Pensei muito antes de escrever essa edição. Escrever sobre uma ferida aberta é, evidentemente, pressionar um ponto ainda muito doloroso. Acho que todo mundo se lembra onde estava quando recebeu a terrível notícia do assassinato de Marielle Franco, vereadora do PSOL, e Anderson Gomes, seu motorista naquela noite do 14 de março de 2018. Cinco anos se passaram e ainda não podemos afirmar quem foi o mandante desse crime, ou a real motivação por trás dele.
Nas oficinas de astrologia mundana que ministro, esse é um caso que retorna ao nosso interesse com alguma regularidade. No entanto, apontar quando uma situação tão complexa e em aberto pode ter seu desfecho não é uma tarefa simples, e acho que essa cabe bem na definição de “análise experimental” (como as que fiz na época da Copa, parte 1 e 2). Tem muita teoria e fundamento astrológico por trás desse estudo, mas ele não deixa de ser uma tentativa de investigar no Tempo um evento cuja determinação, por inúmeras razões, talvez fuja à minha alçada.
Cabe reforçar, é claro, que astrologia não é adivinhação — não é meu intuito aqui avaliar qualquer teoria ou pesar os argumentos que rondam a investigação. Nessa edição, vou me ater firmemente ao papel de astróloga sondando as possibilidades temporais em torno do caso; como ele será elucidado ou quem será acusado ou condenado a partir de seus desdobramentos, não cabe a mim especular. Para quem se interessar se atualizar a respeito do caso, recomendo esse episódio de podcast, de maio deste ano.
É com respeito, cuidado e, sobretudo, esperança que eu me aproximo desses mapas. A astrologia é um conhecimento que serve pra muitas coisas, e podemos usá-la para mapear também as coisas ruins que ocorrem na Terra. A luta por justiça, é claro, deve ser uma constante, não uma ação subjugada aos movimentos do céu; o que essa análise pode nos ajudar a ver é que existem períodos em que os encaminhamentos se dão com mais efetividade do que outros. É o que vamos tentar avaliar hoje. Uma boa leitura!

O Ingresso Solar em Capricórnio de 2017
Quem lê essa newsletter há algum tempo já têm alguma ideia sobre como a astrologia mundana funciona: tudo de mais importante que ocorre num país deve estar representado no mapa do Ingresso Solar vigente para o período referente à tais acontecimentos. No caso da fatídica noite de 14 de março de 2018, o mapa vigente era o do Ingresso Solar em Capricórnio, ocorrido em 21 de dezembro de 2017. O ano astrológico, vale lembrar, só vira em 20 de março — o que torna o evento do assassinato de Marielle e Anderson o último acontecimento de relevância do então ano astrológico de 2017.
O mapa daquele Ingresso Solar em questão é dos mais simbólicos para um trimestre que envolveu um caso tão emblemático para o país: com o ascendente em Áries, temos como regente um Marte em Escorpião na casa 8, justamente a casa de mortes, perdas e crises. Marte está domiciliado, isto é, representa perigos que podem levar a danos por meios “tipicamente” marciais: ataques, armas, violência, confrontos, etc.
Vereadores, deputados e senadores pertencem à casa 11, referente ao Poder Legislativo. Nela temos uma Lua em Aquário próxima ao Nodo Sul, uma posição de risco e instabilidade. A Lua é significadora do próprio povo e, portanto, carrega um duplo significado aqui: o povo se vê direcionado às pessoas e temas desta casa 11; em outra interpretação, uma pessoa ligada aos temas de casa 11, representante do povo, está em evidência nesse local. O problema aqui se dá pelo aspecto que essa Lua faz: ela aplica uma quadratura com Marte em Escorpião na casa 8. Pra completar, o regente da casa 11 é um Saturno em Capricórnio combusto pelo Sol, o luminar que é de natureza contrária à ele mesmo. O regente das pessoas de casa 11 se vê prejudicado por seus “inimigos”, pessoas de um espectro avesso à eles. O cenário trágico e brutal se armava a partir deste mapa, e os riscos estavam postos com um tipo de alvo (e de autor) razoavelmente identificáveis.
A lunação
Saber que um evento deve ocorrer num trimestre é diferente de saber exatamente quando ele tem mais possibilidade de se concretizar. Há algumas formas de aproximar essas datas — alguns trânsitos planetários são mais relevantes do que outros, por exemplo —, mas de forma geral, é sempre uma boa ideia abrir o mapa da lunação em que o evento ocorre (ou pode ocorrer) para se verificar se a possibilidade aparece simbolizada ali. Mapas de lunação podem ser o de uma Lua Nova ou de uma Lua Cheia; no caso do 14 de março de 2018, o mapa ativo era o da Lua Cheia em Virgem, ocorrida 13 dias antes:
(Como a Lua Cheia é o “amadurecer” de um ciclo, quando um evento ocorre durante o período de sua vigência, é pertinente, também, abrir o mapa da Lua Nova anterior, já que ela inaugura a lunação como um todo. Para simplificar essa análise, porém, decidi deixá-lo de fora.)
Esse é o mapa no qual basearemos toda a análise que vem a seguir, então vamos guardar essas posições com atenção: o ascendente é 11° de Escorpião; temos Júpiter a 23° no mesmo signo. O regente da casa 1 é um Marte a 20° de Sagitário — portanto, o principal significador do evento, e que faz muito sentido, já que se tratou de um assassinato a arma de fogo. Os luminares Sol e Lua se opunham em Peixes e Virgem, respectivamente, também a 11°. Saturno estava a 7° de Capricórnio, e Mercúrio e Vênus bem próximos, a 22° e 23° de Peixes.
Reparem que, novamente, temos um mapa com a Lua na casa 11: uma representante do povo na casa do Legislativo. Essa Lua em Virgem está numa configuração especialmente ruim, embora não tão incomum: está sitiada, isto é, saindo do aspecto de um planeta maléfico para outro (desconsiderando o Sol, é claro, com quem naturalmente forma oposição numa Lua Cheia). A 11° de Virgem, ela está entre o trígono com Saturno em Capricórnio e se aplica à quadratura com Marte em Sagitário. Para completar, tem seu próprio dispositor (Mercúrio) em oposição à ela, regendo a casa 8. Se fôssemos abrir cada lunação dentro desse trimestre em que o risco para alguém de casa 11 estava desenhado, certamente teríamos nessa Cheia o mapa mais determinante.
O mapa do evento
O mapa do momento exato do assassinato de Marielle e Anderson carrega similaridades óbvias com o da Lua Cheia que o antecede. A primeira delas é o ascendente em Escorpião, só que aqui ele aparece em oposição à Algol, uma estrela fixa perigosa:
“Algol nos remete ao mito da Medusa, uma das primeiras figuras retratadas como ‘monstruosas’ e uma personagem que sofre segregação, perseguição, violência e injustiça do meio social em que está inserida.” [trecho da edição #55]
Júpiter, Marte, Saturno e Sol ocupam ainda os mesmos signos da Lua Cheia, embora graus um pouco diferentes. Na noite do assassinato, Mercúrio e Vênus estão em Áries, já longe do local onde estavam no momento da Cheia. Embora o mapa desse evento tenha sua importância para experimentação de técnicas preditivas, me parece que o mapa da lunação vigente no período — o da Lua Cheia em Virgem — é o mais significativo para trabalharmos possíveis desdobramentos.
A prisão de Ronnie Lessa e Élcio Queiroz
Em 12 de março de 2019, uma força-tarefa prendeu o policial reformado Ronnie Lessa e o ex-militar Élcio Vieira de Queiroz, alegando que o primeiro atirou contra a vereadora, e que o segundo dirigia o carro que perseguiu Marielle. Vamos olhar o mapa referente ao período dessas prisões:
Temos aí um Júpiter a 22° de Sagitário, um grau muito próximo ao Marte em Sagitário do mapa da Lua Cheia em Virgem, referente ao momento do assassinato. E não só: Marte ocupa aqui a posição 13° de Touro, uma oposição acirrada ao ascendente a 11° de Escorpião daquela lunação. São posições especialmente significativas por se tratarem de planetas superiores, de trânsitos mais lentos.
Desde então, muita coisa ocorreu, mas pouca efetividade na resolução do caso.
Já em 3 de maio deste ano de 2023, Ailton Barros, militar da reserva, e Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, foram presos em operação sobre fraude em cartões de vacinação. Em mensagens interceptadas, Barros dizia saber quem estava por trás da morte da vereadora Marielle Franco, trazendo muita mídia ao caso. Pouco depois, no entanto, ele desmentiu saber qualquer coisa a respeito.
Não há nada de muito concreto sobre essa possível (porém improvável) revelação, mas me chamou atenção algumas ativações por trânsitos planetários: nessa época, Júpiter estava no grau 27° de Áries, um trígono exato ao Marte do mapa do evento do assassinato; o Sol, por sua vez, estava entre 12° e 13° de Touro, opondo-se ao ascendente do mapa da lunação — e também ao Marte do mapa da prisão. (É muito grau e muita posição pra guardar, eu sei, mas é assim que a gente pode ir investigando as possibilidades a partir de um dado evento!)
Perspectivas próximas: trânsitos e datas pra ficar de olho
Júpiter em Touro
Júpiter em Touro não traz muito avanço em questões de justiça, pois está num signo peregrino, meio fraco pra ele. No entanto, talvez a exceção venha justamente para o caso Marielle. Como visto acima, a prisão de Lessa se deu justamente com ativações de Júpiter e Marte sobre ângulos importantes do mapa da lunação do assassinato; transitando por Touro, Júpiter faz oposição à esse mesmo ascendente em Escorpião, pressionando as questões de justiça e reparação.
Vejam bem: escrevo essa edição no dia 12 de julho de 2023, quando Júpiter já ocupa o grau 11° de Touro, formando essa oposição. Ela se completa em grau e minuto no próximo dia 14 de julho. Há algo de bom que pode sair daí? Quero pensar que sim, embora pareça improvável. Mas como Júpiter retrogradará do início de setembro até o fim de dezembro, ele retornará ao grau 11° de Touro também em 26 de outubro de 2023 e 2 de março de 2024. (De forma mais secundária, outro ponto de Júpiter que talvez valha se atentar é sua passagem pelo grau 23° de Touro, que ocorrerá em 26 de abril de 2024.)
Júpiter trata de julgamentos e justiça; portanto, essas ativações podem trazer avanços em investigações, ganho de perspectiva e novos fatos e descobertas. Vale dizer que o julgamento de Ronnie Lessa como executor de Marielle será por júri popular, e ainda não tem data definida — não me surpreenderia se fosse marcado próximo a uma dessas citadas!
Marte em Virgem
Marte alcança o grau 11° de Virgem no próximo dia 28 de julho, e o grau 20° (que faz quadratura ao Marte em Sagitário da lunação) em 13 de agosto. Em 2019, a ativação de Marte contra o ascendente do mapa da lunação trouxe a prisão de Ronnie Lessa como executor de Marielle; o que será que esse Marte pressionando os luminares e a si próprio pode significar? A meu ver, mais danos ou complicações pro lado de suspeitos do caso. Mais informações também podem vir à tona. Um possível mandante ganha mais forma? Poderia ser.
Saturno em Peixes
Por fim, Saturno cruzará o grau 11° de Peixes no dia 12 de março de 2024. Ele ativa aí os luminares e o ascendente do mapa daquela lunação. Saturno é o regente de condenações e prisões: é ele quem simboliza punições, afinal. E em Peixes, ele também carrega significados valiosos de justiça social:
“A mudança de estruturas que Saturno em Peixes provoca também pode propiciar avanços e conquistas em outras esferas coletivas, como no que diz respeito aos direitos humanos e à organização civil. Foi no trânsito de Saturno em Peixes nos anos 90 que ocorreu o fim do Apartheid na África do Sul, quando Nelson Mandela foi eleito presidente do país; a assinatura da Lei dos Direitos Civis de 1964, um marco nos direitos civis e trabalhistas nos Estados Unidos, que proibia a discriminação com base em raça, cor, religião, sexo e nacionalidade, também foi fruto desse trânsito. O primeiro ator negro a ganhar o Oscar de ‘Melhor Ator’, Sidney Poitier, também o fez no mesmo ano. Já no trânsito anterior de Saturno em Peixes, na década 1930, houve a publicação da encíclica Mit brennender Sorge pelo papa Pio XI, documento que fazia uma forte condenação do nazismo e do governo do Reich Alemão. Jesse Owens, um atleta negro estadunidense, ganhou 4 medalhas de ouro nas Olimpíadas de Berlin de 1936, em plena Alemanha nazista. Aqui no Brasil, na mesma época, foi lido na Câmara Federal o Primeiro Manifesto da Aliança Nacional Libertadora, uma frente de esquerda composta por setores de diversas organizações de caráter anti-imperialista, antifascista e anti-integralista.” [trecho da edição #78, especial sobre Saturno em Peixes]
O que eu espero, naturalmente, é que chegado esse próximo março, possamos ter as respostas que esperamos há tanto tempo — e ver, enfim, alguma justiça ser feita em nome de Marielle e Anderson.
Olá, apoiadores! Essa não deve ser a única edição exclusiva desse mês, pois já estou no preparativo de outras. No entanto, não me sentiria à vontade de escrever sobre esse tema de forma tão pública, e resolvi deixar essa acessível apenas a vocês. No mais, tô sempre aberta a comentários e sugestões via Substack ou e-mail, ok? Me escrevam :)
um abraço e até a próxima,