No momento em que esta edição chegar na caixa de entrada de vocês, o ano novo astrológico vai ter acabado de começar. O ingresso do Sol no signo de Áries é o equinócio (de outono no hemisfério Sul, e de primavera no Norte) e marca o início de um novo ciclo astrológico. No momento exato dessa mudança de signo do Sol, um mapa é levantado e calculado para cada região de relevância; a partir dele, delineamos previsões para os 12 meses à frente. A edição de hoje é dedicada a apresentar um panorama geral do que podemos ou não esperar do ano astrológico de 2024, com foco no cenário brasileiro.
Esta edição foi escrita logo após uma oficina que ministrei sobre o Ingresso Solar em Áries. As previsões aqui escritas tiveram colaboração direta da discussão coletiva desse encontro, em que participaram ao vivo Ananda Souza, Bárbara Ariola, Bells Fernandes, Dani Nachif, Lenine Murr Neves, Marina Bohnenberger, Pedro Joffily, Rafael Monteiro e Salem Oliveira. Valeu, turma!
introdução
O mapa deste ano traz o Sol na casa 4, bem próximo ao ângulo do fundo do céu, acompanhado ainda de Mercúrio, também em Áries. Esses dois, Sol e Mercúrio, são os regentes do ano para o Brasil, ocupando uma posição de especial interesse na nossa observação de seus trânsitos nos próximos meses. Para além das previsões específicas, há sempre espaço para uma leitura mais subjetiva em torno do que esse mapa nos aponta, enquanto coletividade.
A casa 4 compreende os significados de lar, segurança, abrigo e acolhimento. É para onde nos refugiamos da visibilidade pública. A intimidade e a convivência próxima. Também o local que trata do passado, das raízes e ancestralidade. E, além disso, é a casa mais baixa do mapa e que, portanto, nos dá o chão: a terra, o território, a fundação, a própria casa material mesmo, e bens imóveis no geral. O que nos provê uma base e nos protege, ou deveria fazê-lo, metaforicamente ou não.
Há um sentido interessante de um Sol tão aceso, exaltado em Áries, ocupando a casa mais baixa do mapa; é como um holofote sobre um canto escuro, um tesouro prestes a ser descoberto. De fato, é o que Bonatti (astrólogo italiano do século 13) escreve sobre esse posicionamento num mapa coletivo: coisas guardadas que vêm à tona, revelações, etc. Gosto de pensar que essa posição nos aponta uma direção de observação e consciência do passado: revirar memórias, registros, descobrir relações inesperadas; se debruçar sobre o que já foi, e o que nos trouxe até aqui. A companhia de Mercúrio em Áries, inclusive, traz um tom mais desbravador pra coisa toda, com a curiosidade de quem procura alguma coisa querendo achar novidade. Isso pode significar conversar com parentes sobre histórias antigas, revirar álbuns familiares, reler diários de tempos atrás … enfim, revisitar um passado que já foi, com um olhar restaurado. Lidar com esses temas me parece uma experiência que, dadas possíveis dificuldades, pode oferecer aprendizado e novas perspectivas, além de descobertas que alteram as condições do tempo presente.
Ao mesmo tempo, há um aspecto dentro desses temas que exigem uma postura mais atenta e de proteção, indicado pelo trígono que Sol e Mercúrio fazem com a Lua crescente em Leão, na casa 8: é como estivesse imposta, também, a necessidade de defender e resguardar o próprio território na lida com outras pessoas. Algo a ver com firmar os pés no chão, se impor como autoridade para delimitar até onde forças externas podem e devem intervir; não é um aspecto exatamente de conflito, mas de atenção para que aspectos importantes não se percam no caminho, não parem em mãos erradas ou que, se necessário, possam ser positivamente ressignificadas.
Outro posicionamento fundamental é o de Saturno em Peixes, que rege o ascendente em Capricórnio deste mapa para o Brasil, conjunto à Vênus também Peixes, exaltada, bonita que só. Essa dupla ocupa a casa 3, sublinhando a importância de tudo que envolve a comunicação e a linguagem: há muita inspiração expressa nesse mapa, um tipo de potencial imaginativo que abre caminhos e amplia as possibilidades então estabelecidas. Júpiter em Touro na casa 5 reafirma essa orientação para a criatividade. Saturno pesa sobre a Vênus impondo alguns limites e compromissos, o que é positivo, mas também restrições e possíveis obstáculos nessa via da comunicação. Porém, nada que prejudique suficientemente os significados positivos trazidos por ela. Nesse sentido, o diálogo entre esses planetas estabelece, nesse primeiro trimestre, um caminho aberto para experimentação artística, escrita ficcional e todo tipo de empreendimento que dependa de imaginação e criatividade para acontecer. Nos trimestres à frente, a demanda por concretizar e viabilizar o processo para que as coisas funcionem e sejam mais eficientes surgirá; por enquanto, podemos nos dar o tempo de não precisar pensar pequeno, nem burocratizar os processos ou ser crítico demais; tudo aqui diz muito mais sobre ampliar a visão, permitir-se descobrir e explorar o que existe, ou pode existir. E Vênus conjunta a Saturno na 3 também dá a dica de como se livrar de problemas e dificuldades nesses âmbitos, especialmente o da comunicação: vá no jeitinho, adoce a boca, amoleça o que parece estar rígido demais pra dar passagem. A água sempre encontra caminho pelas frestas.
mapeando previsões
Assim como no ano passado, esse ano astrológico para o Brasil será dividido em quatro partes, isto é, em quatro trimestres:
primeiro: 20 de março a 20 de junho
segundo: 21 de junho a 22 de setembro
terceiro: 23 de setembro a 21 de dezembro
quarto: 22 de dezembro a 19 de março (de 2025)
Isto é, a cada início de uma nova estação, que corresponde ao ingresso do Sol nos signos cardinais (Áries, Câncer, Libra e Capricórnio), teremos um novo mapa que complementa e atualiza promessas e previsões vistas no mapa de hoje. Embora as previsões a seguir possam ser percebidas ao longo do ano, há um enfoque maior sobre o primeiro trimestre, que termina em 20 de junho. Além disso, a visão sobre o mapa do ano é sempre panorâmica: qualquer acontecimento mais específico é melhor apontado pelos mapas das lunações.
Como mencionado acima, os regentes do ano astrológico de 2024 para o Brasil são Sol e Mercúrio. Esse deve ser um ano com bastante ênfase mercurial, devido, também, ao ingresso de Júpiter em Gêmeos, que será significativo mais à frente. Problemas comuns envolvendo esse posicionamento envolvem dispersão de ideias, bem como de formulações de forma desorganizada, inconsistência, falta de pragmatismo na comunicação, mudança repentina de posicionamento, etc. Gêmeos é um signo desafiador para Júpiter, porque oferece um terreno fragmentado para a busca de ideais que Júpiter aciona, mas não é sinônimo de desastre: o que ocorre é que, como de costume, planetas exilados exigem que as situações sejam observadas com perspectivas menos convencionais, e mais disposição para inaugurar outras possibilidades.
O Sol em Áries na casa 4 acende a necessidade de atenção sobre o território, temas que envolvem agricultura, terras, fronteira, extração mineral, etc. Esse é, ou deveria ser, uma prioridade para o governo esse ano. Por ser regente da casa 8 nesse mapa, o Sol também aponta para a possibilidade da entrada de capital estrangeiro nessas áreas, especialmente envolvendo fontes energéticas e programas de preservação ambiental. Há visibilidade sobre essas ações, no sentido de que as coisas não parecem ser feitas por baixo dos panos, mas faz-se necessário medir a dimensão de possíveis interferências externas e divergências de interesses.
O regente do presidente é Mercúrio em Áries, favorecido no mapa. Mostra uma postura bastante vocal, posicionada e mobilizada em torno de valores nítidos. O Brasil vive uma fase de grande exposição e responsabilidade no âmbito internacional, em especial desde outubro de 2023 (quando tivemos o Eclipse Solar em Libra), e esse mapa reafirma tal cenário, com o adicional do governo parecer bem avaliado nas relações internacionais, coerente, com a continuidade de acordos sendo feitos, e um posicionamento diplomático respeitado.
Vamos ter alguma prisão importante? Neste trimestre, a meu ver, não parece o caso de nenhum peixe grande… o que é provável é a prisão de alguma figura política hierarquicamente menor, mas bastante barulhenta. Caso ocorra, é coisa mais pro fim do trimestre, lá no começo de junho, após a Lua Nova em Gêmeos.
A casa 5 aparece bem favorecida com Júpiter em Touro dentro dela, beneficiando os ramos das artes, entretenimento, jogos e competições. A inspiração que me referi na seção acima também se vê aqui, com bons eventos e oportunidades, especialmente a nível criativo. Isso vale especialmente para o primeiro trimestre, pois já no segundo teremos modulações importantes sobre esse significado. Esse Júpiter é, também, um testemunho importante sobre crescimento da natalidade e condições de algum tipo de benefício, ganho ou melhoria em temas relacionados às crianças e ao ambiente escolar.
As eleições são um dos grandes temas de 2024, e apresentam neste trimestre um cenário de alianças inusitadas na concorrência, com promessas que acenam ao apaziguamento, razoabilidade, conciliação de diferenças. Também há turbulências prometidas envolvendo o processo eleitoral, o que veremos mais à frente, mas parece ter a ver com problemas relacionados à tecnologia, gestão de dados e comunicação. O que me lembra, aliás, do boato que em alguns locais sombrios da internet de um possível apagão comunicacional em vista para esse ano; não me parece ser o caso de algo tão dramático e danoso, mas a presença dupla de Vênus-Saturno em Peixes na casa 3 põe em evidência, sim, um grande foco de atenção para as mídias e meios de transmissão, com a possibilidade de paralisações, congelamentos, perdas ou bloqueios parciais — todos eles reversíveis, a meu ver.
A economia não é o melhor dos temas desse mapa, embora já tenhamos passado por anos bem piores; ela vem representada pelo mesmo Saturno em Peixes, indicando uma certa flutuação e instabilidade. Marte em Aquário na casa 2 aponta para gastos e possíveis recortes relacionados a decisões do Poder Legislativo, mas não me parece que seja ao ponto de prejudicar e vulnerabilizar a população. As pessoas comuns, inclusive, vêm representadas pela Lua crescente em Leão, bem amparada pelo Sol em Áries: há receptividade e aprovação do governo, alguma garantia de sustento e condições dignas de manutenção da vida. Mas sua posição na casa 8 acende, sim, o alerta sobre segurança e criminalidade.
Em termos temporais, o trimestre até 20 de junho começa um pouco mais turbulento, já que conta com uma conjunção de Marte e Saturno em Peixes, em 10 de abril, e dois eclipses: o primeiro em 25 de março, penumbral, é basicamente uma Lua Cheia um pouco menos luminosa; o segundo é um Eclipse Solar Total, em 8 de abril, visível na América do Norte, sendo bastante relevante para os Estados Unidos (e que, a meu ver, mudará bastante os rumos da eleição presidencial). De meados de abril em diante, temos aspectos bem mais amenos no céu, sem grandes tensões e conflitos, até o solstício de inverno. Que possamos, enfim, tirar proveito do que há de melhor anunciado por esse mapa. Feliz ano novo!
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O texto dessa edição foi revisado pelo olhar atento e generoso de Isabela Morais. Valeu, Isa!
Um abraço e até a próxima,
Uma coisa que esqueci: como você abordou na newsletter a questão das eleições, esse Saturno em Peixes na 3 pode trazer bastante a questão da população de rua como pauta dos debates (especialmente em SP, onde a coisa está bastante acirrada).
Beijos!
Isis, adorei suas previsões! Queria acrescentar duas coisas que me ocorreram enquanto lia:
- Vênus + Saturno em Peixes na 3 e a Lua em Leão na 8, fiquei pensando se talvez não tenha mais desdobramentos essa questão de o governo jogar pra debaixo do tapete a história da ditadura no Brasil e de desistir de fazer o Museu dos Direitos Humanos em memória das vítimas. Seria uma forma de trazer uma "reparação" com essa Vênus o resguardo da história com Saturno (dispositor de Marte na 2, os militares). Acho que essa questão pode voltar outras vezes durante esse ano e o presidente ser cobrado por isso;
- Júpiter em Touro na 5, pensei se não podemos ter em algum momento decisões judiciais importantes em casos criminais envolvendo crianças (pensei no menino Henry Borel). Também em casos que envolvam estupros e violências contra a mulher, decisões favoráveis às vítimas.
Beijos! Que bom que você voltou!