Lembram de uma notícia, de um tempo atrás, que trazia imagens do mar pegando fogo? Acho que foi um fato curioso e memorável nos últimos anos pra muitas pessoas, pois não é todo dia que se vê a água em chamas (o que foi explicado pelo vazamento de um oleoduto no Golfo do México). Pra mim, ficou bem registrado na cabeça porque aconteceu bem numa oposição entre Marte e Saturno. Os temidos “maléficos em oposição” — soa dramático, e às vezes realmente é, como o exemplo nos lembra. Mas como tudo tem contexto e perspectiva, vamos sem alarmismo.
Essa vez do causo do incêndio no mar foi em julho de 2021, há dois anos atrás, que é a frequência com que Marte e Saturno costumam se opor entre si — na época, o embate se deu no eixo dos signos Leão e Aquário, respectivamente. Aqui no Brasil foi um trânsito especialmente significativo porque Marte era regente do ano para o país, e a oposição coincidiu com um ápice de revolta e protestos da população na rua contra Bolsonaro; naquele contexto, Marte era o povo e, Saturno, o então presidente.
Dessa vez, o confronto é entre um Marte em Virgem e um Saturno em Peixes. A oposição está ativa desde o último dia 10 e, felizmente, nenhum dos dois é regente do ano para o Brasil — o que significa que temos menos riscos de danos diretos no nosso contexto coletivo. Como, então, esse aspecto poderá ser percebido por nós? Talvez essa seja uma boa oportunidade de rever os significados desses dois planetas.
Marte simboliza os cortes, as separações, as rupturas, os embates e situações ou circunstâncias agudas e desagradáveis que fazem parte da vida. Marte é a briga, a discussão, o conflito — mas também a coragem, o ímpeto de ação e a capacidade de combater ou romper com situações danosas.
Em termos astrológicos, Marte é o“pequeno maléfico”: embora não trate só de desgraças, sua essência é de desconforto. Às vezes um rompimento é o que precisa ser feito, mesmo sendo desagradável; uma cirurgia, por exemplo, nunca é algo corriqueiro e prazeroso, mas pode ser necessária para a manutenção da saúde de alguém. As cirurgias, bem como todos os cortes literais, são de Marte. Nas mais diversas culturas, astrologias e mitologias, Marte sempre é um planeta associado à guerra, aos desafios e confrontos. [trecho dessa edição]
Marte tem uma afinidade mais “secundária” com o signo de Virgem. Em outras palavras, Virgem fornece algum meio para que Marte opere seus cortes e rupturas, embora não seja o ideal. É preciso lembrar que Virgem é terreno de Mercúrio, favorecendo muito mais a as ações de experimentação e precisão técnica do que aquelas de natureza mais desbravadora e espontânea que Marte impõe. Por outro lado,
Saturno representa restrições e escasseamento — mas também moderação e resiliência. (…) Um Saturno evidenciado num mapa pode tanto prover recursos para enfrentar as adversidades e limitações da vida (no melhor dos casos), quanto impor obstáculos e bloqueios que impedem ou dificultam a conquista de uma situação firme e estável. [trecho dessa edição]
Como já falei em outras ocasiões, Peixes é um território estranho à natureza rígida e seca de Saturno, por oferecer meios voláteis demais para a estruturação que Saturno propõe. A instabilidade, o inusitado e o absurdo permeiam o trânsito de Saturno em Peixes: na edição #78, dedicada à ele, cito o perigo da “lógica de rebanho” (ou de cardume!) como um dos riscos que aumentam durante esse ciclo, podendo causar um bom estrago, com ações violentas cometidas por indivíduos em nome de “algo maior” ou também em contextos influenciados por comportamento de massa. (Se você lembrou dos vários artistas recentemente atingidos por objetos lançados ao palco durante seus shows, ou os casos de violência em estádios de futebol, não é por acaso: tem a ver, também, com a expressão desse Saturno no modo “cardume”.)
A dupla dos signos Virgem-Peixes, apesar de opostos, me remete à uma busca por melhoria, que pode ser marcada por bastante idealização: Virgem, um aperfeiçoamento pelo esforço minucioso, isto é, através da prática, pela perspectiva da utilidade. Já Peixes representaria um aprimoramento pelo êxtase comum, por meio da conexão sensível com algo maior e compartilhado, de ordem emocional (e até espiritual, se quer saber). São caminhos inversos, é claro: um trata de discernir e identificar no detalhe; o outro, de embaralhar e “se perder” na imensidão.
A oposição Marte-Saturno traz riscos aumentados para todo tipo de problema envolvendo esses planetas: rompimento de estruturas e construções, afundamentos, desastres marítimos (o terremoto no Alasca já é um deles) e perdas materiais por meios aquáticos ou por falhas mecânicas são alguns exemplos. Problemas e instabilidades na sistematização, organização e devida separação de objetos e itens também estão mais propensos a ocorrer — como já dito, Marte em Virgem quer apontar para corrigir, e Saturno em Peixes mistura tudo numa coisa só.
Na tarde dessa segunda-feira, 17 de julho, a Lua encontra o Sol numa conjunção exata, iniciando a Fase Nova e a Lunação de Câncer. Esse será um ciclo bem marcado pela oposição entre Marte e Saturno, portanto, é uma lunação que traz embates: algum tipo de rompimento ou pressão para reorganização se impõe à realidade. A tensão fica entre se esforçar para agir e correr atrás, ou só deixar rolar, “largar mão” pela insegurança da incerteza. Energia caótica lá no alto, geral meio perdido.
Para completar, Vênus em Leão já está devagar-quase-parando e vai retrogradar a partir do dia 22. Os dias próximos à retrogradação são os prejudiciais para os assuntos do planeta, então minha recomendação fica de redobrar a paciência e a atenção nos relacionamentos afetivos e questões amorosas, mas também se prevenir aos danos de ordem marcial: cortes, queimaduras, acidentes, brigas, etc (Vênus é o planeta que ajuda a “conter” os danos de Marte, então seu enfraquecimento com a retrogradação também prejudica nessa parte). Também recomendo reler a edição especial sobre a Vênus em Leão que escrevi mês passado, porque a temporada dela retrógrada deve pressionar os pontos mais sensíveis que escrevi sobre esse trânsito para cada ascendente.
Lunação de Câncer
Lua Nova: previsões até 31 de julho de 2023
A lunação abre com Sol e Lua ativando a estrela Procyon, da constelação do Cão Menor, na casa 8 do mapa para o Brasil. O cenário é de um certo entusiasmo e afobação, mas o ciclo se abre com dificuldade para condução dos assuntos de forma estável e segura, podendo levar à ações impulsivas e pouco construtivas — no pior dos casos, despropositadas mesmo, com risco de perdas, desperdício de energia e recursos. O mapa aponta que não é tempo de agir com pressa ou de forma impensada, pois os riscos são altos e imprevisíveis.
A oposição Marte-Saturno ocorre nas casas 4 e 10, apontando para conflitos de terras e territórios, especialmente tratando de garimpo e mineração (Saturno); embates entre facções, possivelmente envolvendo tráfico de drogas e comércio internacional (Marte); tensionamento sobre temas de criminalidade e sistema prisional, mas também podendo se expressar na forma de rivalidades, revoltas e ataques mais direcionados a figuras de referência e autoridade.
O mapa também põe em pauta questões de toxicidade e venenos, podendo tratar de algum tipo evento que incita as discussões sobre agrotóxicos ou contaminações de alimentos, por exemplo; apesar disso, Júpiter rege o ascendente e está razoavelmente posicionado na casa 6, protegendo de perigos maiores à saúde da população. De toda forma, uma Lunação de Câncer invariavelmente toca os assuntos da nutrição, então deve-se atenção em tudo que envolve essas esferas.
Os dias mais difíceis dessa lunação são logo nesse início do ciclo, de 20 a 22 de julho, que coincidem com o aspecto exato da oposição Marte-Saturno, a Lua participando do confronto (a madrugada de quinta pra sexta é especialmente delicada) e a retrogradação da Vênus ocorrendo pouco depois. Sem desespero, é claro: até os aspectos mais difíceis se repetem no céu, de tempos em tempos. Mas fica aqui o lembrete pra pegar mais leve até o fim do mês, segurar expectativas exageradas sobre as próximas duas semanas e, sobretudo, exercitar atenção e presença sobre si, diminuindo riscos de se arriscar à toa, se arrastar na confusão ou perder a cabeça no turbilhão das coisas acontecendo. É um início de lunação agitado e de forte pressão, mas ele também vai passar. Se cuidem, e um bom início de ciclo para nós!
As previsões escritas acima tiveram colaboração da discussão coletiva da oficina sobre o Ingresso Solar em Câncer, ministrada por mim, em que participaram ao vivo Bia Cardoso, Bells Fernandes, Ju Machado, Patrícia Guedes, Pedro Joffily e Rafa Monteiro. Valeu, turma!
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um abraço e até a próxima,
Excelente como sempre, Isis.
Essa oposição Saturno-Marte me lembrou a greve que tá rolando em Hollywood.