edição #109, Ingresso do Sol em Libra
panorama geral para o Brasil até 20 de dezembro de 2024
E aí querides, como estamos? Vivendo, resistindo? Depois do atropelo que foi o trimestre de inverno, qualquer coisa melhor que “razoável” é lucro. Hoje o Sol ingressou em Libra, o que significa que é equinócio de primavera no hemisfério sul, e uma nova temporada se inicia dentro do ano astrológico. De março pra cá, tivemos chuvas torrenciais e enchentes históricas; mais recentemente, incêndios e queimadas tão numerosos que formaram volumes de fumaça pelo país por dias e semanas. O céu reflete o mundo, e um céu sem estrelas, encoberto por fumaça, diz muito sobre o tempo que vivemos. Mas esse tempo segue correndo, e o Ingresso do Sol em Libra é mais um marco de reinauguração das possibilidades do céu por aqui.
Cair
e
ver beleza
nas quedaso que
desaba
também
está em movimento.— Débora Arruda, poeta e artista visual indígena
Libra é a queda do Sol. O que significa que o Sol se desorganiza no signo de Libra — que quando ocupa este território, sua natureza solar de centramento e autoridade se esfacela. É um trânsito que, anualmente, simboliza um período de desestabilização da realidade posta. De inversão de cenários. Mas o que isso pode significar, num ano de (já) tantas instabilidades?
No hemisfério norte, o ingresso do Sol em Libra marca a chegada do outono, o decair das folhas, da luminosidade diária e da vitalidade dos seres vivos em geral. Aqui no sul, é curioso que o mesmo ingresso inaugura a primavera, uma estação de promessa de esperança, fertilidade e colheita. Nesse contexto nosso, enxergo o Sol em Libra pelas lentes do descentramento, do espalhamento entre o que há dentro e fora. A primavera delineando uma temporada de partilha, de sair de si mesmo, de despir-se de certezas muito próprias, de atender à necessidade de interação e interdependência com o entorno. A vitalidade fica esparramada nos vínculos e trocas, naquilo que nos une uns com os outros. Afinal, é tudo natureza — bicho, gente, planta, pedra, rio —, o tempo todo, por mais frequente que a gente se esqueça disso.
Também gosto de pensar nesse ingresso do Sol em Libra, que é a primavera para nós, como um momento de balanço geral (sim, Libra, a própria balança). Apurar o que tá bom, o que tá ruim. A balança quase sempre vai pender para um dos lados. Mas o que mais importa é a ação de pôr a devida distância e avaliar (Libra exalta Saturno, afinal de contas), não o ideal do equilíbrio. No fim das contas, a chegada da primavera põe em questão o que precisamos e queremos colher na próxima temporada. Também, o que temos para partilhar agora. O que nos sustenta hoje, o que irá nos nutrir amanhã?
Tem sido difícil não associar todo e qualquer desastre climático com o longo ciclo de Saturno em Peixes, e com a urgência de mudanças nas estruturas que nos proporcionam e nos possibilitam manter a vida. É este ciclo de Saturno num signo mutável que abre margem para operar mudanças que considerem transformar, adaptar e renunciar modelos obsoletos e nocivos à vida (até porque, ao ingresso de Saturno em Áries, qualquer possibilidade de transição gradual se reduz ao mínimo). Aliás, se Saturno fosse gente e soltasse umas frases de efeito, imagino que diria algo assim: viver bem é prover estruturas, materiais [Capricórnio] e imateriais [Aquário], para que relações se estabeleçam em equilíbrio [Libra]. As eleições vêm aí, e se tem algo que me cabe defender aqui, é que escolham votar em candidates com compromisso às causas ambientais, de posicionamento bem definido de enfrentamento à crise climática.
As previsões escritas a seguir tiveram colaboração direta da discussão coletiva da última oficina de astrologia mundana, em que participaram ao vivo Bells Fernandes, Bia Cardoso, Carola Braga, Gabriel Cervi, Juliana Machado, Patricia Guedes, Pedro Joffily, Rafael Monteiro, Sarah Marchon e Vinícius Eigi. Valeu, turma!
O mapa do terceiro trimestre do ano astrológico abre com ascendente em Sagitário, regido por um Júpiter a 20º de Gêmeos, dividindo espaço com a Lua na casa 7. O tema que desponta, nesse trimestre, parece ter a ver com as consequências dos crimes e desastres ambientais ocorridos no território brasileiro, envolvendo tanto a reputação do país no cenário internacional, quanto impacto em trâmites e acordos comerciais. O cenário é de lida com perdas, danos, prejuízos: apesar da presença de Júpiter, as circunstâncias são difíceis, já ocorre uma conjunção oculta (antíscia) entre ele e Marte em Câncer, na casa 8. Esse aspecto também indica problemas econômicos expressivos, como gastos altos, imprevistos orçamentários e inflação. Tudo isso ganha importância e visibilidade internamente, mas afeta a relação com outros países.
A copresença de Júpiter e Lua com duas estrelas importantes — o primeiro com Bellatrix, da constelação de Órion, conhecida como a estrela da guerreira amazona, e a segunda com Alcyone, da constelação das Plêiades — me faz pensar num possível destaque, nesse período, de uma liderança feminina das causas de direitos indígenas e povos originários. Na prática, alguma figura vocal, de língua afiada, que ganhe atenção pautando os temas e problemas ligados ao território. Embora me pareça que esses sejam assuntos presentes ao longo do trimestre, o período que vai de 2 de novembro até 15 de dezembro é especialmente relevante nesse âmbito.
Por falar em território, Saturno aparece retrógrado em Peixes na casa 4, conjunto à Achernar. Como bem lembrado por uma aluna da oficina, essa é uma estrela associada ao mito de Faetonte, um personagem que pega emprestada a carruagem voadora de Hélio (o deus-Sol) e, numa trajetória desastrosa, acaba pondo fogo em tudo que está ao redor. A ideia de um mundo em chamas soa familiar? Bem, na narrativa do mito, quem resolve a situação é Zeus, que intercede jogando um raio em Faetonte, que cai atingido num rio. Esperar por intercedência divina não é uma opção na nossa realidade, mas esse mapa dá espaço para interpretar um tipo de situação gravemente crítica, mas com oportunidade à resolução por ações efetivas de algum comando superior — afinal, Saturno está em oposição à Mercúrio em Virgem na casa 10, local de poder e autoridade. A questão, é claro, a que custo tal imposição de ordem chega, pois há negociações, idas e vindas, comunicação truncada. Mercúrio e Saturno travarão diálogos calorosos e bagunçados entre 2 de novembro e 6 de novembro, somando dificuldades a esse período que já será carregado de aspectos tensos com Júpiter.
Como num mapa astrológico o mesmo símbolo pode significar um monte de coisas diferentes, devo dizer que a primeira que pensei ao ver esse Mercúrio em Virgem conjunto à Denebola foi no Elon Musk arrependido de não ter cumprido as ordens de determinação de um representante legal no Brasil, razão pela qual o Twitter/X foi suspenso do país no fim de agosto. Musk voltou atrás e inclusive já indicou uma representante legal, mas, para voltar ao ar, é preciso uma nova decisão do STF suspendendo o bloqueio. Pelo que venho acompanhando dos trânsitos envolvendo esse caso, isso deve ocorrer a partir do ingresso de Mercúrio em Libra, em 26 de setembro — o mais provável sendo, porém, quando ele completar conjunção exata com o Sol, no dia 30.
Esse é um trimestre difícil para o governo, representado pelo Sol em Libra conjunto ao nodo sul, sustentado à base de muita lábia e diplomacia, mas numa situação das mais complicadas. Ao mesmo tempo em que o governo se mostra à mercê do Poder Legislativo, há destaque positivo de figuras menores do Executivo, que ganham relevância e atuam de forma eficiente, especialmente nos assuntos que se referem ao meio ambiente, questões de terras ou infraestrutura das cidades. O poder de compra e o suprimento de alimentos para a população parecem ser grandes desafios do trimestre.
No mais, a epidemia das bets e dos jogos de azar tem sido um grande tema do ano (olhando em retrospecto, bem sinalizado pelo Júpiter na casa 5 do mapa anual). Nesse trimestre, a conjunção oculta entre Júpiter e Marte, o segundo regente da casa 5 deste mapa, apresentam um cenário de tentativa de regulamentação e legislação desses setores — infelizmente, não de forma a defender e amenizar os riscos da população frente a essas atividades, já que o mapa aponta uma tendência de crescimento e lucros empresariais. Esse tema deve ser conduzido especialmente pelos trânsitos de Marte, ganhando força em novembro, quando o planeta entra em Leão, completando um trígono com o Sol no dia 27 do mesmo mês. No entanto, Marte retrograda pouco depois, no dia 6 de dezembro, demonstrando indefinição e reviravoltas nesse tema, pelo menos nesse trimestre. Atrasos e interferências de figuras de autoridade? Tudo é possível.
Nenhuma moleza por aqui, como de costume — mas, cá entre nós, não é um mapa pior que o desse último inverno, na minha humilde opinião. De qualquer jeito, a primavera chega pra nós como uma temporada de ponderação e ajustes, e também de um certo abalo na confiança ou nas próprias convicções. Em caso de dúvida, abrace-a a própria dúvida; dance com ela, converse, mantenha-a em suspenso. Reúna quem faça a defesa e a acusação dela. Não é tempo de ter certeza de coisa alguma, muito menos certeza sozinho. Considere pesar ou peneirar tudo que pareça pertinente. Que seja, enfim, uma boa apreciação — em todos os sentidos da palavra.
Pra fechar, fiquem com essa pintura que achei tão horripilante quanto fascinante, e que não resisti de usar para ilustrar essa edição de primavera. Fica a questão se vocês acharão ela tão intrigante quanto eu.
Um abraço e até,
Ísis
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Esse ano tá sendo um dos mais "tudo que é sólido se desmancha no ar" da minha vida, parece o futebol feminino com prorrogação interminável nas Olimpíadas. Mas esse mapa da primavera me passou um alívio de estarmos chegando em algum tipo de finalmente, de fato tá bem melhor que o trimestre de inverno. De resto eu só quero que Marte saia de câncer 🥲