edição #98
É sempre curioso escrever sobre a temporada de eclipse porque, quanto mais vivo, e com mais atenção observo o tempo, mais nítida fica a mudança do clima no ar. Noites agitadas, sonhos peculiares, os bichos se comportando de forma errática ou pouco usual, um clima geral meio… pesado? Veja bem, não estou “culpando” a astrologia pela homofobia institucionalizada, a ascensão do conservadorismo, o aquecimento global ou os conflitos no Oriente Médio. A astrologia é apenas um tipo de conhecimento que nos dá ferramentas para observar os ritmos e movimentos do céu e interpretá-los na forma de acontecimentos na Terra: é uma relação de espelhamento e não de consequência, e envolve uma margem de possibilidades, não a determinação rígida de um evento único.
A aproximação de um eclipse solar tão visível para nós aqui no Brasil, no entanto, não me passou despercebida essa semana. Há algo de tenso mesmo no ar e que não se resolverá tão rapidamente. É claro que algumas dessas percepções são mais pessoais do que uma regra que se aplica a todos, mas aprendi a levar a sério — e, também, a não levar tão a sério — o que percebo no meu entorno, no passar dos dias. E o fato é que vem um baita eclipse aí e eles raramente apontam para cenários de calmaria e segurança.
Como escrevi em outra ocasião,
Historicamente falando, eclipses sempre foram eventos grandiosos, porque implicam numa modificação imediata e evidente na aparência do Sol ou da Lua: num eclipse solar, toda a luz se esvai momentaneamente e o dia “vira” noite; é um evento impactante e impressionante para quem o vive. O eclipse lunar é visualmente menos “dramático”, mas quando ocorre, também altera significativamente a Lua Cheia, que ganha com um tom avermelhado.
E daí, é simples entender a razão pela qual vocês dificilmente verão algum astrólogo tradicional se referindo à eclipses de forma positiva:
Na astrologia, o Sol e a Lua são luminares, os astros doadores de vitalidade; é o Sol que permite a existência da vida terrestre como conhecemos e a Lua reflete a sua luz. Quando os luminares são eclipsados, sua luz é interrompida; em termos simbólicos, tal interrupção é também uma perda de vitalidade, de visibilidade, de consciência ou de nitidez.
Por último, e não menos importante: eclipses são eventos de natureza coletiva, normalmente envolvendo circunstâncias que afetam uma comunidade, uma região ou um país como um todo e seus efeitos podem se estender por meses (em casos de eclipses lunares) ou até anos (em caso de eclipses solares). Isto é, um eclipse pode até ser relevante a nível individual, a depender de pontos pessoais do seu mapa natal, mas isso é bem mais raro do que se imagina.
Introdução feita, vamos ao que interessa: o Eclipse Solar a 21º de Libra será amplamente visível nas Américas do Norte, Central e em boa parte da América do Sul, incluindo aí todo o Brasil, especialmente nossas regiões norte e nordeste.
Um eclipse solar costuma apontar para efeitos mais diretamente danosos à referências centralizadoras: líderes, heróis, figuras de autoridade, governos ou outras instituições de comando. No caso deste, essa disposição de enfraquecimento vem reforçada pelo signo de Libra, que é a queda do Sol, um ponto temporal que já trata, convencionalmente, de instabilidade do poder e perda de convicções ou noções de segurança.
Antes de entrar nas previsões mais concretas, vou ressaltar o principal aspecto desse eclipse para o Brasil, que é a oposição entre Vênus em Virgem e Saturno retrógrado em Peixes. Ele não é de todo ruim, mas ficará especialmente marcado nos próximos meses, devido ao seu destaque no nosso mapa local. A Vênus em Virgem — que é outro planeta em queda — não raro indica decepção e inflexibilidade, especialmente no âmbito de união e relacionamentos. A boa recepção com Saturno, porém, ajuda a colocar perspectiva sobre o olhar exigente: o que nos frustra, muitas vezes, serve para nos ajudar a perceber melhor nossos próprios limites e desejos. Como a Bárbara bem escreveu numa edição só sobre esse trânsito (recomendo!), “levantar-se das decepções é esperar o tempo das coisas”. Vamos em frente, então.
Eclipse Solar a 21º de Libra
apontamentos dos efeitos sobre Brasil e Estados Unidos
Para o Brasil, esse eclipse solar tem uma certa ambiguidade: o mais provável é que os efeitos mais catastróficos que ele simboliza nos afetem indiretamente, com algumas exceções. O fato é que este é um eclipse bem relevante para o Brasil, tanto por sua evidente visibilidade, quanto pelo Sol ser o principal regente do ano astrológico por aqui.
Eclipses têm regentes específicos para cada país, a variar pelo mapa do local a que se referem. Para o Brasil, atribuo a regência deste eclipse à Vênus em Virgem, que está se pondo no ângulo descendente.
Para começar, a oposição Vênus-Saturno reforça o caráter crítico e instável dos efeitos desse eclipse em nosso país: reviravoltas, situações inesperadas (quando não, no Brasil?) e danos que atingem a população em geral, não só os poderosos. Me parece, sobretudo, que perceberemos os efeitos desse eclipse por meio de outros países, não tão fortemente por eventos de natureza interna. Embora não veja grandes crises diplomáticas, há desafios nas relações internacionais e o Brasil se vê numa “berlinda”, numa situação de bastante exposição e responsabilidade, onde cada movimento e decisão deverão ser estratégicos e cuidadosos. Acordos financeiros, comerciais e diplomáticos estarão em pauta.
A condição climática é outro ponto de forte alerta, com problemas de enchentes que reaparecem com mais gravidade no fim do verão (fim de fevereiro a início de março). Também há risco maior de perdas e prejuízos em relação ao cultivo e safra de produtos, o que pode exigir alguma necessidade de importação ou aumento de dependência de algum produto externo. Em termos de abastecimento, não me parece que há grandes razões de preocupação imediata, mas essa previsão pode vir a ocorrer daqui a alguns meses, no último trimestre do ano astrológico (22 de dezembro a 19 de março).
E se pensarmos na queda de alguma figura ou referência de poder, como é comum nos eclipses solares, o que aparece por aqui? A meu ver, não há risco para o governo, presidente ou outros membros do Poder Executivo. No entanto, a possibilidade de “queda” aparece para alguma pessoa de potência ou autoridade, ligada ao cenário de casa 6 — e aqui se incluem oficiais militares, agentes de polícia ou inteligência, milicianos ou até alguém ligado à área da saúde.
Somado a isso, embora não necessariamente na mesma situação em questão, é possível verificar danos para figuras políticas menores (parlamentares ou familiares deles, por exemplo) de opositores do governo atual — provavelmente envolvendo escândalos de corrupção e desvio de verbas.
Como o eclipse ocorre na casa 8 para o Brasil, outros temas que emergem têm a ver com precatórios, tributos, questões sanitárias e financeiras — que podem envolver outros países, como mencionado. Ficam nítidas as mudanças e instabilidades nesse âmbito, sem possibilidade de que ações de risco não tragam fortes danos, redobrando a necessidade de cuidados e medidas de proteção econômica interna.
Marte em Escorpião na casa 9 em trígono a Saturno aponta para possibilidade de greves, paralisações e manifestações em universidades, provavelmente por conta de verba. Não se trata de catástrofe, mas de ações significativas nesse cenário, que pressionam os governos estaduais e federal.
Por fim, abrindo uma exceção que não costumo fazer, já que meu enfoque nesta newsletter é o Brasil, um breve comentário sobre os efeitos do eclipse para os Estados Unidos: no mapa para Washington, o eclipse ocorrerá no eixo das casas 4 e 10, impactando diretamente o governo nacional. O regente do eclipse lá é o próprio Marte em Escorpião, que está angular junto ao MC, indicando grande risco de infortúnios e conflitos envolvendo o presidente Joe Biden, inclusive no âmbito pessoal. Marte representa as guerras e, sendo regente do eclipse para o país, também indica um forte marcador desse tema na imagem dos Estados Unidos nos próximos anos e não de forma positiva ou muito favorável. Internamente, a regência de Marte também preocupa devido a um provável aumento de disputas envolvendo fronteiras e território, saqueamentos, roubos, etc, além de possíveis problemas envolvendo fornecimento ou contaminação de água.
As previsões escritas acima tiveram colaboração da discussão coletiva da oficina sobre o Ingresso Solar e Eclipse em Libra, ministrada por mim, em que participaram ao vivo Benício Bruno, Bia Cardoso, Carol Braga, Isabelle Fernandes, Ju Machado, Marina Stravato, Patrícia Guedes e Rafael Monteiro.
Um recado para apoiadores
Olá, apoiador. Antes de mais nada: obrigada por permanecer aqui. Esse tem sido um ano produtivamente muito aquém do que eu esperava escrever e publicar na Meio do Céu. E acreditem que ideia e inspiração não faltaram, como se pode ver pela minha aba de rascunhos (drafts) no Substack:
Nos últimos meses tive a ideia ou comecei a escrever, de fato, várias edições especiais exclusivas para apoiadores, no intuito de publicar pelo menos uma vez ao mês, como era de costume por aqui. Não consegui. Sem grandes novidades, a principal razão para isso é sobrecarga de trabalhos e funções acumuladas — dando aula como astróloga, criando coisas como designer e artista, pesquisando e escrevendo dissertação como mestranda. Achei que ia conseguir dar conta de tudo, mas não rolou.
Faço essa mea culpa com total consciência de que não é uma situação que se resolverá de imediato, mas para dizer que pretendo correr atrás de publicar esses textos à medida do possível, passado o afogamento dos últimos meses, em que mil projetos e demandas se sobrepuseram.
Além disso, devo anunciar que a loja online Alfa Serpente será reaberta em novembro com lançamentos imperdíveis, inclusive o do Lunário 2024 — o qual vocês, apoiadores, terão um belo desconto exclusivo. Então essa vantagem vem aí, sem mais tanta demora.
Obrigada por tudo, viu?
Um abraço e até a próxima,
Ísis
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Ísis, não consigo mais ser apoiadora já há alguns meses, mas como uma pessoa que já foi apoiadora por um bom tempo posso dizer que acho que as pessoas te apoiam muito mais pq gostam de vc, do que vc cria aqui no geral e pq querem que vc possa escrever COM SAÚDE. Não apoiam simplemente pra consumir o conteúdo exclusivo. Mas espero que as coisas fiquem mais leves pra vc logo 🤍
O mapa dos ianques babadeiro demais pra passar batido numa news de eclipse, né? kkkk
Sobre as edições pra apoiadores, mulher, fique tranquila. Eu apoio porque amo seu trabalho e vejo mais como uma forma de contribuir, não só pra receber coisa exclusiva. E como a Sarah falou lá embaixo, imagino que a maioria pense assim também. Dito isto ANSIOSA PELO LUNÁRIO!!!