Comecei a ministrar oficinas de astrologia mundana há pouco mais de três anos, no início de 2021. A Meio do Céu ainda não existia, e eu acumulava mais estudo e curiosidade do que conseguia conter em mim mesma — foi assim que pensei que oferecer aulas e práticas coletivas em torno desse tema era um bom jeito de dar vazão ao meu interesse. Enquanto astróloga, meu ofício foi profundamente alterado pela aproximação com a astrologia mundana. Perceber e compreender melhor a interrelacionalidade nas formas de vida, a delicada relação entre o individual e o coletivo, o pessoal e o político. No fim do dia, entretanto, a astrologia não explica nada, apenas nos ajuda a avaliar a natureza do tempo em curso. Mas como escrevi na edição #103, carrego comigo a convicção de que, se bem utilizada, a astrologia pode nos ensinar a viver melhor, por ser uma ferramenta de orientação individual e coletiva de grande valor.
Quem escreve a análise de hoje não sou eu, é a Patrícia Nardelli, participante das oficinas desde que comecei a ministrá-las. Nesta edição, contribuo como editora e revisora do conteúdo, reinaugurando essa newsletter como um espaço aberto para que mais pessoas possam estudar, pesquisar e escrever sobre astrologia mundana. Tudo isso é possível e viabilizado diretamente pela contribuição dos assinantes que apóiam a newsletter, e por isso, reforço esse apelo: se você é leitor da Meio do Céu e acredita neste trabalho, considere apoiá-lo financeiramente.
Poder falar de outras coisas ou de temas mais amenos é, definitivamente, o que preferíamos estar fazendo. Infelizmente, para quem se envolve com astrologia mundana, que dialoga diretamente com os acontecimentos atuais, a pauta costuma ser mais marcada por problemas e desafios do que por conquistas — o que não significa que elas também não existam, ou que não apareçam representadas nos mapas coletivos. A astrologia opera por meio de uma linguagem simbólica para descrever a realidade, então tudo (ou quase tudo) está ali, podendo ser devidamente observado e identificado.
O estudo dessa edição foi escrito pela perspectiva de uma pessoa que mora em Porto Alegre, e que, em meio à calamidade, como forma de lidar com o que ocorre no seu entorno, faz o exercício de observar e aproximar os mapas da enchente atual e da histórica enchente de 1941. Nessa análise, a Patrícia utiliza alguns critérios para identificação de riscos de grandes volumes de chuvas e enchentes em mapas de lunação, uma pesquisa que tenho feito no último ano, a partir do estudo de mapas de vários desses eventos na história do nosso país. Reuni e apresentei aos alunos esse material pela primeira vez em março de 2023, e retomei esse conteúdo na última oficina que realizei no início deste mês, em 4 de maio. Patrícia também recebeu a contribuição de outra Patrícia, a Guedes, outra participante assídua das oficinas, que reuniu dados e fez apontamentos fundamentais sobre a relevância da posição de Urano nos mapas abaixo. Fica registrado aqui, também, o agradecimento à ela.
Por fim, cabe a mim reiterar que o céu não é “culpado” de nada. Nada disso precisava acontecer. Catástrofes e tragédias climáticas são, em alguma medida, inevitáveis; a negligência e inoperância de autoridades políticas, porém, são responsáveis pelo nível de vulnerabilidade e prejuízos que a população gaúcha está submetida agora. Como escrevi na ocasião do ingresso de Saturno em Peixes, nós entramos numa nova fase dos efeitos das mudanças climáticas, em que será preciso repensar e transformar estruturas para possibilitar a manutenção da vida que temos hoje: “o conhecido problema das enchentes e chuvas deve se agravar também nesse trânsito, demandando com mais urgência medidas efetivas na redução de danos nessas ocorrências. Não dá mais para adiar.” Que esses acontecimentos, enfim, nos mobilizem a discutir e cobrar decisões adequadas aos desafios deste tempo. Desejo uma boa leitura para vocês.
Vim morar em Porto Alegre em 2011. Não escolhi a cidade, mas precisava muito sair da minha terra natal, Brasília, para ter novas perspectivas de futuro, e os caminhos me trouxeram até aqui. Em Porto Alegre muito se fala sobre dois eventos relacionados ao clima: uma certa vez que nevou na cidade, em 1984, e a grande enchente de 1941. Enquanto escrevo esse texto, no dia 9 de maio de 2024, Porto Alegre vive a sua maior enchente da história, ainda maior do que a de 1941. Dessa vez, as águas do Guaíba ultrapassaram em dois dias o volume que demoraram 22 dias para atingir na década de 1940. Uma boa parte do estado já estava devastado pelas enchentes e, então, chegou a nossa vez.
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