Cheguei com uma edição mais rapidinha, para não deixar passar batida a chegada da Lua Cheia. A Lua ingressou em Capricórnio agorinha, no início da tarde deste domingo, e já se prepara para a oposição exata com o Sol em Câncer, que ocorrerá na manhã da segunda-feira.
Quando transita por Capricórnio, a Lua veste uma armadura para enfrentar o mundo: está habituada às intempéries materiais e afetivas, ao desengano e à falta do que não se teve em fartura. Uma carapaça que, acostumada a se vestir, pode dessensibilizar a respeito de um tanto de coisa que acontece; ao ponto até de não conseguir enxergar problema onde de fato existe, justamente pelo costume de conviver com ausências e dificuldades mais persistentes. Limites podem ser cruzados, mas as coisas vão sendo suportadas no tranco, já que a sensação de “beco sem saída” é familiar. Para nativos dessa Lua, aliás, guarda-se a lição de reaprender a decidir, agora por si próprio (não mais refém das circunstâncias) onde é preciso, de fato, erguer muros de proteção; e onde, por outro lado, é proveitoso abrir espaços para a troca, sem precisar carregar pedras no bolso para se defender.
A chegada da Lua Cheia é uma virada um tanto quanto “bruta” nessa Lunação de Gêmeos. Não cheguei a escrever sobre a Lua Nova do dia 18 (estava novamente no hospital nesse período, e acabei priorizando escrever sobre o Ingresso Solar em Câncer quando tive alta), mas observando aquele mapa agora, é curioso notar uma mudança tão brusca: uma lunação que começa com uma Lua jubilada (em seu local preferido, a casa 3), em Gêmeos, disposta por um ágil Mercúrio no mesmo signo, denota movimento e mil novidades que pairam no ar, numa rotina ágil e agitada, cheia de notícias e a engenharia de memes em polvorosa. A chegada da Cheia nessa segunda-feira modifica o clima geral, pois ocorre nos eixos das casas 6 e 12 no mapa para o Brasil: do movimento, chega o cansaço; das trocas e encontros, surge também a necessidade da reclusão e do cuidado. Ritmos, enfim.
O funcionamento da astrologia está muito ligado à compreensão da ciclicidade do tempo, como já escrevi tantas vezes por aqui, mas há algo a mais dentro desse fundamento: a noção de alternância de ritmo. Nada está parado no universo, tudo se move; esse movimento não é aleatório, mas possui cadência.
Na astrologia, o ritmo se expressa na fase da Lua, nos trânsitos planetários que variam em velocidade e sentido aparente (os planetas em movimento direto ou retrógrado), na passagem do Sol pelas quatro estações e nos ciclos de cada corpo celeste. O nosso corpo tem ritmo: o coração que bate e bombeia sangue, o fluxo hormonal variável, os movimentos da digestão dos alimentos, o caminhar característico de cada indivíduo. A vida pede ritmo. Talvez seja por isso que uma rotina engessada drene a energia e adoeça o corpo: sem variedade de movimento, enfraquecemos o pulso do tempo. Para haver êxtase, é preciso que haja tédio. [trecho da #23]
A ânsia de se mover em busca da segurança material duradoura ou da construção de algo que resista aos efeitos do tempo — Lua em Capricórnio — chega para tensionar necessidades mais imediatas — a consciência do repouso e do acolhimento, da nutrição para se manter vivo e de tomar decisões que fertilizem sua morada — Sol em Câncer.
Fiquei com esse pensamento do corpo como uma dobra no tempo (lembrar que Saturno está em Peixes, qualquer sombra de linearidade foi pras cucuias). Isto é, ainda que sofrendo e mudando conforme os efeitos desse tempo sobre ele, o corpo, carregado de memória, também devolve e provoca um monte de sensações sobre o que já foi, o que é, o que ainda vai ser. [trecho da #85]
A chegada dessa Lua Cheia em Capricórnio — uma Lua “repleta” de rigidez e dureza, que estanca o fluxo abundante do rio ou faz algo pesar no estômago — desenha a urgência do cuidado com nossas próprias estruturas materiais: corpo, casa, família. Na prática, talvez signifique se atentar ainda mais à temperança, uma qualidade saturnina por excelência: se arregacei nesse fim de semana, vou compensar no descanso e alimentação nos próximos dias; vou correr uma maratona domingo, não vou inventar de ir nos dois aniversários que marcaram na véspera “porque preciso”; filho ficou doente, não preciso dar conta de cobranças dispensáveis nessa semana. Nessa próxima quinzena de Lua Cheia, não é momento de tudo-em-todo-lugar-ao-mesmo-tempo, sabe? É momento de aparar arestas e poupar desgastes físicos e emocionais. Se atentar aos limites excedidos, ao que não desceu bem e que agora confude a própria percepção de tempo-espaço. Algumas instabilidades, afinal, servem para recolocar certas coisas no lugar.
Aliás, com Saturno retrógrado e lentíssimo em Peixes, tendo recém-completado trígonos com má recepção com Mercúrio e Sol e Câncer, o tempo se desestabiliza; o que se idealiza ou planeja a médio ou longo prazo ganha ares de de utopia ou impossibilidade. Talvez não sejam assim realmente, mas alguns sonhos se adiam para que se concretizem melhor em outras circunstâncias. Dada à ambição nata de construir referências de segurança, a chegada dessa Lua Cheia em Capricórnio se frustra frente à imprevisibilidade do tempo que Saturno em Peixes estrutura agora. Qual a saída, senão fazer uma pausa — para alimentação, descanso e manutenção —, e seguir caminhando?
Quando os pés tateiam firme o chão que pisam, é possível trilhar vagarosamente o terreno, despreocupade com o que se pode ou não encontrar lá na frente. E talvez bem mais tarde, percebendo o tempo vivido, se dê conta da dimensão da escalada. [trecho de um post de 2021, sobre a colagem acima]
E eu volto a recomendar a escuta da playlist da Lua em Capricórnio canta, fruto desse projeto que idealizei de pesquisar as Luas de nascimento de músicos e intérpretes, e daí fazer uma curadoria de canções expressivas dessas Luas nos signos. Essa é uma das que mais tenho orgulho de ter criado (e desenvolvido posteriormente no coletivo Vega). Essa semana fiz uma pontual atualização nela com mais uma clássica do Zeca Pagodinho, e que é o puro suco da Lua em Capricórnio: “Mas digo sinceramente / na vida, a coisa mais feia / é gente que vive chorando de barriga cheia”.
Desejo uma Lua Cheia de cuidados e saúde para nós!
Lunação de Gêmeos
Lua Cheia em Capricórnio: previsões até 17 de julho de 2023
Serei sucinta nas previsões mais objetivas dessa segunda metade da Lunação de Gêmeos: o babado forte ficou pro início mesmo. Ao que me parece, nada de muito grandioso se desenha até a próxima Lua Nova, no dia 17.
O último sábado, 1 de julho, trouxe a conjunção exata de Mercúrio-Sol em Câncer, uma combustão, e os sêxtis de Mercúrio e do Sol com Júpiter. (Tudo isso ocorre antes da Cheia de amanhã, mas são aspectos que persistem nesse mapa, então valem mencionar.) Ainda que não sejam dos mais relevantes, essa movimentação me parece sinalizar dinâmicas na reforma ministerial que vem se desenhando ultimamente; alguma figura menor (representada por Mercúrio) deixa o cargo num Ministério e pode sair meio chamuscada, mas não tão na pior assim — e tudo isso pra já, nos primeiros dias dessa semana.
Pensando à luz do mapa do Ingresso Solar em Câncer, temos que considerar que Mercúrio é o regente complementar atual do país e do governo e, tendo atravessado o Sol nesse fim de semana, ele ressurgirá nos próximos dias do outro lado do astro-rei. Em outras palavras: Mercúrio, antes oriental (nascendo no horizonte leste no fim da madrugada, antes do Sol), agora está ocidental, se pondo depois do Sol, no início da noite. O que significa isso, astrologicamente? Há uma mudança simbólica aí, é claro, que poderá ser vista numa mudança de postura presidencial, algum tipo de “virada de chave” na comunicação e relações de figuras do Poder Executivo brasileiro. A meu ver, é uma mudança positiva e propositiva, pois Mercúrio ocidental tende a se expressar de modo mais analítico, cauteloso e comedido do que quando está oriental.
No mais, digo que essa quinzena será meio “nada acontece, feijoada” também pela escassez de aspectos no período: a desconsiderar a Lua, a única movimentação no cenário será o ingresso de Mercúrio em Leão (11 de julho), seguido da quadratura dele com Júpiter (dia 17, nas últimas da lunação). Nada de muito grandioso, mas acende as questões fiscais, podendo trazer fatos mais contundentes em relação aos casos de corrupção e fraude empresariais atualmente em pauta.
No mais, vale o que eu escrevi na introdução: Lua exilada de casa 6, repetindo o aspecto do mapa anual, aponta para vulnerabilidade da população e necessidades de cuidados com o corpo físico. Dada a estação do inverno no país, nessa quinzena podemos ter alta de infecções e doenças respiratórias, por exemplo; ou, no melhor dos casos, ganho de discussão e visibilidade sobre a Covid longa e outros temas de saúde coletiva. A oposição com Mercúrio regendo a casa 2 também levanta preocupação em relação à segurança alimentar e nutrição. E por hoje é isso. Se cuidem, e vamos adiante!
As previsões escritas acima tiveram colaboração da discussão coletiva da oficina sobre o Ingresso Solar em Câncer, ministrada por mim, em que participaram ao vivo Bia Cardoso, Bells Fernandes, Ju Machado, Patrícia Guedes, Pedro Joffily e Rafa Monteiro. Valeu, turma!
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um abraço e até a próxima,