Se tem uma coisa que me interessa fazer, enquanto astróloga, é aproximar a astrologia da vida comum das pessoas. Detesto o termo “desmistificar”, acho que é um equívoco meio ignorante querer retirar a mística de qualquer coisa; prefiro mesmo a ideia de “aproximar” a linguagem astrológica porque, de fato, ela não é nem precisa ser distante, misteriosa, indecifrável. A meu ver, para quem se interessar, é plenamente possível aprender a enxergar e interpretar essa linguagem nos fatos que ocorrem no mundo. Amplia nossa visão e nos ajuda a compreender muitas coisas, especialmente nossas diferenças. Também é uma forma de deixar de lado uma visão extrema e equivocada — “tudo foi determinado no momento em que nasci”, “sou assim porque sou leonina”, etc — e levar ao centro a noção de que o mundo, a forma como vivemos e os ritmos do tempo estão refletidos no que ocorre no céu, e vice-versa. As coisas se originam de certa natureza, têm diferentes pontos de partida e potenciais, mas não estão paradas nem definidas.
Quero dizer que, na cosmovisão astrológica, o mundo não é só caos e aleatoriedade, por mais incrível e improvável que isso soe. Há ritmos e tipos de ocorrências razoavelmente previsíveis, e a astrologia é uma ferramenta boa e prática para aprender a percebê-los. Aonde isso nos leva? No melhor dos casos, a uma consciência mais ampla sobre a própria posição no contexto em que vive, sobre os acontecimentos e seus potenciais desdobramentos. No pior, leva à ilusão de julgar que já se conhece o que nunca viu, ou se pode controlar os rumos de tudo que ocorre à sua volta. (Todo oraculista corre o risco de tornar-se mais controlador, mas isso é papo para outra ocasião.)
Faz uns sete anos que comecei a estudar e praticar astrologia, sigo me surpreendendo com ela. Mas mesmo acertando previsões, vendo as coisas tomarem forma e seguirem o rumo indicado, há sempre algo que escapa. Porque esse, também, é o barato de qualquer linguagem: ela não “dá conta” da realidade, da experiência do que se vive. A linguagem delimita, associa, relaciona e aproxima, mas não é, de fato, o que ocorre. Então aprender e praticar astrologia envolve se contentar com o fato de estar, indefinidamente, observando símbolos se manifestando e desdobrando de repetidas ou novas formas. Acho isso bonito.
Não sei bem por que escrevi essa introdução, mas numa semana cheia de novos acontecimentos e grandes revelações, parar para observar um mapa cheia de expectativas acaba sendo um exercício de humildade — reconhecer o próprio limite e incapacidade de observar e compreender o que às vezes aparece. A Lua em Escorpião é conhecida por, muitas vezes, botar um véu na frente da visão e nos fazer enxergar o que não tem, ou escapar o que está bem ali. E é nessa toada de possibilidades-e-limitações que nos aproximamos da Lua Cheia nesse signo, carregando um mapa que traz a segunda metade da segunda (!) lunação de Áries.
segunda Lunação de Áries
Lua Cheia em Escorpião: previsões até 18 de maio
“Temos uma lunação de casa 3 (escolas e ensino básico), com os luminares sendo tensionados por um turbulento Marte em Câncer na casa 6” — escrevi isso sobre o mapa da Lua Nova em Áries e, por falar no que escapa, faltou aqui mencionar que a casa 3 também é cenário de comunicação e redes sociais, e uma lunação que começou com os luminares e um Júpiter (leis e justiça) aí trouxe o quê? A discussão acalorada e muitas controvérsias sobre a PL 2630, que institui a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet. Astrologia bem literal.
Além disso, encerrei a edição #82 escrevendo que
“o protagonista dessa lunação é mesmo o Mercúrio em Touro, que inicia o ciclo bem paradinho, mas que vai aspectar um monte de planetas e, inclusive, retomar o movimento direto antes da próxima Lua Nova. Seus trânsitos devem indicar investigações e movimentos importantes em relação à casos de corrupção, o escândalo das joias e processos ligados à família Bolsonaro; essa também não é uma lunação nada favorável para eles e a oposição”
Quase uma nota de rodapé que ganhou, ontem, as manchetes do país, com a notícia de investigação sobre a falsificação de cartões de vacina e a suspeita de rachadinha no gabinete de Carlos Bolsonaro na Câmara Municipal do Rio.
E é nesse contexto agitadíssimo que a Lua cresce em Escorpião no céu, se preparando para o ápice da Cheia, no início da tarde de hoje. Vem aí prisão? E a declaração de um dos presos na operação, dizendo saber quem é o mandante da morte de Marielle? Essas são algumas respostas que vamos tentar encontrar por esse mapa.
Tem tanta coisa pra “desempacotar” desse mapa que é difícil saber por onde começar sem me estender demais, então vou tentar ser pontual. Essa segunda metade da lunação se estende até a manhã do dia 19 de maio, e promete ser uma quinzena daquelas. Por uma confluência de aspectos, ingressos, trânsitos e sobreposições e ativações de graus, podemos esperar eventos bem relevantes nesse período. O clima já anda agitado, e deve ficar ainda mais.
Eu costumo trazer sempre uma “visão geral” mais subjetiva do que anda rolando para além dos fatos políticos, mas hoje vou precisar resumir. Acho que muito do que já escrevi sobre a Lua Nova vale ser considerado até o fim da lunação, com o adendo de que, nessa segunda metade, o cuidado na comunicação deve ser redobrado, pois é por ela que muita coisa pode se resolver, ou se enrolar ainda mais. As relações podem ocupar um lugar incerto e meio cambaleante, dando sensação de falta de firmeza, e o diálogo ajuda, mas apenas se houver abertura e confiança — do contrário, é mais superficialidade que não mantém nada direito em pé. É uma quinzena de exposição e de vida social em foco, e também de posicionamento e ganho de visão e nitidez sobre as situações que se vive. O alerta sobre a comunicação vem para se atentar com a postura excessivamente defensiva: exageros podem ser especialmente destrutivos.
Sobre condenações e prisões: tanta investigação e inquérito correndo vem pra confundir qualquer interpretação possível, mas o que posso dizer é que o aspecto de oposição da Lua em queda na casa 3 pelo Sol jubilado na 9, somada à presença de Marte em queda na casa 11, me leva a pensar que alguma figura de casa 11 — vereador, deputado, senador — sofre um dano considerável até o fim da lunação. Pode ser uma prisão, uma condenação ou simplesmente mais provas e revelações prejudiciais a essas pessoas. E, sim, dentre essas figuras, há os filhos do ex-presidente Bolsonaro, investigados e alvos de inúmeras denúncias e irregularidades. Quem ver sinalizar possíveis prisões é Mercúrio, que encerra sua retrogradação no dia 15, mas desde o dia 8 de maio pode indicar movimentos e encaminhamentos nesse sentido.
Em relação à Bolsonaro, especificamente, é mais difícil de dizer, mas há dois dias de aspectos seguidos que sinalizam danos à ele: o sêxtil de Mercúrio em Touro com Saturno em Peixes, em 12 de maio, e o trígono de Vênus em Câncer com Saturno em Peixes, no dia 13. O primeiro aspecto parece ter relação direta ao caso das joias, e pode se tratar de alguma ação mais efetiva nesse processo; o segundo aspecto me remete a algum tipo de impedimento ou bloqueio em desfavor dele, o que pode ter a ver com a possibilidade de sua inegibilidade, por exemplo.
Sobre o caso Marielle: como anunciei na última edição, esse será o tema de uma edição especial que estou preparando e pretendo compartilhar como estudo experimental. Devido às recentes notícias, porém, se faz necessário adiantar algumas coisas. Tudo em torno desse evento horroroso envolve o mapa da Lua Cheia de 1 de março de 2018: atualmente, temos ativações sobre graus desse mapa por conta dos trânsitos de Sol em Touro, Júpiter em Áries e Marte em Câncer; a chegada da Lua Cheia a 14° de Escorpião vem tensionar outros pontos relevantes desse mapa de 2018, e o ingresso de Júpiter em Touro esse mês é um indicador favorável de justiça e direcionamento deste caso. Em termos de datas, os dias 8 e 16 de maio são propícios para notícias e novos fatos relacionados a isso.
(Esse é um estudo que tenho conduzido com especial cuidado devido à gravidade do caso, mas os critérios que citei acima me parecem estar funcionando bem: a prisão de Ronnie Lessa em março de 2019 e sua condenação em setembro de 2022 ativaram graus que também se referem ao mapa daquela lunação e do evento do assassinato. Ainda me falta tempo e mais dedicação à essa análise, mas pretendo publicá-la para apoiadores nas próximas semanas.)
Sobre PL 2630: votação adiada, o que esperar agora? Me parece que o ingresso da Vênus em Câncer já no próximo dia 7 reacende e viabiliza a discussão do tema, mas que a retomada mais efetiva desse assunto é coisa que acontece mais para frente, com o retorno de aspecto entre Marte e Júpiter — que estão em quadratura atualmente, mas que só irão completar aspecto quando estiverem nos signos de Leão e Touro, respectivamente, no fim do mês. A meu ver, é coisa mais forte na próxima lunação. O Marte em Câncer na casa 11 é uma das coisas que prejudica o andamento dessa votação, e reafirma inclusive o sentido de “corte” e prejuízo para figuras aliadas (ou irmanadas, já que ativa as estrelas gêmeas Castor e Pollux) no Congresso.
No mais, alguns adendos importantes: aparece nesse mapa a Vênus a 27° de Gêmeos conjunta à estrela Betelgeuse, sobrepondo-se ao Marte do mapa do Ingresso Solar em Áries e ativando duplamente a casa 9. Esse é um indício forte de destaque do Poder Judiciário até o fim dessa lunação, com uma figura feminina que se sobressai de forma incisiva e imponente (e, talvez, também improvável). Isso pode se dar pela via de alguma atuação surpreendente, encaminhando algum processo das investigações mencionadas mais acima, ou outro tipo de decisão que ocorre no âmbito jurídico e que essa mulher venha a se destacar. De toda forma, é uma figura que vem a operar no sentido de expor e punir, agindo com coragem. Em outro sentido, o aspecto exato entre Vênus em Gêmeos e Júpiter em Áries também sinaliza ações decisivas em torno de investimentos estrangeiros e/ou privatizações internas, mas não parecem processos especialmente vantajosos ou em grande benefício de nenhuma das partes envolvidas. Ando meio por fora dos detalhes desses outros temas, então vamos observar.
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um abraço e até a próxima,
Adoro essa sua abordagem de aproximar uma linguagem tão complicada em algo que se torna símbolos do cotidiano. Tem muitas pessoas da Tradicional que são incríveis, mas eu não consigo acompanhar os textos, mas os seus são perfeitos pra minha compreensão
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