edição #112, Ingresso do Sol em Áries
previsões de março a setembro para o Brasil em 2025
O Sol ingressou em Áries logo antes do amanhecer desta quinta-feira. Diferente das outras manhãs, hoje é o dia em que o ano astrológico recomeça outra vez. Um ano novo que ocorre com o equinócio (de outono, no Sul, e de primavera, no Norte) e que marca simbolicamente uma renovação de cenário e de possibilidades, pois abrimos um mapa de previsões a partir do momento exato em que o Sol adentra o signo de Áries, inaugurando o zodíaco. Há vários séculos, astrólogos persas e árabes começaram a prever eventos de relevância coletiva para imperadores e seus reinos usando este tipo de mapa — hoje, seguimos num esforço de tentar atualizar e desenvolver esse conhecimento e adaptá-lo à uma realidade e contexto absolutamente diferentes… mas que, pasmem, seguem refletindo nitidamente os símbolos e significados que observamos nos mapas.
O ano de 2025 vem provocando receios até nos meios astrológicos mais otimistas, devido a uma série de trânsitos planetários e mudanças de signos que ocorrerão ao longo dos próximos meses. Júpiter ingressará em Câncer e Plutão seguirá em Aquário, onde ingressou no fim de 2024; Saturno, Urano e Netuno1, por sua vez, farão uma primeira passagem em novos signos (Áries, Gêmeos e Áries, respectivamente), mas voltarão em movimento retrógrado nos signos anteriores, ainda este ano, antes dos ingressos definitivos.
Dito isso, o que me salta aos olhos mesmo em 2025 é a passagem inicial de Saturno em Áries, entre 25 de maio e 31 de agosto. O que acontece quando vivemos um ciclo coletivo2 regido por Saturno, e esse mesmo planeta adentra um signo em que ele perde sua força? O trânsito atual de Saturno em Peixes (como escrevi numa edição no início do trânsito, em março de 2023 e mais recentemente, num balanço dos últimos dois anos) teve e ainda tem muito a ver com o crescimento da urgência do debate e tomada de decisões em torno de pautas ambientais e da crise climática. A meu ver, a passagem de Saturno por Áries é o marcador de um período de ainda maior fragilidade nesse sentido, atravessado por instabilidades oriundas da falta de medidas e cuidados apropriados nessas áreas. Sabe aquele conhecido fenômeno humano de que as coisas só mudam quando dá merda? Alguma medida só é tomada quando alguém ou algo muito importante é afetado pela falta dela? Então. Na minha perspectiva, Saturno em Áries trata exatamente disso: de fazer cair estruturas que não servem mais. Infelizmente, os danos e prejuízos das negligências que envolvem essas dinâmicas frequentemente sobrecarregam os mais vulneráveis, as vidas de quem não tem qualquer responsabilidade ou poder de decisão a seu respeito. Então essa primeira passagem de Saturno em Áries em 2025 traz ao centro das discussões políticas e econômicas a questão ambiental, mas não de modo planejado ou cuidadoso, não pelas razões que gostaríamos, e sim para conter estragos maiores.
A visão geral de 2025 é, portanto, de um ano de transições e intercorrências, o que vem acompanhado de instabilidades que levantam receios em relação à segurança material e econômica. Mas não só de dificuldade se faz um cenário coletivo, é claro. Júpiter ingressará em Câncer esse ano, ganhando imensa força e poder de ação, um apoio fundamental e um respiro de alívio pela capacidade de regeneração de vida e de avanço sobre as dificuldades que Saturno impõe. É esse Júpiter, aliás, o principal planeta que testemunha sobre os acontecimentos do Brasil esse ano. Vamos às previsões?
Esta edição foi escrita logo após uma oficina que ministrei sobre o Ingresso Solar em Áries. As previsões aqui escritas tiveram colaboração direta da discussão coletiva desse encontro, em que participaram ao vivo Calira Santos, Carol Braga, Diego Piu, Fabianne Leocádia, Isabelle Fernandes, Juliana Hereda, Lenine Murr Neves, Patricia Guedes da Silva, Pedro Joffily, Rafael Monteiro, Valeria Silva e Vinícius Eigi. Valeu, turma!
mapeando previsões
um ano de Júpiter: territorialidade, justiça e luta por direitos
Um ano astrológico é regido por diferentes planetas, a depender do país ou localidade que estamos tratando. No caso do Brasil, atribuo a regência desse ano a Júpiter, o que nos garante algum resguardo e proteção em meio a um cenário global de preocupações e conflitos.
No mapa calculado para nossa capital, Júpiter em Gêmeos está na casa 4, local referente a tudo que envolve diretamente a ocupação da terra e uso do solo: produção agrícola, extração mineral, reservas ambientais, demarcação de territórios e fronteiras. Esses são temas, portanto, que despontam com maior relevância no cenário do país e exigem maior atenção. A grande questão aqui é que o regente da própria casa 4 é um Mercúrio bastante debilitado, o que indica o desenrolar de eventos e tomadas decisões de modo confuso e pouco pragmático nessas áreas, com idas e vindas, pausas e retornos, e avanços modestos. Retorno pode até vir a ser um sentido positivo a se interpretar nesses posicionamentos, pensando no resgate de pautas como a reforma agrária3 — movimento de pressão que ganha força a partir de meados de abril, mas especialmente entre o fim de maio e início de junho, quando Mercúrio transitará por Gêmeos.
Já o ingresso de Júpiter em Câncer em 9 de junho é bastante favorável para o Brasil, fortalecendo tanto sua reputação no âmbito internacional quanto as dinâmicas internas entre população e governo. Reposicionado na casa 5 do mapa do ingresso, impulsiona e incentiva políticas de fomento à cultura e indústria do entretenimento. A ativação com o Marte em Câncer do ingresso, conjunto ao Lote da Fortuna, também favorece a luta de direitos reprodutivos4 e defesa dos direitos das crianças. Na primeira metade do ano astrológico, a passagem de Júpiter ativando essa casa 5 dá espaço para sonhar e lutar por conquistas, avanços e melhorias nesses setores. Outro significado dessa mesma ativação de Júpiter exaltado sobrepondo o Marte do ingresso é o reforço da atuação do sistema judiciário: há forte tendência de julgamentos e decisões relevantes no judiciário brasileiro, possivelmente afetando figuras políticas de grande influência, como o próprio Bolsonaro (ao que tudo indica, prestes a virar réu5, junto do general Braga Netto e mais seis investigados pela trama golpista).
Foco na casa 2: economia, apelo popular e comida no prato
A Lua em Sagitário, ainda bem presente no céu, embora já perdendo luz, ocupa a casa 10 do mapa do ingresso. Esse é um testemunho da atenção do governo em relação a demandas e interesses da população. A Lua versa sobre sustento e nutrição, e o trígono com o Sol na casa 2 reforça o significado de um governo tomando como prioridade o sustento e o poder de compra da população. Parece haver um esforço por melhorar a aprovação popular por meio de medidas que favoreçam o bem estar da população, ainda que em meio a disputas de forças no âmbito econômico e de narrativas na imprensa e percepção pública. Por outro lado, questões em torno do meio ambiente e agricultura sinalizados por um Mercúrio debilitado podem ser grandes desafios, com possíveis perdas em safra e a necessidade de implementar medidas que contornem prejuízos.
O trígono da Lua com o Sol também reforça o incentivo ao trabalho, boa empregabilidade e a importância de pautas trabalhistas como a defesa do fim da escala 6x1, que ganha novo fôlego agora, embora se fortaleça de forma mais efetiva e propositiva na segunda metade do ano, a partir de 22 de setembro. Num grau de importância menor, mas ainda relevante, a quadratura entre Mercúrio e Marte aponta para gastos excessivos e perdas financeiras da população em razão de fraudes e golpes6 (ou outros meios eticamente duvidosos de capitalização).
O foco do governo federal está mesmo direcionado à economia interna, política fiscal, comércio e exportações. O Eclipse Lunar Total no último dia 14 de março ocorreu no eixo das casas 2 e 8, sublinhando esses temas para o país, e no grau 23˚ de Virgem, sobrepondo com exatidão a posição de Mercúrio mapa de fundação do Brasil, apontando para tensões e discordâncias nessa política externa que envolve acordos comerciais. É contornável? Parece que sim, pois no contexto global não estamos na pior, mas o cenário não é tranquilo nem favorável. Além disso, internamente, há interesses conflitantes entre aqueles que tomam decisões que influenciam nos rumos da economia do país. A pressão por medidas populares, no entanto, parece prevalecer. Vamos acompanhar.
Saturno na casa 1: imprevistos e restrições
Saturno inicia o ano astrológico conjunto à estrela fixa Markab, da constelação do Pégaso, bem próximo também ao ascendente do mapa. Da natureza de Marte e Mercúrio, essa estrela traz um tanto do significado daquela expressão “cair do cavalo”: se surpreender negativamente com algo que ocorre e frustra algo que se tinha como certeza. Mas esse Saturno nos informa sobre temas bastante diversos — o primeiro deles tem a ver com sua regência sobre a casa 11, que fala do Congresso. O cenário é de certa confusão de direção, dispersão de alianças, a oposição meio perdida e fragmentada. O segundo significado tem a ver com o clima e, especialmente, com temas relacionados aos mares e as águas. Há alguns aforismos que se aplicam a esse mapa que apontam para fenômenos climáticos que podem afetar mares e rios, potencialmente agravando situações como secas e cheias. Tais condições podem trazer impedimentos imediatos para populações que trabalham na água — secas que dificultam a navegação em rios, por exemplo —, bem como para risco fortes tempestades ocasionando acidentes marítimos, problemas no transporte ou rotas comerciais. A proposta da Lei do Mar7, visando a gestão integrada, conservação e uso sustentável do sistema costeiro-marinho, pode ganhar destaque no cenário político, e no geral, o reforço das questões ambientais ligadas ao oceano e navegação.
panorama internacional
Algo que o trânsito de Saturno em Áries também carrega, em termos gerais, é o clima de agitação social e política — a meu ver, é inclusive um trânsito que joga luz sobre referenciais coletivos de autoridade e liderança, expondo os traços mais problemáticos dessas figuras. De modo geral, a economia global deve passar por um período de incertezas, com impactos na política monetária e no comércio internacional, especialmente durante os três meses desse trânsito, de 25 de maio a 31 de agosto.
Os Estados Unidos têm por regente anual o próprio Saturno, sendo Trump representado por Marte em Câncer — instável, indiscreto e explosivo, mas, ao que me parece, que ameaça demais, masconsegue pouco. Ele aparenta estar bastante à mercê de empresários e figuras influentes do mercado, embora estas também consigam queimar o próprio filme com bastante facilidade. De modo geral, é um ano pouco benéfico ao país, no mínimo — ou desastroso, para ser mais rigorosa. A meu ver, a regência de Saturno e sua respectiva passagem por Áries apontam um holofote infeliz sobre o país, especialmente por problemas e prejuízos consequentes das decisões de seu líder. Como escreveu o filósofo e antropólogo Bruno Latour ainda em 2020,
“ele [Trump] preside o país que mais teria a perder com um retorno à realidade, cujas infraestruturas materiais são as mais difíceis de serem modificadas rapidamente, cuja responsabilidade na atual situação climática é a mais devastadora. Todavia, ao mesmo tempo – e é isso o mais revoltante –, esse mesmo país possui todas as capacidades científicas, técnicas e administrativas para liderar a guinada do ‘mundo livre’ na direção do terceiro atrator.”8
Um Eclipse Solar Parcial a 8˚ de Áries ocorrerá no próximo dia 29 de março, e poderá ser visível em partes da América do Norte, Europa e África. O que chama atenção, porém, é sua maior visibilidade justamente nas regiões da Groenlândia9 e do Canadá10, territórios de manifestado interesse do presidente dos Estados Unidos em sua empreitada expansionista. A coincidência da proximidade do eclipse com essas notícias não pode ser ignorada; de imediato, me parece trazer desgastes nas relações reforço de autoridade dos países sobre seus próprios territórios, mas não mais do que isso.
A China tem como regentes do ano Vênus e Mercúrio, tendo um mapa anual de relações difíceis e um cenário econômico não tão favorável, envolvendo mais perdas e restrições, algo incomum nos últimos anos para o país.
Rússia e Ucrânia, por sua vez, também são contempladas na região de abrangência do eclipse. Ambos têm por regente do ano o próprio Sol em Áries e carregam um Marte angular em Câncer no ascendente. A perspectiva de pacificação do conflito existe, especialmente por conta do Marte a 22˚ de Câncer do eclipse, grau em oposição exata ao Marte que iniciou a guerra entre esses países, na madrugada do dia 24 de fevereiro de 2022. O arrefecimento pode se desenrolar já durante o trânsito da Vênus (que começa retrógrada) em Peixes, entre 27 de março e 29 de abril, mas seria uma pacificação meio mambembe — como escrevi na edição especial sobre a Vênus, nessa temporada em Peixes ela fará aspectos importantes apenas com Marte e Saturno, deixando um gosto agridoce, um certo clima de perda e decepção no ar.
Resumindo: ano esquisito? Sim. Poderia ser pior para o Brasil? Definitivamente. Sem querer dourar a pílula, esse certamente será um ano de dificuldades e períodos de maior instabilidade a nível global. Curiosamente, porém, o céu frequentemente traz trânsitos desafiadores acompanhados de atenuantes que apaziguam maiores turbulências, alargando possibilidades de cuidado e reparação, e esse é o caso da aguardada passagem de Júpiter por Câncer. Eu sigo aqui observando símbolos, olhando pro céu e enxergando na astrologia um meio e uma linguagem que nos ajuda a ganhar perspectiva da dimensão do mundo. É o que me motiva a seguir escrevendo. E fico feliz que vocês continuem lendo. Desejo um feliz ano novo para nós, e que nossas esperanças sejam renovadas.
um abraço e até a próxima,
Ísis
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Talvez alguns estranhem eu mencionar os planetas transsaturninos (Urano, Netuno e Plutão), já que na astrologia tradicional esse trio convencionalmente não têm tanta importância. De fato, eu defendo que é possível fazer astrologia muito bem sem precisar usá-los, mas, se existe um ramo em que faz sentido considerá-los na leitura e interpretação, é a astrologia mundana. Na minha experiência, os três contribuem reforçando significados de certos trânsitos e promessas de previsões, ajudando a compreender movimentos globais em ciclos de longa duração.
Estamos atualmente num ciclo de 20 anos, iniciado com a Grande Conjunção de Júpiter e Saturno em Aquário, em 21 de dezembro de 2020, que vai até 31 de outubro de 2040.
LATOUR, Bruno. Onde aterrar? Como se orientar politicamente no Antropoceno. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020.
Mais uma edição maravilhosa! Obrigada.