um drink para a Vênus em Touro
Sextou com quê, minha gente? Com Lua em Touro ainda se afastando do sêxtil com a Vênus em Câncer, um aspecto com recepção bem delicinha e favorável pra retomar esse projeto que ficou dois meses parado, mas não sem boas justificativas: Mar se mudou de casa, Ísis se internou em casa semanas a fio escrevendo dissertação do mestrado, ambos ficamos doentes, a vida foi acontecendo, etc. O que interessa é que estamos de volta com muitas ideias pra pôr em prática — e, mesmo que a Vênus já tenha saído de Touro há muito tempo, o Sol ainda tá nos últimos suspiros desse signo, então temos licença poética pra publicar essa receita. (Se vamos conseguir alcançar os trânsitos atuais da Vênus em algum momento, é um mistério, então bora desapegar dessa parte.)
Muita gente chegou aqui desde março, então vamos dar um passo pra trás e apresentar as coisas direito: essa edição é parte do projeto drinks para as Vênus, iniciado pela Ísis pelo desejo de pesquisar ingredientes à luz da astrologia e inventar receitas para beber uns bons drinks, como boa mixologista amadora. Para quem não sabe, pela astrologia, todos os alimentos podem ser associados a um ou mais planetas em termos de natureza e afinidade; há tabelas antiquíssimas de associações entre muitas plantas e os planetas clássicos, por exemplo, mas parte considerável do que conhecemos e usamos aqui no Brasil não está listada nesses materiais. Essa é também uma oportunidade, então, de estudar e tentar criar uma base de referência de regência para as espécies nativas da nossa terra.
Mar Muricy se juntou comigo nessa empreitada já no início, e criamos juntes as já publicadas receitas dos drinks da Vênus em Peixes e da Vênus em Áries. Vamos ao da Vênus em Touro, então?
a receita
Com o perdão do trocadilho (irresistível), ficamos ruminando a receita por semanas, já sabendo mais ou menos como deveria ser, mas faltando tempo e agenda pra gente conseguir se reunir e testar as combinações e proporções. Quando conseguimos marcar, tivemos que comprar geleia pronta, ao invés de fazer a nossa, porque não é época de morango e só descobrimos isso no dia. (Definitivamente algo que deve ser levado em consideração nas próximas receitas.)
Vários ajustes também precisaram ser feitos até chegar à combinação que está aqui. No dia em que nos encontramos, fizemos a primeira receita num drink bem mais volumoso do que a criação final, super alcóolico. Pensamos que uma boa solução pra ajudar a diluir e reduzir o teor alcóolico poderia ser usar um chá de hibisco, o que foi feito: essa adição, com mais quantidade de gelo e redução nas doses formou uma mistura bem mais agradável e menos intensa da bebida. Lá no final você vê fotos das duas versões: a primeira num copo mais “parrudo”, a segunda numa taça, por ser menos quantidade. Nesse caso, o copo é o de menos: o mais importante é saber que o drink rende aproximadamente 250ml; o recipiente que couber, tá valendo.
No fim das contas, todo o processo teve a ver com o signo de Touro mesmo. Foi preciso fazer as coisas sem a pressão do “fazer por fazer”, trilhando cada etapa com mais tempo e espaço para se experimentar, degustar os sabores e perceber o que estava em falta ou excesso.
os ingredientes
75ml de um Gin Yvy Terra
75ml de licor de marula*
150 ml de chá de hibisco*
2 colheres de sopa de geleia de morango* (+ meia colher para decorar o copo)
4 a 6 cubos de gelo
Para servir:
nibs de cacau
folha de bougainville
*ver observações sobre os ingredientes mais abaixo
Comece preparando a firulinha no copo que a gente ama: aqui, escolhemos usar a própria geleia de morango que vai na mistura. Na versão da taça ela foi bem próxima à borda, na versão do copo ela foi mais pro fundo. A ideia é que essa geleia pura vá sendo sorvida junto do líquido ao gosto de quem bebe, então você escolhe onde fica melhor no seu recipiente. Algumas geleias têm consistência densa demais para ser “bebida” junto do drink, então a dica é derreter um pouco no fogão (se necessário, com um pouco de água) pra que facilite essa arte aí.
Copo pronto? Então, vamos aos preparos: junte todos os ingredientes (menos o nibs de cacau e o bougainville) no liquidificador e bata bem. E pronto! É só isso mesmo.
Ah, vale dizer que a quantidade de gelo é sempre uma margem porque, bem, depende do gelo que você tem e do tipo exato dos seus outros ingredientes. O gelo é fundamental nessa receita, para além de deixar a bebida geladinha, porque ajuda a diluir e incorporar o álcool na mistura.
Com a mistura no copo, pegue um punhadinho de nibs de cacau e sirva no topo com uma folhinha de bougainville pra decorar — e comer, se quiser, afinal, ela é uma PANC.
observações & curiosidades
O licor de marula mais famoso do mundo é o Amarula, e essa era a opção original da receita, mas mudamos por questão de economia mesmo: a garrafa estava custando quase o dobro da versão da Stock, uma marca nacional bem falada e recomendada pra substituições. Para nossa surpresa, ele não é muito doce e realmente caiu bem no conjunto.
Em termos de chá, hibisco parece ser uma opção um pouco mais solar do que obviamente venusiana, mas era o que tinha aqui de prontidão pra receita. Muitas outras opções são possíveis: chá de amora, chá de framboesa, chá de morango ou até da própria bougainville são opções bem coerentes e apropriadas tanto ao paladar quanto à associação astrológica do ingrediente.
Fazer geleia em casa é sempre melhor do que comprar uma pronta, mas na falta de fruta fresca no dia em que marcarmos de criar a receita, nos viramos com uma industrializada mesmo (porém, orgâaaanica). Novamente, dá pra substituir bem por geleia de amora, framboesa ou frutas vermelhas.
coisas que (talvez) você não saiba sobre o bougainville
O galhinho colhido pra receita desse dia estava com as folhas num rosa bem clarinho, diferente do tom vibrante que a bougainville é conhecida. Aliás, essa parte colorida não é bem folha: se chamam “bráqueas”, e são folhas modificadas da planta (afinal, ela também tem folhas verdes comuns).
Além de ter as bráqueas comestíveis na forma natural, em sucos ou chás, o bougainville — também conhecida como primavera — é uma trepadeira nativa brasileira com propriedades medicinais e uma história incrível por trás do seu “descobrimento”:
“A bougainvillea é uma planta nativa do Brasil, descoberta durante a viagem de circum-navegação do capitão francês Louis Antoine Bougainville em sua passagem pelo Brasil em 1767. Em solo carioca a “trepadeira maravilhosa”, como os franceses a chamaram, foi coletada por Jean Baret, auxiliar de Philibert Commerson, o naturalista de bordo. Baret, era, na verdade, Jeanne Baret disfarçada com características masculinas para que pudesse integrar à expedição e auxiliar Commerson durante a viagem, já que, nessa época, o ambiente era unicamente masculino. A nova planta foi nomeada em homenagem ao líder da expedição.
Como era uma planta de fácil adaptação a diferentes ambientes, logo se espalhou por todo o continente europeu, e apenas anos mais tarde, foi encontrada em um jardim de Berlim pelo paisagista brasileiro, Burle Marx. Foi então que o paisagista, que defendia a importação de flores, surpreso ao notar a origem da planta típica da Amazônia e da Mata Atlântica, percebeu que o Brasil possuía espécies tão exuberantes quanto as que ele defendia importar, vindas da Europa.”
[trecho do conteúdo da exposição Darwin: Origens & Evolução, exposição que, curiosamente, a Ísis trabalhou como designer, em 2019]
notas astrológicas sobre a criação
“Touro é a terra da floração e da colheita: embelezada por flores e folhas ou abundante de vegetais maduros. A terra em seu estado mais fértil, num momento em que basta estender a mão para alcançar uma maçã ou colher um ramo de couve; quando se sente o aroma de um pé de maracujá florido ou de uma mangueira já carregada de frutos.” [trecho daqui].
Flores, frutas, colheita — o amadurecimento material, que nos permite desfrutar do sabor das coisas. A gente queria muito fazer um drink que, ao mesmo tempo, fosse saboroso e perfumado, mas acolhedor também; Touro é, afinal, domicílio de Vênus e exaltação da Lua, um signo de substância, e não parecia fazer sentido uma mistura que ficasse muito aguada, por exemplo. Um drink encorpado, mas ainda assim suave e agradável.
Usamos o Gin Yvy Terra por motivos meio óbvios: Touro é o signo da terra fixa, né? E o gim pareceu um bom álcool de base por ser relativamente neutro, mas tendo sutilezas de aroma e sabor interessantes para uma receita como essa. A Yvy tem gin de 3 sabores diferentes — mar, terra e ar —, e eles descrevem esse da terra assim:
É a doçura inconfundível de ingredientes como cacau, baunilha do cerrado e pinhão em contraste com os sabores complexos da erva-mate, pimenta-de-macaco e zimbro torrado como café. É como a chuva de verão que molha a terra seca e nos revigora.
Em termos de ingredientes, não tem muito o que elaborar: as frutas vermelhas como o morango, amora e framboesa são associadas à Vênus há séculos por diferentes autores de astrologia e estudiosos das plantas, então não havia muita dúvida sobre o sabor da geleia.
O bougainville, embora ainda exija uma pesquisa mais aprofundada, tem como uma das propriedades principais ser antiinflamatório: as inflamações são justamente de natureza quente e seca (de Sol e Marte), então faz sentido uma planta regida por Vênus (que é um planeta de qualidade fria e úmida) ter essa função. Além disso, como não pensar que o bougainville é de Vênus? A beleza dela grita.
Para quem não sabe, nibs de cacau são uma forma bem “pura” e pouco processada de chocolate: são as sementes do cacau fermentadas, secas, torradas e trituradas. Por isso, o sabor delas é intenso e meio amargo. O chocolate, como ingrediente, parece ser uma epítome do signo de Touro, que é a terra fixa — a terra trabalhada, que já foi cultivada, da onde se colhe algo saboroso e proveitoso. E o cacau é um fruto que, à primeira vista, ninguém jamais diria que originaria algo como o chocolate, né? Um ingrediente que extrai o que há de mais fabuloso nesse fruto, seu auge no paladar.
E o licor de marula, hein? Bom, a marula parece ser uma fruta de natureza bem lunar (provavelmente lunar-jupiteriana), perfeita para dar uma encorpada nessa receita, sendo Touro também regido pela Lua, por exaltação. O que descobrimos é que a marula é originária do bioma das savanas da África oriental e também possui propriedades antiinflamatórias e antioxidantes, como o bougainville. Ela é mais conhecida, porém, por ser um fruto muito nutritivo e suculento: “o núcleo da semente é rico em proteína e gordura, com um sabor de nozes, constitui uma boa fonte de alimentação” [trecho da Wikipédia]. O chá das folhas pode ser usado no tratamento da indigestão (a cara da Lua exaltada, afinal, Lua rege o estômago). O fruto é normalmente consumido fresco ou preparado em sucos, geleias e licores, reforçando essa função nutritiva e aprazível, bem a cara de um signo afeito à Lua e Vênus. Delicinha demais.
Enfim, nossa recomendação para vocês é fazerem em casa essa receita, que fica especialmente gostosa nesse clima mais fresquinho (ou menos quente) que anda fazendo no outono brasileiro. Se experimentarem, não deixem de marcar a gente nas redes, viu? No mais, desejamos um bom fim de semana pra vocês. E um brinde à Vênus em Touro!
Q drink lindo