🎵 Para ler ouvindo “Biophilia”, da Björk
São dias de encontro no signo de Gêmeos: Sol e Vênus já transitam por ele, e agora se preparam para a chegada de Júpiter na noite desse sábado, 25 de maio. Júpiter em Gêmeos nos acompanhará por aproximadamente um ano, até 9 de junho de 2025. O que podemos esperar de sua passagem pelo signo que é seu exílio — isto é, o signo oposto às suas próprias convenções, em Sagitário?
Em termos coletivos, os trânsitos de Júpiter são especialmente importantes, assim como os de Saturno. E, desde que Saturno ingressou em Peixes, esta será a primeira vez que Júpiter formará um aspecto tenso com ele: uma quadratura, aspecto que pressiona e desgasta. E uma quadratura que envolve signos mutáveis costuma pressionar por mudanças — uma necessidade que, cada dia mais, fica evidente no modo como temos vivido coletivamente neste planeta. Eu escrevi em março do ano passado que a passagem de Saturno por Peixes apontaria para um agravamento da situação da crise climática, sendo as águas um tema de grande interesse. Júpiter em Gêmeos fará uma quadratura com Saturno tensionará esse cenário, sim, mas sob a promessa de exigir novas soluções, reorganizar estruturas e pensar para além do óbvio.
Essa é a minha deixa para introduzir uma palavrinha que eu detesto, mas que se faz necessária nesse texto: inovação. Em mapas natais ou mundanos, Júpiter em Gêmeos é um grande testemunho de mentes inventivas, imaginativas e que inovam nas frentes em que atuam. Essas inovações e invenções se dão pela via mercurial, naturalmente, visto que Gêmeos é regido pelo deus mensageiro! Estamos falando, portanto, de tudo que tange as comunicações, o aprendizado, a pesquisa, a linguagem, o raciocínio lógico, a argumentação, a cognição…
Esse é o Júpiter natal de Thomas Edison, inventor de milhares de patentes, incluindo a lâmpada elétrica, o projetor de filmes e o gravador de voz. Também o do Graham Bell, o inventor do telefone. E também o da Maria Montessori, que, adivinha, criou o famoso método que leva o seu nome, muitíssimo usado por educadores escolares e cuidadores mundo afora. Mas não só de utilidades “práticas” estamos falando. Júpiter em Gêmeos também aponta para esse potencial nas artes, um campo especialmente conectado às inovações. Uma notória nativa de Júpiter em Gêmeos é Ursula K. Le Guin, um dos maiores nomes de ficção científica do mundo. Outro que também carrega esse mesmo Júpiter, cravado no seu ascendente em Gêmeos, é o Aldous Huxley — autor de “Admirável Mundo Novo”, conhecido título da literatura distópica. O que há em comum entre os dois? A capacidade de imaginar a partir da realidade, antecipar dificuldades e desenvolver ficções especulativas que nos ajudam a enxergar e perceber de forma crítica problemas atuais e possíveis soluções futuras. Ambos também foram bastante críticos de modelos convencionais de progresso científico e capitalista, e conseguiram transmitir seus ideiais pessoais pelo meio da escrita. Mais Júpiter em Gêmeos do que isso, não fica.
Enquanto Júpiter unifica e integra, Mercúrio diferencia e discerne as partes: ambos são planetas que, em mapas astrológicos, informam sobre inclinação aos estudos e a busca por conhecimento, embora por vias bastante distintas. Mas interessa perceber que, quando Júpiter ocupa um território de Mercúrio, tal como Gêmeos, o que parecia relativamente consolidado ou coeso desestabiliza.
Como bem lembrou a Bárbara na edição que escreveu sobre esse ingresso, foi no último trânsito de Júpiter em Gêmeos, em 2013, que tivemos uma virada fundamental no Brasil: as Jornadas de Junho, que constituíram uma série de manifestações populares que ocorreram em âmbito nacional, algo inédito na nossa história. E não é por acaso, claro — o mapa de fundação do Brasil tem Júpiter em Gêmeos. Um retorno de Júpiter é um trânsito de importância para o nosso país, acima de qualquer coisa! Nesses últimos 11 anos, tudo e mais um pouco ocorreu, inclusive a criação de um poderoso maquinário de fake news e o crescimento e popularização do discurso conservador no Brasil.
[Vários autores] destacam a organização e articulação de movimentos de direita por intelectuais, lideranças e grupos de ativistas nas redes e nas ruas que contribuíram diretamente na formação de um contrapúblico ultraliberal a partir do uso das redes sociais. O ano de 2016 é apontado pelos mesmos autores como uma divisão da polarização política instaurada no país, e que se manifestaria de forma ainda mais nítida nas eleições presidenciais seguintes. 1
Se havia alguma noção de coesão nacional àquela época, o último retorno de Júpiter em Gêmeos para o Brasil chacoalhou o país suficientemente para deixar à mostra todas as nossas diferenças. E se Júpiter representa a noção de pacificação, união e fraternidade, Mercúrio expressa a ideia de uma multidão de diferentes, de incongruências, de valores e ideais muitas vezes desconexos e confusos. Nem muito de um, nem muito de outro: todos os planetas apontam para qualidades importantes e também o risco de seus excessos. Mas uma coisa que Júpiter em Gêmeos vem para sinalizar é que tudo aquilo que parece superficialmente íntegro pode começar a se desmantelar e se ramificar em grande velocidade, diante de nossos olhos. No que acreditamos? O que defendemos? Como negociamos alianças em torno de interesses tão distintos? O que é bem comum, afinal? A relativização demasiada é um grande risco que paira diante de nossos olhos, durante esse período.
A contradição também cabe bem ao trânsito de Júpiter em Gêmeos, justamente por expor e deixar nítidas nossas diferenças enquanto coletividade. Nesse sentido, instituições e figuras públicas de grande referência — especialmente ligadas à religião e justiça — estão mais sujeitas às críticas, falhas e desorganização. Lá no fundo, eu vejo o trânsito de Júpiter em Gêmeos como um lembrete de que toda consolidação é passageira. Reinventar-se como necessidade fundamental para continuar existindo.
Outros problemas característicos desse período têm a ver com o exagero mercurial do qual Júpiter se veste: uma certa tendência a tirar conclusões sobre conjunturas e situações muito abrangentes a partir da observação de detalhes; se apegar demais a termos e palavras buscando explicações para aspectos da experiência humana que não cabem na lógica convencional; o excesso mental, enfim, como uma sobrecarga que aprisiona nosso próprio corpo. Aceitar que nem todo conhecimento pode ser apreendido por teoria e estudo intelectual é uma máxima que devemos carregar conosco nesse próximo ano.
Como já citado, o Brasil tem Júpiter em Gêmeos no seu mapa de fundação, mas não só isso: tem também a Lua, representante do povo, cravada no mesmo grau! O retorno de Júpiter em Gêmeos é um trânsito que vem mexer com a autoestima, os ideais e a capacidade de mobilização da população. E põe em evidência, também, uma das nossas características mais marcantes: a de um povo que é “iconoclasta por natureza”.
A potência do Brasil enquanto indústria de memes é algo que minha amiga astróloga Isabela me apontou há muito tempo atrás, e que é mesmo a cara da conjunção Lua-Júpiter em Gêmeos na casa 5 do mapa do Brasil. Humor e piadas com tudo que pode e que não pode? Temos. Não esperaria menos de um país que produziu o Vampetaço — como bem definido no artigo da Wikipédia, “uma forma de trolling e cancelamento usada como protesto contra pessoas públicas que postam algo considerado desagradável em suas redes sociais, principalmente no Twitter”. O Brasil, meus caros leitores, é uma potência de comunicação a qual damos pouco valor.
E no sentido individual, o que a passagem de Júpiter em Gêmeos pode significar no mapa pessoal de cada um? Bom, pra quem é nativo desse posicionamento, o retorno é um momento benéfico na vida, ainda que esse planeta esteja em casas pouco produtivas ou de temas difíceis. Da forma que é possível, Júpiter ajuda a enfrentar as dificuldades e promove crescimento e apaziguamento.
“Se considerarmos Júpiter como o planeta indicador de sorte e prosperidade na vida de alguém, é possível pensar que um Júpiter exilado sinaliza um caminho desviante ou improvável no alcance desse sucesso, e por vias mercuriais (pois Gêmeos é domínio de Mercúrio). O caso de Oprah é especialmente representativo por isso: ela veio de origem humilde e teve um início de vida bastante difícil, mas alcançou imenso sucesso por meio da comunicação, tornando-se apresentadora, empresária, investidora, escritora, filantropa, etc, tendo construído um imenso patrimônio.” [trecho dessa edição]
Se você não tem Júpiter em Gêmeos no seu mapa natal, esse é um trânsito que pode ou não ser importante pra você. Não vou chover no molhado porque tanto a Bárbara quanto o Guilherme já escreveram um panorama de previsões para ler de acordo com o seu ascendente, então fica minha recomendação pra vocês conferirem por lá.
Por último e não menos importante, fica o meu momento fangirl de rasgar seda pra uma das minhas artistas preferidas, e a última nativa de Júpiter em Gêmeos que citarei nessa edição: Björk!
Fazendo jus à inventividade e inovação característicos desse posicionamento (ela tem Júpiter em Gêmeos em aspecto bem próximo ao ângulo MC natal), Björk é uma grande inovadora na área musical. Para gravar o álbum Biophilia — inspirado na relação entre natureza, tecnologia e música —, ela inventou vários instrumentos, incluindo a harpa gravitacional, composta por quatro pêndulos oscilantes e giratórios com 11 cordas; um sintetizador que cria sons de raios em vários tons, e o gameleste, “uma mistura de dois instrumentos estranhos já existentes, o antigo gamelão indonésio (um conjunto de percussão de bronze) e o celesta, um pequeno piano que possui pequenas barras de aço”.2
Isso pra não falar do seu uso precursor de outros instrumentos e da música eletrônica e de ideias “fora da caixa” que ela pôs em prática muito antes de se popularizem, como disponibilizar a compra de seus discos por bitcoin, produzir álbuns para serem experienciados em realidade virtual ou transformar músicas em vídeo games por meio de aplicativos3. A mulher faz o que ela quer, e a gente tem a sorte de testemunhar.
uma pequena mudança
Vocês sentiram falta de uma edição sobre a Lua Cheia, ou nem repararam? A ideia era escrevê-la, sim, mas eu enrolei. E aproveitando a deixa, vou mandar a real pra vocês: eu mal consigo ler todas as newsletters que assino atualmente, e não quero ser mais um email acumulando a caixa de entrada de vocês. Tenho pensado bastante sobre a frequência das edições regulares e tomei a decisão, por ora, de publicar uma edição mensal sobre a lunação, mais completinha e ainda gratuita, e deixar todo o restante do conteúdo aqui para assinantes apoiadores. Tem um monte de rascunho, inclusive, que já tá no forno pra sair nas próximas semanas. Estamos combinados? Acredito que assim fica melhor pra todos nós.
Um abraço e até,
Ísis
A newsletter meio do céu é gratuita, mas você pode se tornar um assinante pago e apoiar o meu trabalho.
Apoiadores recebem edições especiais com conteúdos exclusivos — análises de mapas e eventos, textos sobre teoria astrológica, estudos experimentais, etc. Nesse conteúdo exclusivo, recebo também as sugestões de vocês para estudo e escrita sobre o que a gente quiser observar e descobrir em termos de astrologia.
Quem apoia financeiramente pode optar pela assinatura mensal (cobrada a cada mês), anual (pagamento único, com um descontão) ou de membro fundador (para quem tem de sobra e pode apoiar com mais). Para se tornar assinante pago, basta atualizar o status da sua assinatura nas configurações da sua conta do Substack.
Nem eu acredito nisso, mas esse é um trecho da minha dissertação de mestrado, que muito em breve estará disponível na biblioteca digital da UERJ. Segue a ref:
DAOU, ÍSIS. Pensar-com imagens: subversões e fabulações em torno da bandeira nacional brasileira. 2024. 214f. Dissertação. (Mestrado em Design) – Escola Superior de Desenho Industrial, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2024.
Esse parágrafo traz uma tradução direta de um trecho desse artigo citado acima, que vale a pena ler para conhecer melhor a importância e impacto da Björk no cenário musical.
Tua News é a única que eu corro pra ler qdo sai e tenho o gosto de ler toda.
Óbvio que fez falta 😍