Opa, edição surpresa? Pois sim. E essa vai ser uma rapidinha, porque é só sobre a retrogradação de Mercúrio em Touro (mas também sobre linguagem, e sobre a relativa importância de trânsitos astrológicos. Talvez nem tão curtinha assim).
Preciso começar sendo honesta: escrever sobre trânsitos astrológicos é uma armadilha que a gente cria pra ter que se explicar depois. Das palavras que eu escrevo, cada um pega o que quer ouvir. Mas serve pra tudo, né? Querendo ou não, lemos e passamos feeds e timelines em busca de uma palavra de alguém que se conecte ou valide um pouco do que vivemos. Tem nada de errado nisso não.
Escrevi numa edição recente que “viver é, em certa medida, também uma invenção”, um pensamento que tem retornado à minha cabeça com alguma frequência. Talvez porque eu venha escrevendo demais, e pensando sobre escrita, e refletindo sobre essa maluquice que é a linguagem. Comunicar-se. A linguagem como uma reveladora de possibilidades, nomeadora de caminhos até então pouco visíveis. Acho que todo mundo já sentiu aquele alívio ou esperança depois de uma conversa com alguém que desenrolou pra você uma solução para o que parecia um beco sem saída. Na penúltima retrogradação de Mercúrio, escrevi sobre a palavra como libertação, que dialoga totalmente com essa ideia aí. Mas aquela foi uma retrogradação bem mais dramática e entravada do que essa de agora (ufa!).
A questão é que, tratando de astrologia, tento sempre dar um passo pra trás ao escrever interpretações mais subjetivas, porque é fácil descambar para algo que pareça um conselho, e trânsito astrológico não aconselha vida pessoal ninguém, né? É a astróloga que interpreta e traduz como quiser, o leitor entende o que puder dentro da sua realidade. Sobre Mercúrio em Touro, eu poderia escrever: “vá vivendo sem tanta pressa, pra não se frustrar com a lentidão e os atrasos que virão”. Mas tem gente que é lento por natureza, e a recomendação de calmaria não ajuda muito, talvez até atrapalhe. Escrever sobre os trânsitos, então, vira um exercício de descrever alguma orientação dentro de uma realidade que vai ser experienciada por cada um de uma forma. Estou andando em círculos com esse texto? Acho que sim, então vamos em frente.
Essa é o resumo técnico da atual trajetória de Mercúrio em Touro: ele retrogradou às 05h35 do dia 21 de abril, a 15º de Touro. Desde então, vem num percurso no céu em que aparenta estar andando para trás, retornando os graus já atravessados e cada dia mais próximo dos raios solares, perdendo visibilidade. No feriado, dia 1 de maio, ele alcança conjunção exata com o Sol, o ápice de sua combustão. A partir do dia 7 de maio ele já está livre da combustão, mas ainda numa zona de invisibilidade pela proximidade solar. Em 12 de maio, Mercúrio retrógrado completa dois sêxtis importantes: o primeiro com Saturno em Peixes, o segundo com a Vênus em Câncer. No dia 15 de maio, Mercúrio retoma o movimento direto, quando estará de volta a 5º de Touro. A partir daí ele seguirá em frente: já em 19 de maio, ele reencontra Saturno em Peixes num sêxtil, só que agora em movimento direto. E daí ele não faz mais nenhum aspecto muito importante, encerrando seu percurso por Touro em 11 de junho, quando ingressará em Gêmeos. O que também é fundamental nessa retrogradação é o seguinte: Mercúrio “prepara terreno” para o ingresso de Júpiter, que entrará em Touro no dia 16 de maio — isto é, embora não vão completar uma conjunção exata, ambos caminharão juntos no mesmo signo logo após a retomada de Mercúrio.
E o que tudo isso significa na prática, pelo amor de deus?
Para começar, nem Mercúrio nem Júpiter têm muita afinidade com o signo de Touro. Touro é a terra fixa, um local de satisfação material, mas de certa estabilidade. É delícia, é degustação, é festa dos sentidos, é colheita farta. Mas não é um terreno que favorece muito movimento ou mais crescimento, entende? Para planetas que versam sobre expansão e prosperidade — Júpiter — e mobilidade e flexibilidade — Mercúrio —, a coisa fica meio empacada. Gosto do exemplo da planta que tá crescendo: você não vai inventar de replantar ela num outro lugar bem no momento em que ela tá dando frutos, vai chatear a bichinha. Não se mexe à toa na terra fixa.
O que dizer então desse samba todo pelo signo de Touro, com vai e volta de Mercúrio, ingresso de Júpiter e o trânsito do próprio Sol? Eu vejo essa retrogradação de Mercúrio como um período propício de ajustes, é claro. Mas não qualquer tipo de ajuste — ajustes que permitam mais fruição e prazer. E nada também que exija mover mundos e fundos para acontecer. Pensem o seguinte: Júpiter em Touro não faz grandes coisas, pessoal. “Nada acontece, feijoada”, como a Bárbara bem descreveu num bar um dia desses. É um signo ruim pra Júpiter? Não. Mas também não ajuda pra aumentar nem fazer crescer, só mantér o que já se tem.
Pensando nesse Mercúrio, que atravessa Touro e abre caminho para convidar Júpiter a passar em seguida, vejo essa retrogradação como uma temporada útil para mexer pauzinhos que resolvam pendências abertas (especialmente as que se arrastam há muito tempo), e também para retornar práticas de prazer e cuidado que tragam alguma satisfação na sua rotina. A lógica, aqui, é ter em mente que teremos Júpiter em Touro até o final de maio do ano que vem. Nessa temporada de Sol e retrogradação de Mercúrio no mesmo signo, temos uma abertura para reorientar o que nos satisfaz, o que supre necessidades nossas, especialmente as físicas, materiais, sensoriais: Touro é signo de terra, afinal.
A pergunta é: o que nos é importante para que a gente permaneça sã e satisfeite, e que ficou de lado (há muito ou pouco tempo)? O corpo chama, manifesta. Essa temporada é uma boa oportunidade para olhar para esses temas e retomar o que lhe faz bem — e que não necessariamente é útil, rentável ou atraente ao olho alheio. Observe o que o próprio corpo pede e anseia como alimento, nutrição, descanso e cuidado. O que for semeado agora pode desenvolver e render bons frutos daqui a um ano, quando Júpiter estiver encerrando sua passagem por Touro. Aliás, voltando à metáfora da jardinagem: nessa temporada, plante o que você deseja colher maduro lá na frente (meio cafona, mas funciona). E escolha plantar algo que realmente deseja e lhe traz prazer. Sem precisar se exigir muito, nem inventar a roda. Vá sem pressa. Se a vida tá boa demais e você não faz ideia de nada do que eu tô falando, siga na paz (e meus parabéns). Se você não sabe nem por onde começar no que precisa de ajuste, também não tem urgência: pelo menos até 7 de maio, Mercúrio segue bem ofuscado pelo Sol, então não é um momento muito fácil de perceber e ganhar consciência das coisas mesmo. De lá até a sua retomada de movimento direto no dia 16, aí sim, entramos um momento mais favorável para que desejos e necessidades ganhem corpo e atenção.
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um abraço e até a próxima,
Que escrita maravilhosa! ❤️
Ísis, eu tava aqui louca no dia do mércurio mais combusto e compacto, achando que eu deveria mandar currículo e me recusando em fazer isso no dia de hoje, por questão de princípio (procurar trabalho no dia do trabalhador, não!) não quero mandar, já tenho um trabalho e acho que ainda não é hora de sair, mas tudo isso aqui não estava se sustentando, abobrinhas continuavam sendo criadas na minha mente! vim buscar sua leitura do céu, que não tinha conseguido ler até hoje, pra tentar entender a confusão que criei, e agora não acabei de ler um texto cheio de conselhos, mas de observação do tempo através dessa linguagem tão liinda. Um comentário enorme apenas pra te agradecer, suas escritas sobre a qualidade do tempo têm me ajudado a diminuir a produção desnecessária de abrobrinhas dentro da minha cabeça.