áries também é um lembrete de que certas brigas valem (e muito) ser compradas. Não por vaidade, mas pela pressão por mudanças necessárias. Pela defesa dos mais vulneráveis. Certas brigas, sim, inspiram desorganizações e reorganizações necessárias.
“Quando olhamos para o que não podemos ver, o que vemos são as coisas dentro de nossas cabeças. Nossos pensamentos e nossos sonhos, os bons e os ruins. E me parece que, quando a ficção científica está realmente fazendo seu trabalho, é exatamente com isso que está lidando. Não com ‘o futuro’. É quando confundimos nossos sonhos e ideias com o mundo do não-sonho que estamos em apuros, quando pensamos que o futuro é um lugar que possuímos. Então sucumbimos ao pensamento ilusório e ao escapismo, e nossa ficção científica fica megalomaníaca e pensa que em vez de ser ficção, é previsão […]. Como escritora de ficção científica, eu pessoalmente prefiro ficar parada por longos períodos, como os quéchua, e olhar para o que está, de fato, diante de mim: a terra; meus semelhantes nela; e as estrelas.”
— Ursula K. Le Guin, Science fiction and the future
(outra querida e nativa de Lua e Júpiter em Gêmeos)
A Lua Nova em Gêmeos será sucedida por uma Lua Cheia em Capricórnio — e esse ano, teremos duas Cheias em Capricórnio. Até lá, nas próximas duas semanas, uma série de aspectos importantes ocorrem: as quadraturas de Saturno com Vênus (dia 8), Sol (9) e Mercúrio (12), as conjunções de Sol-Mercúrio em Gêmeos (14) e de Mercúrio-Vênus em Câncer (17). Não é pouca coisa, especialmente por Sol e Mercúrio serem regentes do ano astrológico no Brasil. Essa é uma lunação de reordenação de peças no tabuleiro: o que parecia estabelecido e previsível se diversifica. Há uma desorganização em curso que nos obrigará a seguir e observar de outras perspectivas.
Antes mesmo da Lua Cheia em Capricórnio, porém, teremos o Ingresso do Sol em Câncer, iniciando o segundo ato desse ano astrológico, o que nos trará mais um mapa com promessas e possibilidades para o trimestre de inverno no Brasil. No próximo dia 20, teremos uma edição especial com essas previsões.
Por fim, deixo aqui a recomendação de leitura do texto que a Bárbara publicou na sua newsletter dessa semana. Seguindo bem a toada dessa lunação, é um texto que cumpre muito bem a função de diferenciar, explicar e defender o fundamento da astrologia tradicional, alvo de incompreensão e simplificações descabidas há bastante tempo. Leiam!
Um abraço e até,
Ísis
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