A Lua cresce no céu e já se aproxima da oposição exata ao Sol em Virgem: é a Fase Cheia, que alcança seu ápice na noite desta quarta-feira, 30 de agosto, iniciando a segunda metade dessa lunação. Nessa oposição Sol-Lua, participam também Saturno retrógrado em Peixes eMercúrio retrógrado em Virgem. Outra que está retrógrada também é a Vênus em Leão, mas que logo menos retoma o movimento direto. E quem já começa a estacionar e se prepara para mais uma retrogradação é Júpiter em Touro. Opa, como que vocês tão? Devagar quase parando? Se anda difícil por aí pegar no tranco, nada mais é do que a vida acontecendo, espelhando o céu acima de nós.
Com todas essas oposições envolvendo planetas retrógrados no eixo Peixes-Virgem, que são signos de qualidade mutável, uma das muitas possiblidades, é que a Lua Cheia evidencie o retorno de situações que tensionem por alguma mudança um pouco mais amadurecida. Mudança essa que, talvez, seja um dentre outras rotas possíveis de ação. É bem possível que algo que fora decidido (por si ou outrem) já não faça mais sentido, não caiba, não sirva. E tudo bem mudar de ideia, retomar uma questão sobre outra perspectiva ou mesmo se arrepender de uma decisão tomada anteriormente. (Rapaz, se até o movimento aparente dos planetas no céu alterna seu sentido de tempos em tempos, quem somos nós para julgar mudar de ideia sobre qualquer coisa que seja?!)
O que me chama mais atenção no mapa dessa Lua Cheia: 1. a oposição entre a Lua em Peixes, disposta por um vagaroso Júpiter em Touro e 2. o recém-retrógrado Mercúrio em Virgem. É como um confronto meio “encalacrado”, em que tá todo mundo certo e errado ao mesmo tempo, sabe? E se fosse para interpretar algo a partir daí, eu diria o seguinte:
É preciso desconfiar da própria razão — que não raro ganha ares de superioridade arrogante — e, dessa forma, contestar um tipo de pensamento que volta e meia nos leva a um beco sem saída, aparentemente inescapável, pois não se consegue enxergar qualquer rota de fuga lógica dali. Com a cabeça presa àquele cenário, não conseguimos perceber que nós mesmos nos levamos ou nos deixamos ser levados até ali — e muitas vezes, pela cômoda convicção de que a escolha racional ou socialmente aceita é a rota mais segura e confiável. Desconfiar da própria razão nos aproxima da oportunidade de dar vazão ao sonho e à imaginação — uma capacidade subestimada nos dias de hoje, mas que segue nos mostrando que a vida é um constante exercício do inventar e do fazer diferente. Afinal, se nada muda, nada muda, certo?
Para algumas pessoas, isso pode significar levar a sério o que se vive, o que se sente; o que se percebe pela inquietação dos sentidos, por mais que na cabeça esteja “tudo resolvido”; o que se apreende intuitivamente pela postura e dores que o corpo expressa. Para outras, talvez a diferença se faça em aprender a ponderar melhor sobre os sentidos que atravessam as sensações, dando nomes a elas; a identificar a lógica que orienta certas respostas e comportamentos instintivos; a discernir, mentalmente, os meios com os quais avaliou alguma situação que agora retorna — afinal, estou me autopreservando ou sucumbindo aos limites infelizes do meu próprio juízo? Fica aí a questão, para todos nós.
Outro ponto que essas oposições vêm desenhando há algum tempo é que as coisas não precisam “fazer sentido” para serem reconhecidas em seu valor e importância. Pode soar como uma frase pronta ou meio cafona (viver é cafona, aceitem), mas o que é considerado simples ou desimportante se trata, em grande medida, de uma questão de contexto e perspectiva. Um exemplo que me vem à cabeça é: ouvir sobre o sonho que uma outra pessoa teve pode ser chato ou desinteressante para você, mas dá para imaginar as camadas de significado que ele pode carregar na experiência dela, né? Pois sim — questão de perspectiva. E se tem uma coisa que eu acredito, por experiência pessoal, é que as imagens nos ajudam a pensar e passar pelas coisas. E as imagens de um sonho arrastam consigo uma carga pesada de passado e potência.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.— Manoel de Barros1
(sugestão da querida Isabela, que agora revisa o texto dessa newsletter.)
Por falar em sonho, vinha convivendo com uns recortes de tangerinas há alguns dias, mas só consegui parar pra mexer neles no último domingo. Daí imaginei esse feirante numa dimensão carioca paralela — o negativo de filme usado é de uma paisagem do Rio —, surgindo como o tipo de personagem que eu me depararia num sonho. (Não sonhei com ele de fato, mas o imaginei, que é quase a mesma coisa.)
Não tem nada intencionalmente astrológico nessa imagem, mas como tudo que se vive se espelha na linguagem do céu, dá pra ler essa estranheza surrealista por ela também: o comércio é coisa de Mercúrio, que anda retrógrado em Virgem, em oposição à Saturno em Peixes, numa recepção esquisita e com um quê de absurdo. A insistência de compreender pela razão e querer discernir o que é real ou ilusão é frustrada, se dissolvendo na percepção de um tempo que anda passando de forma difusa, incompreensível, dando um nó na nossa cabeça. Às vezes o melhor a se fazer é desapegar, e ficar com o sonho mesmo.
Por fim, queria escrever algo sobre Marte em Libra, mas acho que ainda não é a hora dele. Como todos os Martes em signos do ar (Gêmeos, Libra e Aquário), um Marte em Libra usa da comunicação para domar o conflito, o que nem sempre é conveniente — a maior parte dos embates se manifesta pela necessidade concreta de mudança, que é coisa da ordem da ação, não tanto do intelecto. Então um Marte em Libra fala mais do que faz; paciência. Por enquanto, fiquemos com isso e com a lembrança desse post de anos atrás, que ressuscitei essa semana:
Lua Cheia em Peixes
previsões até 14 de setembro de 2023
A Lua Nova fundou um terreno bem agitado pra primeira metade dessa lunação e assim seguimos nessa segunda parte do ciclo: poucos dias após a Cheia, teremos o fim da retrogradação de Vênus em Leão, no próximo 3 de setembro; no dia seguinte, Júpiter em Touro inicia sua retrogradação (sim, parece até corrida de revezamento). Além disso, até a próxima Lua Nova temos ainda dois trígonos importantes: entre Mercúrio retrógrado em Virgem e Júpiter em Touro, no mesmo dia 4, e outro entre o Sol em Virgem e Júpiter em Touro, no dia 8. Logo nessa semana após a Cheia temos também a combustão de Mercúrio pelo Sol, mas essa é bem menos cabulosa que a da Vênus, ocorrida no início de agosto. No geral, esse é o resumo dos aspectos mais importantes no céu, beleza. Mas quais significados eles apontam?
Esse é um mapa que me traz algo de otimismo, devo dizer — embora não tenha só coisa boa, naturalmente. Temos por regente da casa 1 a Vênus que está nos seus últimos dias de retrogradação, cravada no fundo do céu. A promessa do retorno ao movimento direto pela Vênus em Leão é uma boa imagem pra se pensar num cenário de pacificação, retomada de autonomia, dignificação geral. Ruim não é. Sua presença na casa 4 favorece especificamente temas que se relacionam à esse local: terras e territórios, meio ambiente, povos originários, populações tradicionais, etc. De fato, a votação sobre o marco temporal no STF é retomada hoje mesmo, no dia da Cheia, 30 de agosto. A perspectiva, por esse mapa, é até boa — no entanto, não me parece que a votação se resolva dentro dessa próxima quinzena. A meu ver, pelo menos até o último trígono entre Mercúrio retrógrado em Virgem e Júpiter em Touro, que ocorrerá apenas em 25 de setembro, nada de mais definitivo ocorre dentro dessa temática. Veremos.
Júpiter em Touro conjunto à estrela fixa Almach no ascendente indica um certo destaque sobre alguma figura feminina de poder e influência nas próximas duas semanas — alguma personagem que já tenha sido usada como massa de manobra ou bode expiatório no passado. Embora esse chamariz sobre ela não pareça indicar nenhum prejuízo muito grave, há um certo desgaste de imagem aí, possivelmente envolvendo questões financeiras, de gastos ou corrupção (pois ele rege a casa 8).
Chama a atenção a regência desse Júpiter também sobre a casa 11, que trata do Poder Legislativo e do Congresso Nacional e que participa do eixo de oposição entre Sol e Lua nessa Cheia. São testemunhos que trazem controvérsia, restrição e inimizade entre parlamentares e seus aliados. Vem por aí estremecimento nesses cenários.
Mas cabe salientar também que a casa 11, júbilo de Júpiter, versa sobre coletividade, aspirações comuns, o que se vislumbra no horizonte para ser construído e compartilhado sem discriminação. Me fez lembrar desse tuíte no qual tropecei enquanto escrevia essa edição:
Isto é: a Lua também é a representante do povo, ainda mais nesse mapa, já que rege por exaltação a casa 1, se afastando de Saturno e do Sol e se opondo a Mercúrio em Virgem. Saber o que não somos e o que não queremos, especialmente pela imposição dos outros, é fundamento vital para qualquer ideia de sonho e construção compartilhados. Essa quinzena também carrega esses significados como norte durante a maior parte do mês de setembro.
(Não falei sobre o Marte em Libra porque, sinceramente, não me diz muito — tem mais cara de conflito pipocando lá fora, talvez mais danos a militares aqui no Brasil, mas ainda nada definitivo ou tão expressivo, por enquanto. Vamos acompanhar.)
No mais, atento à necessidade de cuidados com a saúde, pois a Lua Cheia em Peixes se sobrepõe ao grau do Saturno do trimestre, indicando mais vulnerabilidade a adoecimentos, com destaque as enfermidades de natureza fria, como gripes e resfriados, bronquites, pneumonia, inflamações persistentes (úmidas) e artrite, cálculos renais, problemas intestinais e falta de disposição em geral. Se cuidem, e se vacinem!
As previsões escritas acima tiveram colaboração da discussão coletiva da oficina sobre o Ingresso Solar em Câncer, ministrada por mim, em que participaram ao vivo Bia Cardoso, Carol Braga, Felype Ferro, Ju Machado, Marina Bohnenberger, Patrícia Guedes, Patricia Nardelli e Rafael Monteiro. Valeu, turma!
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um abraço e até a próxima,
Ísis
BARROS, M. Poesia Completa. São Paulo: Leya, 2011. Nota: Trecho de "O Apanhador de Desperdícios"
Enquanto eu lia o seu texto só pensava nessa música da Ava Rocha: https://www.youtube.com/watch?v=WS-rLswkge0&ab_channel=ybmusic