Bom dia, como estamos? Se a sua resposta é “sensação de atropelamento”, sinta-se abraçade. As últimas semanas não foram fáceis por aqui, mas cá estou para escrever um pouco sobre os movimentos do céu e o que ando observando de mais latente em relação ao que se passa nesse mundão.
Na última edição, escrevi um tanto sobre as desimportâncias e as dificuldades de avaliar e dimensionar bem as situações vividas por conta da combustão de Júpiter pelo Sol em Áries. Essas dificuldades se mostraram muito presentes no noticiário recente, e pode ter se mostrado nítido na experiência individual de vocês também. Mas tenho notado outros significados que esse Júpiter em Áries queimado pelo Sol têm levantado: o desconforto com o exagero e a relação com a mediocridade.
Se ainda não ficou claro, a lógica é a seguinte: o Sol tem natureza simbólica quente e seca; quando ele está próximo demais de algum planeta, ele o afeta com mais calor e secura. No caso de Marte e Saturno, que já são secos, ficam mais perigosos e implacáveis (o que tem de mapa de evento de incêndio com Marte combusto, por exemplo, não é brincadeira). E no caso de Júpiter, que é o que nos interessa agora? Bom, Júpiter é quente e úmido. Com o calor do Sol, ele fica ainda mais quente, expansivo, exagerado, e perde sua umidade — que é a malemolência, a capacidade de se adaptar e fazer as coisas fluírem. Um climinha de tudo-ou-nada em que tudo parece muito drástico, como se olhássemos pras coisas com uma lente de aumento. Opa, vamo com calma? Vamo sim.
Reparei que várias conversas e conteúdos que me atravessaram esses dias tinham a ver com mediocridade, no melhor sentido da palavra, que fala do ordinário, comum, simplesmente suficiente. De ouvir de algumas pessoas um cansaço sobre as cobranças, de um desgaste do exagero em todo lugar e dessa ânsia infinita que o neoliberalismo impõe de que a gente sempre tenha que correr atrás de coisa nova, estar se reinventando. E de que, no fundo, a gente só queria viver com dignidade. Isso não é problema de agora e nem culpa de Júpiter combusto em Áries, tá gente? A astrologia não inventa nada não, ela só evidencia e joga luz nos fatos que já fazem parte da nossa realidade.
Contornar todo esse exagero e colocar limites sobre o que realmente nos importa é um exercício do cão, porque a maioria de nós só tá mesmo tentando sobreviver. Ter tempo e disposição para pensar a forma em que se vive já exige um esforço que não está acessível a todo mundo. E sim, para muita gente, a letargia e a apatia dos tempos de pandemia pode finalmente estar sendo superada pela vontade de agir e movimentar as coisas; mas pra quem tá no pique da correria há anos, pode prevalecer mesmo o desejo de um pouco de sossego. Não precisar começar nada novo. Estar satisfeito com menos. Eu escrevi um tanto sobre isso na edição sobre Saturno em Peixes, e vejo que nessa temporada de combustão de Júpiter (dispositor de Saturno, claro!), esse significado ficou ainda mais evidente.
Saturno é um planeta que trata do esforço, da resistência, da labuta mesmo, sabe? Como agora ele está à disposição de Júpiter e Vênus, penso que um aspecto social que pode vir a se atenuar um pouco é o da relação com o lazer e o trabalho. Sabemos muito bem que a imensa maioria dos trabalhadores é explorada por conta do sistema capitalista, e que a exaustão por trabalho não costuma ser uma escolha das pessoas; por outro lado, os últimos anos de Saturno domiciliado também trouxeram uma certa tendência social de levar o próprio corpo aos últimos limites, até mesmo entre quem não tinha tantas razões concretas para isso — quem não sofreu ou conhece alguém que sofreu burnout nos últimos anos? Essa relação complicada e abusiva com o trabalho e o descanso pode vir a ser melhorada durante a passagem de Saturno por Peixes, que deve afrouxar um tanto a autocobrança por disciplina e favorecer o bom e velho ócio, em detrimento de uma cultura de punição e esgotamento. A meu ver faz bastante sentido, e também é o que espero. [trecho da edição #78]
(Esse episódio de podcast que ouvi no fim de semana é mais uma das coisas que eu passei e percebi que seguiam essas questões de Júpiter combusto. Recomendo!)
Mas Ísis, esse lance de Júpiter não era coisa da lunação passada? Por que cê tá falando disso ainda? Basicamente, porque nessa madrugada tivemos uma segunda Lua Nova em Áries, e no mapa dessa nova lunação, ele continua lá: combusto pelo Sol, nos últimos suspiros desse signo. As previsões coletivas para esse mapa seguem abaixo, mas aproveito essa introdução para falar sobre os significados de mais um ciclo lunar marcado por um Júpiter ainda bem descompensado.
Nessa segunda Lua Nova em Áries, Júpiter divide espaço com os luminares na casa 3, e está submetido à regência de um Marte em Câncer jubilado na casa 6, conjunto à Sirius, estrela fixa da constelação do Cão Maior. A quadratura de Marte em Câncer com Júpiter em Áries é curiosa: segue sendo um aspecto difícil, mas tem a capacidade de render algum proveito. Com Saturno em Peixes regendo o ascendente do mapa, disposto pelo mesmo Júpiter e aspectando Marte por trígono, é como se falassem assim: crescer dói, é desconfortável mesmo, e às vezes o que precisa crescer na gente não tem nada a ver com o que estávamos pensando. Não adianta pular fora, melhor aceitar que dói (um pouco) menos. Risos nervosos.
Para encerrar essa longa introdução, compartilho mais uma vez o relato de uma experiência extrema envolvendo mangue e caranguejos, que me fez aprender muito sobre Marte em Câncer:
“O mangue que eu conheci e por onde andei algumas horas perdida no dia 4 de janeiro [de 2020] começava numa terra batida cheia de caranguejinhos e árvores de raízes levantadas bem espaçadas entre si, ainda seco. Indo mais adentro, a terra seca virou lama. Cada passo dado era perna que afundava na lama funda, primeiro nos tornozelos, depois até os joelhos, depois até metade das coxas. Cheiro de enxofre por toda parte, que subia em bolhas grandes a cada afundada. Matéria orgânica em descomposição e vida pulsante ao mesmo tempo: dava pra sentir os caranguejinhos na sola do pé, às vezes, e mesmo devassando a casa deles sem jeito, nenhum deles fez qualquer movimento de ataque à nós. Os maiores eram vermelho escuro, alguns mesclados com preto, e vigiavam de longe de outras árvores a nossa passagem.
O mangue não é fácil, e ao mesmo tempo que parece decadência e fim de tudo, como se a vida facilmente pudesse se esvair pra dentro do lamaçal, parece que é ali que tudo começa também. Quando a gente fala de criação, o imaginário comum (cristão?) é de uma espécie de milagre intocável o responsável por fazer a vida brotar na terra. Hoje penso que toda criação exige uma força motriz, que rompe a estagnação. Esse raciocínio explica o porquê de Câncer ser um signo de qualidade cardinal: a cardinalidade indica a criação de possibilidades. A vida é um esforço, e nada nasce da inércia — o movimento, sim, gera a vida. Mas como essa aventura bem mostrou, o perigo surge é na arrogância de achar que pode se meter a desbravar de qualquer jeito, forçando a barra, um caminho que não é familiar.”
segunda Lunação de Áries
Lua Nova em Áries: previsões até 4 de maio
Segunda lunação de Áries, lá vamos nós. Para quem perdeu a explicação, essa é a versão resumida: devido à diferença de ritmo e velocidade diárias entre Sol e Lua, a cada 2 ou 3 anos, ocorre uma Lua Nova no mesmo signo, consecutivamente. A última que tivemos foi em Câncer, no ano de 2020. Esse ano, ao invés de termos uma Lua Nova em Áries seguida por uma Lua Nova em Touro, teremos duas Luas Novas em Áries em sequência; a Lua Nova em Touro vai ficar pro mês que vem.
Começando pelo que muitos de vocês verão ganhando atenção nos próximos dias: o eclipse solar. Vai rolar? Vai, essa Lua Nova de fato será um eclipse solar, mas ele só poderá ser visto no sudeste asiático e Oceania, então sua relevância direta será por lá. Não me arrisco a fazer previsões para esses locais, mas o impacto sobre países como Indonésia e Austrália, por exemplo, podem ser percebidos — questões complicadas envolvendo mulheres e crianças, ou mesmo em relação às próprias lideranças nacionais.
Falando em mulheres e crianças, cheguei a mencionar riscos em relação a esses grupos na última lunação aqui mesmo para o Brasil, e um clima terrível de temor sobre novos ataques à escolas e universidades veio aumentando nas últimas semanas. Infelizmente esse ainda é um risco visível no mapa dessa Lua Nova: temos uma lunação de casa 3 (escolas e ensino básico), com os luminares sendo tensionados por um turbulento Marte em Câncer na casa 6. O risco de violência e acidentes nesses cenários (inclusive, também, em contextos de ruas e deslocamentos) persiste, embora já seja um aspecto separativo. Os dias de Lua em Câncer (24 a 26) e Virgem (29 a 1 de maio) indicam maior vulnerabilidade. Cuidados e preucauções podem ser tomadas a nível individual, mas essa é uma questão de segurança coletiva, que exige medidas e atenção a nível institucional. Como também escrevi lá na edição sobre Saturno em Peixes, entramos num ciclo de risco aumentado de ataques violentos e destrutivos muito alimentados pela lógica de rebanho, mentalidade de seita e crenças que podem soar absurdas ao público geral, mas que reúnem um número e poder de adeptos impressionante.
Mercúrio inicia essa lunação estacionário, prestes a ficar retrógrado. Ao mesmo tempo em que ele está paradíssimo, super debilitado, ele também está cravado no fundo do céu desse mapa, numa oposição ferrenha ao ângulo do meio do céu. Para completar, está conjunto à Almach, estrela localizada no pé constelação de Andrômeda; embora o mito associado à essa constelação tenha algo próximo a um “final feliz”, essa estrela remete especificamente ao momento em que Andrômeda é acorrentada ao rochedo em que fica entregue ao ataque a um monstro marinho. Para interpretar seu significado, podemos pensar justamente em vulnerabilidade, imobilidade, estar de pés (ou mãos) atados. Não ajuda na situação de um Mercúrio já bem estagnado.
Essa situação complicada de Mercúrio traz problemas ao governo, e problemas que parecem vir de fora: como previsto, apesar de um saldo bastante positivo da viagem à China, o presidente Lula também se complicou nas questões de relações internacionais envolvendo a diplomacia com os Estados Unidos e a guerra Rússia x Ucrânia. Por reger a casa 8 e se colocar em oposição exata ao ângulo do governante, esse Mercúrio indica um início de lunação em que é preciso colocar o pé no freio, e talvez desfazer ou repensar algumas decisões, falas e posicionamentos.
Nos primeiros dias da retrogradação, é comum que as coisas simplesmente “não andem”, empaquem mesmo, sofram atrasos ou impedimentos. Depois, inicia-se o retorno: “voltar atrás” é uma expressão típica das retrogradações de Mercúrio, no sentido que é preciso observar com mais atenção, revisar e reparar no que foi feito sem pensar, ou que passou batido num primeiro momento. Pelo menos até a Lua Cheia, esse Mercúrio deve manifestar esses significados principalmente nas relações externas com outros países, mas também nas decisões de âmbito fiscal, de taxas e impostos.
Saturno em Peixes na casa 2 dessa Lua Nova indica um início de lunação meio esquisito nas questões econômicas, com prováveis gastos e débitos inesperados, por exemplo. Como continuo bem por fora desse cenário, não arrisco prever nada mais concreto, mas até a Lua Cheia, podemos ser negativamente surpreendidos em questões de gastos e orçamentos.
Os julgamentos sobre os envolvidos no 8 de janeiro começaram e, com a Lua deste mapa seguindo para se aplicar em aspecto à Saturno, o prenúncio não é favorável aos denunciados, que devem se tornar réus no processo. Vênus em Gêmeos conjunta à Aldebaran — uma estrela fortemente ativada no último semestre, inclusive no momento dos atos golpistas de janeiro — e regendo a casa 9 desse mapa não dá margem para amenização. Porém, algo que pode sim ocorrer, já que ela está disposta por Mercúrio prestes a retrogradar, é o atraso ou adiamento do processo; nesse caso, uma retomada se daria apenas a partir de meados de maio.
No mais, devo dizer que o protagonista dessa lunação é mesmo o Mercúrio em Touro, que inicia o ciclo bem paradinho, mas que vai aspectar um monte de planetas e, inclusive, retomar o movimento direto antes da próxima Lua Nova. Seus trânsitos devem indicar investigações e movimentos importantes em relação à casos de corrupção, o escândalo das joias e processos ligados à família Bolsonaro; essa também não é uma lunação nada favorável para eles e a oposição. Veremos.
A próxima edição deverá ser publicada próxima à Lua Cheia, no dia 5 de maio. Para os apoiadores, deixo um recado:
As previsões escritas acima tiveram colaboração direta da discussão coletiva da última oficina de prática de astrologia mundana ministrada por mim, em que participaram ao vivo Aline Leite, Bia Cardoso, Carola Braga, Carolina Ronconi, Juliana Machado, Ligia Ribeiro, Patricia Guedes, Rafael Monteiro e Roger Souza. Valeu, turma!
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